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July 28, 2020

Questão



O que distingue governantes carismáticos democráticos de governantes carismáticos autoritários? O carácter: os primeiros servem algo maior que eles mesmos - o país e os próprios princípios democráticos - e os segundos servem-e a si mesmos - os seus correligionários, a sua família e os amigos contra os princípios democráticos.

June 22, 2020

O bastonário da ordem dos médicos não sabe viver em democracia



Se a decisão do Parlamento for inversa e a eutanásia não for tornada legal, ele cumpre mas se for legalizada ele manda os médicos todos desrespeitar a lei? Ele é o ditador de serviço que põe e dispõe das consciências alheias como se fossem suas? Então todos os médicos têm de concordar com ele? 

Se a lei for aprovada é implementada, quer ele goste ou não. Ele pode recusar-se, pessoalmente a aplicar a eutanásia, mas não pode proibir os médicos que sejam a favor de a aplicar, cumprindo a lei. O mais que pode fazer é aconselhá-los, porque ele não está acima da lei, nem os médicos são filhos menores do indivíduo para ele lhes dar ordens de consciência.

Neste país o autoritarismo já entrou na normalidade.


"A função dos médicos é salvar vidas". Ordem avisa que não vai colaborar para que a eutanásia seja uma realidade

A Ordem dos Médicos avisou o Parlamento que vai recusar participar em qualquer fase do processo da instituição de eutanásia ou ajuda ao suicídio, ainda que a lei venha a ser aprovada em Portugal.

May 04, 2020

Coisas assustadoras, sobretudo num momento em que estamos sem oposição



As secretas 'ajudarem'... análise prospectiva de ameças... e eles é que dizem a 'verdade' do que se passa.

Senhores dos partidos de oposição, ainda vivos, travem estas tendências autoritárias de termos as secretas a pensarem-se portadores da verdade, a vigiar as pessoas, a declará-las uma ameaça, sff!


O Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República (CFSIRP) defendeu esta segunda-feira que as "secretas" podem ajudar no "alerta" a "sinais pandémicos", como a covid-19, e na "análise prospetiva da ameaça".


O primeiro, "a deteção muito precoce pelo radar da observação permanente", e "desde logo a partir de informação open source (fontes abertas) de sinais pandémicos, lá onde eles despontem" e depois "a análise prospetiva da ameaça potencial", dando aos "decisores de políticas públicas" a "verdade do que se passa".

April 28, 2020

What a diference 2 days made



No dia 25 de Abril foram agressivamente para a AR, não cumprindo as leis do isolamento social, porque era necessário comemorar presencialmente Abril: os direitos, a liberdade, enfim, um Estado de direito - passados dois dias já Costacenteno manda alegremente a Constituição às urtigas e insinua um estado de força.

No dia 25 de Abril era ridículo andar 'mascarado', como disse o outro grande amigo - passados dois dias é um dever usar as máscaras, diga a Constituição o que disser.

Quando não se sabe resolver os problemas, em grande parte por se ter nomeado primos e amigos em vez de pessoas competentes e depois não se admite o erro e manda-se para cima dos outros as consequências do que se decidiu, unilateralmente.

Confinamento é para manter diga o que disser a Constituição - Costa

O primeiro-ministro, António Costa, desvalorizou hoje o regime legal a adotar após o fim do estado de emergência, optando por sublinhar a necessidade de afastamento entre as pessoas por causa da pandemia, "diga a Constituição o que diga".

"Aquilo que nós sabemos é que é nosso dever ter estas normas de afastamento uns dos outros, usar as máscaras quando estamos em proximidade, porque isso é um risco, diga a Constituição o que diga, haja ou não haja estado de emergência", acentuou.

March 23, 2020

Razões para optimismo: não me parece que a Europa esteja de pernas para o ar como dizem



imagem da net





Quem já foi a Istambul e entrou na espectacular Cisterna e foi até ao fundo já viu esta coluna com a cabeça da medusa, de pernas para o ar. Embora não se saiba ao certo como e porquê foi ali parar, pensa-se que terá sido aproveitada de um tempo romano em ruínas, de modo que num certo sentido simboliza a queda do Império Romano.

