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November 07, 2023

do livro, "Travels in the Americas" de Camus




Acerca de Nova Iorque:

Uma visão tremenda apesar, ou por causa, do nevoeiro. Ordem, poder, força económica, estão todos aqui. O coração treme perante tanta desumanidade notável.... À primeira vista, uma cidade hedionda, desumana.
Uma das maneiras de compreender um país é saber como se morre nele. Aqui, tudo é planeado. "Você morre e nós fazemos o resto", dizem os panfletos promocionais. Os cemitérios são propriedade privada: "Apresse-se e garanta o seu lugar." Está tudo comprado e vendido, o transporte, a cerimónia, etc.
Chuvas de Nova Iorque. Incessantes, varrendo tudo. Os arranha-céus erguem-se acima... esta cidade dos mortos.... Uma terrível sensação de abandono. Mesmo que eu tivesse toda a gente do mundo a abraçar-me, não estaria protegido de nada.

Acerca da Europa em comparação com EUA e Canadá:

tendo acabado de passar pela Segunda Guerra Mundial, ganhou vários séculos de auto-consciência humana, enquanto a América do Norte, em particular, permaneceu uma inocente alienante.


April 02, 2023

Abril, Primavera

 

(da correspondência entre Camus e Simone du Beauvoir - com tradução minha. Esta paixão clandestina agora revelada nestas cartas inéditas foi sem dúvida a fonte da "famosa" disputa entre Camus e Sartre.)


Paris, le 12 octobre 1951

« Ma tendre Sissi,

Vous savez que je ne suis pas un homme de grandes effusions. “C’est au sentimentalisme qu’on reconnaît la canaille”, écrivait Meyrink, et de même, je me méfie des épanchements trop démonstratifs. Pourtant, chacune de nos rencontres fait naître en moi un lyrisme que je cherche sottement à réprimer. Vous savez bien, vous aussi, qu’il n’y a de salut que dans l’art et dans l’action. Eh bien – vous conjuguez pour moi les deux. Que rêver de plus, dans la rencontre entre deux êtres ? Vous êtes ma musique, mon âme, ma peinture, mon [illisible], la Grâce et la Providence tout à la fois, et tout simplement une camarade telle que je ne croyais plus en connaître, dans la solitude de cette voie que l’un comme l’autre nous avons choisie (si ce n’est elle qui nous a élus). Un artiste sans muse n’est que bien peu de chose. Cette platitude, vous m’excuserez, est d’ailleurs valable pour tout homme, probablement. De l’action, donc ! Là encore, vous m’en donnez tant. Cela suffirait presque à une existence complète : une lumière pour la nuit du quotidien, et vos “tentacules de ténèbres” (envoûtante expression dans votre bouche), lorsque le besoin de retrait se fait trop pressant face à toute l’agitation du monde. Quelle meilleure chora, comme disaient les Grecs, que vos bras ? Avant vous, j’ai désormais l’impression d’avoir vécu le sacerdoce d’un escroc. Or, la vérité est la chose la plus brillante et la plus nue qu’il soit lorsqu’elle éclate. Voilà sans doute pourquoi nous passons tous notre vie dans la pénombre ; mais précisément, il ne s’agit que d’une semi-obscurité, puisque l’autre versant est si étincelant que nous devons nous en protéger comme par des jalousies que l’on tire. Je ne digresse pas – ce que je cherche maladroitement à exprimer, c’est que je ne peux plus m’aveugler, de cette fierté dérisoire que tirent les mâles de leur indépendance, qu’elle soit matérielle, sociale ou affective : je vous aime, ma Sissi. Je prends la mesure de ces paroles dont vous vous plaignez que je suis d’ordinaire trop économe. Je sais aussi ce qu’elles signifient dans la situation qui est la nôtre. Enfin, oui, je vous aime. Et cela me rend heureux. Pourquoi donc se priver du bonheur lorsqu’il surgit ? Vivons !

P.S. : Viendrez-vous rue de Bellechasse la semaine prochaine ? René me l’a fait entendre hier. J’en ai l’espoir.

Albert »

 

Lettre d’Albert Camus à Simone de Beauvoir (1951)

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[non daté]

« Cher vieux puma,

Quel plaisir de te lire à nouveau. Chacune de tes lettres m’enchante, et me tire de ma torpeur sèche. Si tu me voyais le matin, à guetter derrière la banne les allées et venues du facteur comme une gamine amoureuse, tu rirais sans doute bien de moi. Je te sais flatteur, mais quand bien même, il est de ces instants où toute déterminée qu’elle soit à rester maître de son destin comme de ses attaches, une femme ne peut que s’abandonner aux sourdes inclinations de son sexe. La tendresse seule ne suffit pas, elle exige d’autres plaisirs ; toi seul sais apaiser ce désir qui me consume. Ou plutôt l’attiser, délice infernalement céleste.

