June 19, 2025

Os exames deixaram de ser pedagógicos e transformaram-se em teias jurídicas

 

É um aparatus tão complexo que recebemos instruções de 200 páginas só para saber o que fazer nos exames e tem coisas do género, 'os alunos podem beber água', como se alguém pudesse negar água a um aluno num país que tem Primaveras e Verões com 40º à sombra dentro de salas que parecem fornos.

Agora uma parte dos exames é lida por leitor óptico ou outra máquina qualquer. Acho bem, se é para transformarem os testes em Totoloto não precisam de professores para classificar.

Lembro-me de um exame, aí há uns 25 anos, em que fui vigilante com um colega que se reformou há muito, muito tempo. O exame era de METEP (métodos e técnicas de expressão plástica) que durava 3 horas e meia e que tinha tarefas de desenho, perspectiva, pintura, construção geométrica e em 3D. Estávamos a vigiar um só aluno e, estando sozinho, o miúdo espalhou pelas mesas as várias folhas de resposta em formato A3, mais os godés, as tintas, canetas, compasso, lápis e toda a parafernália que tinha trazido e de que precisava. De vez em quanto ia ao lavatório limpar pincéis, godés, etc. Enfim, isto era em Julho, à tarde - estava um calor de morte e eu o outro professor estávamos sentados num parapeito que havia ao longo da parede toda envidraçada, de janelas abertas a abanar-nos e e beber água. O miúdo não tinha trazido água e a certa altura, deviam ser umas 4 e meia da tarde, estava cheio de sede e de fome, porque ainda não tinha parado um segundo. Pedimos à funcionária do bloco para arranjar água e uma sandes ao miúdo e ele lanchou rapidamente a meio do exame e depois continuou o trabalho. Sem stress. Se fosse agora, íamos presos... porque mais depressa o sistema deixa um aluno desmaiar de fome do que incumprir um dos 18 mil procedimentos da Norma 2.


1 comment:

  1. Era tudo muito mais descontraído. E não havia exames de acertar ao calhar com cruzinhas. #Nena

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