... o autêntico.
Autumn Landscape (1900) by Michał Gorstkin Wywiórski (Polish, 1861-1926), oil on canvas - National Museum (Warsaw, Poland)
... o autêntico.
Autumn Landscape (1900) by Michał Gorstkin Wywiórski (Polish, 1861-1926), oil on canvas - National Museum (Warsaw, Poland)
... mas desde há um par de dias que me fazem convites no FB para aderir a grupos monárquicos... que terei dito para que alguém pensasse que sou monárquica? Não faço ideia. Terá sido porque adiro às comemorações do 1º de Dezembro? Se calhar.. sei lá.
E já agora que falamos de 1º de Dezembro: já alguém foi pela janela fora?
Liguei a TV e como só estava a dar porcarias, fui andando nos canais e parei num canal chamado 'Q' e apanhei uma entrevista com ela desde a infância até à actividade no Bloco. Infelizmente o programa acabou sem aviso, ainda eles estavam a conversar... não percebi. Muito interessante. Ela é interessante a falar porque fala convicta. Não sabia da história da vida dela. Vê-se que ela pensou nos processos de vida que a trouxeram onde está e que os arrendondou, como nós todos fazemos, para que a nossa história seja consistente connosco e explique a nossa vida presente. O que também ficou mais ou menos percebido é que a ela lhe interessa a resolução de problemas como blocos [pun not intended] tal como fazia quando era miúda na escola, onde via um problema de racismo e organizava uma mini-luta para resolver o assunto com a professora. Ainda é assim: escolhem os problemas e vão à luta por eles. A questão é que se percebe que não há fio condutor teórico por detrás dessas escolhas, não há uma visão o que tem como consequência não haver direcção nem delimitação. Portanto, tanto podem escolher os problemas certos e estar a travar as lutas que interessam como podem estar sempre ao lado dado que não há bússula, é mais navegação à vista, baseada num certo tipo de marear que tem a ver com a área política em que se encontram e instinto, também. Falta alguém, e talvez não apenas neste partido, pensar o sentido, nomeadamente dos anos de democracia. Está na altura de se ultrapassar o medo de falar na ditadura de Salazar e fazê-lo, efectivamente, de um modo alargado. Sem isso não haverá arredondamento, não haverá sentido consistente e as forças do presente não serão capazes de aguentar o choque do passado.
Estou completamente de acordo com ela na questão das praxes e achei piada ela dizer que nunca foi praxada embora tivessem tentado. Pois, eu nunca fui praxada nem nunca ninguém tentou e andei uns anos no Liceu de Évora, onde hoje é a Universidade e as praxes lá eram uma instituição - isto numa altura em que os finalistas do Liceu pareciam nosso pais. Alguns tinham 23 ou 24 anos, mas no meu bando de amigas e amigos, muitos foram praxados, mas nunca quando estavam comigo :) com 12 para 13 anos anos lembro-me de adultos se intimidarem comigo. Na faculdade a mesma coisa. Andei sempre à vontade por onde quis e nunca ninguém sequer fez aquele movimento de quem está a ponderar praxar-me. E nunca nenhum amigo meu, perto de mim, foi praxado.
Uma tela de linho cru, como a vida autêntica, gasta, quebrada aqui e ali, esboroada, com buracos até, com rectas indecisas, atravessada pela linha da vida, aquele vermelho sangue que nos percorre o corpo a levar a sorte, nos venenos da vida e da morte.
J A N A I N E , B E R L I N
... mas fui dar agora com uns relógios belíssimos da Van Cleef & Arpels, chamados, Poetic Complications. Com um nome destes fui logo espreitar. São lindos, ora veja-se:
Abaixo todos os Miguéis de Vasconcelos que por aí andam! É o meu mantra de hoje. Todos pela janela fora!
Somos como crianças e a realidade é um emaranhado desgrenhado de ramagens sombrias. É preciso crescer, aprender a desembaraçar os nós, para chegar à claridade do sol que se esconde por detrás das sombras. Reconheço nesta metáfora o platonismo dos séculos mas gosto dela à mesma.