J’entends ce que tu me dis. Je me livre moi aussi sans retenue. Tu sais bien (et en cela je me l’admets autant à moi-même qu’à toi) que je ne trouve véritablement que dans tes bras ce réconfort dont je me languis tant. Après tant de nuits délaissée, sans parler de ces mornes après-midi où Il daigne à peine m’adresser la parole, occupé à courir les jupons de je ne sais quelle ingénue transie devant ses tirades, ton humanité, l’accueil bienveillant de ton oreille à mes humeurs changeantes, tes plus infimes attentions même, me font un bien souverain. Je me surprends à te parler de soif étanchée, d’appétit comblé, de sensualité réveillée Moi aussi, je me sens presque stupide de le formuler ainsi. Qu’il en soit ainsi : nous voilà deux à être étonnés de la naïveté de nos corps. N’est-ce pas la définition de l’innocence ?

Ce que tu penses valable pour les mâles, comme tu dis, l’est aussi pour nous autres, mon cher ; néanmoins, pourquoi étouffer le feu qui triomphe enfin de l’hiver ? L’amour est un enfant effronté, glorieux et impudique. Et tous nos sentiments, même interdits (qui l’a décrété ?) seront toujours mille fois plus nobles, et beaux, et vivants, que cette situation dont ll me fait souffrir, qui devient franchement ridicule. Du reste, je ne sais quel genre de femme je serais à dénigrer l’amour. Voilà l’inélégance qu’Il m’arrache : j’en suis réduite, suprême indignité, à m’en plaindre à un tiers. À toi qui me manques tant, Albert. Ta voix pénétrante, ton sourire félin, ton souffle chaud sur ma nuque solitaire. Toi, mon oasis dans le désert. Mes pensées t’accompagnent toujours, n’en doute pas. Je ne puis attendre de te voir samedi. Je fais tout mon possible pour venir dès le dîner expédié.

Amoroso,

Ta tienne »

La réponse de Simone de Beauvoir à Albert Camus (1951)

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Tradução:


Paris, 12 de Outubro de 1951

"Minha doce Sissi,

Sabe que não sou um homem de grandes efusões. "Meyrink escreveu: 'Podes ver um patife pelo seu sentimentalismo' e, da mesma forma, desconfio das efusões que são demasiado demonstrativas. No entanto, cada um dos nossos encontros dá origem a um lirismo em mim que tento, insensatamente, reprimir. Também sabe que só há salvação na arte e na acção. Bem, você combina os dois em mim. Que mais sonhar no encontro entre dois seres? Sois a minha música, a minha alma, a minha pintura, a minha [ilegível], Graça e Providência de uma só vez e muito simplesmente uma camarada tal como eu nunca pensei poder conhecer, na solidão deste caminho que ambos escolhemos (se não foi ela que nos elegeu). Um artista sem musa é apenas uma pequena coisa. Esta platitude, se me permite, aplica-se provavelmente a todos os homens. Acção, então! Mais uma vez , é tanto o que me dá. Seria quase suficiente para uma existência completa: uma luz para a noite da vida quotidiana e os seus "tentáculos de ténebras" (expressão enfeitiçante na sua boca), quando a necessidade de retirada é demasiado premente face a toda a agitação do mundo. Que melhor coro, como disseram os gregos, do que os vossos braços? Antes de vós, agora sinto-me como se tivesse vivido o sacerdócio de um vigarista. Mas a verdade, quando irrompe, é a coisa mais brilhante e mais nua que existe. É provavelmente por isso que todos passamos as nossas vidas no escuro, mas é apenas uma semi-escuridão, já que o outro lado é tão brilhante que temos de nos proteger dele como se estivéssemos a desenhar persianas. Não estou a divagar - o que estou desajeitadamente a tentar expressar é que já não me posso cegar para o orgulho irrisório que os homens têm na sua independência, seja ela material, social ou emocional: amo-te, minha Sissi. Tomo a medida destas palavras, das quais se queixam que normalmente sou demasiado parcimonioso. Também sei o que elas significam na nossa situação. Finalmente, sim, amo-vos. E isso faz-me feliz. Porque nos havemos de nos privar da felicidade quando ela chega? Vamos viver!

P.S.: Vem à Rue de Bellechasse na próxima semana? René disse-me isso ontem. Espero que sim.

Albert".

Carta de Albert Camus a Simone de Beauvoir (1951)



**************

"Querido velho puma,

Que prazer em voltar a ler-te. Cada uma das tuas cartas me encanta e acorda-me do meu seco torpor. Se me visses de manhã, a ver as idas e vindas do carteiro atrás da janela como uma garota apaixonada, provavelmente rias-te de mim. Sei que és lisonjeiro, mas mesmo assim, há momentos em que, por mais determinada que esteja em permanecer mestre do seu destino e dos seus laços, uma mulher só pode render-se às inclinações surdas do seu sexo. A ternura por si só não é suficiente, requer outros prazeres; só tu sabes como apaziguar este desejo que me consome. Ou melhor, para o alimentar, infernal deleite celestial.

