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February 06, 2024

Jornalismo 'mais do mesmo' II

 

O jornalista insinua que estamos 'governados à vista' nos 'últimos meses' por culpa do MP que se comporta como uma criança, quando na verdade há mais de cinco anos que andamos a ser governados à vista e o irresponsável de serviço é o Primeiro-Ministro e os seus governantes - não há aqui espaço para citar todos os casos de prevaricação, grave negligência, clientelismo e corrupção a braços com a justiça, para não falar da irresponsabilidade com que se enterram milhares de milhões em projectos falidos, em amigos ou em serviços de ideologia.

O jornalista insinua que os agricultores também são irresponsáveis - não deve viver neste país com o interior completamente abandonado (não há lá primos de prestígio) e a ministra da agricultura a ter de ser proibida de falar com os agricultores, tal não é a sua incompetência.

Às forças de segurança chama "selvagens". E porquê? Porque prejudicaram um jogo de futebol.

Já o governo é um coitado que não pode fazer nada. Teve oito anos para fazer algo, mas são estes dois meses que contam - lá está, fazem lembrar os alunos que estão os 90 minutos do teste a olhar para o ar mas na altura em que toca e tiramos os testes, nessa altura é que iam tirar o 20.

Este jornalista de insinuações, "não discute a legitimidade dos protestos", mas é tudo gente irresponsável como crianças que deviam era estar calados e amochar porque o governo é excelso e uma vítima desta gente selvagem. Compreende-se o seu ponto de vista: amochar até bater com o nariz no chão é a única acção que este tipo de jornalistas conhecem face ao poder e nem percebem que possa haver outras acções de cabeça levantada. 

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Nos últimos meses, vivemos num país governado à vista, à espera que as eleições legislativas nos coloquem em São Bento um primeiro-ministro pleno de poderes. Mas isso já sabíamos e, na verdade, já quase estamos habituados a que operações com divertidos nomes causem mais alarido que condenações ou, sequer, acusações. Quem se pode esquecer da história de Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara de Sines, que passou seis dias detido para, no final, sair sem qualquer acusação depois de o Ministério Público ter pedido a suspensão do mandato, proibição de contactos e de entrar nas instalações da autarquia? Agora, a sensação é a de viver num país em que os adultos parecem ter, definitivamente, abandonado a sala. Como se estivéssemos trancados numa sala de aula em que o professor entrou em greve, ou desistiu, deixando os alunos sem ordem, cada um dedicado a responder aos seus mais rudimentares ímpetos.

Nos últimos dias, vimos um movimento de agricultores bloquear vias públicas para, depois de o Governo responder às suas exigências, a maior dificuldade estar na comunicação com cada ponto de bloqueio por falta de interlocutores.

Vivemos num país em que as forças de segurança protagonizam protestos selvagens, sem que se conheçam os líderes do movimento ou a respetiva agenda. Foi assim que, no passado fim de semana, um jogo de futebol da principal liga nacional acabou, primeiro, marcado por agressões no exterior do estádio e depois cancelado por falta de condições de segurança.

Um Governo de gestão, diz, não se pode comprometer com “encargos duradouros”


Não discuto a legitimidade da luta dos polícias, tão pouco ponho em causa a insatisfação de agricultores ou professores. Também não é a inépcia do Governo que, agora, me preocupa. O susto está na proliferação de movimentos de protesto inorgânicos, sem responsáveis conhecidos, capazes das mais espalhafatosas, ou irresponsáveis, ações, mas pouco dados a negociar. Sobretudo num momento em que o poder político está, por culpa própria, debilitado. O susto, o maior, está em saber que movimentos sem caras tendem a ser subvertidos, a responder a agendas dúbias e a ser, facilmente, manipulados. Era bom que os adultos voltassem à sala.

Filipe Garcia in 
/www.dn.pt/

Já sabemos? Não, não sabemos

 


A dívida pública ter baixado, não quer dizer que a economia esteja bem, quer dizer que cobraram impostos acima do que é razoável e deixaram (há anos que deixam) os salários abaixo da inflação. Não houve nenhum investimento na economia. O ministro respectivo foi um flop. A nossa economia está anémica e o que sustenta o país é o turismo. Há tão pouco emprego e tão mal pago que fogem todos daqui às centenas de milhar, o que num país de poucos milhões cheio de pensionistas é um problema gravíssimo. Se a economia estivesse bem, as pessoas não fugiam daqui. Há uma perturbação social de todos os sectores e se se livraram da tradicional intermediação sindical é porque os sindicatos se vendem aos governos: hoje és sindicalista, amanhã és adjunto do ministro ou director-geral de qualquer coisa. Estas pessoas que escrevem estas coisas não vivem no país real. 

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Já sabemos que a economia está bem e que se recomenda e que as pessoas estão pior e a perder a paciência. Que ninguém quer festejar a descida da dívida pública abaixo dos 100% do PIB e outras façanhas das Finanças, quando uma série de profissionais, maioritariamente pagos pelo Estado, se liberta da tradicional intermediação sindical e se manifesta desafiante. Os protestos vão entrar pela campanha dentro e os partidos vão ter de saber lidar com eles. E com a aproximação ao Chega transformada em táctica à esquerda e à direita.


January 30, 2024

Os extremos tocam-se




Os que defendem que devemos abrir as portas indiscriminadamente à imigração -legal ou ilegal- e que os críticos são todos pessoas racistas que alimentam discursos de ódio são tão cegos e dogmáticos como os que defendem que devemos fechar totalmente as portas à imigração e ter aqui apenas portugueses de Portugal. Uns e outros não parecem ser capazes de pensar a complexidade dos problemas associados à imigração. Aliás este indivíduo fala a favor da imigração de um ponto de vista meramente funcional que é o de equilibrar as contas da SS - o que deixa implícito que, se não fora esse problema não se interessaria pelos destinos dos imigrantes. Diz ele que o discurso do Chega contra a imigração é um discurso emocional a apelar ao medo do imigrante, mas o seu próprio discurso é um discurso emocional a apelar ao medo do Chega.

