April 13, 2020

Diário da quarentena 29º dia - diário de bordo



Faz hoje um mês que estou fechada em casa e provavelmente só para a semana vou pôr um pé na rua,  mas é para ir enfiar-me em hospitais, o que não é tranquilizante, porque tem mesmo de ser. Depois volto logo para casa. Leio nos jornais que a presidente da comissão europeia prevê que se mande as pessoas de grupos de risco ficar em casa até ao fim do ano. Isso pôs-me logo uma nuvem escura dentro da cabeça. Hoje é o aniversário de uma morte na família e as memórias não são boas. Amanhã começa o 3º período. Tenho que levá-lo sem muito stress. Apetecia-me estar no campo, num sítio onde pudesse andar na natureza. Se calhar não tinha ligação wi-fi, mas tinha uma melhor ligação heart-fi.













a walk in the woods by

Sunny days will come again



@RabalFrancesco


Experiências-limite



Se Boris Johnson não morreu deve-o, em grande parte, ao facto de ter tido dois enfermeiros em permanência, à sua cabeceira, a tratar de si, segundo a segundo, como ele disse. Ora, o que fica evidente é que esse foi um tratamento especial por ser o primeiro-ministro e serão muito poucas as pessoas que se podem dar ao luxo de ter dois enfermeiros retirados do serviço para cuidarem exclusivamente de si. Não há enfermeiros suficientes para isso e um enfermeiros tem de cuidar de uma data de gente ao mesmo tempo.
Portanto, muita gente há-de morrer, todos os dias, porque não há pessoal suficiente para que possam dedicar-se a cuidar deles em permanência, como é necessário em certas doenças, como esta.

Depois, a experiência de se ver tão perto da morte foi tão marcante que de repente o SNS já é o  beating heart da Inglaterra. Parece-me que a rainha não há-de ter gostado disto de ver a monarquia posta atrás do SNS. 
Foi preciso passar por esta experiência para perceber o valor do trabalho dos outros. E isso, que me parece ser comum entre os dirigentes, é triste e tem consequências diárias.


It is hard to find the words to express my debt to the NHS for saving my life.

Boris Johnson

They included two nurses who stood by his bedside for 48 hours – Jenny from Invercargill in New Zealand and Luis from Porto in Portugal.

He said: “For every second of the night they were watching and they were thinking and they were caring and making the interventions I needed.

He ended his message by saying: “We will win because our NHS is the beating heart of this country. It is the best of this country.

É preciso ver para além do que é dito. Assim como ontem ao ouvirmos Boris Johnson percebemos que se não fosse ter dois enfermeiros 24 horas por dia à sua cabeceira tinha morrido, que é o que acontece aos outros todos porque não há enfermeiros que cheguem para estes luxos

April 12, 2020

O prelúdio suite nº 1 de Bach para violoncelo em versão literária, poética



No meio do ódio, descobri que havia, dentro de mim, um amor invencível. No meio das lágrimas, descobri que havia, dentro de mim, um sorriso invencível. No meio do caos, descobri que havia, dentro de mim, uma calma invencível. E, finalmente descobri, no meio de um inverno, que havia dentro de mim, um verão invencível. E isso faz-me feliz. Porque isso diz-me que não importa a força com que o mundo se atira contra mim, pois dentro de mim, há algo mais forte - algo melhor, empurrando de volta.

-Albert Camus
, Retour à Tipasa, 1952

Longuing for this



Esta pintura tem aqui tantas ideias e emoções: a frescura saudável do campo, o sol na eira, a vida alegre e a tranquilidade das longas tardes de fim de Verão, o aroma da maçã a antecipar a doçura das tartes que adornam as mesas, a memória, a tentação...


Dmitriy Annenkov Russian Artist

Hoje, jantar de engordar



Frango com cogulemos e espinafres (e molho...) e um vinho espectacular a acompanhar. Aliás, olha-se para a cor e nem se acredita. Parece saída duma pintura de Rembrandt.


Menos anos de Bach Prelúdio suite nº 1 para violoncelo, mas igual sentimento ❤️




Coronavirus Li Wenliang - hoje somos todos um bocadinho espanhóis 🇪🇸



Em Espanha o número de mortos do COVID, não pára de subir. É uma tragédia. Hoje somos todos um bocadinho espanhóis para dar força.