Eu ouço o que dizes. Também eu me entrego sem restrições. Sabes muito bem (e nisto admito tanto para mim como para ti) que só nos teus braços  posso realmente encontrar o conforto por que anseio. Depois de tantas noites de negligência, para não falar daquelas tardes sombrias em que Ele mal se digna falar comigo, ocupado que está a perseguir as saias de uma qualquer ingénua embevecida com as suas tiradas, a tua humanidade, a amável recepção do teu ouvido às minhas mudanças de humor, até as tuas ínfimas atenções, fazem-me um bem soberano. Dou por mim a falar de sede saciada, apetite satisfeito, sensualidade despertada... Também eu me sinto quase estúpida para pôr as coisas desta maneira. Assim seja: aqui estamos nós, os dois, espantados com a ingenuidade dos nossos corpos. Não é essa a definição de inocência?

O que pensas que é bom para os homens, como dizes, também é bom para o resto de nós, meu querido; no entanto, porquê abafar o fogo que finalmente triunfa sobre o Inverno? O amor é uma criança sem vergonha, gloriosa e impudica. E todos os nossos sentimentos, mesmo que proibidos (quem o decretou?) serão sempre mil vezes mais nobres, bonitos e vivos, do que esta situação qual ele me faz sofrer, que se está a tornar francamente ridícula. Além disso, não sei que tipo de mulher seria eu para denegrir o amor. Esta é a inelegância que Ele me provoca: sou reduzida, suprema indignidade, a queixar-me a um terceiro. A ti, de quem sinto tanta falta, Albert. A tua voz penetrante, o teu sorriso felino, a tua respiração quente no meu pescoço solitário. A ti, meu oásis no deserto. Os meus pensamentos estão sempre contigo, não duvides. Mal posso esperar para te ver no sábado. Farei os possíveis para ir assim que o jantar terminar.

Amoroso,

Toda Tua".

Resposta de Simone de Beauvoir a Albert Camus (1951)


November 07, 2021

Pequeno léxico de Camus no dia do seu aniversário

 



Camus nasceu nos bairros operários de Argel, na Argélia, a 7 de novembro de 1913. Aos 44 anos foi galardoado com o Nobel da Literatura. Aos 46 anos morreu num acidente de automóvel.

O Estrangeiro" foi o seu primeiro livro. Publicado em 1942 e traduzido em 40 línguas, é o seu livro mais conhecido e vendido.



@julie_meric



60 citações de Albert Camus, selecionadas por Maria Luísa Malato, professora da Faculdade de Letras do Porto, e Eduardo Graça, Presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social:


ABSURDO/ ANTI-ABSURDO: "E assim nos tornamos profetas do absurdo! [...] De que me servia depois afirmar que, na experiência que me interessava e sobre a qual aconteceu escrever, o absurdo não era senão um ponto de partida, ainda que a sua lembrança e emoção acompanhem os caminhos seguintes?" ("O Verão")

AMIZADE: "Os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade." ("Cadernos")

ARTE/ FILOSOFIA: "Porque sou eu um artista e não um filósofo? É porque penso segundo as palavras e não segundo as ideias." ("Cadernos")

ARTE/ FINALIDADE: "A finalidade da arte não é de legislar ou reinar, mas em primeiro lugar, a de compreender. [...] Por isso o artista, ao chegar ao fim do caminho, absolve em vez de condenar. Não é juiz, mas defensor. É o advogado perpétuo da criatura viva. Porque está viva. Exorta verdadeiramente ao amor ao próximo, que não é esse amor longínquo que degrada o humanismo contemporâneo do catecismo de tribunal." ("Discursos da Suécia")

ARTE: "A arte não é para mim um prazer solitário É uma maneira de comover o maior número possível de homens, oferecendo-lhes uma imagem privilegiada dos sofrimentos e alegrias comuns." ("Discursos da Suécia")

BOMBA ATÓMICA: "O mundo é o que é, isto é, pouca coisa é. Eis o que cada um pode concluir depois de ontem, depois de ouvir o formidável concerto que a rádio, os jornais e as agências de informação harmoniosamente acabam de difundir sobre a bomba atómica. Podemos concluir com efeito, entre os numerosos comentários entusiastas, que qualquer cidade de importância mediana pode ser totalmente destruída por uma bomba com o tamanho de uma bola de futebol. Vai ser preciso escolher, num futuro mais ou menos próximo, entre o suicídio coletivo e a utilização inteligente das conquistas científicas." ("Atuais")

CONHECIMENTO: "Não creio suficientemente na razão para subscrever o progresso. Nem em nenhuma filosofia da História. Creio, porém, que os homens não deixaram de aumentar a consciência que tinham do seu destino. Não ultrapassámos a nossa condição, e, no entanto, conhecemo-la melhor." ("O Verão")

CRISTIANISMO: "Se o Cristianismo é pessimista quanto ao homem e otimista quanto ao destino da humanidade, pois bem, eu direi que, embora pessimista quanto ao destino da humanidade, sou otimista quanto ao homem." ("Atuais")

