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January 21, 2024

Pôr os números em perspectiva - Vítimas do comunismo

 

"O Livro Negro do Comunismo", uma autópsia das atrocidades comunistas compilada por académicos europeus e americanos em 1997, concluiu que o custo humano dos genocídios, execuções extrajudiciais, deportações e fomes artificiais ascendeu a mais de 94 milhões.

O Professor Mark Kramer, do Centro Davis de Estudos Russos e Eurasiáticos da Universidade de Harvard, editou "O Livro Negro". Segundo me disse, investigações posteriores sugerem que "o número total (de pessoas) que morreram de forma não natural durante os regimes comunistas (...) é superior a 80 milhões".

[este número não inclui as vítimas de fome provocadas pelas políticas soviéticas. Apenas os assassinatos, execuções, mortes em Gulags e fomes planeadas como o Holodomor]

Vamos pôr este novo número em perspetiva com outros números - para se ter noção da enormidade.

Entre 1825 e 1917 [quase 100 anos], escreveu Stéphane Courtois, do Centro Nacional Francês de Investigação Científica, o regime czarista na Rússia "levou a cabo 6 321 execuções políticas (...) enquanto que em dois meses de 'Terror Vermelho', no outono de 1918, o bolchevismo levou a cabo cerca de 15 000 execuções políticas".

Ou, considere-se a Inquisição. Segundo o Professor Agostino Borromeo, historiador do catolicismo na Universidade Sapienza de Roma, "houve cerca de 125.000 julgamentos de suspeitos de heresia em Espanha ... (entre 1478 e 1834) mas apenas cerca de 1% dos réus (ou seja, 1.250 pessoas) foram executados".

Finalmente, considere-se a contra-reforma. A rainha "sangrenta" Maria, que tentou restaurar o catolicismo em Inglaterra entre 1553 e 1558, mandou 280 dissidentes para a fogueira. 

Entre novembro de 1917, quando os comunistas chegaram ao poder na Rússia, e a fome na Coreia do Norte, em meados dos anos 90 (um período de quase 80 anos), os comunistas mataram, cerca de 154 pessoas, por hora.

Independentemente do local onde foi experimentado, o comunismo resultou sempre em montanhas de cadáveres. 

Marian L. Tupt in cato.org

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Estes números só são comparáveis, em enormidade, aos números das vítimas de genocídio, como é o caso da Alemanha nazi com a sua eficiente máquina de extermínio em massa ou do genocídio do Ruanda que num período muito curto de tempo fez desaparecer quase todos os tútsis, à razão de 8000 por dia. Porém, o comunismo, ao contrário dos outros dois casos, não teve uma intenção genocida: foi, e é, uma intenção de regime político aceitável. E isso é que é inaceitável.


October 24, 2023

Breve é toda a vida

 

"A morte chega cedo, pois breve é toda a vida" 

(Fernando Pessoa)

July 24, 2022

Uma espécie de murro no estômago

 


Morreu Stefan Soltesz. Talvez o nome não diga muito à maioria. É (era) um maestro. A maneira como morreu põe a nossa vida em perspectiva porque ele não estava doente era uma pessoa com energia. Porém, de repente colapsou e em três horas estava morto. Aos 73 anos. É uma espécie de murro no estômago.


Maestro austríaco Stefan Soltesz morre depois de desmaiar durante um concerto em Munique


O maestro de origem húngara dirigia a orquestra numa ópera de Strauss quando desmaiou. Transportado para um hospital próximo, morreria pouco depois. Tinha 73 anos.

July 18, 2022

Leituras pela manhã - A Arte É Para Ver O Mal (excertos)

 



art-is-for-seeing-evil


por Agnes Callard


Excertos:

Pense no que vê quando entra numa sala. Se estiver cansado, notará lugares onde se pode sentar; se tiver sede, notará copos dos quais pode beber; se estiver quente, notará janelas que pode abrir ou fechar. Se a sala pertence a alguém sobre quem gostaria de saber mais, o que vai saltar à vista são artigos - como livros - que oferecem pistas sobre a pessoa. O que vê é uma função do que lhe é útil naquela sala, dados os objectivos com que lá entrou. A maior parte do que está na sala passa-lhe ao lado. Como naquela famosa experiência da psicologia em que um homem vestido de gorila passeia entre um grupo de estudantes que passam uma bola entre eles e os sujeitos experimentais não reparam no gorila porque estão ocupados a seguir a instrução para contar o número de vezes que os jogadores de branco passam a bola. Toda a sua vida é assim.
(...)