O Chega e a imigração


António José Gouveia
Editor-executivo


O ano de 2023 terminou com números de imigração ilegal que não eram vistos desde 2016. Quase 270 mil pessoas entraram em território europeu fora da lei, arriscando a vida para o fazer. Certas forças políticas, como o Chega, alimentam a perceção de que todos eles tiram partido do bem-estar social dos países. Um discurso utilizado maliciosamente porque encontram uma forma fácil de provocar medo e obter votos. Foi o que aconteceu na convenção do partido de André Ventura, onde foram ditas falsidades sobre o real contributo dos estrangeiros. Uma delas tem a ver com a Segurança Social. Segundo o Chega, os imigrantes estão a beneficiar dos pagamentos feitos pelos nossos pais e avós, recebendo chorudas ajudas da Segurança Social. É exatamente o contrário, pois a diferença entre as suas contribuições e benefícios é bastante positiva para o Estado: os últimos dados de 2022 referem um saldo de 1,6 mil milhões de euros. A questão da imigração deve ser abordada - nisso o Chega tem razão -, mas com rigor e sem preconceitos, até porque Portugal está condenado ao envelhecimento. E se não fosse a chegada de estrangeiros, a inversão da tendência da natalidade não seria possível, conforme os últimos dados do INE.

A questão aqui é exatamente o preconceito que o Chega tem em relação aos imigrantes, levando para a opinião pública números e situações que são mentiras, como, por exemplo, que Portugal tem um milhão de imigrantes e que grande parte deles têm pensões de 330 euros ou recebem subsídios de mais de mil euros. Pelo contrário, com os seus descontos para a Segurança Social, estão agora a ajudar a pagar as reformas dos nossos idosos, conforme refere o Relatório Estatístico Anual 2023 sobre os Indicadores de Integração de Imigrantes: “A população estrangeira residente em Portugal continua a ter um papel importante para contrabalançar as contas do sistema de Segurança Social”.

O Chega tem sabido explorar o medo daqueles que sofreram com a crise económica para apontar o estrangeiro como a ameaça real. E o mais grave é que pode arrastar os partidos da direita tradicional para esta dinâmica. É um discurso de ódio que, muito provavelmente, só serve para ganhar votos e carrega emocionalmente uma questão que deve ser acordada entre a direita e a esquerda.


January 13, 2024

Pequeno gestos simbólicos

 


Hoje, a caminho do mercado, comprei o DN. Um pequeno gesto simbólico de solidariedade, claro, mas acontece que acredito que, se todas as pessoas fizessem, cada uma, um pequeno gesto simbólico na direcção certa, muito problemas não existiam e outros resolviam-se rapidamente.

Esta semana andávamos à procura de um programa cultural interessante para fazer no fim de semana e fomos dar com um que inclui uma visita à mesquita de Lisboa e um almoço tipicamente muçulmano. Muito interessante. Só que o programa vem acompanhado de uma advertência às senhoras: para além de não se poder ir de mini-saia ou de calções e isso, é obrigatório ir com um lenço a cobrir a cabeça. 

Não quero fazer isso quando tantas mulheres no mundo são assediadas, presas, torturadas, espancadas, chicoteadas e mortas por causa de não cobrirem a cabeça. Um pequeno gesto simbólico de solidariedade que não muda a realidade dessas raparigas e mulheres? Talvez, mas lá está: cada um de nós é um agente, por muito pequeno que seja o seu raio de acção e influência e se todas as pessoas fizessem, cada uma, um pequeno gesto simbólico na direcção certa, muito problemas não existiam e outros resolviam-se rapidamente.

Deixa-me ir ler aquele 'recado' aos professores que se vê ali à direita.




November 03, 2023

Há um dia para lembrar os jornalistas presos por ditadores

 


Embaixada dos EUA em Minsk


Os nossos pensamentos estão com todos os jornalistas que permaneceram presos na Bielorrússia em mais um Dia Internacional para Acabar com a Impunidade dos Crimes contra Jornalistas. Não é crime ser jornalista.

July 12, 2023

O jornalismo de opinião independente começa com transparência

 


Em Portugal temos pouco jornalismo de opinião independente. Entendo, tal como o que se diz no artigo do post anterior, que jornalismo independente se refere, não a pessoas com independência partidária (embora a possam ter) mas a pessoas que têm o foco no esclarecimento dos eventos e jogos políticos, estando ancorados nos factos e razões justificativas e não em guiar a opinião pública, quais formigas, para carreiros do seu partido político.

Mesmo esses que emitem opinião, sendo activistas num partido político, devem ter espírito crítico em relação ao seu próprio partido pois caso contrário, a comunicação social destrói definitivamente a sua capacidade de escrutínio da acção política e, consequentemente, de intervenção democrática.

Para começar, os jornais e revistas deviam ter como princípio de transparência tornar públicas as condições dos opinadores que escrevem nos seu jornais, para que possamos saber, à partida, quem são, se pertencem a um partido e que percurso político fizeram, se fazem parte de outros grupos culturais, etc. , pois com essas informações ajuizamos o que escrevem mais objectivamente - já que, se alguns se denunciam logo, desde a primeira linha que escrevem, tal é a desonestidade intelectual e lealdade canina que mostram a um partido, outros são mais subtis mas têm o mesmo defeito de escrevem para produzir certos efeitos políticos em vez de esclarecer os temas que abordam.

O problema começa logo em pequenos. Ter um opinião é ter um ponto de vista e um ponto de vista é algo que se constrói com leituras, com muita discussão e com experiência de vida. É por isso que quem tem um ponto de vista sabe fornecer razões válidas (mesmo que discutíveis ou polémicas), coerentes e baseadas em dados fidedignos, para as afirmações que profere. Ora, hoje-em-dia veícula-se a (falsa) ideia de que qualquer um que expresse as suas emoções está a emitir um ponto de vista sobre as questões. Mistura-se a ordem das emoções com a ordem das razões como se fossem critérios com a mesma validade epistemológica.

