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January 09, 2023

in the woods

 




Victoria, Canadá, em Carmanah Walbran Provincial Park. ~Luonto

March 21, 2021

Dia da floresta III - galanthus nevado

 




A primeira flor da Primavera. Aqui numa floresta inglesa.


Dia da Floresta





Quercus robur, Wales (media storehouse)





O Carvalho da Floresta

in “Poesias”, de Júlio Dinis


Havia na floresta um roble cheio de anos,
Vestido de hera anciã, decano entre os decanos
Dos bosques do arredor. Raízes colossais
Prendiam-no à terra; ao ar descomunais
Os braços elevava, e ao vê-lo assim dir-se-ia
Que aos outros vegetais as bênçãos estendia.

Velho, e ainda a primavera o vinha requestar;
O outono desfolhava-o em último lugar;
Opunha ao sol do estio a fronde espessa e bela;
Respeitava-o no inverno o raio da procela. 
Viu passar gerações após gerações
Em risos e em pranto, em festas e orações;
Viu crianças pedir-lhe a sombra grata e amena
Que, amantes ao depois, naquela mesma cena
Viu a falar de amor, e no seu tronco abrir
Duas iniciais que liam a sorrir;
E mais tarde ainda os vira, velhos, encanecidos,
Pedir-lhe em vão alento aos lânguidos sentidos,
A repousar ali. A coma erguida ao céu
De longe se mostrava envolta inda no véu
De névoas da distância. Ao regressar à aldeia,
Ansiava o lavrador por avistá-lo, e a ideia
De tudo quanto amava o vinha comover:
Do lar, do velho pai, dos filhos, da mulher.
Que olhos de tanto amor, de penas e esperanças
Lhe enviavam também saudosas as crianças
Ao deixarem a casa, a pátria, irmãos e mãe
Indo tentar porvir por esse mundo além!

Em que tempo nascera esta árvore gigante?
Que época viu crescer o arbusto vacilante,
Curvando-se por terra a cada viração,
Esse que já nem teme ameaças do vulcão?
Quem o pode dizer? Nas trevas se envolvia
A infância do colosso. E quando acabaria?
Que audaz raio do céu, que convulsão fatal
Por terra lançará o enorme vegetal?
Mas, ai, o que a tormenta e o tempo não consomem,
Muitas vezes destrói a ousada mão do homem;
Em vão a tempestade incólume o deixou:
O golpe de um machado um dia o derrubou,
E ao braço do homem cai, dos homens o amigo.
Ouvi a narração do caso, que eu prossigo.
É pela madrugada! hora que a amar induz;
Todo é verdura o campo, o céu é todo luz.
O roble colossal no tronco encarquilhado
Sente a seiva girar. Das aves o trinado
Se ouve na espessa copa, e ao festival clamor
Respondem num sorriso a borboleta e a flor.
Como um velho entretido a ouvir cantar os netos,
Que lhe passam nas cãs os dedos desinquietos,
Assim ele também, vulto austero e senil,
Se compraz a escutar a música de Abril,
Os trinos e o bater das asas na folhagem,
A turba jovial, da infância alada imagem.
De súbito cessou das aves o cantar;
Param, olham com medo o chão, o bosque e o ar.
No seio da floresta um som vago se escuta,
Como o rugir do mar quando nas praias luta.
O roble estremeceu, ouvindo: “Que será?
Que sinistro rumor é esse?” – Perto já
Se distingue melhor. É um travar de vozes
De alguns homens do campo, alegres e velozes.

O roble sossegou, e às aves disse assim:
– “Podeis ficar sem medo aqui ao pé de mim,
São amigos que vêm, pobres trabalhadores,
Sobre quem eu estendo os ramos protetores,
Quando, durante a sesta, o sol ardente cai.
Aves, não receeis. Amigos são, cantai.
Vede, pararam já. Tenta-os a fresca selva,
O machado, o alvião pousaram sobre a relva.
Vão descansar decerto. Ergueram para aqui
O olhar; a gratidão bem claro nele vi.
Cantai, aves, cantai nos ramos da floresta,
Enquanto eu lhes protejo a procurada sesta.”