DESESPERO: "A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, muita gente, confunde o trágico com o desespero. 'O trágico', dizia Lawrence, 'deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade'. Eis um pensamento saudável e de aplicação imediata. Hoje em dia, há muitas coisas que merecem esse pontapé." ("Núpcias")

DETERMINISMO: "Vivemos no terror porque a persuasão já não é possível, porque o homem se entregou inteiro à História." ("Atuais")

DEUS: "O segredo do meu universo: imaginar Deus sem a imortalidade humana." ("Cadernos")

DIÁLOGO: "Não há vida sem diálogo. Mas o diálogo foi, hoje, na maior parte do mundo, substituído pela polémica. O século XX é o século da polémica e do insulto. Eles ocupam, entre as nações e os indivíduos, e mesmo ao nível das disciplinas outrora desinteressadas, o lugar que tradicionalmente cabia ao diálogo refletido. Dia e noite, milhares de vozes, empenhadas, cada uma por seu lado, num tumultuoso monólogo, lançam sobre os povos uma torrente de palavras mistificadoras, de ataques, de defesas, de exaltações. Mas qual é o mecanismo da polémica? Consiste em considerar o adversário como inimigo, por conseguinte a simplificá-lo e a recusar vê-lo. Aquele que insulto, já não sei de que cor são os seus olhos, ou se acaso sorri, e como o faz. Tornados quase cegos por obra e graça da polémica, já não vivemos entre os homens, mas num mundo de sombras." ("Atuais")

ENCANTAMENTO: "É nisso precisamente que reside um dos elementos de sedução da música: ela representa a perfeição de uma maneira suficientemente fluida e ligeira para podermos prescindir do esforço." ("Escritos de Juventude")

ESCREVER/ VIVER: "Viver, claro, é um pouco o contrário de exprimir." ("Núpcias")

ESCRITA: "É para brilhar depressa que não tentamos reescrever." ("Cadernos")

ESTILO: "Quando o grito mais dilacerante encontra a sua linguagem mais rigorosa, a revolta satisfaz a sua verdadeira exigência, e extrai dessa fidelidade a si mesma uma força de criação. Se bem que isso vá contra os preconceitos da época, o mais belo estilo em arte é a expressão da mais viva revolta." ("O Homem Revoltado")

EXISTENCIALISMO/ EXISTÊNCIA: "Onde descobrir a essência senão ao nível da existência? Mas nós não podemos dizer que o ser não é senão existência. [...] O ser não pode manifestar-se senão no devir, o devir nada é sem o ser." ("O Homem Revoltado")

EXISTENCIALISMO/ SARTRE: "Não aceitamos a filosofia existencialista só porque afirmamos que o mundo é absurdo. Se assim fosse, 80% dos passageiros do metro, a acreditar nas conversas que ouço, seriam existencialistas. O existencialismo é uma visão completa, uma visão do mundo que pressupõe uma metafísica e uma moral. Se bem que me aperceba da importância histórica do movimento, não tenho suficiente confiança na razão para aderir a um sistema. Isto é tão verdade que o manifesto de Sartre, publicado no primeiro número dos Temps Modernes, me parece inaceitável." (Carta à revista "Le Nef", 1/1946) 

EXISTENCIALISMO/ SARTRE: "Não, não sou existencialista. Sartre e eu surpreendemo-nos sempre quando vemos os nossos dois nomes associados. Pensamos mesmo um dia publicar um pequeno anúncio em que os abaixo assinados afirmarão nada ter em comum, e recusarão responder pelas dívidas contraídas pelo outro." (Entrevista a "Nouvelles Littéraires", 15/11/1945)

EXISTENCIALISMOS: "Se as premissas do existencialismo se encontram, como creio, em Pascal, Nietzsche, Kirkegaard ou Chestov, então estou de acordo com elas. Se as suas conclusões são as dos nossos existencialistas, não concordo com elas, pois são contrárias às premissas." (Última entrevista de Albert Camus, 20/12/1959)

FORÇA: "Aprendemos à nossa custa que, contrariamente ao que por vezes pensamos, o espírito nada pode contra a espada, mas também que o espírito unido à espada sempre vence a espada que se ergue em prol de si mesma." ("Carta a um Amigo Alemão, I")

GÉNIO: "O génio é a inteligência que conhece as suas fronteiras" ("O Mito de Sísifo")

GLOBALIZAÇÃO: "Sabemos hoje que não há ilhas, e que são vãs as fronteiras. Sabemos que, num mundo em constante aceleração, quando o Atlântico se atravessa em menos de um dia ou Moscovo contacta com Washington em poucas horas, estamos obrigados à solidariedade ou à cumplicidade, segundo os casos. O pão fabricado na Europa vende-se em Buenos Aires, e as máquinas que trabalham na Sibéria foram fabricadas em Detroit. Hoje, a tragédia é coletiva. Sabemos pois todos, sem sombra de dúvida, que a nova ordem que buscamos não pode ser somente nacional, ou sequer continental, e muito menos ocidental ou oriental. Ela só pode ser universal." ("Atuais")

HELENISMO: "O mundo em que mais á vontade me sinto: o mito grego." ("Cadernos")

