February 06, 2024

Jornalismo 'mais do mesmo' II

 

O jornalista insinua que estamos 'governados à vista' nos 'últimos meses' por culpa do MP que se comporta como uma criança, quando na verdade há mais de cinco anos que andamos a ser governados à vista e o irresponsável de serviço é o Primeiro-Ministro e os seus governantes - não há aqui espaço para citar todos os casos de prevaricação, grave negligência, clientelismo e corrupção a braços com a justiça, para não falar da irresponsabilidade com que se enterram milhares de milhões em projectos falidos, em amigos ou em serviços de ideologia.

O jornalista insinua que os agricultores também são irresponsáveis - não deve viver neste país com o interior completamente abandonado (não há lá primos de prestígio) e a ministra da agricultura a ter de ser proibida de falar com os agricultores, tal não é a sua incompetência.

Às forças de segurança chama "selvagens". E porquê? Porque prejudicaram um jogo de futebol.

Já o governo é um coitado que não pode fazer nada. Teve oito anos para fazer algo, mas são estes dois meses que contam - lá está, fazem lembrar os alunos que estão os 90 minutos do teste a olhar para o ar mas na altura em que toca e tiramos os testes, nessa altura é que iam tirar o 20.

Este jornalista de insinuações, "não discute a legitimidade dos protestos", mas é tudo gente irresponsável como crianças que deviam era estar calados e amochar porque o governo é excelso e uma vítima desta gente selvagem. Compreende-se o seu ponto de vista: amochar até bater com o nariz no chão é a única acção que este tipo de jornalistas conhecem face ao poder e nem percebem que possa haver outras acções de cabeça levantada. 

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Nos últimos meses, vivemos num país governado à vista, à espera que as eleições legislativas nos coloquem em São Bento um primeiro-ministro pleno de poderes. Mas isso já sabíamos e, na verdade, já quase estamos habituados a que operações com divertidos nomes causem mais alarido que condenações ou, sequer, acusações. Quem se pode esquecer da história de Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara de Sines, que passou seis dias detido para, no final, sair sem qualquer acusação depois de o Ministério Público ter pedido a suspensão do mandato, proibição de contactos e de entrar nas instalações da autarquia? Agora, a sensação é a de viver num país em que os adultos parecem ter, definitivamente, abandonado a sala. Como se estivéssemos trancados numa sala de aula em que o professor entrou em greve, ou desistiu, deixando os alunos sem ordem, cada um dedicado a responder aos seus mais rudimentares ímpetos.

Nos últimos dias, vimos um movimento de agricultores bloquear vias públicas para, depois de o Governo responder às suas exigências, a maior dificuldade estar na comunicação com cada ponto de bloqueio por falta de interlocutores.

Vivemos num país em que as forças de segurança protagonizam protestos selvagens, sem que se conheçam os líderes do movimento ou a respetiva agenda. Foi assim que, no passado fim de semana, um jogo de futebol da principal liga nacional acabou, primeiro, marcado por agressões no exterior do estádio e depois cancelado por falta de condições de segurança.

Um Governo de gestão, diz, não se pode comprometer com “encargos duradouros”


Não discuto a legitimidade da luta dos polícias, tão pouco ponho em causa a insatisfação de agricultores ou professores. Também não é a inépcia do Governo que, agora, me preocupa. O susto está na proliferação de movimentos de protesto inorgânicos, sem responsáveis conhecidos, capazes das mais espalhafatosas, ou irresponsáveis, ações, mas pouco dados a negociar. Sobretudo num momento em que o poder político está, por culpa própria, debilitado. O susto, o maior, está em saber que movimentos sem caras tendem a ser subvertidos, a responder a agendas dúbias e a ser, facilmente, manipulados. Era bom que os adultos voltassem à sala.

Filipe Garcia in 
/www.dn.pt/

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