Desde Eisenhower até à chegada de Trump, houve períodos de declínio da confiança na imprensa, mas o fosso partidário foi bastante consistente durante esse período.
Penso que há outros factores que também temos de ter em conta. Estamos numa era em que, devido aos meios de comunicação social, é mais fácil do que nunca reunir pessoas com ideias semelhantes e construir as suas próprias narrativas, o que faz com que as vozes mais altas e extremas dessas comunidades tendam a elevar-se. É mais fácil para esses grupos mobilizarem-se e serem ouvidos.
Esta é a dinâmica fundamental dos media sociais. Atualmente, vemos que a tolerância para com os jornalistas que desafiam as narrativas de grupo diminuiu. Antes, isso só acontecia com o aborto, com Israel-Palestina, com a política presidencial; essas eram as histórias gigantes da vida americana que tinham todas essas dinâmicas, em que o tipo de retórica e a intensidade pareciam estar sempre a aumentar. Agora é em tudo.
Tal como no Providence Journal.
Provavelmente escrevia uma a três histórias por semana, algures. Como eram os seus dias? Todos os dias, estava nas comunidades que cobria. Era confrontado com toda a diversidade deste país e da experiência humana. No mesmo dia, falava com ricos e pobres, falava com uma mãe que tinha acabado de perder um filho por assassínio e com uma mãe cujo filho tinha acabado de ser preso por assassínio, certo?
Está a dizer que isso mudou? Que os repórteres estão apenas sentados em salas em frente a um ecrã? Não me parece que seja esse o caso.
Claro que é o caso! É o resultado menos falado e mais insidioso do colapso do modelo de negócio que historicamente sustentou o jornalismo de qualidade. O trabalho de informar é dispendioso. Com o desaparecimento dos meios de comunicação tradicionais e, em particular, dos meios de comunicação locais, e com os meios de comunicação digitais a preencherem esse vazio, assistimos a uma inversão total da forma como os repórteres passavam os seus dias.
Outra dinâmica no nosso sector é que o jornalismo, até certo ponto, se tornou uma câmara de eco. O que é que eu quero dizer com isso?
Já há algum tempo que não vejo a sua biografia, mas se é como muitos jornalistas da sua geração e da minha geração, provavelmente começou num jornal local. Esse era o caminho tradicional. E como era o dia a dia de um jornalista nessa altura? Se fosse um repórter em formação, provavelmente estava a escrever.
Tal como no Providence Journal.
Provavelmente escrevia uma a três histórias por semana, algures. Como eram os seus dias? Todos os dias, estava nas comunidades que cobria. Era confrontado com toda a diversidade deste país e da experiência humana. No mesmo dia, falava com ricos e pobres, falava com uma mãe que tinha acabado de perder um filho por assassínio e com uma mãe cujo filho tinha acabado de ser preso por assassínio, certo?
Está a dizer que isso mudou? Que os repórteres estão apenas sentados em salas em frente a um ecrã? Não me parece que seja esse o caso.
Claro que é o caso! É o resultado menos falado e mais insidioso do colapso do modelo de negócio que historicamente sustentou o jornalismo de qualidade. O trabalho de informar é dispendioso. Com o desaparecimento dos meios de comunicação tradicionais e, em particular, dos meios de comunicação locais, e com os meios de comunicação digitais a preencherem esse vazio, assistimos a uma inversão total da forma como os repórteres passavam os seus dias.
O novo modelo é ter de escrever três a cinco histórias por dia. Ora, se temos de escrever três a cinco histórias por dia, não há tempo para sair para o mundo. Passamos o tempo a escrever, a escrever no computador, o que significa que nos baseamos na nossa própria experiência e na experiência das pessoas que nos rodeiam.
Assim, literalmente, muitos jornalistas neste país deixaram de passar os seus dias no campo, rodeados de vida, para passar os seus dias num escritório com pessoas que exercem a mesma profissão, que trabalham para a mesma instituição, que vivem na mesma cidade, que se formaram no mesmo tipo de universidade.
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Excerto de uma entrevista a A. G. Sulzberger, editor do NYT (que está nas mãos da sua família desde os anos 50 do séc. XIX)
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