Os professores estão felizes? Dez gráficos sobre o que se passa em Portugal e na OCDE
Público
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Depois reparamos que a maioria dos gráficos compara-nos com, Singapura, Vietname, Costa-Rica, Uzbequistão, Colômbia... parecem ter escolhido a dedo os países que mais fazem contraste connosco para fazer passar uma imagem de estarmos muito bem. Depois reparo que numa letra muito desmaiada que mal de vê, em baixo aparece a média da OCDE.
Depois vêm as perguntas. O inquérito deve ter muitas perguntas mas escolheram algumas a dedo...
Por exemplo, «% de professores do 3.º ciclo com menos de 30 anos que ponderam sair» - com menos de 30 anos, significa que acabaram de entrar na profissão -talvez há um ano ou dois- e não nos dizem sequer se são professores com graduação profissional ou professores que estão a dar aulas sem formação profissional, etc. Como os dados são ambíguos, dão origem a interpretações completamente arbitrárias. É claro que não vem o gráfico dos professores que estão depois do meio da carreira, que são a esmagadora maioria dos professores portugueses, que não saem da carreira porque não têm profissão alternativa mas que assim que puderem pisgam-se.
Outro gráfico, que nos compara com a Albânia e o Kosovo, pergunta se Globalmente, estão satisfeito com o seu trabalho” e diz-nos que 93,7% dos professores portugueses dizem que sim. Vejamos, esses 93% referem-se aos tais com menos de 30 anos, que só trabalharam 2 anos? A questão refere-se ao modo como o professor entende que cumpriu o seu trabalho, os seus deveres e a maioria está satisfeita com o seu profissionalismo? Ou a questão é sobre se está contente com a profissão enquanto carreira, condições de trabalho, salário, etc.? Desconfio que é a 1ª hipótese pois em outros gráficos da notícia os professores queixam-se do salário, do desgaste mental, do excesso de burocracia e indisciplina.
Portanto, o que concluo é que o Público foi manobrar um inquérito de maneira a apresentá-lo como sendo as políticas da educação em Portugal um sucesso, dado os professores aparecerem como muito satisfeitos em percentagens superiores a 90%.
A minha questão é: quem encomendou a notícia?
Alguém que acredite nestas conclusões também acredita que Putin é mesmo eleito com 95% de votos.
Nenhum professor com uns anos de trabalho e dois dedos de testa engole isto, pois todos os anos vemos uma dezena de colegas a sair, alguns a sair antes do tempo e com penalizações na reforma. Todos os dias ouvimos e temos experiência das condições de trabalho e do abandono a que sucessivos ministros nos deixaram, alguns mais do que isso, perseguiram-nos. E, embora a maioria esteja contente com a sua dedicação, o seu profissionalismo e o seu empenho no trabalho, só uma muito pequena percentagem está contente com a profissão - entendo por profissão, a carreira, as condições de trabalho, o modo como somos tratados, os salários, etc.
Estamos todos tão contentes que há 3 ou 4 anos, fomos todos (os 130 mil) para a rua, 5 ou 6 vezes, manifestar e houve greve um ano inteiro.
É por estas e por outras que o jornalismo está pelas ruas da amargura em termos de credibilidade.
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