December 01, 2020

Estive a ver uma entrevista com a Catarina Martins

 


Liguei a TV e como só estava a dar porcarias, fui andando nos canais e parei num canal chamado 'Q' e apanhei uma entrevista com ela desde a infância até à actividade no Bloco. Infelizmente o programa acabou sem aviso, ainda eles estavam a conversar... não percebi. Muito interessante. Ela é interessante a falar porque fala convicta. Não sabia da história da vida dela. Vê-se que ela pensou nos processos de vida que a trouxeram onde está e que os arrendondou, como nós todos fazemos, para que a nossa história seja consistente connosco e explique a nossa vida presente. O que também ficou mais ou menos percebido é que a ela lhe interessa a resolução de problemas como blocos [pun not intended] tal como fazia quando era miúda na escola, onde via um problema de racismo e organizava uma mini-luta para resolver o assunto com a professora. Ainda é assim: escolhem os problemas e vão à luta por eles. A questão é que se percebe que não há fio condutor teórico por detrás dessas escolhas, não há uma visão o que tem como consequência não haver direcção nem delimitação. Portanto, tanto podem escolher os problemas certos e estar a travar as lutas que interessam como podem estar sempre ao lado dado que não há bússula, é mais navegação à vista, baseada num certo tipo de marear que tem a ver com a área política em que se encontram e instinto, também. Falta alguém, e talvez não apenas neste partido, pensar o sentido, nomeadamente dos anos de democracia. Está na altura de se ultrapassar o medo de falar na ditadura de Salazar e fazê-lo, efectivamente, de um modo alargado. Sem isso não haverá arredondamento, não haverá sentido consistente e as forças do presente não serão capazes de aguentar o choque do passado. 

Estou completamente de acordo com ela na questão das praxes e achei piada ela dizer que nunca foi praxada embora tivessem tentado. Pois, eu nunca fui praxada nem nunca ninguém tentou e andei uns anos no Liceu de Évora, onde hoje é a Universidade e as praxes lá eram uma instituição - isto numa altura em que os finalistas do Liceu pareciam nosso pais. Alguns tinham 23 ou 24 anos, mas no meu bando de amigas e amigos, muitos foram praxados, mas nunca quando estavam comigo :) com 12 para 13 anos anos lembro-me de adultos se intimidarem comigo. Na faculdade a mesma coisa. Andei sempre à vontade por onde quis e nunca ninguém sequer fez aquele movimento de quem está a ponderar praxar-me. E nunca nenhum amigo meu, perto de mim, foi praxado.


2 comments:

  1. Como dizes, e bem, tanto podem escolher os problemas certos para resolver, como não! Quando chegaram à maioria no Parlamento, a primeira coisa que fizeram foi propor uma lei contra o piropo, quando havia tanta, mas tanta coisa psta corrigir, depois do Passos Coelho, nomeadamente o código do trabalho....quem pode confiar em gente assim?!

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  2. a lei contra o piropo teve importância. estamos num país machista e isso é um sinal importante de mudança. falou-se nisso justamente porque os homens nem sequer percebem porque é que uma pessoa não gosta de ir na rua e ter que ouvir tipos que não conhecemos de lado algum a comentar as mamas ou outra coisa qualquer e por isso fizeram um grande alarido. O problema foi que paralelamente a isso deviam ter um programa com um caminho. E não tiveram. Foram escolhendo os problemas que mais ressoavam na sociedade. Ora, se uma pessoa não tem uma direcção qualquer, mesmo que depois vá fazendo ajuste, mas se não a tem, anda à toa e tanto pode ir dar a um jardim como a um precipício ou uma parede ou um beco.

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