Ontem, porque li que os resultados do exame de Português do 9º ano foram positivos na ordem dos 70%, fui ver a prova. Para além de ser quase tudo exercícios de escolha múltipla, mas isso é outra questão, há um item em que se pede aos alunos para darem a 'sua opinião', o 'seu ponto de vista', sobre o tema: 

'terão as histórias que vamos ouvindo ou lendo ao longo da vida a capacidade para despertar em nós ideias novas, podendo transformar-nos?'
Como é que adolescentes tão novos que praticamente não lêem nada, mas mesmo que lessem alguma coisa, podem ter uma opinião, um 'ponto de vista' sobre o impacto transformador que a leitura, ao longo da vida, pode ter em nós? Provavelmente vão repetir o que o professor ou algum autor que deram na aula disse ou, não sendo o caso, vão dizer lugares-comuns que ouviram algures. Mas, se é para repetir o que algum autor estudado disse, porque não é isso assumido na prova e, se é para que digam lugares-comuns para que se pede isso? Para que fiquem convencidos que têm opiniões válidas sobre tudo e mais alguma coisa e que isso é possível sem ler, sem estudar, etc.? 

Lembro-me de um exame que classifiquei há uns anos (também na prova de filosofia se pede aos alunos que dêem a 'sua opinião' sobre a filosofia dos filósofos...) em que um aluno dizia, sem se dar conta do absurdo ou ridículo, "Kant partilha da minha opinião acerca das acções dos homens".

Toda a nova cultura de manipulação tem por base a ideia de que os pontos de vista inculcados por correntes ideológicas são uma escolha própria resultante de uma opinião própria. Se ligarmos a TV na hora da publicidade, vamos ao ponto absurdo de ver anúncios de pensos higiénicos ou de lâminas com o slogan, 'o teu corpo, a tua opinião, a tua escolha'... Não admira que tantos pensem que têm uma opinião, um ponto de vista próprio. Começam a ser "trabalhados como os árbitros" desde cedo, para pensar isso. 

Penso que este movimento se inscreve numa, mais global, desvalorização do rigor na educação e no conhecimento - veja-se o movimento dos anti-vacinas, dos anti-cientistas, dos anti-ambiente. Não que essas pessoas não possam ser contra o que quiserem, mas não são capazes de argumentar as suas posições a não ser com ataques à pessoa e teorias de conspiração. O relativismo no conhecimento não é igual a, equivalência de todas as opiniões.

Daí até ao jornalismo partidário que se julga certo na defesa da sua verdade que vê como 'a única' verdade, que deve ser defendida como se estivesse em guerra, vai um curto passo. 

A primeira obrigação de um jornal, penso, um meio de comunicação que quer ser credível é a transparência: identificar quem são os seus opinadores, qual o seu percurso político e em que qualidade escrevem. Não basta dizer, engenheiro, advogado, cronista, sub-chefe, etc. 

O mesmo se deve fazer aos opinadores de temas cientistas e/ou culturais que são influenciadores (ou querem ser) da opinião pública. Conheço vários homens que escrevem artigos de opinião em jornais nacionais e revistas conhecidos com pseudónimo de mulher, para poderem emitir opiniões machistas (que pensam ser A Verdade) e escaparem à crítica das mulheres - são muitas as mulheres que não criticam outras mulheres por lealdade feminista. Também esses artigos devem esclarecer que são escritos sob pseudónimo para não enganarem o público que os lê.

Do mesmo modo é importante saber quem são as pessoas que escrevem contra ou a favor do ambiente, ou das vacinas, por exemplo: faz diferença trabalharem para um lobby farmacêutico ou pertencerem a um grupo de anti-vacinas.

Porém, mais importante e fundamental é, em primeiro lugar, modificar o sentido actual de exaltação do emocionalismo na educação que é contrário à formação de um espírito crítico e de uma higiene mental sem os quais as democracias dificilmente prevalecem; em segundo lugar, fortalecer as instituições contra a intromissão dos partidos políticos e para isso precisamos de uma administração pública forte e com formação de qualidade.

Leituras pela manhã - O que torna o jornalismo de opinião independente? A dedicação à argumentação e à análise, não ao resultado político... Votar é uma escolha binária, mas pensar não é

 

O Partido Republicano radicalizou-se e tornou-se autoritário porque está preso numa bolha, vendo os seus inimigos como perigosos e os seus próprios líderes como fracos, respondendo a esta realidade de formas agressivas que apenas aprofundam a sua raiva e paranoia.

A capacidade dos republicanos de operarem dentro de uma epistemologia fechada pode parecer uma vantagem invejável, mas é também uma fonte de fraqueza. Os republicanos têm-se prejudicado a si próprios com políticas impopulares e líderes corruptos, mas, em vez disso, têm direcionado a sua raiva para fora. 
A sua disciplina partidária impede a crítica interna e cria uma cultura em que cada fracasso é uma traição, e a única resposta é lutar ainda mais. 

A prática de rotular todos os cépticos como traidores tem o desagradável efeito secundário de nos fazer acreditar nas nossas próprias tretas.
(substitua-se, 'partido republicano' por, 'partido do governo PS')


O INTERESSE NACIONAL

Em defesa do jornalismo de opinião independente O "hack gap" entre a direita e a esquerda tem vindo a estreitar-se.

Por Jonathan Chait, (colunista político desde 2011)


Há algumas décadas, os liberais começaram a ver a assimetria estrutural dos meios de comunicação social como um dos principais problemas da política americana. 