HETERONÍMIA/ ROMANCE?: "Com efeito, o romance exige o estilo mais complexo de todos?: o que se submete por inteiro ao objeto descrito. Podemos pois conceber um autor que escrevesse cada um dos seus romances num estilo diferente." ("Cadernos")

HISTÓRIA/ POLÍTICA: "É por demais evidente que o pensamento político se encontra cada vez mais ultrapassado pelos acontecimentos. [...] Bem entendido, o espírito segue arrastado pelo mundo. A História corre, enquanto o espírito medita. Mas esse atraso inevitável aumenta hoje na proporção da aceleração histórica. O mundo mudou mais nos últimos cinquenta anos do que tinha mudado nos duzentos anteriores. E vemos hoje o mundo empenhado em regulamentar problemas de fronteiras, quando todos sabemos que as fronteiras são hoje abstratas." ("Atuais")

HONRA: "De resto, como fazer compreender que uma criança pobre pode por vezes ter vergonha sem nunca invejar coisa alguma?" ("O Primeiro Homem")

JORNALISMO: "É importante pensarmos no que é o jornalismo de opinião. A concepção que a impressa francesa tem de informação podia ser melhor, já o dissemos. Queremos informar depressa em vez de querer informar bem. A verdade não fica a ganhar. [...] Como vemos, tal equivaleria a perguntar se os artigos de fundo têm algum fundamento, e que se evitasse publicar como verdadeiro o que é falso ou duvidoso. É a esse procedimento que eu chamo 'jornalismo crítico'. Uma vez mais, nada disto se faz sem inflexão e sem o sacrifício de muitas outras coisas. Mas talvez bastasse começar a pensar nisto." ("Atuais")

JUSTIÇA: " (...) amo os que vivem hoje na mesma terra que eu, e são esses que saúdo. É por eles que luto e é por eles que estou disposto a morrer. E por uma cidade longínqua, de que não tenho sequer a certeza, não irei contra os meus irmãos. Não aumentarei a injustiça viva em nome de uma justiça morta." ("Os Justos")

LIBERALISMO/ MARXISMO: "Estas ideologias, nascidas há um século, no tempo da máquina a vapor e do ingénuo otimismo científico, são hoje caducas, e incapazes, nas suas formas atuais, de resolver os problemas que se põem ao século do átomo e da relatividade." ("Atuais")

LIBERDADE E JUSTIÇA: "Não o devemos ignorar: é difícil conciliá-las. A crer na História, pelo menos, nunca foi possível. Como se houvesse nestes dois princípios uma intrínseca incompatibilidade. Como poderiam não a ter? A liberdade para cada um é também a liberdade do banqueiro, ou do ambicioso: depressa a injustiça se instala. A justiça para todos é a submissão da personalidade ao bem coletivo: como falar então de liberdade absoluta? [...] Devemos pois renunciar a esse esforço inútil? Não, não devemos renunciar. É preciso simplesmente tomarmos consciência dessa imensa dificuldade em as conciliar e tornar essa dificuldade evidente para aqueles que, ainda que animados de boa-fé, tudo querem simplificar. Para o demais, saibamos somente que é esse o único esforço pelo qual, nos dias de hoje, vale a pena viver e lutar." ("Atuais")

LIBERDADE: "Esquecei os vossos mestres, aqueles que tanto vos mentiram, disso tendes vós a certeza agora, e também os outros, pois não souberam persuadir-vos. Esquecei todos os mestres, esquecei todas as ideologias moribundas, os conceitos gastos, os slogans vetustos de que vos querem ainda alimentar. Não vos deixeis intimidar por nenhuma chantagem, de direita ou de esquerda. E finalmente não aceitai lições senão daqueles jovens combatentes de Budapeste dispostos a morrer pela liberdade. Esses de certeza vos não mentiram ao gritar que o espírito livre e o trabalho livre, numa nação livre, no seio de uma Europa livre, são os únicos bens deste mundo por que vale a pena lutar e morrer." ("Atuais")

LITERATURA/ FILOSOFIA: "Não sou um romancista no sentido em que normalmente se entende. Mas antes um artista que cria mitos à medida da sua paixão e da sua angústia." ("Cadernos")

LITERATURA/ FILOSOFIA: "Os grandes romancistas são romancistas filósofos." ("O Mito de Sísifo")

LITERATURA/ FILOSOFIA: "Um romance não é senão uma filosofia em imagens." (Recensão ao livro de Sartre, "A Náusea", 10/1938)

LITERATURA/ VIDA: "[...] o erro de uma certa literatura é acreditar que a vida é trágica porque é miserável. Ela pode ser surpreendente e magnífica, eis toda a sua tragédia." (Recensão ao livro de Sartre, "A Náusea", 10/1938)

MAL: "Estancamos diante do mal. E para mim é bem verdade que me sinto um pouco como esse Santo Agostinho que, antes da sua conversão ao Cristianismo, dizia: 'Procurava donde vinha o mal e não saía nunca dele'. Mas é também verdade que eu sei, como outros, o que é preciso fazer, se não para diminuir o mal, pelo menos a forma de o não aumentar." ("Atuais")