Hoje em dia há quem defenda que o Império Romano chegou ao fim com e por causa da grande epidemia de peste da era justiniana, na medida em que enfraqueceu o Império e tornou-o presa fácil dos vândalos, godos e outros. Essa epidemia que se espalhou rapidamente em Constantinopla, centro de negócios e da vida política e económica que atraía viajantes e mercadores de todo o lado, terá matado, calcula-se, entre 20 a 50 milhões de pessoas (25% da população - Procópio fala em 10.000 mortos por dia) e continuou com surtos periódicos durante cerca 300 anos, até desaparecer completamente.

Se imaginarmos as condições de vida de então e as nossas -higiene, medidas sanitárias, medicina, hospitais, tecnologia, acesso à saúde, apoios sociais-, nomeadamente na Europa e repararmos no número de mortes diárias que esta pandemia está a causar, percebemos a gravidade e o alcance da situação em que estamos. 
No entanto, não estamos com a civilização de pernas para o ar como estava o Império Romano, simbolizado nesta coluna, não somos uma sociedade agónica, apesar de parecer o contrário, quer dizer, quem vê o desnorte e impreparação dos líderes europeus pode pensar que era melhor que tivéssemos mais centralismo e autoritarismo, mas isso é um erro, como aliás a comparação entre a Europa, China e os EUA nos prova diariamente. 

Na realidade, parece-me que há razões para optimismo na Europa e há agora uma porta aberta para a mudança.  

A Europa, num certo sentido, é vítima do seu próprio sucesso. Quando, no final da última guerra mundial, os povos decidiram voltar costas à guerra e construir a paz, edificaram uma sociedade baseada na educação, no desenvolvimento da cooperação, da diplomacia, da arte, dos direitos humanos, do respeito pais diferenças. Naturalmente, esse desidério trouxe consequências. 

Como me diz, frequentemente, a minha médica oncologista, quando começo a argumentar com os efeitos secundários dos medicamentos para não os tomar, 'todo o medicamento tem efeitos secundários e o corpo é dinâmico'. 

Ora, o corpo social também é dinâmico e os alimentos e remédios que lhe damos também têm efeitos secundários. Neste caso, a educação europeia teve os efeitos desejados: a maioria dos europeus são pessoas pacíficas, que defendem a liberdade, a tolerância, a justiça social, a paz, os direitos humanos, os direitos dos animais, etc. 
É claro que décadas de uma educação nesse sentido e duma vivência livre de guerras e conflitos armados internos (coma excepção da Bósnia mas sendo preciso ver que essa era uma sociedade ainda muito sovietizada), produziu uma sociedade amena, uma bocadinho infantilizada nos modos, que vista de fora, de sociedades muito bélicas e tribais, parece fraca. 

Mas do nosso ponto de vista, os outros, como os afegãos e muitos dos árabes, por exemplo, é que são brutos e brutais nos seus hábitos e modos sociais, consequências de vidas ao nível da subsistência básica, da falta de direitos, da falta de educação universal, da falta de viagens, de mundivivência, de uma educação virada para a violência e da manutenção de uma vida rural muito isolada, factor de embrutecimento afectivo e empático. Por ventura queremos voltar a isso? Penso que não.

Aliás, estas corridas aos supermercados mostram a falta de hábito que os ocidentais têm em viver com dificuldades em vidas duras. Sim, existem sem-abrigos mas mesmo esses não têm que roubar para comer e tomar um duche pois têm casas e abrigos pelas cidades onde podem recolher-se.

Portanto, a Europa não é fraca. Acontece que projectou um ideal de vida, de paz e prosperidade há 70 anos e conseguiu atingi-lo, de modo que tem vivido uma vida mais ou menos amena, quando comparada com outras partes do globo. E assusta-se em pensar perdê-la. Daí, também o medo dos emigrantes, nomeadamente os muçulmanos que têm hábitos sociais muito ao nível da nossa vivência pré-guerra.
Se ainda aceitamos a carta dos direitos humanos como ideal positivo humanitário, a Europa tem estado no bom caminho.

Evidentemente que esse caminho não anula focos de violência e extremismo porque a natureza humana individual não é igualmente permeável à educação social e porque somos permeáveis a influências externas que perduram, às vezes de modo invisível, ou encapsulado e de repente ativam-se e desenvolvem-se.