Assim disse o carvalho às aves, mas em vão,
Que nenhuma a cantar inda se atreve então,
Ou, se alguma o tentou, emudeceu no meio,
Que só para gemer lhe deu vigor o seio;
Parecem pressagiar um vago e oculto mal,
Como quando no céu preveem temporal.
Mas já ordens se dão; preparam-se os obreiros;
Reparte-se a tarefa; exercem-se ligeiros;
Já tudo está disposto, e pronto a uma voz.
Eis se dá um sinal… rapidamente após,
De um dos homens do bando o industriado braço
Lança em volta do tronco traiçoeiro laço.
E as aves a tremer!… “Doidas!” Assim lhes diz
O velho, sacudindo a secular cerviz:
“Das crianças é este um usual brinquedo:
Embaladas assim nos braços meus, sem medo,
Em jogos infantis se aprazem. Não fujais.
Doidas que sois! Dizei, do que vos receais?
Vê-las-eis cedo vir, e o peso é tão suave,
Que me alegra! A criança é pouco mais que a ave.
Não aves, não fujais, que são vossas irmãs,
Ligeiras como vós, e como vós louçãs!”

Fez-se ouvir de repente um som rápido e seco,
Que teve na floresta um temeroso eco.
O tronco estremeceu. As folhas sem vigor
Caíram pelo chão, quais lágrimas de dor.
As aves a gemer, das frondes sacudidas
Fugiam em tropel como ilusões perdidas!
No tronco, em fundo golpe, o ferro penetrou;
A árvore, ao senti-lo, um pouco vacilou,
Mas depois disse ainda às pobres andorinhas
Ocultas, a tremer, nas árvores vizinhas:

– “Foi doloroso o golpe! útil porém talvez.
O destro rachador derruba muita vez
Algum ramo já velho, inútil parasita,
E à fecundante seiva o curso facilita.
Agora foi mais fundo, e rijo o golpe foi,
E perto da raiz. Por isso mais me dói!
Errou talvez ao dá-lo a mão inexperiente.
O golpe foi cruel. Se foi! mas inocente.”

Eis que, ao primeiro golpe, um outro se seguiu,
E outro, mais outro e outro; e o eco os repetiu,
E as aves a carpir do velho amigo a sorte.
Não se ilude ele já; ferido pela morte,
Falece-lhe o vigor; das achas ao brandir
Vacila, geme e ondeia! E próximo a cair.
Prossegue no entretanto a abominável obra,
Da turba afadigada o vozear redobra,
No íntimo do lenho, o ferro ímpio, cruel,
As fibras despedaça. Os homens em tropel
Arredam-se a distância, a fim que os não esmague
O gigante ao cair, e moribundo pague
A morte que lhe dão sacrílega e atroz.
“À obra, à obra”, então alto soa uma voz,
E todos lançam mão da preparada corda.
A triste ave da noite à vozearia acorda,
Solta um lúgubre pio. Um frêmito sutil
Nas folhas passa ao roble. A brisa foi de abril
Que veio ali dizer-lhe a extrema despedida?
Beijá-lo a última vez, saudosa e comovida?
Oscila, geme ainda, estala-lhe a raiz,
Solta como estertor de morto. Ouvis?… Ouvis?

Inclina-se para a terra, em queda suave, lenta,
Desce… desce e, descendo, a rapidez aumenta.
Até que com fragor na relva ao longe cai
O roble secular! Homens, folgai! Folgai!
Retumba na floresta o som que fez na queda,
O fragor do trovão nos ares arremeda,
E as aves, levantando o voo alto e veloz,
Às nuvens vão contar o caso iníquo e atroz;
E com sentido pranto, e em queixas magoadas,
Choram-no pelo bosque as comovidas fadas.
E a obra do senhor às mãos do homem caiu!
E a vida secular numa hora se extinguiu.
E os obreiros do mal saem dali cantando.
Chega logo depois um turbulento bando
De crianças, que a rir, o tronco sem vigor
Calcam, brincando. E após em práticas de amor,
Voa rápido o tempo a amantes e a esposos
Que ali falando vêm. Depois, velhos, saudosos
Do tempo que passou por eles em comum,
Sentam-se a conversar. Mas deles, ai, nenhum
Uma lágrima tem para desgraças destas.
Homens, que mal vos fez o velho das florestas?