Considere a história de Leontius na República de Platão:

Leontius, o filho de Aglaion, estava a subir do Pireu ao longo do exterior da Muralha Norte quando viu alguns cadáveres deitados aos pés do carrasco: Tinha apetite para olhar para eles mas, ao mesmo tempo, ficou enojado e virou-se para o lado. Durante algum tempo lutou consigo mesmo e cobriu o rosto, mas, finalmente, dominado pelo apetite, abriu bem os olhos e correu em direcção aos cadáveres, dizendo: "Olhai por vós próprios, seus infelizes malvados, enchei-vos da bela visão!

Os olhos de Leontius, tendo varrido a paisagem à sua volta, iluminaram alguns cadáveres. Ele apressa-se a censurar os seus olhos como maus e nojentos - tal como, de uma forma mais geral, censuramos as bisbilhotices, as fofocas maldosas e tudo o que nos parece um exemplo de chafurdar voluntariamente na maldade. Leontius nega aos seus olhos um vislumbre da maldade por que anseiam e os seus olhos rebelam-se ao serem constrangidos desta forma. Talvez nós, como Leontius, julguemos esta rebelião como uma instância de algum tipo de perversão ou doença. Mas outra forma de pensar sobre isto é que os olhos e algo na alma em geral, querem ver o que está lá - mas não deixamos que isso aconteça. Somos o censor da nossa própria realidade.
(...)
Na vida normal, a visão é sobrecarregada pela positividade: tendemos a apontar, alcançar, melhorar, apreciar e desfrutar. Há quase sempre algo que estamos a tramar e esse propósito distorce o nosso processo de observação. Quando as coisas à nossa volta não dão qualquer contributo prático - sem utilidade ou alegria - não nos chamam prontamente a atenção; quando os danos se recusam a tomar a forma amigável de obstáculos ultrapassáveis, esforçamo-nos por ignorá-los; quando os males não oferecem nenhuma face positiva, nenhum prazer compensatório, ordenamos a nós próprios que nos afastemos deles. Nadamos num mar invisível composto de tudo o que é irrelevante, inútil ou perverso.
(...)
Os poetas olham com atenção para aquilo que o resto de nós não consegue examinar; eles são os nossos olhos e ouvidos. De facto, há alturas em que o poder do poeta para confrontar aquilo de que o a maioria de nós se afasta, constitui uma fuga tão dramática dos limites humanos com que nos confinamos, que nos sentimos atraídos a descrevê-los [aos poetas] como tendo sido tocados por "uma centelha divina". Deus é, afinal de contas, aquele que vê o invisível. A partir de tudo o que li, a teoria de que os grandes romances fornecem uma orientação para a vida prática parece-me empiricamente menos bem fundada do que a teoria de que eles são, de uma forma ou de outra, divinamente inspirados.

Tenho admiração pelos poetas e pelo seu poder de revelar.

June 17, 2022

Jean-Louis Trintignant (1930-2022)

 


Morreu este actor que entrou em mais de uma centena de filmes, com quem conheci uma boa parte da linguagem e do estilo do cinema francês. Foi a ver o filme 'Z' (em português, Z - A Orgia do Poder), onde ele faz de juiz de instrução que conheci Costa-Gravas, um realizador que marcou muito a minha maneira de ler as entrelinhas políticas e os sub-textos nos filmes. 

O filme está inteirinho no YouTube. Trintignant é ainda novo e tem uma energia contida que sobressai.