MARXISMO: "Contar-se-iam pelos dedos das mãos os comunistas que chegaram à revolução pelo estudo do marxismo. Convertem-se primeiro e só depois leem as Escrituras." ("O Homem Revoltado")

MEDO E POLÍTICA: "O século XVII foi o século das Matemáticas, o XVIII das Ciências Físicas, o XIX da Biologia. O nosso século XX é o século do Medo. Dir-me-ão que o medo não é uma ciência. Mas também a Ciência aqui se encontra implicada, já que os últimos progressos teóricos a levaram a negar-se a si própria, e os avanços práticos hoje ameaçam destruir toda a terra. Além do mais, se o medo não pode considerar-se em si uma ciência, não há dúvida que ele é, apesar de tudo, uma técnica. O que mais nos impressiona hoje, com efeito, é que no mundo atual, em geral (e à exceção dos crentes de todas as espécies), a maior parte dos homens se encontra privada da noção de futuro. Ora não há vida vivida sem projeção no tempo, sem esperança de amadurecimento e progresso." ("Atuais")

MEIOS/ FINS: "Quando um trabalhador, em qualquer ponto do mundo, ergue os seus punhos nus diante de um tanque e grita que não é um escravo, que somos nós se a isso ficarmos indiferentes?" ("Atuais")

MITO/ ESTILO: A obra de um homem não é senão esse longo caminho para encontrar, pelos desvios da arte, as duas ou três imagens simples e grandes sobre as quais o coração pela primeira vez se abriu." (Prefácio a "O Avesso e o Direito")

MULHERES: "As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins." ("Núpcias")

MUNDO: "Todas as gerações, sem dúvida, se julgam fadadas para refazer o mundo. A minha sabe, no entanto, que não poderá refazê-lo. A sua tarefa é talvez maior. Consiste em impedir que se desfaça, partindo unicamente das suas negações." ("Discursos da Suécia")

MÚSICA: "A música é a expressão perfeita de um mundo ideal que nos é comunicado através da harmonia. Esse mundo existe. Não a um nível superior ou inferior a ujm mundo real, mas paralelamente a ele. Mundo das ideias? Talvez. Ou então mundo dos números, pois nos é comunicado pela harmonia." ("Ensaio sobre a Música")

NIILISMO: "Perante o mais cerrado niilismo, não procurei senão as razões para ultrapassar esse niilismo. E isto não por virtude ou por uma rara elevação de alma, mas por uma fidelidade instintiva à luz em que nasci, e onde, desde há milhares de anos, os homens aprendem a saudar a vida, mesmo na dor." ("Discursos da Suécia")

NUANCES: "Lutamos por essa indelével nuance que distingue o sacrifício do misticismo, a energia da violência, a força da crueldade, por essa nuance ainda mais subtil que separa o falso do verdadeiro, e o homem em que nos esperamos tornar dos deuses cobardes com que vós sonhareis." ("Carta a um Amigo Alemão, I")

ORDEM SOCIAL: "Fala-se agora muito de ordem. Porque a ordem é uma coisa boa que bem falta nos fez. [...] Evidentemente, a ordem de que se fala muito hoje é a ordem social. Mas a ordem social é somente a da tranquilidade nas ruas? Não é certo. [...] Talvez ajude para saber o que é a ordem social a comparação com a conduta individual. Quando dizemos nós que um indivíduo pôs a sua vida em ordem? Quando ele vive de acordo com ela e conformou a sua conduta ao que julga verdadeiro. Um insurreto que, sob a desordem das paixões, morre por uma ideia que fez sua, é na verdade um homem de ordem, porque ordenou toda a sua conduta segundo um princípio que lhe parece evidente. Mas não podemos nunca dizer que tem a vida em ordem um privilegiado que faz regularmente, durante toda a sua vida, três refeições por dia, e baseia a sua fortuna em valores seguros, mas que se fecha em casa quando ouve barulho na rua. Trata-se somente de um homem com medo e poupado. E se a ordem francesa fosse a da prudência e a da secura do coração, estaríamos tentados a ver nela a pior das desordens, já que, por indiferença, se passariam a permitir todas as injustiças. De tudo isto se concluiria que não há ordem sem equilíbrio e sem acordo. Não basta exigir ordem para bem governar, porque bem governar é a única forma de atingir uma ordem que faça sentido. Não é a ordem que dá força à justiça, mas a justiça que dá a certeza da ordem." ("Atuais")

POBREZA: "A miséria impediu-me de acreditar que tudo está bem sob a luz do sol da História; o sol ensinou-me que a História não é tudo." ("O Avesso e o Direito")

POLITICA: "Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário." ("Cadernos")

REALISMO: "Todos somos realistas e ninguém o é. A arte não significa nem a recusa total nem o total assentimento daquilo que é. [...] Sendo simultaneamente recusa e assentimento, [...] o artista encontra-se sempre nesta ambiguidade, incapaz de negar o real e, no entanto, eternamente votado a contestá-lo no que ele tem de eternamente inacabado." ("O Homem Revoltado")

