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July 13, 2023

Acerca de cartoons ordinários




Não há dúvida que o cartoon a insinuar que todos os polícias são racistas violentos é de muito mau gosto e ordinário. Ultrapassa em muito um cartaz de 1 político identificado e não todos indiferenciadamente com lápis nos olhos da sua cegueira e cara de couchon. Mesmo assim, o cartoon não deixa de ser uma sátira e era melhor que a PSP aproveitasse -mesmo que fizesse um comunicado de honra, ou assim- para reflectir em maneiras de mudar os critérios de recrutamento e tutela dos seus membros. 


Queixa-crime à RTP por cartoon foi “decisão difícil”, diz director da PSP


Manuel Magina da Silva negou que a decisão fosse motivada por mal-estar entre elementos da polícia e não quis comentar a decisão, remetendo explicações para o comunicado da PSP divulgado esta semana.



July 04, 2023

Porque é que não existe o cozinheiro de vir a casa?

 


Sou só eu que acho stressante isto de ter passado a minha vida adulta a ter que decidir o que vou almoçar/jantar? E ainda por cima ter de o cozinhar? Abrir o frigorífico e começar a pensar o que estou disposta a fazer?

Eu gosto de cozinhar, mas isso é diferente de ter de pensar e decidir o que comer todos os dias, sendo que a decisão implica também seleccionar alguma coisa que me apeteça fazer. Algumas coisas têm de ser temperadas de avanço. Outras vezes apetece comer qualquer coisa que não se comprou. 

Uma pessoa vai às compras e tem de pensar em comida para vários dias. Sei lá eu à segunda o que me vai apetecer na quinta... acabo por ir todos os dias comprar comida porque só compro o que vou cozinhar nesse dia ou no outro a seguir.

Porque é que não existe o cozinheiro de vir a casa, agora que não temos (a maioria) cozinheiros em casa? Fazíamos uma ementa das coisas possíveis e de manhã dizíamos o que queriamos jantar nesse dia e o cozinheiro vinha a casa, fazia-nos o jantar (deixa-o feito) e ia à sua vida. Não tinha que ser todos os dias. 

Não gosto de encomendar comida porque é tudo pouco interessante (ou eu não tenho restaurantes muito interessantes aqui perto - excepto uma pizzaria excelente) e estou (mal) habituada a comer a comida da época, cozinhada sem montes de gorduras, nada de fritos. A única coisa que não me importo de encomendar são as pizzas, mas é tão raro. Há um ano, pelo menos, que não como pizza.

Assim como há a empregada doméstica que vem a casa limpar, podia haver o chefe-cozinheiro que vinha a casa, para aqueles dias em que não apetece fazer nada.

July 03, 2023

A caminho

 


Da médica pneumo-oncologista. Com um espírito positivo. Não como da última vez que fiz uma PET com um resultado, «nim»: 'não, não está tudo bem, há aqui actividade metabólica frenética, mas sim, pode ser que seja apenas isto e não AQUILO.' Fui sexta-feira à plataforma ler o resultado deste exame e parece que, por enquanto, está tudo estacionário. Está lá 'a cena', continua enorme e estão lá as outras coisas adjacentes, mas parecem estar imóveis. Logo, 🙂


June 27, 2023

Farto-me de rir...

 


Sou uma pessoa cheia de cuidados nos processos, quando são assuntos que desconheço. De maneira que, quando não sei os procedimentos próprios e não tenho indicações ou instruções prévias para me orientar, chamo os serviços responsáveis, peço instruções e faço exactamente o que me mandam. É óbvio que se sei os procedimentos, faço as coisas sozinha sem chatear os outros e não peço instruções. Imagine-se que faço exactamente o que me mandam e depois venho a saber que era para fazer outra coisa diferente. Fico muito mal impressionada com a pessoa que me deu instruções erradas porque um serviço que passa o tempo a atirar-nos para cima legislação e conversa de rigor, tem que ter ele mesmo rigor, não? Qual não é o meu espanto quando uns dias depois -hoje-, a falar com uma pessoa desse serviço, percebo que assumiram que o erro foi meu porque, 'é evidente que quando a pessoa me diz para fazer 'A' eu devo perceber que ela quer dizer 'B' e devo fazer 'C'... a sério...? Isto são os serviços que controlam o rigor dos processos... quer dizer, eu tinha ficado mal impressionada e sem confiança na pessoa que me deu aquelas instruções às três pancadas ou em mau português, na melhor das hipóteses, agora perdi a confiança no serviço todo... enfim, sem comentários...