Já com oitenta anos, fez o filme, "AMOR" de Michael Haneke, pelo qual recebeu o César de melhor actor. O filme ganhou a Palma de Ouro. Ele e Emmanuele Riva são um casal de professores de música na reforma e ela tem um AVC. É um filme sobre a distância que separa o corpo e o espírito. Porque nós não envelhecemos com o corpo mas às vezes o corpo diz-nos, como o fado da Amália, já não te acompanho mais. Também é sobre a proximidade entre um espírito e outro espírito, que se reconhecem como um num universo próprio e insubstituível. Muito humano e comovente. 

June 14, 2022

Mais um dia num mundo meio-insano

 

Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos.
Mia Couto



June 11, 2022

A semelhança dos processos biológicos - vida 1.0

 


Estava aqui a preparar o jantar e reparei na forma dos alhinhos novos quando se cortam às rodelas. Parecem as fases da vida da célula. Primeiro está muito organizadinha, todos os elementos dentro da película que os circunda, fecha e protege. De repente a película rasga-se -neste caso fui eu que a rasguei com uma faca, mas normalmente ela rompe-se, sabe-se lá porquê- e os seus elementos começam a transbordar para fora, a afastar-se uns dos outros até se desintegrarem. É a morte. Aqui na minha cozinha.

Também me faz lembrar uma secção do cordão umbilical, que têm lá dentro três ou quatro tubinhos (não sei ao certo) por onde se fazem as trocas de fluídos entre a mãe e o feto.



March 13, 2022

William Hurt (1950 – 2022)

 



Morreu o actor William Hurt, aos 71 anos. Um excelente actor e um homem gentil como não há muitos. Aqui em dois filmes preferidos: The Big Chill e The Village. Ambos os papéis assentam-lhe como uma luva ou era ele que se apropriava das personagens.





February 03, 2022

Morreu Lauro António




Que pena. Uma pessoa tão interessante.


Cineasta, crítico, divulgador. Morreu Lauro António, homem do cinema


Lauro António não resistiu a “um ataque cardíaco fulminante” e faleceu esta manhã, na sua casa em Lisboa. Deixa um espólio de 50 mil objetos relacionados com o cinema na Casa das Imagens, em Setúbal


January 21, 2022

Uma má notícia

 


Hoje soube, na escola, que um ex-aluno de há uns cinco anos, que devia ter agora uns 22 ou 23 anos, morreu. Foi a um bar com amigos, alguém lhe pôs qualquer coisa na bebida sem ele dar por isso. Começou logo ali a sentir-se mal, foi para o hospital, ficou em coma bastante tempo, quase um mês e quando começou a melhorar apanhou uma bactéria no hospital e morreu. Há cerca de 15 dias. Isto impressionou-me. Quer dizer, às tantas foi um amigo qualquer para pregar uma partida ou assim... de facto, a vida é um empreendimento instável, inseguro e insondável.


January 07, 2022

Sidney Poitier (1927-2022)

 


Morreu Sidney Poitier, um belíssimo actor e um verdadeiro gentleman. Em plena época de luta pelos direitos civis dos negros nos EUA, anos 60, ele mudou a percepção do público ao conseguir papéis de actor principal, quando até então todos os papéis para afro-americano eram de segundo plano e estereotipados depreciativamente, na maioria dos casos. Foi o primeiro homem negro a ganhar um Oscar de melhor actor, no filme, Lilies of the Field. Acerca de um homem que ajuda um grupo de freiras europeias a construir uma capela no Arizona. Um filme que não era sobre raças ou racismo, mas sobre pessoas.

Um campeão dos direitos civis, sempre pacífico, moderado e cheio de classe.


Mr. Poitier mobbed by autograph-seekers in 1964. (Edwin Reichert/AP).  washingtonpost

O seu papel mais marcante foi, talvez o de Virgil Tibbs, um detective de homicídios de Filadélfia que é mandado ao Mississipi resolver um homicídio e tem de enfrentar o racismo provinciano dos locais. Foi a primeira vez que o papel de detective principal de um filme de um grande estúdio foi entregue a um afro-americano - In the Heat of the Night (1967)



Se o papel mais marcante foi o Mr. Tibbs, o filme mais conhecido dele é Guess Who's Coming to Dinner, onde uma rapariga leva para casa para conhecer os pais, de surpresa, um namorado negro.




