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July 04, 2024

Pela parte que me toca, obrigada Filipa Chasqueira!



O trabalho da DT é um trabalho fundamental, mas como é invisível, na maioria do tempo, ninguém se apercebe a não ser os próprios e aqueles que já andam há muitos anos 'a virar frangos', como se diz por aí. Sobretudo em anos de transição de ciclo, onde tantos alunos se perdem, o trabalho de um bom DT faz uma diferença abissal. 

Dantes era um trabalho menos exigente mas nos dias que correm, com as solicitações exteriores dos alunos, com os encarregados de educação em modo de ansiedade constante (quando não em modo de ataque) e com a falta de professores e a consequente entrada de pessoas sem nenhuma formação para leccionar, o trabalho tornou-se pesado e muito exigente.

Um bom DT tem uma atitude positiva e mantém todos os actores em equilíbrio e em paz para que nas aulas se possam criar situações de aprendizagem frutíferas. Isso implica antecipar problemas, constantemente gerir conflitos, estar por dentro da legislação, saber quem são as pessoas dentro da escola que podem ajudar cada aluno consoante a especificidade do seu problema, perceber se há conflitos dentro da turma e resolvê-los antes de se estragar o ambiente de trabalho, estar constantemente em contacto com os pais, transmitir optimismo dentro das exigências do estudo, responder a problemas que surjam, saber lidar com os EE que tentam sabotar um ou outro professor (o que deixou de ser uma raridade), lidar com os colegas, decidir o que levar ao CT e o que resolver no silêncio para não perturbar um bom clima de trabalho e, acima de tudo, criar um clima de confiança na turma, de maneira que os alunos saibam e sintam que estão em segurança e podem falar com o DT de qualquer problema ou necessidade.

É um trabalho invisível mas fundamental. Muitos professores não percebem isso, assim como não percebem a importância de colaborar com os DT e pensam que umas turmas terem um ambiente de trabalho positivo e outras estarem cheias de problemas não resolvidos é uma questão de sorte. Isto acontece porque o trabalho do DT é invisível para os olhos inexperientes. E não é valorizado nem reconhecido. 

Por conseguinte, pela parte que me toca, obrigada Filipa Chasqueira!

Jornal Sol


December 10, 2019

O que pensa o secretário de Estado da educação e porque nunca terá solução para qualquer problema que seja




A meio da entrevista, quando a entrevistadora o confronta com factos como, falta de professores, más condições das escolas, etc., a resposta dele é: há escolas que têm esses problemas de falta de meios e recursos e, no entanto, são eficientes; ou seja, há escolas que fazem tudo sem recursos; logo, porque é que os outros não se prestam ao mesmo? Porque não são competentes, porque se fossem não olhavam às dificuldades e comiam o pão que o diabo amassou, se fosse preciso - como já o primeiro-ministro um dia disse, os professores têm é que motivar-se com os alunos e com mais nada.

Esta maneira de ver os outros (porque estas políticas não as querem eles para si mesmos) faz-me lembrar, salvo as devidas distâncias, mas a lógica é a mesma, uma história que Solzhenitsyn conta no 'Arquipélago do Gulag'. O grande líder Estaline e os outros chefes tinham como modo de conseguir aumentar a produção das fábricas sem subir salários ou melhorar a vida dos trabalhadores, fazer concursos entre eles. Por exemplo, qual é a fábrica de parafusos, que consegue bater o record de produzir 250 parafusos numa hora que pertence ao camarada x da fábrica y? Havia sempre uns sicofantas que só para aparecerem numa fotografia com um dos chefes e poderem almejar a uma hipotética migalha, se prestavam a bater o record e passavam-no para 300 parafusos por hora, por exemplo. A partir daí, todos que estivessem abaixo de 300 parafusos era castigados com diminuição de salário, pois se uns podem, os outros também podem ou, se não podem, é porque são incompetentes e não merecem mais.

Percebemos claramente que é isso que ele quer dos professores: que calem e comam o que houver, sem queixas.

