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August 11, 2023

Soluções - As florestas do futuro terão de resistir às alterações climáticas





Por que é que as nossas árvores estão em perigo

As florestas terão de se adaptar às alterações climáticas, que as têm vindo a enfraquecer desde há vários anos. Trata-se de uma questão urgente. Relatório da floresta de Rambouillet.

Par Beatrice Parrino

Com apenas alguns milímetros de altura, a rã ágil emerge da lama. Um sobrevivente do caos climático. Aqui, na Reserva Biológica de Épars, estamos no coração de um paraíso florestal onde o objetivo não é explorar as árvores, mas preservar a biodiversidade. Rãzinhas ágeis? Nesta altura do ano, deveriam estar por todo o lado, a passear ao lado de outros membros recém-nascidos da família dos anfíbios. Mas nesta altura do ano, 2023, falta-lhes um elemento crucial: a água. "A rã ágil é a única espécie de anfíbio que conseguiu completar o seu ciclo de desenvolvimento este ano.

Seca, incêndios e agora o calor. Em 2022, as florestas poderão ter sido mais do que nunca postas à prova pelas alterações climáticas, o que faz com que a sua regeneração natural esteja a abrandar.

No meio de 4.500 hectares dominados por carvalhos sésseis, estão a crescer 2.200 plantas de uma espécie da América do Norte, a sequoia perene. Estas novas plantas partilham uma superfície de 1,5 hectares. Por outras palavras, o equivalente a um selo postal comparado com a imensidão da floresta estatal de Le Gâvre (Loire-Atlantique), que acolheu a sua primeira ilha do futuro no início de 2021.

O que é que isto envolve na realidade?

Em primeiro lugar, procuramos espécies florestais de todo o mundo e pomo-las à prova no nosso viveiro, onde são submetidas às condições climáticas muito duras associadas ao clima mais quente e seco do futuro. De seguida, eliminamos todas as espécies que teriam dificuldade em desenvolver-se e crescer aqui, mantendo apenas as mais resistentes. São depois plantadas em pequenos grupos de árvores na floresta, em pequenas parcelas, para que possamos observar o seu comportamento no meio durante cerca de quinze anos. É nesta fase que nos encontramos na floresta do Gâvre.

O Office National des Forêts (ONF) está a trabalhar na floresta do futuro no seu viveiro de Guémené-Penfao (Loire-Atlantique). Uma nova estratégia está a ser desenvolvida e depois aplicada na floresta de Le Gâvre: as ilhas do futuro, plantações experimentais constituídas por espécies resistentes aos efeitos das alterações climáticas.

Trata-se de uma plantação experimental.Testamos a resiliência de certas espécies de carvalho, provenientes de regiões com um clima mais restritivo, como o Sudoeste, ou de espécies inovadoras, como a sequoia perene da floresta do Gâvre e, em breve, o carvalho zeano (originário dos países do Sul) que será plantado no próximo inverno.

Carvalhos pubescentes, faias turcas, sequoias... Na orla da floresta nacional do Gâvre, no Loire-Atlantique, uma dezena de membros do departamento de investigação e desenvolvimento do ONF imaginam uma floresta capaz de resistir às alterações climáticas.

O pior de tudo: o ailanthe glandular, uma espécie invasora para a qual, para além da realização de reuniões, o ONF e outros organismos nunca tomaram qualquer decisão. Resultado: demasiado tarde. As raízes desta árvore produzem uma molécula que destrói as plantas endémicas. Encontra-se agora por todo o lado, mesmo em locais afastados das cidades, onde cresce como uma erva daninha.

Passámos o mês de novembro de 71 a transplantar bebés com apenas 10 cm de altura... Com 4 metros de distância entre cada fila... 5 anos depois, sem que tivéssemos seguido qualquer conselho, criámos clareiras em ziguezague, aproveitando os locais onde os pinheiros não se tinham instalado... headtopics.com


August 09, 2023

20 biliões por dia a estourar o planeta

 


Lê-se um título assim alarmante e vamos ler a notícia. Afinal são só os lobbies dos automóveis que estão chateados com a transição energética porque vão ter de investir e gastar dinheiro a encontrar soluções em vez de lucrar 20 biliões por dia a estourar o planeta.


"A Alemanha está em declínio"... Quando os empresários de todo o Reno se alarmam

Escolhas energéticas, perda de produtividade... Na Alemanha, as decisões do atual governo, em sintonia com as de Angela Merkel, são cada vez mais criticadas pelos empresários.

Durante muito tempo, os dirigentes alemães mantiveram o silêncio ou aceitaram-no de forma oportunista. Os conselhos de administração das grandes empresas automóveis, incluindo a Volkswagen e a Mercedes-Benz, aplaudiram as "transições energéticas e de mobilidade" lançadas por Angela Merkel. Ao mesmo tempo, não denunciaram os erros cometidos, como a proibição dos motores de combustão a partir de 2035.

Mas hoje, muitos estão fartos. Alguns decidiram mesmo manifestar-se. Um dos mais conhecidos dirigentes económicos alemães, Wolfgang Reitzle (ex-MWB, Ford e Linde), acaba de o fazer da forma mais clara possível. "A Alemanha está em declínio", adverte num artigo publicado no diário alemão Die Welt.

August 07, 2023

Crise climática? Hã..? Isso é o quê...?

 


Não é no Inverno, nem num confim do Alasca. É na Itália, hoje!!


August 06, 2023

Crise climática... hã... isso é o quê...?

 


Isto não é do Inverno passado ou dos confins da Sibéria, é de ontem no sul da Alemanha.


July 30, 2023

Água - soluções

 


July 19, 2023

Um plano fundamentado



Que podia ser uma política para um sistema de produção animal sustentável. É claro que não sou capaz de ajuizar se o plano tem falhas ou deméritos não aparentes - não tenho conhecimentos suficientes para isso. Sabendo nós que os nosso políticos, ou não têm políticas (têm 'agendas', o que é diferente) ou copiam qualquer coisa do 'estrangeiro' porque 'o que se faz fora é que é bom', é uma lufada de ar fresco alguém com conhecimentos sugerir políticas positivas de um modo sistemático e fundamentado. 