1867

March 17, 2021

Queríamos políticas de protecção das florestas e não de protecção de compras

 


A Floresta e o Bonsai

J. M. Soares


A palavra “bonsai” significa uma “técnica” altamente violenta para a fisiologia da espécie escolhida. A oferta de um bonsai ao Presidente diz bem das “torturas políticas e sociais” a que a Floresta Portuguesa tem sido sujeita.

1 - A reunião do Conselho de Ministros do passado dia 4 de Março, sobre a Floresta (a que o Chefe de Estado foi convidado a assistir), foi prévia e abundantemente anunciada, com destaque, na Comunicação Social.

O comunicado que se lhe seguiu pode ser consultado no Portal do Governo e dele se retiram vários (muitos) anúncios (eventualmente de futuras coisas boas) como o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (20-30) e mexidas nas orgânicas do ICNF, da AGIF e Autoridade de Protecção Civil. Veremos se não sai outra Reforma D. Diniz (desta vez a III)...

Mas, curiosidade que vale por si, enquanto o anúncio prévio referia “a Floresta” o Comunicado esclarece que se trata da “Floresta no quadro da valorização do território”.

Fez bem o Governo em alterar o “título” do evento porquanto a grande maioria das medidas tem a ver com a Protecção Civil (não discuto se necessárias ou não) podendo concluir-se daí que a Floresta é, politicamente… um problema de Protecção Civil.

Durante uns quantos anos parecia ser um problema dos bombeiros… desta vez passou a ser um problema da Protecção Civil.

Como a Protecção Civil, como o nome diz, existe para “proteger os cidadãos”, é fácil concluir igualmente que a Floresta constitui uma ameaça aos cidadãos…

Mas, de definitivo e inequívoco, no Comunicado dá-se conta da AQUISIÇÃO de 14 (CATORZE) meios aéreos para combater fogos florestais. Milhões de euros para adquirir 12 helicópteros (6 ligeiros e 6 bombardeiros médios) e 2 bombardeiros anfíbios pesados que terão de ser mantidos doze meses... para trabalharem (especialmente os anfíbios) durante quatro ou cinco...

Parece-me a mim (e talvez a muitos) que esta pródiga “decisão compradora”, já é fruto do sentimento de riqueza de quem espera (o Governo) a chegada de muitos milhões que se podem gastar à vontade...

Sem condenar liminarmente uma decisão que apenas me parece de má gestão, termino por lamentar que, mais uma vez, a Floresta “sirva, em vez de ser servida”... Infelizmente com o beneplácito do PR (que, aliás, ao anunciar a sua nova Casa Civil e os seus futuros “conselheiros”, mostrou continuar a não ter nenhum ligado ao sector agrário). Ele lá sabe… e bem lhe pode escrever “Cartas Abertas” o Presidente da CAP.

2 - O negócio dos aviões foi e continua a ser sempre muito apetitoso: aquando da minha fugaz passagem pela Secretaria de Estado das Florestas (2003/2004) fui visitado várias vezes por “influencers” (como agora se diz) para venderem ao país drones (sofisticados e de origem militar) e (enormes) aviões anfíbios Beriev com dois motores a reacção, acabados de apresentar no mercado aeronáutico internacional (além dos “habituais” Canadair, claro). Era só “facilidades”...