É, aliás, esse espírito evangélico de auto-flagelação que diferencia os professores competentes. Porque a única liberdade que se dá às escolas é a de inventarem modos de poupar dinheiro. Para além disso, a mão do secretário de Estado é que manda e todos os princípios de boa práticas se podem sacrificar, como se viu na greve de há dois anos,se estiver em causa a obediência que lhe devem.

O exemplo que ele dá é uma evidência disso. Numa escola foram competentes porque pouparam nas horas de DT e atiraram esse trabalho (de borla, quer dizer, sem tempo lectivo, calculo, com o argumento de serem poucos alunos) para cima de professores que muito certamente não tiveram opinião no assunto, desconjuntando as turmas em termos de dinâmica, unidade e eficiência.

Mas isso que interessa ao secreto de Estado...? Ele disso ele nem fala, quer dizer, da medida ser, ou não, um ganho pedagógico, que é a única coisa que interessa verdadeiramente... não fala porque não percebe do assunto, como aliás ele próprio o diz na entrevista, "quando soubemos que tinham acabado com o DT ficámos espantados porque sempre ouvimos dizer que o DT é importante". Ouviram dizer... pois o que ele sabe do trabalho das escolas é apenas o que lhe dizem e ouve dizer e ele rodeia-se de pessoas que lhe dizem o que ele quer ouvir. E que quer ele ouvir? Que numa escola agora produzem-se os mesmos 200 parafusos mas com menos trabalhadores ou, até, que passaram a produzir 300. Ora, se uns podem, porque é que os outros incompetentes não podem?

Para além de poupar dinheiro e professores (porque carrega com mais turmas cada professor), acabar com o DT ainda tem o mérito, calculo, de apagar uma estrutura intermédia (o DT) e ficar tudo mais directamente dependente do director que, por sua vez, depende dele, secretário, para impor com mais força e menos resistência a sua ideologia.

É por isso que nada será resolvido, nunca, por ele: porque ele pensa que o único problema da educação são os professores e a sua falta de espírito de sacerdócio.

Por acaso, todos que damos aulas há um tempo, sabemos que o DT é uma peça fundamental no trabalho que uma turma consegue fazer, não só quantitativa, mas qualitativamente, também. E sabemos, nas escolas, quem são os DT com quem queremos trabalhar e quem são os outros DTs de cujas turmas fugimos, se pudermos, porque o modo como o DT mantém uma turma orientada, focada, com respeito pelos professores e ao mesmo tempo mantém os pais também focados no trabalho dos filhos em vez de se focarem em conflitos, faz de umas, turmas positivas e de aprendizagem e, de outras, turmas negativas de acumulação de conflitos de todos com todos.

Mas isto sou eu a falar... que sei eu de trabalhar numa escola com alunos, pais e de direcções de turma...? Quem sabe é ele na sua vasta experiência de trabalhar nas escolas com alunos e pais.

Se numa turma, cada professor ficar responsável por 10 alunos e seus encarregados de educação, passa a haver grupos dentro da própria turma e multiplicam-se as probabilidades de conflito entre alunos, entre pais e no próprio conselho de turma (que é o orgão, por excelência, da colaboração inter-pares para o benefício dos alunos), porque cada professor tem o seu estilo de exercer a orientação/coordenação de alunos e pais. Isto é o oposto de qualquer pedagogia positiva. Não digo que não possa resultar num caso qualquer particular em condições especiais numa escola qualquer mas alargar uma prática destas seria o desastre em termos de clima de escola, um factor que tanto afecta os alunos.

É evidente que em vez de acabar com a DT, se querem que cada DT tenha menos alunos para orientar, o que me parece bem, o que se deve fazer não é partir a unidade da turma mas diminuir o número de alunos por turma... ficava o DT com menos alunos e mais margem de eficiência sem se comprometer a unidade da turma e do seu conselho de professores. Mas é claro que isso nunca será feito porque implica custos e a educação existe para ser o cofre socrático do Costacenteno.

É por isso que nunca nada há-de ser resolvido por esta equipa, em quem o secretário manda depois da outra ter saído: porque a ideia que ele tem dos problemas da educação é os professores serem incompetentes e não estarem todos dispostos (como muitos directores e seus satélites completamente aminhocados) a bater o record dos 300 parafusos.


E se-as-escolas-deixassem-de-ter-diretor-de-turma