Sidney Poitier nasceu numa família muito pobre, foi preso uma noite por roubar milho para comer, teve uma experiência traumatizante com dois polícias que lhe apontaram uma pistola e o massacraram por divertimento, foi para Harlem, dormiu em casas-de-banho públicas, alistou-se no exército para ter cama, comida e roupa lavada. Formou-se e tornou-se um piscoterapeuta numa instituição do exército, mas não aguentou o trabalho devido ao modo brutal como tratavam os doentes e o racismo que via em todo o lado. Foi biscateiro. Isto tudo até aos 18 anos.

Viu um anúncio para actores no American Negro Theatre in New York. Foi a uma audição e foi contratado porque o realizador não encontrava ninguém. Comprou um rádio e ouvia programas para melhorar a dicção e a entoação dos actores de anúncios. A sua primeira actuação numa pequena produção da peça de Aristófanes, Lysistrata, foi um desastre porque estava nervoso e começou a dizer as falas todas fora de ordem. No entanto, não desistiu e como era bonito e tinha óptima figura foi arranjado trabalho e melhorando a sua performance até ser notado por alguém em Hollywood que o meteu no filme, No Way Out, onde causou grande impacto. 

Arranjou um pequeno restaurante para suportar a família que tinha crescido. Em 1955 entrou no filme, Blackboard Jungle ('Sementes de Violência', em português) com Glenn Ford, que fazia de professor novato cheio de ideias numa escola cheia de rebeldes e violência. Esse filme foi muito falado e tinha uma música de Bill Haley and His Comets que passou a ser um hino à rebeldia, Rock Around the Clock. Foi o filme que lançou a sua carreira.

You think of yourself as a colored man. I think of myself as a man, uma frase de uma peça em que entrou, tipifica o que pensava e a sua maneira de agir, quando o acusavam de ser um negro branco. Na verdade foi ele quem, em grande parte, abriu caminho para os outros.

Um indivíduo promotor de paz.




December 12, 2021

Anne Rice (1941-2021)

 


Morreu, durante esta noite, a autora da série de livros de «Entrevista com o Vampiro» e outros géneros.



October 26, 2021

Os Quatro Filhos de Hórus





Frascos canópicos continham os órgãos removidos do corpo no processo de mumificação: os pulmões, o fígado, os intestinos e o estômago. Cada órgão era protegido por um dos Quatro Filhos de Hórus: Hapy (pulmões), Imsety (fígado), Duamutef (estômago), e Qebehsenuef (intestinos).

Os antigos egípcios não tinham uma única fórmula para fazer múmias. Havia vários procedimentos, que variavam de acordo com a classe social da pessoa e seus costumes, A técnica de mumificação mais comum começava com a retirada do cérebro, pelo nariz ou por uma abertura no crânio. Depois, era feito um corte na virilha esquerda, onde o embalsamador enfiava a mão para retirar todos os órgãos.

Os órgãos ficavam guardados em um vaso chamado canopo, colocado perto da múmia.
O coração, onde se pensava estar o centro do pensamento, não era aqui guardado.  O coração raramente era extraído, mas quando isso acontecia, ele era substituído por um amuleto em forma de escaravelho. 

O corpo era, então, lavado com substâncias aromáticas e seu interior forrado com sacos de sal natrão, para sugar toda a humidade. Após um mês com esses saquinhos, o corpo era lavado com óleos e recheado. Faraós e pessoas ricas eram estofados com tecidos virgens.

Já os pobres eram forrados com as roupas que haviam usado em vida, terra ou serragem. Depois disso, a incisão era fechada com uma placa de ouro, para evitar a invasão do corpo por maus espíritos. O próximo passo era enfaixar o corpo com centenas de metros de faixas de linho, a começar pelos dedos dos pés ou das mãos.




December 06, 2019

A qualidade de vida dos portugueses a decair



Os portugueses já só têm dinheiro para o supermercado...
Casa, trabalho, casa, trabalho e ao fim de semana ir ao supermercado. Depois reformar quase aos 70, passar o resto da vida em filas de hospitais e depois morrer.