O Partido Republicano tinha um aparelho mediático assumidamente partidário - Fox News, fundada em 1996 - que usava para promover a sua mensagem. Os democratas não tinham nada de semelhante. Pior ainda, os principais meios de comunicação social tinham-se tornado altamente sensíveis a acusações de parcialidade liberal e tratavam as narrativas promovidas pelos republicanos, por mais superficiais ou farsescas que fossem, como sendo sempre dignas de notícia. 
Os meios de comunicação conservadores eram servilmente partidários e os meios de comunicação "liberais" estavam cheios de histórias sobre como Al Gore era visto como um mentiroso patológico, ou John Kerry como um efémero inconstante.

Duas frases que expressavam essa frustração entraram em circulação. Uma era "trabalhar os árbitros", que foi tirada do mundo do desporto, para descrever a forma como os republicanos empurravam os repórteres e os editores para a direita com queixas incessantes de parcialidade; a
 segunda era, hack gap, que descrevia o desequilíbrio do ethos profissional entre a esquerda e a direita. 

Os especialistas liberais tendiam a ver-se mais como jornalistas do que como activistas. Esperava-se que apresentassem argumentos originais em vez de fazerem eco de uma mensagem comum e as recompensas da progressão na carreira iam, geralmente, para aqueles que estavam dispostos a criticar os democratas e os colegas progressistas. 

Os especialistas conservadores saíram geralmente do movimento conservador, viam-se a si próprios como trabalhando para um projeto ideológico e operavam com a disciplina apertada de um movimento político. 

Os democratas enfrentavam críticas internas se falseassem a verdade ou violassem qualquer norma ética, enquanto os republicanos, desde que se mantivessem fiéis à doutrina conservadora, podiam contar com o apoio do seu coro, independentemente do que fizessem.

Ao longo do tempo, estas críticas exerceram um efeito profundo nos meios de comunicação social. Os principais meios de comunicação social deslocaram-se nitidamente para a esquerda e a sua prática, outrora universal, de cobrir todos os debates factualmente, tratando a verdade como desconhecida, tornou-se mais rara.

O jornalismo de opinião progressista mudou de forma ainda mais dramática. Romper com o grupo para questionar uma crença partilhada pela esquerda já não é uma caraterística valorizada; agora é possível construir uma carreira afirmando inabalavelmente as posições do movimento progressista. 

De um modo geral, a profissão mudou para melhor porque a Internet abriu muito mais vozes à esquerda, em todos os sentidos. Há mais escritores de mais perspectivas e com mais conhecimentos e muitos deles não são homens brancos. Acabou o absurdo do mundo dos anos 90, em que o espectro ideológico do pensamento dominante terminava no centro-esquerda. 

Em termos políticos, o aparelho de comunicação está mais equilibrado
As desvantagens deste novo mundo mediático são óbvias. Juntamente com o seu sistema de mensagens partidárias, os progressistas construíram uma contrapartida para a bolha de informação em que os conservadores há muito residem. Onde antes era raro encontrar algum pseudo-facto a circular entre a esquerda, agora é rotina.

Em 2010, Julian Sanchez, um libertário, descreveu o universo fechado do pensamento conservador como "fechamento epistémico" - qualquer fonte que refutasse as afirmações conservadoras era automaticamente considerada indigna de confiança. 
Podemos agora discernir na esquerda, pelo menos, a formação embrionária de um universo alternativo semelhante, no qual qualquer desafio inconveniente é reflexivamente rejeitado como "bothsidesing", "concern trolling", uma forma de fanatismo.

Todos estes chavões descrevem males reais, mas também se tornaram chavões utilizados para afastar quaisquer factos ou crenças que compliquem a narrativa progressista.

O fosso entre ambos está a diminuir ao ponto de parecer agora necessário defender a existência de um jornalismo de opinião independente.  O editor do New York Times, A.G. Sulzberger defendeu, no mês passado, o compromisso do seu jornal com o que chamou de "jornalismo independente".

Sulzberger concentrou-se principalmente nas reportagens, mas penso que o seu conceito pode ser aplicado ao jornalismo de opinião. 
O jornalismo de opinião independente descreve a escrita de opinião que se destina a informar os leitores sobre o mundo através de argumentos e análises, em vez de encorajar diretamente certos resultados políticos.

A independência deve ser entendida como um conjunto de hábitos que podem ser praticados por escritores de todo o espetro ideológico. Não significa ter uma identidade "independente" no sentido de voto partidário. O jornalismo de opinião independente pode ser produzido por escritores que ocupam perspectivas situadas entre os dois partidos, fora ou ortogonais a eles ou diretamente dentro deles.

A independência encoraja (embora não garanta; somos todos falíveis) certos tipos de higiene mental: tentar imaginar em todas as situações o que aconteceria se as identidades partidárias fossem invertidas, admitir que as pessoas com compromissos políticos opostos podem, por vezes, ter pontos de vista correctos, testar a consistência lógica e histórica dos seus próprios argumentos. 'Será que eu me oporia a esta táctica usada pelo partido da oposição se o meu próprio partido a utilizasse'?

O trabalho de um activista é promover (ou, em alguns casos, impedir) a mudança política. É uma profissão honrada, mas os contornos deste trabalho de mover a opinião pública em direção à posição que se deseja envolvem sombrear umas verdades e/ou omitir outras. Ambas as formas de argumentação podem ser persuasivas e articuladas, mas uma destina-se a edificar e a outra a promover objectivos políticos.

Pense na diferença entre um professor que analisa uma questão jurídica e um advogado que defende um cliente. O primeiro tem um ponto de vista, mas utiliza a argumentação com o objetivo de promover uma compreensão mais profunda para os seus leitores. O segundo escolhe e utiliza os factos mais úteis para o seu cliente.

Se considerarmos a metáfora do trabalho dos árbitros, a distinção entre jornalismo de opinião independente e o activismo político torna-se perfeitamente clara. A frase descreve a forma como muitos treinadores repreendem os árbitros, na crença de que vão forçar esses funcionários a decidir o jogo de uma forma mais favorável. 
O treinador pode ser suficientemente parcial para acreditar genuinamente em tudo o que grita aos árbitros, e os adeptos da sua equipa podem ver os árbitros da mesma forma que o treinador. Mas um treinador que está a 'trabalhar os árbitros' não está a tentar dar aos adeptos uma avaliação justa dos árbitros. O seu objetivo é ganhar o jogo.