Photo by Wynn Bullock, 1958
A vida longe do pensamento é um inferno. A impossibilidade de razão, a confusão de sentimentos à solta, no maior dos caos, loucuras e contradições permanentes embotam completamente o pensamento ao ponto de já não se conseguir respirar. Uma pessoa tem a sorte de ter a poesia para quando está nesses estados emocionais poder despejar as emoções todas. Depois elas ficam arrumadas lá no seu sitio sem empecilhar a vida e ficamos libertos para pensar, pois se não as arrumamos e deixamos que invadam todo o espaço, até o olhar se embota, deixamos de ver com clareza e acabamos a esparvoar só para nos deixarem respirar. Depois, a certa altura, já só pensamos com os sentimentos em vez de pensarmos o sentir e os sentimentos passam a ser ferramentas do pensar. Só que o pensamento tem as suas próprias ferramentas e não são essas. São outras, afiadas e não moles: ninguém vai martelar um prego com a borracha de apagar lápis - furávamos a borracha e o prego continuava por pregar.
Pensar é paz, sentir é um inferno e os infernos mantêm-se enterrados porque aquilo é só fogo da alma e do corpo, um desatino que prende e revoga a liberdade de ser, que é difícil de alcançar. Porque haveríamos de a querer perder, depois de a ter e tornar-nos escravos de um estado de não-ser? Sim, há o valor único daquela experiência diferente e sabemo-lo porque já a tivemos em tempos, mas não se pode sacrificar o que se é e a individualidade por uma ideia muito incerta de felicidade, cheia de dramas constantes. Onde não há conhecimento é tudo irreal, uma espécie de telhado sem fundações. Uma vida com sentido, consciente e em liberdade é um modo de felicidade, na forma de paz.
Uma pessoa quando já viveu muitos anos de uma vida rica de experiências positivas e negativas e muito intensa, já teve tudo e mais alguma coisa. É verdade que gosto de fazer caminhadas com companhia -alguém que vá a meu lado... mas se não houver, não faz mal... de vez em quando atiramo-nos à poesia com um poeta instantâneo e depois tudo volta à liberdade de ser. O que eu quero é paz de espírito.
... lanternas que temos para apontar à realidade naquela maneira de ver que é ao mesmo exterior e interior. Por exemplo, o que vemos aqui: à primeira vista, um homem sentado. Não parece nada de especial até que aplicamos o olhar da mente que é aquele que vê o que lá está materialmente e o liga ao que lá está em ideia: o homem está sentado com uma perna flectida e outra estendida e a mão esquerda que se apoia no chão e é a que vemos primeiro porque está mais próxima de nós, parece estar num movimento de força, como se fosse usar aquele braço para se erguer. Mas depois olhamos a outra e reparamos que está abandonada no joelho, inerte, daquela maneira em que os nossos membros ficam quando estamos absortos. Portanto, ele não está levantar-se, como à primeira vista parece. Está em reflexão, apesar de não lhe vermos o rosto e a sua expressão. O que no-lo diz, embora não esteja materialmente visível, é a maneira como inclina a cabeça, como se estivesse a perscrutar o horizonte, que é o que fazemos quando estamos profundamente dentro de nós. E é uma reflexão de cuidado ou ponderação e não de excitação porque quando a reflexão é de excitação, de lembrança e não de ponderação, a cabeça levanta-se como que a cheirar o perfume do ar.Tanta coisa que se percebe num desenho, aparentemente, tão simples.
Rembrandt van Rijn, 1646
Não seria fantástico se tivéssemos uma capacidade qualquer de ligar visões alternativas da realidade não de um modo imaginário mas material e todos os dias uma potencialidade nossa ser puxada ao ser pela pura necessidade de sobreviver [nesse dia, pelo menos]: ora a víamos como cores, ora como linhas geométricas afiadas, ora como linha geométricas 'aboteradas', ora como padrões, ora como oposto, etc. Ligar e desligar abordagens da realidade, andar um dia inteiro, por exemplo, a ver a realidade assim. Vendo bem, vendo bem, as aulas numa escola são isso mesmo: em cada hora e meia um professor 'liga' uma visão do real que pode ser literária, filosófica, matemática, etc. e puxa nos alunos a potencialidade respectiva para que possa desenvolver-se e fazendo-o, desenvolver aquele ser como um todo. Educar é ligar luzes e abrir portas alternativas de realidade.
Não quer dizer que a Dolly Parton não mereça uma medalha ou que a vida tenha que ser sempre acerca das coisas dramáticas e não possamos ser leves nas conversas, mas quando o entrevistador lhe pergunta se não ter dado a medalha da liberdade a Dolly Parton é 'a' coisa que ele lamenta nos seus oito anos, ficamos com a ideia de que as pessoas não têm noção das prioridades: Guantanamo, Snowden, Assange... só para citar três 'coisas' assim logo à cabeça.
Good! 😡 https://t.co/He1gtybTvm
— Yashar Ali 🐘 (@yashar) December 1, 2020