Carne absolutamente sustentável? O caso português

Temos os ingredientes de um potencial sistema de produção animal sustentável, que combina o melhor de diferentes sistemas produtivos, baseado em conhecimento e soluções portuguesas, e em que Portugal pode ser líder mundial.

Tiago Domingos


A produção animal é tipicamente associada a elevados impactes negativos, nomeadamente ligados à emissão de gases com efeito e à alteração dos usos do solo (nomeadamente desflorestação). No entanto, a produção animal também tem associados diversos impactes positivos, como a disponibilização de alimentos de elevado valor nutricional, produzidos maioritariamente a partir de alimentos que não poderiam ter sido utilizados directamente para alimentação humana (como pastagens, forragens, sub-produtos das culturas agrícolas como a palha ou sub-produtos das indústrias agro-alimentares como o bagaço de soja ou de girassol).

A existência de informação contraditória não nos deve, no entanto, levar aos que os anglófonos chamam paralysis by analysis, a incapacidade de seguir em frente, exigindo sempre cada vez mais estudos e informação antes de decidir, um problema bem conhecido em Portugal, com casos paradigmáticos de dificuldade de descolagem das soluções face a estes bloqueios.

Vamos aqui considerar um caso concreto, a produção de bovinos de carne nas condições do interior e do sul de Portugal e vamos mostrar que é possível conceber uma forma “absolutamente sustentável” de o executar, sem partir de dicotomias simplistas a priori sobre o que é melhor ou pior: não vamos, por exemplo, assumir que “o que é natural é bom, o que é sintético é mau” ou que “a produção extensiva é boa, a produção intensiva é má”.

Comecemos então por um conjunto de critérios para o que poderá ser uma produção “absolutamente sustentável” neste contexto:

1) em termos de uso da terra, não deverão ser utilizados para a produção de alimentos terrenos que possam ser utilizados para consumo humano ou melhor utilizados para a conservação da natureza ou para o sequestro de carbono;

2) em termos de clima e biodiversidade, a produção animal deverá estar associada à floresta, com um encabeçamento (número de animais por unidade de área) adequado, assegurando a regeneração das florestas e o sequestro de carbono e visando reduzir o flagelo dos incêndios que ocorre nos países mediterrânicos (e nomeadamente em Portugal).

O protótipo de sistema que aqui propomos para cumprir estes critérios baseia-se na conjugação de três componentes (que de seguida justificaremos): pastagens permanentes semeadas biodiversas ricas em leguminosas (PPSBRL), Montado e engorda intensiva optimizada.

As PPSBRL, sistema desenvolvido pelo agrónomo português David Crespo, baseiam-se (1) no uso virtuoso da biodiversidade para a agricultura (em vez de se semear apenas uma espécie, semeia-se uma mistura de 20 espécies ou variedades diferentes, com diferentes capacidades de adaptação à seca, ao excesso de chuva e à heterogeneidade dos solos) e (2) na riqueza em leguminosas (que lhes dão capacidade de ir buscar azoto e proteína para fornecer aos animais e reduzem a necessidade de fertilizantes azotados). Este sistema permite uma elevada produção forrageira sustentável de alta qualidade, para alimentação animal, e um elevado contributo anual de biomassa das raízes para o aumento da matéria orgânica do solo, sequestrando carbono (assim contribuindo para a mitigação das alterações climáticas) e aumentando a fertilidade, a protecção contra a erosão do solo e a retenção de água (assim contribuindo para a adaptação às alterações climáticas).

O Montado é uma das tradicionais paisagens do Sul de Portugal. Está implantado em áreas em geral inadequadas para a produção de alimentos para consumo humano directo, nomeadamente cereais para consumo humano directo. Tal tornou-se evidente na primeira metade do século XX, com a Campanha do Trigo (tentativa falhada de tornar Portugal auto-suficiente em cereais, que resultou numa degradação dramática dos solos no Alentejo). No entanto, pelas suas características de combinação entre uma floresta com plantas autóctones (o sobreiro e a azinheira) e as pastagens (com um encabeçamento razoavelmente baixo, logo, sem muita intensidade de pastoreio), é melhor em termos de biodiversidade do que os usos alternativos (desde que se assegure a regeneração das árvores e que não haja mortalidade elevada das mesmas, desideratos que infelizmente neste momento não são cumpridos na maioria da área de Montado em Portugal).

A engorda intensiva optimizada deverá ser baseada (1) na utilização de aditivos que tornem possível reduzir muito significativamente as emissões de metano das vacas, (2) na alimentação dos animais com subprodutos da alimentação humana e (3) no aproveitamento dos estrumes (com a estabulação) para a produção de biometano e de fertilizantes orgânicos.

Temos assim os ingredientes de um potencial sistema de produção animal sustentável, que combina o melhor de diferentes sistemas produtivos, baseado em conhecimento e soluções Portuguesas, e em que Portugal pode ser líder mundial.

Professor de Ambiente e Energia no Instituto Superior Técnico

July 17, 2023

Soluções

 



Os cientistas criaram uma tinta branca que pode tornar as superfícies até oito graus Fahrenheit mais frias do que a temperatura do ar ao meio-dia e até 19 graus mais frias à noite, reduzindo as temperaturas interiores e diminuindo as necessidades de ar condicionado até 40%. https://nyti.ms/46Ot4kE


(os negacionistas climáticos não percebem este post)

July 11, 2023

Coisas que não se percebem

 


Ter legislação ao nível de recursos naturais comuns a todos os países como se a natureza, o clima e os recursos fossem iguais nos fiordes lá do Norte e nas serras do Algarve. 

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Pedrógão Grande, Junho de 2017, 66 mortos, 250 feridos. A maior catástrofe dos últimos 30 anos, 26.000 hectares ardidos.

[Costa] Em 2018, lança a campanha de limpeza de matas Portugal sem fogos está nas mãos de todos e, ao estilo da propaganda socialista, esteve 6,47 minutos a limpar terrenos na serra de São Mamede.

Em 2023, já vamos em mais de 7000 hectares de área ardida. O quinto maior valor dos últimos dez anos, de acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
(...)
[Mas] A nova palavra de ordem do socialismo europeu é “não limpar a floresta!”.