Momento imbecil do dia


Talvez esta frase atribuída a Trump seja uma 'fake news'.


Coronavirus Li Wenliang - afinal os imigrante servem para alguma coisa e os serviços públicos também



Quem sabe, se calhar não são bandidos e até asseguram muito do SNS inglês... fugiram daqui... fazem falta.

"Espero que não se importem se mencionar dois enfermeiros que se mantiveram ao meu lado durante 48 horas quando as coisas poderiam ter seguido qualquer um dos caminhos. São a Jenny, da Nova Zelândia. Invercargill, no sul, para ser exato. E Luís, de Portugal, perto do Porto", realçou.

"A razão, no final, pela qual o meu corpo começou a receber oxigénio suficiente foi porque, durante todos os segundos na noite, estiveram a observar, a cuidar e a tomar as intervenções necessárias. É assim que também sei que, por todo este país, 24 horas por dia, há centenas de milhares de funcionários do serviço nacional de saúde que estão a agir com o mesmo cuidado, pensamento e precisão da Jenny e do Luís", acrescentou.

Boris Johnson

Intersecções




Coisas para fazer no Domingo de Páscoa em confinamento



A Filarmónica de Berlim disponibilizou gratuitamente a sua Digital Concert Hall. Só é necessário fazer o registo.

Embora a minha peça de oratória preferida de Bach seja A Paixão de S. Mateus BWV 244, a Paixão de S. João é muito apropriada nesta época e é extraordinária. Aqui com Simon Rattle e Peter Sellars:

https://www.digitalconcerthall.com/en/concert/51855

E para quem não é fã de oratória ou de Bach (quem não gosta de Bach, parece-me que não há-de ser pessoa de muita confiança...) o MET disponibiliza uma Ópera por dia.

https://www.metopera.org/

So, enjoy


Solitários



@washingtonpost

Coronavirus Li Wenliang - trumpices













via jackson percy

Coronavirus Li Wenliang - solidão é isto



Michigan woman asked Alexa for help before dying from coronavirus complications: "I am in pain"


Citações deste dia - Camus, 'A Peste'



A mon âge, on est forcément sincère. Mentir est trop fatigant.

La seule façon de mettre les gens ensemble, c'est encore de leur envoyer la peste.

Ah ! Si c'était un tremblement de terre ! Une bonne secousse et on n'en parle plus... on compte les morts, les vivants, et le tour est joué. Mais cette cochonneriede maladie ! Même ceux qui ne l'ont pas la portent dans leur coeur.


La presse, si bavarde dans l'affaire des rats, ne parlait plus de rien. C'est que les rats meurent dans la rue et les hommes dans leur chambre. Et les journaux ne s'occupent que de la rue.

Je dis seulement qu'il y a sur cette terre des fléaux et des victimes et qu'il faut, autant qu'il est possible, refuser d'être avec le fléau.

Je n'ai pas de goût, je crois, pour l'héroïsme et la sainteté. Ce qui m'intéresse, c'est d'être un homme.

L'homme n'est pas une idée.

Il y a chez les hommes plus de choses à admirer que de choses à mépriser.

L'amour demande un peu d'avenir, et il n'y avait plus pour nous que des instants.

Les malades mouraient loin de leur famille et on avait interdit les veillées rituelles, si bien que celui qui était mort.

Hâtivement, les corps étaient jetés dans les fosses. Ils n'avaient pas fini de basculer que les pelletées de chaux s'écrasaient sur leurs visages et la terre les recouvrait de façon anonyme.

Le fléau n'est pas à la mesure de l'homme, on se dit donc que le fléau est irréel, c'est un mauvais rêve qui va passer.

Ce qui m'intéresse, c'est qu'on vive et qu'on meure de ce qu'on aime.

Maintenant je sais que l'homme est capable de grandes actions. Mais s'il n'est pas capable d'un grand sentiment, il ne m'intéresse pas.

Diário da quarentena 28º dia - Une valse a printemps



Adam Noonan

Graffipoemas





via paradoxos

Bom dia 🙂




Johannes Leak

April 11, 2020

Coronavirus Li Wenliang, - nos próximos 12 a 18 meses, são precisas soluções



O que é provável que aconteça nos próximos 12 ou 18 meses:

1. Haver uma vacina mas não haver entendimento político para a distribuir;

2. Haver diagnósticos mas não soluções.


1. Como se lê neste artigo já abaixo, há 120 vacinas em desenvolvimento (embora em estádios diferentes de desenvolvimento), a maioria na América do Norte, e são financiadas por grandes farmacêuticas privadas que querem capitalizar a sua venda.