Muitos dos que criticam publicamente os principais meios de comunicação social, quer da esquerda quer da direita, estão a 'trabalhar os árbitros'. Na medida em que confiamos nos árbitros como fontes de informação política, estamos a colocar o nosso juízo nas mãos de pessoas que não estão interessadas em esclarecer-nos. Podem querer que estejamos informados sobre histórias que nos encorajam a apoiar a sua coligação política, mas não querem informar-nos sobre histórias que a prejudicam. Não estão a trabalhar para nós, estão a 'trabalhar-nos'.


Esta forma de advocacia não precisa de ser cínica. Os seus defensores vêem-se muitas vezes como idealistas: estão a travar uma grande cruzada contra os mentirosos. O seu modelo mental é uma espécie de guerra de trincheiras em que a cedência de qualquer terreno ao adversário é uma derrota. 

Em 2023, Collins apresentou a luta pela verdade em termos marciais. "As pessoas que divulgam a verdade estão sob cerco na guerra da informação". Os ingredientes para a vitória nesta guerra, argumentou, são a unidade e a força de vontade:
Os triunfos da verdade não são acidentes, são momentos em que os meios de comunicação social americanos -especialmente os que não fazem parte do sector da desinformação- não hesitaram e não cederam um milímetro às mentiras e aos mentirosos que as contam... Mas é preciso unidade, e não capitulação. Não se pode ir ao encontro dos mentirosos a meio do caminho, porque a verdade passa a ser uma meia mentira. Temos simplesmente de ser mais altos e mais claros com a verdade.
A noção de que há alturas em que o jornalista deve ceder um centímetro, porque o outro lado tem razão, foi completamente ignorada por Collins. (Isso não pareceu incomodar os juízes dos Prémios Cronkite, que elogiaram Collins pelo seu "trabalho brilhante e corajoso" que foi "honesto e necessário").

A tensão entre o jornalismo de opinião independente e a advocacia política é muitas vezes mais aguda quando surge um assunto que divide uma coligação política. Os defensores preferem enfatizar ideias e questões que unificam a sua coligação e não enfatizar questões que a dividem.
A lógica de manter a paz no seio da coligação sobrepõe-se à lógica jornalística de explicitar uma diferença de convicções.

Durante a era Trump, quando este fazia uma das suas habituais ameaças ilegais ou violentas, os conservadores dividiam-se: os mais tradicionais da National Review ignoravam-nas ou riam-se delas como uma fanfarronice ineficaz, enquanto os mais radicais, os MAGA-heads, se regozijavam por o seu líder estar finalmente a combater. 
O debate sobre o iliberalismo de esquerda produziu um tipo semelhante de pensamento duplo: alguns progressistas rejeitaram a ideia de que uma nova onda de normas sociais restritivas estivesse a varrer as instituições de elite como um pânico moral imaginado, enquanto outros defenderam as mudanças como uma "cultura de responsabilização" atrasada.

Não havia necessidade, para nenhum dos lados, de esclarecer a contradição. As afirmações "X seria mau, mas o nosso lado não o está a fazer" e "o nosso lado está a fazer X, e é bom" são antíteses lógicas que podem, e muitas vezes funcionam, politicamente de mãos dadas.

Quando escrevo algo crítico em relação aos progressistas, a crítica mais comum que encontro é que me devia concentrar em criticar a direita, porque a direita representa o maior perigo. Por vezes, a queixa assume a forma de uma pergunta: "Porque é que estás a escrever sobre isto e não sobre aquilo?" - isto são as falhas do nosso lado, aquilo são as falhas do lado oposto. Frequentemente, esta queixa materializa-se numa afirmação de que a questão importante (normalmente descrita como "o problema" ou "o verdadeiro problema") está no outro lado.

Os jornalistas conservadores que atacaram Donald Trump foram confrontados com uma saraivada de declarações furiosas dos republicanos de que o verdadeiro problema era a perfídia de Hillary Clinton ou o que quer que fosse. Os progressistas que criticam os seus parceiros de coligação encontram a mesma resposta. (E isto é válido para os esquerdistas que criticam os liberais e vice-versa).

Posso escrever uma dúzia de artigos seguidos a atacar a direita mas, se o meu artigo seguinte atacar a esquerda irá suscitar queixas de que critico a esquerda em demasia. Na prática, o nível adequado de crítica interna exigido por muitos activistas é: zero.

É claro que as decisões sobre que tipo de assuntos merecem cobertura de opinião e em que quantidade, são uma coisa perfeitamente razoável de questionar. 
Ao longo da última década, a omnipresença da queixa "isto-não-aquilo", e a forma abrangente que muitas vezes assume, sugere que há mais em jogo do que uma queixa sobre a atribuição de temas. Existe um tabu geral, generalizado e (pelo que me é dado perceber) crescente contra a crítica aos colegas progressistas - a não ser que a crítica seja pela sua falta de ardor ideológico ou político.

A confusão que se verifica é entre a lógica do activismo político e a do jornalismo de opinião independente. A ação política ocorre dentro de um sistema bipartidário que nos obriga a escolher entre opções erradas. Permitir que as nossas decisões políticas, como votar e defender, sejam guiadas por uma fixação com as falhas do mal menor, é perverso.

O jornalismo de opinião não precisa de observar estes condicionalismos. Votar é uma escolha binária, mas pensar não é.

A crítica dos defensores exige, explícita ou implicitamente, que os jornalistas de opinião sejam julgados segundo os padrões dos defensores políticos. A principal (ou única) medida de um texto é se ele ajuda os 'bons' a ganhar. 
À esquerda, já foi raro, mas está a tornar-se cada vez mais comum. O hack gap, como lhe costumávamos chamar, está a diminuir. Talvez não por coincidência, esta expressão saiu de circulação.