“Manter a madeira seca na floresta” é que diz o art.º 10 da chamada Lei do Restauro da Natureza que o PS em Bruxelas defende com “unhas e dentes”, ignorando por completo os graves efeitos que a madeira seca, altamente combustível, tem na propagação de incêndios. O PS está cada vez mais desligado da realidade.
(...)
Mas, como já referi, particularmente grave para os países do Sul da Europa, como o nosso, será a obrigatoriedade de os Estados-membros aumentarem a quantidade de madeira morta na floresta.

Esta prática, sobretudo nos anos mais quentes e secos, revela-se muito perigosa e serve de combustível aos incêndios que todos os anos devastam a biodiversidade, colocando em causa vidas e bens. Em Portugal, de resto, os proprietários são obrigados precisamente a manter parte das suas florestas sem madeira morta ou seca para reduzir os riscos de incêndio. Esta proposta ignora, por isso, os riscos que estes materiais acarretam para a segurança das populações.

Precisamos de uma nova proposta da Comissão para responder às exigências e diferentes características de cada geografia, população e atividade económica, não podendo representar um risco acrescido para as populações que vivem em meio rural.

As cortinas de fumo da esquerda europeia para ganhar votos fáceis não podem colocar em risco a vida de pessoas e bens. Se a proposta passar, neste 12 de julho, alguém tem que assumir a responsabilidade das consequências desta lei incendiária. O PSD já alertou! Fica o registo.



July 09, 2023

Crescimento sustentável II



Os pesticidas prejudicam todos os insectos - incluindo as abelhas e as borboletas - e sobem na cadeia alimentar para prejudicar outros animais. Para manter as pragas sob controlo sem pesticidas, atraia aves insectívoras para o seu jardim - os chapins azuis alimentam-se de pulgões e os tordos comem caracóis. http://bit.ly/44ZhnGO


 
Little Green Space
🐝



Crescimento sustentável




Sobre crises, bactérias e “donuts” - Parte 1

Leonardo Marotta


Em 2022, o mundo mudou e (talvez) nunca mais volte a ser o mesmo. Os momentos decisivos desta transição foram: a pandemia, a emergência climática, a guerra na Ucrânia e a crise socioeconómica que se seguiu, com os efeitos na Europa de uma crise energética.
A análise que vamos fazer exige um certo nível de complexidade. Entretanto, vejamos o que podemos fazer com uma experiência de crescimento demográfico numa caixa fechada, que reproduz o planeta Terra de uma forma simplificada.

Colocamos numa placa de Petri (uma caixa transparente com tampa) um meio de cultura (algum alimento, como caldo de carne). Dependendo das condições ambientais e do meio de cultura, uma (ou mais, mas, numa primeira aproximação, digamos uma) a população de bactérias irá crescer. A população, após uma fase de estagnação, crescerá exponencialmente, depois os alimentos começarão a escassear e haverá uma segunda fase de estagnação, finalmente haverá uma diminuição das células até que os microrganismos morram. O que aconteceu? As bactérias comeram tudo e, na ausência de um mecanismo de regeneração de nutrientes (ou seja, reprodução de alimentos), as bactérias morrerão.
Voltemos agora a 1972, quando o Clube de Roma publicou o estudo “The Limits to Growth”, encomendado pela prestigiada Universidade do Massachusetts Institute of Technology (MIT), sediada em Cambridge, Massachusetts (EUA). 

O relatório, da autoria de Donella Meadows, Dennis Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III (e baseado na simulação informática World3), previa as consequências do crescimento contínuo da população para o ecossistema terrestre e para a própria sobrevivência da espécie humana. As curvas da população humana e dos recursos assemelham-se às das bactérias na placa de Petri. Vários artigos, ao longo do tempo, mostraram que, com exceção de alguns erros, as previsões e as tendências estavam próximas da realidade atual.

A pergunta que os meus 23 leitores me farão (Alessandro Manzoni, o escritor das Promessi Sposi, tinha 25 anos e, com otimismo, imagino que haja pelo menos 23 de vós) é: mas então o que podemos fazer com o nosso desenvolvimento económico e social? O desenvolvimento sustentável, que é diferente do crescimento económico, está previsto na Agenda 2030, assinada na Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, que define uma agenda partilhada para avançar para este objetivo.
Aqueles que falam de desenvolvimento sustentável, que é diferente do mero crescimento económico, seja ele sustentável ou insustentável, são acusados por alguns de propor modelos irrealistas. Por um lado, os defensores do crescimento dizem que, sem crescimento, a economia morre e nós morremos com ela. E a economia tem de consumir recursos e produzir resíduos para poder crescer com o modelo atual. Por outro lado, os ambientalistas argumentam que, se o planeta se tornar inabitável, isso terá efeitos catastróficos na sociedade e na economia. Haverá então uma sexta extinção, que incluirá muitas espécies, incluindo a humana.

Segundo o investigador sueco Johan Rockström e colegas, não haveria um único ponto de não retorno, mas nove "limites planetários" dentro dos quais a vida humana pode continuar a florescer. Os "limites planetários". apresentados em 2009. definem as fronteiras dentro das quais nós, humanos, podemos operar em segurança sem prejudicar o equilíbrio do planeta. Se excedermos estes limites, pelo contrário, arriscamo-nos a transformar a Terra num lugar muito menos hospitaleiro para nós do que é atualmente.
Em 2009, Rockström e colegas identificaram nove sistemas fundamentais, três dos quais à escala planetária: os oceanos, o sistema climático atmosférico e a camada de ozono estratosférico. Quatro outros pertencem à geobiosfera: a biodiversidade, o ciclo hidrológico, a utilização dos solos e as alterações no ciclo dos nutrientes (em especial o azoto e o fósforo). As duas últimas pertencem a categorias que não existem naturalmente, como a produção de aerossóis atmosféricos e a produção de novas entidades (incluindo novas moléculas químicas e organismos biológicos). 