O papel destas pessoas é compreensível, o que não se pode compreender é que haja quem aceite, impunemente, certos negócios... Como é o caso daquele que fez capa (não desmentida) do DN do mesmo dia 4 de Março: “se o aeroporto não for para o Montijo...então Portugal tem de pagar (muitos) milhões de euros de indemnização à ANA/VINCI” com quem o Governo (”alguém”...) decidiu contratar a respectiva concessão! Espero que a notícia seja falsa (o jornal usa caracteres bem gordos) já que serão... 10 mil milhões de euros!

Se a notícia não for falsa... então alguém tem de ser preso !

3 - “Antigamente” dizia-se que os “gostos não se discutem”. Hoje, obviamente, isso já não é verdade. E por não ser verdade, aqui deixo uma reflexão sobre “gostos” que têm no final a ver com o título deste texto:

- Na Antiguidade (há registos do século XIV a.C.) os prisioneiros e criminosos podiam ser, com “naturalidade”, castrados. Cortavam-se-lhes os órgãos genitais e, se fossem jovens, transformavam-se em seres sem qualquer traço de masculinidade e eram destinados a trabalhos de servidão humilhante e acéfala. Se, pelo contrário, já fossem adultos, a perda do poder de reprodução não afectava o desenvolvimento dos traços masculinos e podiam servir para trabalhos mais “pesados”. Mas, como a História nunca deixou (nem deixará) de nos surpreender, existiram seitas religiosas que impuseram a castração como forma de alcançar a “espiritualidade” (não sei, sinceramente, se veio daí a regra da castidade dos padres católicos...). Esta prática durou até ao século XX e só passou a ser crime pela Convenção de Genebra e pela Declaração dos Direitos do Homem;

- No século X começou a praticar-se na China – em famílias ricas – a formação dos “pés de lótus”, amarrando os pés das jovens em crescimento, de forma a obrigar os ossos do pé a deformarem-se de tal forma que as mulheres adultas apresentassem pés pequenos (chamados “de lótus”), muito apreciados na alta sociedade (que não precisava deles para trabalhar...). Esta prática mutiladora, depois de várias tentativas falhadas, só foi extinta e tornada crime pela Revolução de Mao;

- No século XVI, porque a participação das mulheres nos coros dos templos católicos era vetada pela Igreja, alguém se lembrou de cortar os canais provenientes dos testículos aos jovens de 8 a 10 anos que revelassem um tom de voz agudo, a fim de poderem integrar – com a tal voz aguda - esses coros, já adultos. E tal era visto como prestígio e símbolo de ascensão social (especialmente para os castrati de origens muito humildes). Esta prática durou até ao início do século XX.

Não chocava pois por isso que todas estas criaturas pudessem ser usadas (ou oferecidas) em cerimónias oficiais e como “prenda” para altos dignitários convidados.

Não deve pois estranhar-se que o PM tenha oferecido ao Presidente da República – convidado para o último CM que tratou de “Floresta” – um “bonsai”, embora a palavra “bonsai” signifique uma “técnica” (ananicante e altamente violenta/mutiladora para a fisiologia da espécie escolhida) e nada tenha a ver (na sua etimologia) com a palavra “árvore”.

Foi um gesto – obviamente bem-intencionado – que diz bem das “torturas políticas e sociais” a que a Floresta Portuguesa tem sido sujeita, em nome sei lá de quê e de quem.

Há gostos para tudo... e ainda bem que agora (ainda) se possam discutir...

Antigo secretário de Estado das Florestas



November 05, 2019

Ancient forests



Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo

Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam.  Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração.
A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais papeladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor.
Falar de uma encosta branca de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz.
Vivo a natureza integrado nela. De tal modo que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno.
Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha de um perfil. Lá está o exemplo de Miguel Ângelo a demostra-lo. Mas eu, não. 
Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris... Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais humilde da tua estamenha, Mãe!

~Miguel Torga, in "Diário (1942)"
























The SUNDARBANS is a mangrove area, in the delta formed by the confluence of Gang, Brahmaputra and Meghua Rivers, in the Bay of Bengal.
by Ancient Forests