June 24, 2023

Cenários

 


Prigozhin: „And that’s why we’re here: In order to stop the shame of the country we live in … We are saving Russia.“

traduzido por Michael Kofman



June 16, 2023

Citando-me a mim mesma (peço desculpa)

 


Nenhuma educação que despreze a aprendizagem dos escritores, dos poetas, dos pintores, dos filósofos, dos músicos, etc., poderá, alguma vez, cumprir o seu fim último. Nenhum povo se poderá desenvolver a partir duma educação reduzida à mera aprendizagem de técnicas. Nenhuma educação poderá levar o seu povo a ultrapassar o mero nível do senso comum de horizontes limitados se os seus educadores estiverem obrigados e reduzidos ao ensino de técnicas, ao ensino do absoluto presente material.

May 25, 2023

April 27, 2023

Quando as coisas correm bem porque correm mal 🙂

 


Acontece com frequência na ciência. A penicilina, por exemplo. Isto vem a propósito de ter lido hoje num jornal uma crítica à ópera que fui ver ao CCB e de que falei aqui há uns dias, o "Holandês Voador" de Wagner. Parece que durante todo o primeiro acto houve um problema de iluminação e que foi isso a causa de Tómas Tómasson cantar a parte do Holländer meio na penumbra. Pois se foi por isso é caso para dizer, 'ainda bem que as coisas correram mal - porque correram muito bem'. Ele cantar naquele ambiente sombrio realçou a tensão dramática da música, da voz dele e da aria e o ambiente fantasmagórico próprio da cena. A minha sugestão é: não resolvam o problema de iluminação 🙂


April 19, 2023

Frustração

 


Gostava muito de assistir a esta conferência mas só hoje soube dela, por acaso, numa formação que estive a fazer sobre filosofia política, onde Sandel era um dos autores abordados. Já está esgotada. Que chatice.


A Tirania do Mérito - Uma Conferência com Michael J. Sandel

Filósofo, professor e ensaísta em Lisboa para uma conferência única em Lisboa, a 27 de abril, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian

April 06, 2023

Post para mim mesma

 

Certas coisas, às vezes, abalam de repente as nossas vigas baldrames - e nem sempre se pode fazer alguma coisa, a não ser aguentar.

Depois, agora mesmo li que um professor começou uma greve de fome como forma de luta contra a injustiça do governo e o desinteresse pelos professores. Isto incomoda profundamente. É preciso uma dose grande de desespero para fazer uma coisa destas. E muita força de vontade. Tenho dificuldade em perceber uma greve de fome, mas respeito muito quem as faz. 


March 31, 2023

Entretanto

 


Assim que se entra em casa cheira a jasmim. As orquídeas estão muito giras e estou em pulgas para ver os botões da gardénia abrirem e deitarem cheiro. 

As plantas emitem sons ultra-sónicos em rajadas rápidas quando estão em stress, dizem os cientistas.

Plantas sedentas ou danificadas produzem até 50 estalidos staccato numa hora, às quais criaturas próximas podem responder.

"Estes estalidos são potencialmente importantes porque outros organismos podem ter evoluído para ouvir estes sons e interpretá-los". Estamos agora a testar tanto animais como plantas para ver se respondem".

Gravámos sons produzidos por plantas de tomate e tabaco criadas em estufas. Plantas saudáveis emitiam estalidos, mas os sons vinham em disparos muito mais rápidos quando as plantas estavam privadas de água ou tinham os seus caules cortados. Os ruídos podiam ser captados a 3-5 metros de distância.