A análise de Rockström ainda coloca tanto as condições do ciclo hidrológico como as condições oceânicas abaixo do limite planetário (neste caso, porém, por muito pouco). Para além da biodiversidade e do clima, a utilização dos solos e o ciclo dos nutrientes também estão acima dos limites de segurança. Ultrapassámos o limiar crítico para quatro dos nove limites planetários: a situação é preocupante. A preocupação aumenta se tivermos em conta que os sistemas de que estamos a falar dependem uns dos outros através de hierarquias que se entrelaçam em termos de estrutura, escala e relações.

O que podemos fazer? Como é que podemos produzir? Como podemos sobreviver?

* Doutor em Ciências Ambientais e professor externo de Sistemas Ambientais e Biomimética na Universidade IUAV de Veneza

June 03, 2023

Sabia que há um Dia Mundial da Lontra?





Celebra-se sempre na última quarta-feira do mês de Maio, ou seja, aconteceu na quarta-feira passada. Em Portugal podem encontrar-se lontras de Norte a Sul, nos cursos de água doce, barragens e lagos e até há lontras que gostam de dar um mergulhos nas águas do mar da Costa Vicentina.

Apesar de estar bem conservada no país, é difícil de avistar. É esquiva e muito noctívaga. As lontras são importantes na saúde dos rios onde se lambuzam com enguias. Esta aqui foi filmada no rio Sabor.





May 30, 2023

Fui ao mercado (Setúbal) e vim de lá com um questionário e informações sobre agricultura sustentável

 

E estes tomates 🙂

O questionário é do projecto THE:PLACE: "Transformar o Sistema de Alimentação Local em Istambul e em Setúbal com as Autoridades Locais",  que é desenvolvido em parceria entre a Associação portuguesa The K-Evolution e a Associação turca, Bugday - associação para o suporte de vida ecológica. 

Este projeto insere-se dentro do programa THE:PLACE, programa gerido pela ALDA - Associação Europeia de Democracia Local e o MAD - Centro de Justiça Espacial e financiado pela Fundação Mercator.

K-Evolution (“K” de Knowledge, ou seja, Conhecimento) é uma associação sem fins lucrativos e tem como principal missão a promoção de Desenvolvimento Sustentável pela Educação. 

Município de Setúbal é parceiro associado deste projeto. 

O objetivo principal do projeto é transformar e melhorar as cadeias curtas locais e agro-ecológicas de abastecimento alimentar, e um dos objetivos específicos é identificar os atores e a situação atual no sistema de alimentação local. Para tal, estamos a mapear os circuitos curtos alimentares locais, pelo que, gostaríamos de contar com a sua colaboração para o preenchimento deste breve questionário no sentido de apoiar a qualidade deste estudo. 

A sua participação pode fazer a diferença neste projeto de cooperação entre organizações da sociedade civil e autoridades locais.


Pode ver aqui os questionários às lojas, restaurantes, cantinas e produtores - eu respondi ao dos consumidores. E pode ver aqui projectos de agricultura sustentável da ecovillage.org/region/



May 28, 2023

O decrescimento como modelo económico - um balanço





O decrescimento como modelo económico - balanço

Embora o conceito de decrescimento tenha sido criticado num relatório apresentado ao Governo na segunda-feira, está previsto um congresso sobre o assunto para quinta-feira, em Paris.

Os defensores do decrescimento pretendem a introdução de um novo modelo económico, mais simples, mais justo, mais respeitador da natureza e, sobretudo, livre do imperativo do crescimento.

Nas notícias

Na segunda-feira, o economista Jean Pisani-Ferry apresentou à primeira-ministra Elisabeth Borne um relatório sobre o impacto económico da acção climática. Jean Pisani-Ferry considera que a "neutralidade climática", ou seja, o equilíbrio entre as emissões de gases com efeito de estufa e a sua absorção, é "alcançável", mas que "para lá chegar é necessária uma grande transformação". Na sua opinião, "o imperativo de preservar o clima" não significa "renunciar ao crescimento".

A associação Alter Kapitae, que defende o "decrescimento próspero", tem uma opinião diferente. Esta quinta-feira, organiza na Sciences-Po Paris a "Ágora de la décroissance prospère" (Ágora do decrescimento próspero), uma conferência dedicada ao decrescimento. O evento reunirá activistas ambientais, investigadores especializados na matéria, como o economista Timothée Parrique e o sociólogo Dominique Meda, e empresários.

O conceito de decrescimento surgiu na década de 1970, com o aumento da consciencialização dos efeitos do crescimento económico no ambiente, e ganhou popularidade na década de 2000. A primeira conferência internacional sobre o tema teve lugar em Paris, em 2008.

Oposição ao crescimento

O decrescimento é uma ideia que defende a introdução de um modelo económico que não se baseia na procura do crescimento económico. O seu objectivo não é reduzir o PIB (a produção de bens e serviços), mas romper com "a religião do crescimento", segundo o economista Serge Latouche. 
Para os "décroissants", o crescimento permanente não é possível num mundo de recursos limitados. Não acreditam no desenvolvimento sustentável PDF]: na sua opinião, o progresso técnico não permite reduzir a quantidade de recursos utilizados numa sociedade que procura constantemente crescer. 

De facto, nesta procura de crescimento, o progresso gera inevitavelmente um efeito de ricochete. Este fenómeno foi teorizado por William Stanley Jevons. Num livro publicado em 1865, este economista britânico observou que o progresso técnico tinha permitido reduzir a quantidade de carvão utilizada para fazer funcionar uma máquina a vapor, tornando o seu funcionamento mais barato. À medida que mais industriais equipavam as suas fábricas com máquinas a vapor, a procura de carvão aumentava.

As implicações ecológicas e sociais do crescimento

A partir dos anos 70, vários investigadores começaram a interessar-se pelos limites físicos do crescimento e pelas suas consequências para o ambiente. É o caso do economista americano Nicholas Georgescu-Roegen, que defende, num livro publicado em 1971, a necessidade de repensar a ciência económica. Argumentava que os economistas se tinham esquecido, nos seus modelos, de levar em conta os limites da biosfera (todos os ecossistemas da Terra). 
No ano seguinte, os ecologistas americanos Donella Meadows e Dennis Meadows recomendaram o crescimento zero, num relatório publicado em 1972 que teve um impacto mundial. O conceito de decrescimento começa aí a surgir. A sua dimensão social foi-lhe conferida por autores como o pensador francês André Gorz, que criticou a sociedade de consumo. O aumento do desemprego em massa e das desigualdades nos países desenvolvidos a partir dos anos 80 era, na sua opinião, a prova de que o crescimento não estava a melhorar as condições de vida.