Quando houver vacina, o grande desafio vai ser o de produzi-la em quantidade e a preços que possam chegar aos biliões de pessoas do planeta.
Vão acontecer, uma de duas coisas: ou haver entendimento político dos países do G20 para produzi-la e distribuí-la por toda a gente, a começar pelos grupos de risco ou, os países não se entenderem, entrarem em guerra pela vacina, a vacina ser caríssima e proteger, não quem mais precisa mas, quem tem mais dinheiro, deixando países inteiros à sua sorte.

Para que isto não aconteça é necessário começar a agir imediatamente no sentido de pressionar os países onde a vacina se está a produzir para estabelecerem um compromisso que tenha como prioridade a saúde e não o lucro e o interesse privado.

O público também tem que pressionar neste sentido e fazer a sua parte que desde logo passa por não eleger políticos petrificados, incapazes de ter uma visão global dos problemas.

(Why the race for a Covid-19 vaccine is as much about politics as it is science - The race is with the virus but ‘vaccine nationalism’ threatens the drive for international agreement and cooperation)


2. As únicas pessoas que estão a trabalhar à altura da situação são os cientistas e os que com eles trabalham de perto que dedicam o seu esforço e tempo, positivamente, seja a encontrar tratamento e vacinas, seja a produzir material médico acessível para os hospitais.

Os outros, nomeadamente economistas e conselheiros políticos só fazem diagnósticos com linguagem bélica a acirram países uns contra os outros, como se vê nos artigos abaixo que são uma ínfima parte das centenas de artigos idênticos que inundam os jornais. 

Quando os economistas e conselheiros políticos dizem aos governantes que têm que preparar-se para uma crise brutal com uma enorme e caótica falta de recursos, os os governantes fazem o que fizeram as pessoas comuns quando lhes disseram isso: começaram a açambarcar mantimentos sem pensar nos outros. Estão assustados. Daí a falta de entendimento na UE: estão todos a açambarcar e a pensar que no futuro é cada um por si. 

Para que precisamos de políticos incapazes de pensar e orientar um futuro comum?

Precisamos que os economistas, os políticos e outros que se dedicam a pensar a vida política, social e económica, construam ideias, modelos de um futuro económico e político cooperativo e sustentável. E precisamos que essas ideias e essas vozes discutam com os governantes e lhes ofereçam soluções que desbloqueiem os dogmas económicos e políticos que nos trouxeram aqui. Sim, porque a China pode ter estado na origem da doença, mas a pandemia, quem a fez foi o tipo de globalização económica e financeira psicopata que temos.



'Death on an appalling scale’ – David Miliband on the threat of COVID-19 to refugees]


Precisamos de soluções:

Pensar a vida nos próximos 12 a 18 meses, sabendo que será marcada pela pandemia até haver uma vacina.

É preciso que o governo ponha os 70 ministros e secretários a trabalhar com peritos (falo de peritos a sério e não de nomeados políticos que não percebem dos assuntos) que desenhem soluções.

É de prever que talvez daqui a uns 4 ou 5 meses, haja infectados suficientes, não sei se para haver imunidade de grupo, mas para que se possa retomar actividades com precauções; tendo em conta que poderá haver uma nova vage da infecções no Inverno, é necessário começar a produzir máscaras e outro material que se tornem de uso vulgar até termos uma vacina: é necessário reconverter serviços de acordo com normas de segurança no que respeita a distanciamento, etc.

É preciso que todos os ministérios e a AR se dediquem a preparar os próximos 12 a 18 meses, precisamos de soluções para viver durante um ano ou um ano e meio com um certo distanciamento para não termos que voltar ao isolamento e os grupos de risco possam voltar à actividade com segurança.

É disso que precisamos e já. 

Já agora, precisamos que as TVs nos informem (para isso precisamos de políticos responsáveis e de confiança que não mintam e não nos tratem como imbecis) dos perigos e dos mortos, mas não precisamos de 100 mesas redondas com pessoas a falar constantemente de perigos e mortos. 

Precisamos de pessoas que saibam do que falam e discutam soluções e envolvam a população nessas soluções.