O autoritarimo chinês e russo ou o 'cowboyismo' americano não são alternativas ao nosso modo de vida: não impedem, nem um nem outro, doenças virais, epidemias, terramotos, cheias, etc. No entanto, impedem que nessas ocasiões de excepção catastrófica as sociedades mantenham os seus níveis de sanidade sem perder os direitos conseguidos de liberdade, humanismo, solidariedade.

Olhando para o EUA e para a China, nós estamos a meio. Quer dizer, a China tem uma sociedade muito autoritária, sem liberdade. Nesta crise pandémica, não hesitaram em prender e deixar morrer médicos que tentaram avisar e evitar o pior, só para esconder informação. Conseguiram conter o vírus rapidamente com o seu autoritarismo mas o efeito secundário desse medicamento é uma vida subjugada a práticas de brutalidade. Não me parece que queiramos ser uma sociedade assim. 

Por outro lado, o que vemos nos EUA é uma sociedade que perante uma crise desta desiste de uma porção da sua população por não lhes dar acesso a cuidados de saúde universais e por permitir o total far-west nos empregos, onde cada empregador despede quantos quer da maneira que quer e deixa toda a gente desprotegida. Não admira que sejam uma sociedade mais muscular. Estão habituados a não poder contar com ninguém a não ser eles próprios e as famílias, com sorte. Também não me parece que queiramos ser uma sociedade assim.

Portanto, os europeus estão a meio caminho entre o laxismo mercantilista dos americanos e o autoritarismo dos chineses. Ou estávamos, pois nestas últimas décadas assistimos a uma americanização dos europeus e perdeu-se de vista as prioridades do ideal de vida social europeu.

O que vemos aqui na Europa é que passado o primeiro choque desta pandemia, por todo o lado empresas e pessoas individuais reconvertem as suas actividades para ajudar o pessoal que está nos hospitais a lutar pelos doentes, sejam destilarias (That's the spirit: Distilleries switch to making hand sanitiser to help with COVID-19 fight), empresas de têxteis, pessoas com impressoras 3D, etc. 

Portanto, não falta espírito de iniciativa, não faltam pessoas com conhecimentos especializados, não faltam pessoas que querem ajudar, não faltam pessoas que pressionam os governos a agir, o que faltam são mudanças na forma de entender as prioridades nas políticas e apostar naquilo de positivo que construímos nestes últimos 70 anos. 

Agora, se aproveitarmos esta crise para aprender algo de útil, temos uma oportunidade de fazer mudanças. A maioria dos europeus querem-nas.A
Europa não está, estruturalmente, de pernas para o ar. Está numa encruzilhada.
Oxalá tenhamos líderes que ouçam  a crise e aproveitem par pôr as prioridades em ordem.

March 05, 2020

Reflection II



La résistance à ce système n’est pas seulement nécessaire, elle est légitime. Il faut cependant que vous preniez conscience que c’est un combat qui se fait sur le long terme. Peut être plus long que votre propre espérance de vie.
Nous devons reconnaître que nous ne serons peut être pas ceux qui expérimenteront le fruit de nos luttes d’aujourd’hui. A mes yeux c’est excitant. J’ai la sensation d’être une petite partie d’un ensemble bien plus grand.
Si nous organisons notre lutte de cette manière, nous serons sans doute capable de produire une transformation de nos sociétés pour les génération futures.

Angela Davis, Nantes 2015.



(tradução: a resistência a este sistema não é apenas necessária, ela é legítima. No entanto, tem que tomar-se consciência de que esta é uma luta a longo prazo. Pode ser mais longa do que a nossa própria esperança de vida.
Temos que reconhecer que talvez não sejamos aqueles que experimentarão o fruto das nossas lutas de hoje. Para mim, isso é emocionante. Sinto que sou uma pequena parte de um conjunto muito maior.
Se organizarmos a nossa luta desta forma, sem dúvida seremos capazes de produzir uma transformação das nossas sociedades para as futuras gerações)



February 09, 2020

Livros, ' How to Lose a Country: The 7 Steps from Democracy to Dictatorship.'



I am one of the early birds…” Ece Temelkuran told me, “I saw democracy collapse in Turkey and tried to warn the United States, European Countries and Britain about this.  I’ve been telling people that what you think is normal, or a passing phase, is part of a bigger phenomenon that affects us all.  Somehow though, European democracies feel they’re exceptional – and too mature to be affected by neofascist currents.”