1,75
planeta
 
Em 2022, a humanidade consumiu tantos recursos como se vivesse em 1,75 planetas, segundo a Global Footprint Network. Este grupo de reflexão baseia-se num indicador, a pegada ambiental, que compara a procura de recursos por parte da economia com a capacidade da Terra para se regenerar biologicamente. Como a maioria dos indicadores, a pegada ecológica tem sido criticada pela sua metodologia.

As alavancas previstas

Os defensores do decrescimento pretendem reorganizar a produção de bens e serviços de modo a que esta deixe de criar novas necessidades e passe a satisfazer as necessidades essenciais de todos os seres humanos. O seu objectivo não é reduzir o PIB, mas, ao procurar limitar a produção, estão de facto a impedir o seu aumento. Ora, o nosso sistema está organizado em torno do crescimento, que conduz a um aumento do rendimento e, por conseguinte, dos impostos e dos recursos públicos. 
Para preservar os serviços públicos, os economistas do decrescimento, como Serge Latouche, Timothée Parrique e Tim Jackson, planeiam aumentar as receitas fiscais eliminando as lacunas fiscais e tributando mais os escalões superiores e o capital. Também vêem o seu modelo como uma solução para reduzir certos tipos de despesas públicas, como as despesas com a saúde ou a reparação de catástrofes naturais e industriais.

Críticas ao modelo

O decrescimento implica mudanças drásticas de comportamento: para reduzir o consumo de energia, precisa do desaparecimento progressivo dos aviões, da redução do número de aparelhos eléctricos (smartphones, aspiradores, etc.), do desenvolvimento de uma dieta predominantemente vegetariana, etc. Estará o público preparado para estas mudanças? Será que um modelo deste género pode obter o apoio do maior número possível de pessoas? De acordo com o relatório de Jean Pisani-Ferry, o modelo "décroissant" seria "socialmente desastroso", pois equivaleria a "pedir àqueles que lutam para sobreviver que apertem ainda mais o cinto em nome de objectivos mais elevados". 
Nunca nenhum território pôs em prática a ideia do decrescimento. Enquanto alguns teóricos insistem que o decrescimento só deve interessar aos países ricos, a geógrafa Sylvie Brunel está preocupada com as consequências negativas para os países em desenvolvimento, cujo comércio seria limitado.


PARA O DECRESCIMENTO Em 2020, numa entrevista ao blogue ambiental Bon Pote, o economista Timothée Parrique explica como se tornou um decrescentista. E explica como é que este modelo pode ser aplicado na prática.

Ler a sua entrevista

CONTRA O CRESCIMENTO Num artigo publicado em 2021 no sítio de debate Telos, o economista Éric Chaney critica o modelo preconizado pelo decrescimento. Baseia-se em vários estudos para explicar por que razão é possível um crescimento respeitador do ambiente.

Ler a sua análise 

Seca - soluções (e erros no Alqueva)



"O segredo está no solo". Exemplos na luta contra o "desastre" climático



Num sul do país onde a escassez de água ameaça cada vez mais o território, também emergem modelos de exploração sustentável dos recursos nas adaptações às alterações climáticas. Da agricultura ao golfe. Em comum, está o respeito pelos solos.

Situada entre o barrocal e a serra algarvia, em Benafim, interior do concelho de Loulé, a Quinta do Freixo tem uma área a perder de vista. Numa ínfima parcela destes 700 hectares, quase mil ovelhas campaniças, raça autóctone desta região, pastam tranquilamente o solo coberto de vegetação, numa área de terreno que, ao olhar de um leigo, parece desnecessariamente pequena face à imensidão em redor. No entanto, reside aqui um dos segredos que fazem desta quinta um dos exemplos de agricultura responsável e sustentável num território a sofrer os efeitos severos das alterações climáticas, como o é a região do Algarve.

Ao fim de poucos dias, aquelas ovelhas vão mudar-se para outra cerca do género, com um espaço bem limitado, onde continuarão o pasto. E assim sucessivamente, "imitando o processo observado na vida selvagem às grandes manadas de herbívoros, que pastoreiam intensamente determinadas áreas à sua passagem, as quais depois descansam depois por longos períodos de tempo até as rotas de migração fazerem regressar esses animais", conta Luís Silva, à frente dos destinos das quintas (a do Freixo e a do Mel, nas Açoteias) que estão na sua família há cinco gerações, desde o final do século XIX

O "maneio holístico" -- assim se chama este método de pastoreio rotacional criado pelo zimbabueano Allan Savory, naturalista e criador de gado com uma vasta experiência na savana africana -- é uma das técnicas mais usadas na agricultura regenerativa, a filosofia que Luís Silva implementou nestas quintas nos últimos três anos e que permite, como o nome o indica, regenerar os solos de uma forma natural, sem estar tão dependente de recursos que se anteveem cada vez mais escassos, como a água. "Começa tudo com o solo", sublinha, apontando para a cobertura vegetal com que as ovelhas se vão deliciando. "Quando o solo é trabalhado da forma certa, tem mais matéria orgânica, o que implica ter mais carbono nos solos. E um solo mais vegetal funciona como uma esponja, vai absorvendo água e torna-se ele próprio um reservatório".

Ora, o pastoreio rotacional tem precisamente esse efeito na regeneração dos solos. "Metemos cercas elétricas mais pequenas que as ovelhas respeitam, restringimos o espaço que elas percorrem num período de tempo, elas impactam exaustivamente esse espaço e deixam estrume, melhorando a microbiologia do solo, que é fundamental", detalha Luís Silva. "Era assim que antigamente se criavam solos com elevado teor de matéria orgânica. Só estamos a recriar, do ponto de vista ecológico, condições que já existiam aqui".
À medida que explica este processo, o proprietário da Quinta do Freixo vai mostrando parcelas de terreno já impactadas pela ação das ovelhas, com farto coberto vegetal. "Só este ano já conseguimos recuperar 6 hectares de solo. Para o ano quero recuperar 25", revela. Os ganhos são óbvios: solos mais produtivos, menos água usada em rega e menor necessidade de comprar rações para os animais, que têm nos solos forragem para o pasto.