RESPONSABILIDADE: "Não podemos impedir que esta criação seja aquela em que são torturadas crianças. Mas podemos diminuir o número de crianças torturadas." ("Atuais")

RETRATO DO ESCRITOR: "[...] não possuindo títulos que não partilhe com os seus companheiros de luta, vulnerável mas persistente, injusto mas apaixonado pela justiça, construindo a sua obra, sem vergonha mas sem orgulho perante todos, sempre dividido entre a beleza e a dor, e votando por fim todo o seu esforço a gerar do seu ser duplo as criações que obstinadamente edifica no movimento destruidor da História." ("Discursos da Suécia")

ROMANCE DE TESE: "O romance de tese, a obra que pretende provar, a mais detestável de todas, é aquela que mais frequentemente é inspirada num espírito satisfeito." ("O Mito de Sísifo")

SANTA BÁRBARA DE ORÃO: "Sabeis que eu não sou muitas vezes religioso. Mas se acontecer eu sê-lo, sabei que não necessito de Deus e que não o posso ser senão quando quiser fingir que o sou, porque um comboio vai partir e a minha oração não tem amanhã." (Cadernos)

SARTRE: "Não é por acaso que o filósofo que inspira hoje o pensamento europeu é aquele que escreveu que só a vida moderna permite que o espírito tome consciência de si mesmo, e que foi até ao ponto de afirmar que a natureza é abstrata, e que só a razão é concreta." ("Atuais")

SOFRIMENTO: "Sim, são as faltas que originam os nossos piores sofrimentos. Mas que importa, na verdade, o que nos falta, quando o que possuímos se não esgotou ainda? Tantas coisas são suscetíveis de ser amadas que nenhum desfalecimento pode ser definitivo. Saber sofrer é saber amar. E quando tudo rui tudo recomeçar, com simplicidade, enriquecidos pela dor, quase felizes com a sensação da nossa infelicidade." ("Escritos de Juventude")

SURREALISMO: "A verdadeira destruição da linguagem, que o surrealismo procurou com tanta obstinação, não se encontra na incoerência ou no automatismo. Antes se encontra na palavra de ordem." ("O Homem Revoltado")

TERRORISMO: "Se um terrorista lança uma granada no mercado de Belcourt frequentado pela minha mãe e ele a mata, serei responsável se, para defender a justiça, eu tiver igualmente de defender o terrorismo. Amo a justiça, mas amo também a minha mãe." (Camus a Roblés, testemunho)

TRAGÉDIA/ MELODRAMA: "O que é afinal uma tragédia? [...] Eis o que me parece distingui-la: as forças que se confrontam na tragédia são igualmente legítimas. No melodrama, ou no drama, pelo contrário, somente uma é legítima. [...] Na primeira, cada força é, ao mesmo tempo, boa e má. Nos segundos, uma força representa o bem e outra o mal (por isso, na nossa época, o teatro de propaganda não é senão uma ressurreição do melodrama). Antígona tem razão, mas Creonte não tem menos. Também Prometeu é ao mesmo tempo justo e injusto. E Zeus, que o castiga sem piedade, está no seu direito." ("Sobre o Futuro da Tragédia")

UTOPIA: "O mundo deve hoje escolher entre o pensamento político anacrónico e o pensamento utópico. O pensamento anacrónico está em vias de nos matar. Por mais desconfiados que sejamos (e que eu seja), o espírito da realidade logo nos reconduz a esta utopia relativa. Quando essa utopia entrar na História, como sucedeu com muitas outras utopias do mesmo género, os homens lhe chamarão realidade. É assim que a História não é senão o esforço desesperado dos homens para dar forma aos seus sonhos mais clarividentes." ("Atuais")


January 04, 2021

Passam hoje 61 anos da morte de Camus

 


O escritor do absurdo, do (não)suicídio, da angústia e da estranheza de estar vivo que disse aquela frase assombrosa, '... Au milieu de l'hiver, j'ai découvert en moi un invincible été.' O assombro desta frase não está no Inverno dele, Camus, como se a sua força fosse uma excepção, pois todos nós já tivémos Invernos rigorosos onde fomos obrigados a descobrir-nos forças invencíveis. O que é excepção e assombra é ser capaz de descobrir em si Verões em pleno Inverno, nomeadamente tendo em conta a duração desses Invernos de rigor que pode ser de décadas e pode até começar muito cedo, na infância. E por Verão quero dizer, uma alegria de estar vivo, uma capacidade de espanto e de se entregar, de ver o belo e de amar profundamente.





November 07, 2020

Aniversários - Camus


Au milieu de l'hiver, j'ai découvert en moi un invincible été.