Reconheci, logo no início, que a diminuição do "hack gap" tem, pelo menos, um efeito salutar de não haver apenas um único canal de informação 'mercenário'.

Este objetivo pode parecer uma defesa louvável, ou pelo menos necessária, contra um Partido Republicano que está a evoluir para o autoritarismo mas, o que os liberais precisam de compreender é que copiar os métodos epistemológicos da direita, acabará por significar copiar o seu estilo político. 

O Partido Republicano radicalizou-se e tornou-se autoritário porque está preso numa bolha, vendo os seus inimigos como perigosos e os seus próprios líderes como fracos, respondendo a esta realidade de formas agressivas que apenas aprofundam a sua raiva e paranoia.

A capacidade dos republicanos de operarem dentro de uma epistemologia fechada pode parecer aos liberais uma vantagem invejável, mas é também uma fonte de fraqueza. Os republicanos têm-se prejudicado a si próprios com políticas impopulares e líderes corruptos, mas, em vez disso, têm direcionado a sua raiva para fora. 
A sua disciplina partidária impede a crítica interna e cria uma cultura em que cada fracasso é uma traição, e a única resposta é lutar ainda mais. 

Quando detinham o poder, os republicanos provaram ser repetidamente ineptos em fazer avançar até os seus próprios objectivos. A administração Bush e a administração Trump foram ambas, em grande medida, um fracasso, mesmo em termos conservadores. Os piores fracassos dessas presidências - a Guerra do Iraque, a bolha imobiliária, o fracasso em revogar o Obamacare, a negação da COVID de Donald Trump - revelaram a fraqueza de um movimento que era demasiado rígido ideologicamente para manobrar. 
A prática de rotular todos os cépticos como traidores tem o desagradável efeito secundário de nos fazer acreditar nas nossas próprias tretas.

Apesar de todo o perigo que enfrenta, a agilidade do liberalismo americano é uma força subestimada. Essa resiliência exige pelo menos alguns jornalistas de opinião independentes que actuem fora da disciplina do movimento progressista.

Nenhum dos padrões que tentei delinear aqui deve ser entendido como sugerindo que a minha carreira é o modelo perfeito de jornalismo de opinião independente. Do vasto conjunto de trabalhos que produzi desde que comecei, em meados da década de 1990, alguns são vistos com orgulho e outros com pesar. Nunca me consideraria um praticante perfeitamente consistente de higiene mental e, por vezes, mesmo seguindo os melhores métodos, não se obtém um bom resultado. Nem sequer acredito que a definição de jornalismo de opinião independente que aqui apresentei deva ser tomada como definitiva - é, antes, uma tentativa de abrir um assunto que caiu no esquecimento.

Os padrões mais elevados de rigor, consistência e justiça encontrados no jornalismo de opinião liberal costumavam ser uma fonte de orgulho. Precisamos de redescobrir e aguçar essa ambição de sermos melhores. A única coisa pior do que ter uma 
"hack gap" talvez seja, não a ter.
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(texto ligeiramente encurtado e aqui e ali editado por questão de economia - ler aqui o texto original)


April 03, 2023

Os nossos jornalistas (salvos excepções) estão de acordo com os nossos políticos que os avençam



E por sua vez estão todos de acordo com o jornal CM onde este jornalista com flacidez cerebral (não há exercício que lhe valha...) escreve crónicas: as notícias e o serviço público são coisas arcaicas e foram substituídas pela exploração, venda e prostituição.


Crónica no CM defende que mulheres na televisão têm que ter “silhueta perfeita”

Texto [do jornalista Alexandre Pais] ataca apresentadora da TVI Maria Botelho Moniz, por ser “robusta, com tendência para aumentar de peso”, e Cristina Ferreira, por mostrar “braços tomados pela flacidez”. Críticas não tardaram.
PÚBLICO

August 06, 2022

A decadência dos jornais e a ascensão da insignificância

 


Jacques Bouveresse, entrevista de Nicolas Truong, publicada a 26 de Julho de 2006

 Por qualquer razão imponderável, os jornais não são o que poderiam ser para a satisfação geral,  laboratórios e estações de testes da mente, em vez disso são mercados de valores e lojas, escreve Robert Musil, aqui muito próximo do polémico vienense Karl Kraus (1874-1936), a quem dedicou um livro que revisita a sua grande batalha contra os meios de comunicação social. De onde vem o seu conhecimento sobre o porão do jornalismo?

J. B.: Comecei a ler Kraus nos finais dos anos 50 e não tive dificuldade em compreender porque é que ele sentia a necessidade de travar uma guerra contra o jornalismo. Acho que todos os dias que passam, especialmente com a crescente concentração e dependência da imprensa do poder económico, justificam um pouco mais as suas críticas. 
Sempre considerei a imprensa como um poder preocupante e facilmente abusivo, para o qual não é certo que existam contra-poderes apropriados. 
Por razões óbvias, tenho estado um pouco mais interessado no que a imprensa e os meios de comunicação social têm a dizer sobre o mundo da cultura e da filosofia. Mas isto não é certamente o mais importante, mesmo que, olhando para as estrelas que hoje nos são oferecidas para substituir os mestres do pensamento da geração anterior, haja motivos para nos preocuparmos com o declínio e a falta de discernimento daqueles que supostamente devem orientar o juízo dos leitores. 
A situação agravou-se, parece-me, desde a época em que a nova filosofia, no final dos anos 70, privilegiou o juízo dos meios de comunicação social em detrimento do da universidade e procurou substituir a consagração 'académica' pela consagração dos meios de comunicação social. 
É uma operação que tem sido bem sucedida. Não conheço nenhum outro país onde o divórcio entre a chamada, filosofia "académica" e o que os meios de comunicação social consideram a filosofia viva e importante se tenha tornado tão radical. O triunfo da nova filosofia e o colapso, praticamente sem resistência, de tudo o que era importante, especialmente o marxismo, foi, devo dizer, um episódio humilhante para o intelecto.