"Estes animais são ferramentas de regeneração. A carne é um subproduto", sintetiza Luís Silva. Além da pecuária e da pastorícia, as atividades na Quinta do Freixo englobam ainda a floresta (alfarroba, cortiça...) e os pomares de frutas e hortícolas, de onde sai também a matéria prima para as compotas próprias. Tudo isso abastece a unidade de turismo rural e restaurante integrados na quinta, onde Luís espera "em dois anos servir exclusivamente produtos da nossa produção". "Só com diversidade se consegue um ecossistema saudável", despede-se, apontando "as monoculturas intensivas que estão a degradar os solos para o futuro" como "um problema maior" que a falta de chuva.

Parreira, um modelo há mais de 30 anos

Se a Quinta do Freixo é um dos exemplos crescentes de que começa a haver novas sensibilidades na cultura dos solos, na Herdade da Parreira, em Montemor-o-Novo, a uma hora de Lisboa, essa preocupação já vem de longe, há pelo menos 35 anos, ancorada na visão de Mário Carvalho, professor catedrático aposentado da Universidade de Évora que, na altura, se aliou ao seu aluno Nuno Marques, proprietário da herdade, para desenvolver na Parreira um projeto que hoje é considerado um modelo de sustentabilidade agrícola, inclusive com prémios europeus conquistados.

Na base, está um modelo de agricultura de conservação, à qual Mário Carvalho dedicou a sua carreira de investigação. Também aqui "o solo é o centro de todas as coisas". "Não se faz nada que possa comprometer o solo", vinca o professor jubilado. Na Parreira, foi implementado um modelo agro-silvo-pastoril cujas intervenções ao longo dos anos demonstraram como é possível adaptar uma exploração agrícola às alterações climáticas com a preservação e melhoria da fertilidade dos solos no centro das decisões.

"A herdade tem 900 hectares. Na grande maioria do Alentejo, uma herdade com esta dimensão teria umas 500 vacas. A Parreira tem 240. Não se aumenta o número de cabeças para preservar o montado e todos os solos da exploração. Mas também se vendem as vacas com 600 kg, não com 200 como outros, o que permite compensar em termos de rentabilidade ao mesmo tempo que garantimos solos mais ricos para futuros anos", conta Mário Carvalho.

Na Herdade da Parreira há uma componente de montado com pastagens permanentes melhoradas de sequeiro (não regadas) que garante a alimentação animal entre outono e primavera. Depois, "há um sistema de regadio privado que é aplicado só em culturas de outono-inverno". Esta componente agro cultiva forragens e cereais que possibilitam a alimentação de animais durante o verão quando a cultura de sequeiro não é suficiente.

Aqui "não há mobilização do solo", sublinha. "O solo está sempre constantemente coberto por resíduos. 75% da biomassa produzida na exploração fica na exploração". Além da melhoria dos resultados económicos, o modelo possibilitou regenerar solos e aumentar consideravelmente a produtividade da água. "Se não formos capazes de atuar ao nível da melhoria da qualidade do solo, permitindo melhor armazenamento de água e drenagem, as alterações climáticas terão um impacto tremendo na produtividade da terra. Melhorar o solo é a única solução", reforça o professor jubilado, muito crítico da gestão da água e dos solos no país. "Estamos a caminhar para o desastre", diz (ver entrevista).

Ângela aposta na policultura

Mais a sul, em Conceição de Tavira, numa parcela de terreno junto à linha de comboio, Ângela Rosa tenta replicar, à sua pequena escala, esta preocupação com os solos. Além desta, Ângela possui ainda outras três parcelas espalhadas pela zona, num total de sete hectares, onde tem mais de 120 variedades hortículas e frutícolas. Em todas elas, a agricultura que pratica é "de policultura", apresenta. "É mais amiga da pegada ecológica, baseia-se em cadeias curtas de distribuição". Os seus produtos são escoados em vários mercados biológicos na região

Ao contrário da agricultura intensiva, "como as explorações de abacate que vão tomando conta da paisagem", denuncia, a policultura "explora a variedade de culturas, enriquecendo os solos", o que "contribui também na preservação dos rios, da flora e da fauna" de uma determinada área. Nas parcelas exploradas por Ângela, o "desperdício é zero". A biomassa criada é triturada com uma biotrituradora e devolvida ao solo, colocada em volta das plantas ou árvores, "para conservar a humidade do solo e dar-lhe micro e macro nutrientes", explica. "E o solo fica mais produtivo de um ano para o outro com a fixação de biomassa".

Com os solos húmidos e ricos, diminui naturalmente a necessidade de rega, uma vantagem preciosa para quem tem, nesta parcela, a situação de precária - ou seja, sem acesso garantido ao perímetro de rega do Sotavento algarvio.

Golfe também se adapta

No Algarve, outro setor em foco quando se pensa no recurso água é o golfe, que tem 40 campos espalhados pela região. Rui Grave recebe-nos no Dom Pedro Laguna, um dos cinco campos deste grupo em Vilamoura. Ele é o head greenkeeper, ou seja, o engenheiro responsável pela manutenção dos campos. O encontro é marcado no Laguna porque este campo foi requalificado durante a pandemia de covid-19, entre 2020 e 2022. Aproveitando os períodos com pouca procura devido às restrições de viagens e outras, o "grupo decidiu requalificar o campo colocando à frente, pela primeira vez, o critério da sustentabilidade ambiental". Ou seja, "em vez de pensar no melhor campo possível e depois adaptar as práticas ambientais a esse cenário, pensámos primeiros nas melhores práticas ambientais e adaptámos o campo".