Ne marche pas devant moi, je ne te suivrai peut-être pas. Ne marche pas derrière moi, je ne te guiderai peut-être pas. Marche à côté de moi et sois simplement mon amie.
Etre différent n'est ni une bonne ni une mauvaise chose. Cela signifie simplement que vous êtes suffisamment courageux pour être vous-même.
Il faut savoir se prêter au rêve lorsque le rêve se prête à nous.
Bien entendu, le véritable amour est exceptionnel, deux ou trois fois par siècles à peu près. Le reste du temps, il y a la vanité et l'ennui.
Parler de ses peines, c'est déjà se consoler.
La démocratie, ce n'est pas la loi de la majorité, mais la protection de la minorité.
Pour qu'une pensée change le monde, il faut d'abord qu'elle change la vie de celui qui la porte. Il faut qu'elle se change en exemple.


September 13, 2020

"love the day that escapes injustice, and return to combat having won that light"

 



For there is merely bad luck in not being loved; there is misfortune in not loving. All of us, today, are dying of this misfortune. For violence and hatred dry up the heart itself; the long fight for justice exhausts the love that nevertheless gave birth to it. In the clamor in which we live, love is impossible and justice does not suffice. This is why Europe hates daylight and is only able to set injustice up against injustice. But in order to keep justice from shriveling up like a beautiful orange fruit containing nothing but a bitter, dry pulp, I discovered once more at Tipasa that one must keep intact in oneself a freshness, a cool wellspring of joy, love the day that escapes injustice, and return to combat having won that light. Here I recaptured the former beauty, a young sky, and I measured my luck, realizing at last that in the worst years of our madness the memory of that sky had never left me. This was what in the end had kept me from despairing. I had always known that the ruins of Tipasa were younger than our new constructions or our bomb damage. There the world began over again every day in an ever new light. O light! This is the cry of all the characters of ancient drama brought face to face with their fate. This last resort was ours, too, and I knew it now. In the middle of winter I at last discovered that there was in me an invincible summer.

- Albert Camus



May 15, 2020

Livros onde voltamos vezes sem conta



... porque em cada página há uma frase que inspira, uma visão que toca. Camus tinha essa qualidade dos grandes escritores que é usarem as palavras à vontade como quem usa pincéis numa tela e mostra o exterior e o interior das coisas e das pessoas de uma maneira que até sabíamos mas nunca tínhamos visto daquela perspectiva de modo que aparecem como desvelações.





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April 13, 2020

Destressar citando Camus



" É preciso tempo para ser feliz. Muito tempo. A felicidade também é uma longa paciência. E em quase todos os casos, nós usamos a nossa vida a ganhar dinheiro, quando seria preciso, pelo dinheiro, ganhar tempo ".

Albert Camus, a morte feliz.

April 12, 2020

O prelúdio suite nº 1 de Bach para violoncelo em versão literária, poética



No meio do ódio, descobri que havia, dentro de mim, um amor invencível. No meio das lágrimas, descobri que havia, dentro de mim, um sorriso invencível. No meio do caos, descobri que havia, dentro de mim, uma calma invencível. E, finalmente descobri, no meio de um inverno, que havia dentro de mim, um verão invencível. E isso faz-me feliz. Porque isso diz-me que não importa a força com que o mundo se atira contra mim, pois dentro de mim, há algo mais forte - algo melhor, empurrando de volta.

-Albert Camus
, Retour à Tipasa, 1952

Citações deste dia - Camus, 'A Peste'



A mon âge, on est forcément sincère. Mentir est trop fatigant.

La seule façon de mettre les gens ensemble, c'est encore de leur envoyer la peste.

Ah ! Si c'était un tremblement de terre ! Une bonne secousse et on n'en parle plus... on compte les morts, les vivants, et le tour est joué. Mais cette cochonneriede maladie ! Même ceux qui ne l'ont pas la portent dans leur coeur.


La presse, si bavarde dans l'affaire des rats, ne parlait plus de rien. C'est que les rats meurent dans la rue et les hommes dans leur chambre. Et les journaux ne s'occupent que de la rue.

Je dis seulement qu'il y a sur cette terre des fléaux et des victimes et qu'il faut, autant qu'il est possible, refuser d'être avec le fléau.

Je n'ai pas de goût, je crois, pour l'héroïsme et la sainteté. Ce qui m'intéresse, c'est d'être un homme.

L'homme n'est pas une idée.

Il y a chez les hommes plus de choses à admirer que de choses à mépriser.

L'amour demande un peu d'avenir, et il n'y avait plus pour nous que des instants.

Les malades mouraient loin de leur famille et on avait interdit les veillées rituelles, si bien que celui qui était mort.

Hâtivement, les corps étaient jetés dans les fosses. Ils n'avaient pas fini de basculer que les pelletées de chaux s'écrasaient sur leurs visages et la terre les recouvrait de façon anonyme.

Le fléau n'est pas à la mesure de l'homme, on se dit donc que le fléau est irréel, c'est un mauvais rêve qui va passer.

Ce qui m'intéresse, c'est qu'on vive et qu'on meure de ce qu'on aime.

Maintenant je sais que l'homme est capable de grandes actions. Mais s'il n'est pas capable d'un grand sentiment, il ne m'intéresse pas.