Pode ser considerado um moralista do discurso filosófico e da moral?

J. B.: Em certa medida, sim. Os "assuntos" com que somos confrontados - desde as listas da empresa Clearstream até à amnistia de Guy Drut pelo Presidente da República - recordaram-me mais uma vez uma observação de Karl Kraus, que falou da "impotência lamentável das pessoas honestas face ao insolente". Considero desastroso que as pessoas honestas de hoje tenham tantas razões para se sentirem não só impotentes, mas também humilhadas e ofendidas.
Fica-se com a impressão de que em breve apenas os retardados e os ingénuos se considerarão vinculados pelas regras. Quando se vem de um passado humilde e foi ensinado a respeitar escrupulosamente as regras, ser regularmente confrontado com a desonestidade dos privilegiados é chocante: não é agradável ser obrigado a questionar-se se as pessoas que o ensinaram a respeitar os princípios não foram, de facto, enganados. 
No início acreditei ingenuamente que o mundo intelectual era, por razões intrínsecas, relativamente imune aos abusos de que estamos a falar e à corrupção em geral. Na realidade, a honestidade e os argumentos sérios não contam muito perante a retórica e a insolência. 
Aqui, como noutros lugares, são cada vez mais os números do mercado e das vendas que decidem. Não é certamente porque dois ou três livros vendem 100.000 ou 200.000 exemplares que nos é permitido, como fazem os meios de comunicação, falar de um renascimento da filosofia. 
Não é impossível que haja de facto um renascimento da disciplina, mas para ver isso, teria de usar outros critérios e procurar em lugares onde eles nunca procuram. Para me cingir ao que me interessa, existem actualmente, sobre as questões e autores a que dediquei a maior parte dos meus esforços, vários jovens filósofos que apresentam um excelente trabalho. Mas mesmo quando conseguem publicá-las, há poucas hipóteses de serem ouvidas nos jornais, que, como todos sabem, lidam com coisas muito mais importantes.

May 01, 2022

Isto faz toda a diferença

 


December 18, 2021

Que pena

 


Era das melhores coisas que faziam.





esta imagem não é minha


March 31, 2021

Não sabia que tínhamos cá jornalistas negacionistas do mesmo nível daqueles que negam o holocausto nazi

 


... Mas pelos vistos temos e usam os mesmos argumentos. Este Tadeu escreve um artigo cheio de imbecilidades. Começa logo com esta, A palavra Holodomor serve para acusar o regime de Estaline de ter programado com uma fome a morte de milhões de ucranianos nos anos de 1932 e 1933. 

Não, a palavra Holodomor refere-se à morte por fome dos ucranianos, durante o regime soviético, nos anos de 32-33, assim como a palavra holocausto se refere à morte dos milhões de judeus, sobretudo, em campos de concentração durante o regime nazi. Quando se procuram as causas das mortes é que se refere, respectivamente, Estaline, que provocou a fome aos ucranianos e Hitler que planeou ou mandou planear a exterminação dos judeus europeus.

Depois, é tão raivoso este Tadeu, um fascista só que na outra ponta do espectro, que acusa as próprias vítimas que são os ucranianos de serem os culpados da acusação por serem nacionalistas. Portanto o problema não são os milhões de mortos ucranianos mas terem o descaramento de acusarem o psicopata Estaline de ter causado as mortes.

Seguidamente, usa os argumentos dos fascistas que negam o holocausto para dizer que praticamente não morreu ninguém porque não estão vivos para dizer que foram mortos... e aliás noutros países também se morre e até na URSS também morreram. E que os americanos mataram índios. Uma coisa limpa a outra, é isso? É mesmo imbecil.

Todos que somos honestos e lemos os livros e os relatos sabemos que as origens da fome ucraniana começaram com a decisão de Stalin de colectivizar a agricultura em 1929. 

E mesmo um ignorante como este Tadeu que nunca deve ter lido um livro que não fosse autorizado pelo partido e não sabe pensar pela sua cabecinha, pode ir à Enciclopédia Britânica informar-se. Como sabe, é uma espécie de Bíblia, que nunca publica entradas que não estejam solidamente fundamentadas em números e onde há polémica sobre os assuntos refere-a extensamente:

"Equipas de agitadores do Partido Comunista forçaram os camponeses a entregar as terras, os bens pessoais e deportaram os camponeses mais ricos, kulaks, bem como quaisquer outros camponeses que resistissem à colectivização. A colectivização levou a uma queda na produção, à desorganização da economia rural, e à escassez de alimentos. 

Estes acontecimentos provocaram uma série de rebeliões camponesas, armadas, em partes da Ucrânia.
As rebeliões preocupavam Estaline porque se estavam a desenvolver em províncias que tinham, na década anterior, lutado contra o Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa. Também estava preocupado com a raiva e a resistência à política agrícola estatal no seio do Partido Comunista Ucraniano. 

"Se não fizermos agora um esforço para melhorar a situação na Ucrânia", escreveu ao seu colega Lazar Kaganovich [belo nome] em Agosto de 1932, "podemos perder a Ucrânia". 

Nesse Outono, o Politburo soviético, tomou uma série de decisões que alargaram e aprofundaram a fome nas zonas rurais ucranianas. Fazendas, aldeias e cidades inteiras na Ucrânia foram colocadas em listas negras e impedidas de receber alimentos. Os camponeses foram proibidos de deixar a república ucraniana em busca de alimentos. Apesar da fome crescente, as requisições alimentares foram aumentadas e a ajuda não foi fornecida em quantidade suficiente. A crise atingiu o seu auge no Inverno de 1932-33, quando grupos organizados de polícias e de apparatchiks comunistas saquearam as casas dos camponeses e levaram tudo o que era comestível, desde as colheitas até ao abastecimento alimentar pessoal e aos animais de estimação. A fome e o medo impulsionaram estas acções, mas elas foram reforçadas por mais de uma década de retórica odiosa e conspiratória emanando dos níveis mais altos do Kremlin.