Uma das intervenções que mostra com orgulho é o lago que ladeia o tee de saída do buraco 4. Uma espécie de "ilha de biodiversidade", que serve de refúgio a algumas espécies animais, como as lontras, que anteriormente ameaçavam algumas zonas do campo e agora ali vivem sem problema. De resto, todas as águas que são usadas no campo são "águas naturais dos lençóis freáticos" armazenadas nos lagos, "que não estão impermeabilizados". Mas a requalificação ambiental do D. Pedro Laguna abrange um leque de medidas tão pormenorizadas quanto o tipo de relva escolhido para cada zona de jogo, "privilegiando relvas de estação quente, como é a Bermuda, que não consomem pesticidas nem muita água", um novo sistema de rega "direcionado apenas para a zona de jogo, o que fez com que o campo se adaptasse à rega, encurtando de 30 para 27 hectares", até estações meteorológicas que medem constantemente a humidade no solo.

Também aqui, quanto mais o solo estiver adaptado maior é a eficiência. E a água, lembra Rui Grave, "é uma componente importante nos custos do negócio", adiantando que no Laguna já veem médias de redução na ordem dos 50% com a requalificação feita. O próximo passo, diz, é o reaproveitamento de águas das ETAR da região, processo que deve ficar concluído ainda este ano.


Prof. Mário Carvalho

Como olha para o problema da seca em Portugal e os seus impactos sobretudo no sul do país?
O problema da água sempre foi um problema do Mediterrâneo e está a agravar-se com as alterações climáticas. Nunca vamos ter água para regar todo o território. Temos que arranjar viabilidade para os sistemas produtivos, especialmente com o sequeiro. Outra coisa importante é uma melhor gestão da água que cai. Agora chove mais quantidade de água em períodos mais curtos, o que leva a escorrimento superficial e a perdas do solo por erosão. Estamos a perder mais água por escorrimento do que pelas alterações climáticas. Temos que melhorar a capacidade de retenção dos solos.

De que forma?
Temos de aumentar o teor da matéria orgânica dos solos, ajudar a absorver água na estrutura do solo. O aumento da infiltração leva ao aumento da retenção e permite às culturas viverem mais confortáveis em ausência de precipitação. Assim aumentará muito a eficiência do sequeiro e diminuirá a necessidade do regadio.

O aumento das áreas de regadio é um erro?
Devemos usar a água para ajudar culturas de outono-inverno, para aumentar a eficiência do sequeiro e sermos mais produtivos com a água utilizada. Criar biomassa. Usar água para alimentar exclusivamente culturas de verão que só sobrevivem com regadio é um erro. Mas estamos - país - a tomar uma opção ainda mais grave, que é conduzir regadio para culturas permanentes, como o olival e o amendoal intensivos ali no Alqueva. São dois erros em simultâneo: por um lado cria-se necessidade permanente de água num território de disponibilidade variável; por outro está a desligar-se o regadio do sequeiro.

O Alqueva está a ser mal explorado?
O que estamos a fazer no Alqueva é um caminho para o desastre. É aumentar todas as áreas com necessidade permanente de água. E estamos assim a reduzir a dimensão social do Alqueva, que era suposto preparar o território para a seca. O regadio está a desenvolver-se de forma autónoma das restantes necessidades do território. Mais ridículo ainda é que todo o custo fica do lado do Estado e todo o proveito no privado. Dos 35 cêntimos por metro cúbico que é o preço da água, o Estado cobra um décimo. O resto é subsídio. Ora, como a água fica barata, os grandes grupos multinacionais viram aqui uma grande oportunidade de negócio. Consomem os recursos e empobrecem o território. É uma falta de visão tremenda.

rui.frias@dn.pt

May 27, 2023

Rewilding Portugal - passar das palavras aos actos e concretizar

 



Os tauros já chegaram a Portugal para ajudar a recriar paisagens com 20.000 anos


Há uma nova raça de bovinos com características do extinto auroque que pode viver sozinha na natureza. É uma das peças do puzzle que a Rewilding Portugal está a montar no vale do Côa.

Nicolau Ferreira e Miguel Madeira


A libertação dos Tauros no Grande Vale do Côa é uma continuação do projeto europeu Tauros Programme, uma colaboração entre a Rewilding Europe e a Fundação Taurus. “Este programa tem como objetivo devolver à Europa uma espécie bovina autossuficiente e integrada na vida selvagem, geneticamente e funcionalmente semelhante ao auroque, capaz de ocupar o mesmo nicho ecológico”, explicou, em comunicado, a Rewilding Portugal. “Através de uma cuidadosa reprodução de antigas raças bovinas, assim nasceu o tauros.”

A equipa da Rewilding Portugal recebeu formação da Fundação Taurus para que compreendesse o comportamento destes grandes bovinos antes da sua chegada.

May 15, 2023

Por falar em 'dia do fascínio das plantas': cada flor tem o seu(s) polinizador




foto de Olinda Monteiro


Mylabris quadripunctata

(Linnaeus, 1767)


Facilmente reconhecido pela sua cor vermelha e brilhante e pelas 4 manchas pretas de onde vem o nome “quadripunctata”. Todo o corpo é preto, com exceção dos élitros (a vermelho), e as antenas são segmentadas e na extremidade tem a forma de uma maçã ou clava. É um inseto muito comum durante os meses quentes, podendo ser avistado em prados floridos ensolarados como aqueles existentes na Rota da Biodiversidade ou no Parque da Cidade.

15 - 18 mm - Ordem: Coleoptera - Habitat: Prados floridos com boa exposição solar -  Alimentação: Pólen e néctar de várias plantas como, por exemplo, as das famílias Papaveraceae ou Asteraceae

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do Guia dos Insectos Polarizadores de Guimarães:

COMO AJUDAR OS INSETOS POLINIZADORES

A existência de uma comunidade abundante e rica em espécies polinizadoras é uma condição necessária para a manutenção de ecossistemas saudáveis e resilientes. Por isso, o desaparecimento dos polinizadores teria um impacto imenso no planeta, com sérias implicações ecológicas, sociais e económicas.

Para reforçar a resiliência aos efeitos adversos das alterações climáticas, é essencial proteger e restaurar a biodiversidade, bem como garantir o bom funcionamento dos ecossistemas. Se em todos os espaços verdes criarmos condições para abrigar a fauna e flora autóctones, todo o ecossistema irá beneficiar (Figura 3). Existem várias medidas que podem ser implementadas como uma estratégia integrada local para a promoção dos polinizadores, nomeadamente:

+ Dar preferência às plantas autóctones ricas em pólen e néctar que considerem as espécies de polinizadores generalistas (alimentam-se de diversas espécies de plantas) e especialistas (alimentam-se de um número muito reduzido de espécies de plantas). Assim, o habitat fornece pólen e néctar continuamente ao longo do ano, em particular entre março e setembro, o principal período de atividade dos polinizadores.

+ Identificar as paisagens de alto valor para os insetos polinizadores e que, por isso, requerem proteção. Estas podem ser encontradas em jardins públicos e privados, adros de igreja, em torno de lagos e zonas húmidas, clareiras, entre outros.

+ Melhorar as condições do solo, para a nidificação de muitas espécies de insetos polinizadores, e da qualidade do substrato, para que possa prosperar uma comunidade saudável de plantas — ambos os requisitos são importantes para o habitat dos polinizadores.

+ Manter as bordas dos campos agrícolas com flores silvestres, muito apreciadas pelos polinizadores, aumentando consequentemente a produção e a qualidade dos produtos alimentares.

+ Evitar o uso de pesticidas e herbicidas e apoiar práticas agrícolas sustentáveis.

+ Apoiar projetos de ciência-cidadã relacionados com a promoção de polinizadores (ex. participar na monitorização dos polinizadores para ajudar a estudar a distribuição e estado de conservação dos insetos).

+ Evitar e controlar a propagação de espécies exóticas invasoras, tanto de plantas como de animais.

+ Cortar com menor frequência os prados silvestres e evitar cortar demasiado cedo na primavera, disponibilizando alimentos aos polinizadores.

Um cidadão com um jardim, horta ou canteiro pode ajudar ao optar por plantas atrativas para os insetos polinizadores. Dois aspetos muito importantes devem ser tidos em conta na escolha da composição florística para esses espaços, nomeadamente: i) a representatividade das principais famílias de plantas (ex. cenouras, salsas, couves, trevos, boragináceas), permitindo uma abundância e diversidade de flores com diferentes cores e formas que, por sua vez, irão atrair uma maior diversidade de polinizadores; e ii) garantir flores durante todo o ano, conjugando espécies que floresçam na primavera, verão, outono e inverno.

Os insetos polinizadores prosperam se estiverem reunidos os recursos de que necessitam para satisfazer todas as fases do seu ciclo de vida e nas estações certas. Saber a época de floração das plantas ajuda a fornecer alimento aos polinizadores.



Assim, no início da temporada (fevereiro a maio), as plantas são mais escassas, pelo que é extremamente importante manter a vegetação silvestre existente. Nesta fase, as flores são vitais para as abelhas-rainhas, que vão criar os ninhos, bem como para as abelhas solitárias que emergem nesta altura após a hibernação.

A meio da temporada (junho a agosto), a abundância e diversidade de plantas com flores adequadas tanto para espécies polinizadoras generalistas como especialistas é necessária para garantir a produtividade, diversidade e abundância de insetos polinizadores.

No fim da temporada (setembro a outubro), as flores que permanecem são importantes para alimentar as abelhas- -rainhas e outras espécies polinizadoras que se preparam para hibernar.

Excerto do Guia dos Insectos Polarizadores de Guimarães, um trabalho muito interessante de ler e muito bem ilustrado, mesmo para quem tem só um pequeno quintal ou até uns vasos de flores ou apenas para se informar.

Carta aberta ao Governo acerca do Aeroporto de Lisboa



Aeroporto de Lisboa: “É imperativo que seja fechado”, pedem moradores estrangeiros

Michele Gallia, Matias Rubbino, Angelica Guarín e Harrison Mille


Os benefícios de manter o aeroporto dentro da cidade (poucos e baseados em suposições em lugar de factos e números) são muito menores que os custos (muitos e já amplamente estudados).
Há zonas de Lisboa em que o som dos aviões é muito intenso. Ambientalistas têm pedido (pelo menos) o fim dos voos nocturnos.


Carta aberta ao Governo

Somos jovens profissionais estrangeiros que recentemente se mudaram para esta maravilhosa cidade que é Lisboa, havendo quem nos chame nómadas digitais, mesmo que a nossa intenção possa ser de cá permanecer. Como muitos estrangeiros nos últimos anos, escolhemos Lisboa e Portugal como a nossa nova casa pois há muito para amar nesta cidade e neste país – as pessoas, a cultura, a paisagem, só para dar alguns exemplos. Certamente existem problemas também (desde o trânsito caótico na cidade à subida das rendas), mas estes estão bem reconhecidos e os diferentes actores estão a esforçar-se para resolvê-los. Mas há um problema específico que ainda não é amplamente reconhecido como tal: é o caso do aeroporto de Lisboa localizado no interior da cidade. Ainda pior: para alguns esta localização é considerada um factor de atractividade.

Consequentemente, a questão que temos colocado a nós mesmos é a seguinte: porque é que outras cidades que estiveram na mesma situação que Lisboa (por exemplo, Hong Kong, Berlim, Atenas ou Munique) fecharam completamente o aeroporto antecedente preferindo construir um novo fora da cidade? Porque, em nossa opinião, os benefícios de manter o aeroporto dentro da cidade (poucos e baseados em suposições em lugar de factos e números) são muito menores que os custos (muitos e já amplamente estudados).

May 10, 2023

Porque é que os novos pais vão levar os filhos à escola de carro?

 

Mesmo se moram relativamente perto? Cada vez mais vejo os alunos do secundário virem de carro para a escola. Muitos chegam atrasados porque os pais saem sempre atrasados de casa, quando moram a 10 minutos a pé da escola ou menos. Uma grande porção não sabe a sua própria morada, nem o nome da rua nem o número da porta porque saem da garagem de carro e não andam pelas ruas. Parece anedota mas é verdade. Isto tem impacto na saúde e autonomia dos miúdos, na poluição e em outros aspectos. O vídeo explica muito bem porque é que esta prática acontece e como reverter a situação.

April 05, 2023

Em defesa de uma outra matriz que defenda o planeta

 


“A ideia de que é preciso converter a selva amazónica num ‘activo económico’ procede da mesma fonte que a destrói.”

Eliane Brum