O resultado da campanha de Estaline foi uma catástrofe. Na Primavera de 1933, as taxas de mortalidade na Ucrânia dispararam. Entre 1931 e 1934, pelo menos 5 milhões de pessoas morreram de fome em toda a URSS. Entre elas, de acordo com um estudo realizado por uma equipa de demógrafos ucranianos, havia pelo menos 3,9 milhões de ucranianos. Os arquivos da polícia contêm múltiplas descrições de casos de canibalismo, bem como de anarquia, roubo e linchamento. As valas comuns foram escavadas em todo o campo. A fome também afectou a população urbana, embora muitos tenham conseguido sobreviver graças a cartões de racionamento. Ainda assim, nas maiores cidades da Ucrânia, os cadáveres podiam ser vistos na rua.

A fome foi acompanhada por um ataque mais amplo à identidade ucraniana. Enquanto os camponeses morriam aos milhões, agentes da polícia secreta soviética tinham como alvo o establishment político e a intelligentsia ucraniana. 
A fome deu cobertura a uma campanha de repressão e perseguição que foi levada a cabo contra a cultura ucraniana e os líderes religiosos ucranianos. A política oficial que tinha encorajado a utilização da língua ucraniana, foi travada. 
Além disso, qualquer pessoa ligada à efémera República Popular Ucraniana - um governo independente que tinha sido declarado em Junho de 1917, na sequência da Revolução de Fevereiro, mas que foi desmantelado após os bolcheviques terem conquistado o território ucraniano - foi sujeito a represálias viciosas. 
Todos os visados por esta campanha eram susceptíveis de serem vilipendiados publicamente, presos, enviados para o Gulag ou executados. Sabendo que este programa de russificação iria inevitavelmente chegar até ele, Mykola Skrypnyk, um dos líderes mais conhecidos do Partido Comunista Ucraniano, suicidou-se em vez de se submeter a um dos julgamentos de Stalin.

À medida que a fome avançava, a notícia foi deliberadamente silenciada por burocratas soviéticos. Os funcionários do partido não a podiam mencionar em público. Os jornalistas ocidentais sediados em Moscovo foram instruídos a não escrever sobre o assunto. 
Um dos mais famosos correspondentes de Moscovo na altura, Walter Duranty do The New York Times, esforçou-se por rejeitar as notícias sobre a fome quando foram publicadas por um jovem freelancer, Gareth Jones, pois "achava que o julgamento do Sr. Jones era algo precipitado". 
Jones foi assassinado sob circunstâncias suspeitas em 1935 na Mongólia ocupada pelo Japão. O próprio Stalin chegou ao ponto de reprimir os resultados de um censo realizado em 1937; os administradores desse censo foram presos e assassinados, em parte porque os números revelavam a dizimação da população da Ucrânia.

Embora a fome tenha sido discutida durante a ocupação nazi da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial, tornou-se novamente tabu durante os anos do pós-guerra. A sua primeira menção pública na União Soviética foi em 1986, na sequência da catástrofe da central nuclear de Chernobyl. Esta catástrofe também foi inicialmente mantida em segredo pelas autoridades soviéticas.

Porque a fome era tão mortal, e porque foi oficialmente negada pelo Kremlin durante mais de meio século, desempenhou um papel importante na memória pública ucraniana, particularmente desde a independência. O poeta ucraniano Ivan Drach foi o primeiro a falar publicamente sobre a fome, em 1986, após a catástrofe de Chernobyl, citando-a como um exemplo de como o silêncio oficial pode ser prejudicial. Monumentos em comemoração da Holodomor foram erguidos pelo governo ucraniano, bem como pela diáspora ucraniana, e o Dia da Memória Holodomor é observado em todo o mundo no quarto sábado de Novembro. A Ucrânia também investiu na investigação sobre a fome.

No início de 2019, 16 países, bem como o Vaticano, tinham reconhecido o Holodomor como um genocídio, e ambas as casas do Congresso dos Estados Unidos tinham aprovado resoluções declarando que "Joseph Stalin e os que o rodeavam tinham cometido genocídio contra os ucranianos em 1932-1933".

Anne Applebaum para a Enciclopédia Britânica - 
Anne Applebaum is a historian, journalist and a foreign policy columnist for the Washington Post. She is also a Professor of Practice at the London School of Economics.

Já agora, só para pôr os pontos nos is, fique sabendo que o historiador soviético Roy Medvedev, em 1989, estimou em cerca de 20 milhões as pessoas que morreram em consequência dos campos de trabalho, da colectivização forçada, da fome, e das execuções. Outros 20 milhões foram vítimas de encarceramento, exílio, e deslocação forçada, durante a época do seu grande ídolo, Estaline.

Dito isto, este Tadeu é uma daquelas pessoas que se calhasse ser da direita era um negacionista do holocausto, como é da esquerda, é um negacionista dos crimes de Estline. Um imbecil. Nem sequer chega ao patamar de se poder argumentar com uma pessoa destas porque está abaixo do limiar mínimo da crítica séria. O protótipo do mediano, AKA, medíocre.

Louçã, pelos vistos é outro negacionista ignorante, defensor do grande líder Estaline. O que é preocupante é que o primeiro imbecil escreve num jornal nacional e tem grande destaque e o segundo é um conselheiro de Estado. Lastimável.

Para quem tem curiosidade mas não tem os livros, em 2019 saiu um filme chamado, Mr. Jones que relata o trabalho do jornalista Gareth Jones, que esteve nessa época na Ucrânia e em Moscovo e foi testemunha dos acontecimentos e foi quem primeiro deu notícia para o Ocidente do que os soviéticos estavam a fazer aos ucranianos. Foi assassinado pelos soviéticos, embora disso não haja provas concretas. O filme é muito bom e segue os acontecimentos com fidelidade.