(portanto, também as plantas em stress se queixam em voz alta e pedem socorro)



March 15, 2023

Intervalo para coisas prosaicas

 

Sou só eu que acho que os prémios dos óscares são uma cerimónia cada vez mais disparatada e desinteressante? Ontem à noite vi no YouTube pedaços da cerimónia dos óscares (a parte de saber quem ganhou o quê, sobretudo) e das entrevistas à entrada da cerimónia. Um espectáculo de vaidade excessiva e exibicionismo, na maioria dos casos, com poucas excepções. Epá, não sei, mas acho aquilo tudo cada vez mais... ao lado de tudo o que interessa. Duas questões: 

1º Sou só eu que acho de mau gosto as mulheres virem quase nuas e toda a gente ter que levar com aquela exibição de carne toda em cima? Imagine-se se um homem fizesse a mesma coisa e viesse naqueles propósitos e obrigasse toda a gente a ter que levar com a sua carne em cima. Que tem isso que ver com ser actriz? Não percebo e acho agressivo. 

2º Sou só eu que acho que o filme que ganhou aqueles prémios todos não tem grande interesse? Confesso que tive dificuldade em ver o filme até ao fim. Havia filmes bons que nem uma menção tiveram. Não percebo.


March 03, 2023

Hora da Lua

 


"The moon was shining sulkily, because she thought the sun
Had got no business to be there, after the day was done.
It's very rude of him, she said, to come and spoil the fun. "

(The Walrus and the Carpenter)



January 02, 2023

Ladrilhozinhos de vitrais

 


É o que me faz lembrar a época filosófica em que vivemos. À semelhança da época helenística que a partir das grandes escolas filosóficas da Antiguidade se partiu em miríades de vidrinhos, de correntes filosóficas e suas subsidiárias, também a época actual é uma miríade de ladrilhozinhos multiplicados a partir das grandes escolas da idade moderna. É muito difícil alguém ter, nos dias de hoje, uma visão completa de tudo o que se pensa na filosofia, mesmo entre os investigadores universitários, tal é a catadupa de centenas artigos, textos, ensaios, teses e livros que se publicam constantemente. Isso em parte deve-se à obrigação que os professores universitários têm em publicar artigos (muito do que se publica acaba por ser, necessariamente, sem interesse) e aos milhares de pessoas que se dedicam à filosofia devido à democratização dos estudos universitários. 

É uma época interessante dado que há muita perspectiva nova a entrar no rio das ideias. Por outro lado, é preciso alguma inteligência para uma pessoa se orientar nesta enorme rede. Não sei até que ponto será possível um pensador desenvolver nos dias que correm uma grande filosofia - pensar requer tempo e dedicação para evoluir em profundidade e as exigências de burocracia e publicações que fazem aos investigadores juntamente com a sobrecarga de trabalho são um obstáculo à possibilidade de pensamento profundo e original de grande escopo. Muito do que se escreve (ou pelo menos do que leio do que se escreve, que é uma ínfima parte) são remakes de ideias do passado, sem nada daquele espírito típico dos filósofos que se reconhece imediatamente pela intuição penetrante e original com que perspectivam a 'realidade'.

Para uma pessoa como eu, que não sou investigadora e que ensino numa escola secundária, a vantagem dos dias de hoje é termos acesso a tudo o que se escreve e pensa. Há trinta anos isto não seria possível. Para ter acesso à investigação universitária era preciso ir às universidades consultar as teses de mestrado ou de doutoramento, procurar actas de colóquios, ler as revistas todas da especialidade, gastar rios de dinheiro em livros ou conhecer alguém de dentro que nos orientasse. E mesmo assim o que se acedia é um grão de areia quando comparado à situação actual. É certo que havia muito menos a que aceder e conhecíamos muito bem os grande especialistas neste ou naquele autor ou tema. Pois hoje temos acesso às mais recentes abordagens filosóficas à distância de um clique, se as sabemos procurar ou até mesmo sem procurar: o algoritmo envia-nos todos os trabalhos reputados dos temas que sabe que nos interessam.

Há bocado, à tarde, estava a preparar um pequeno plano para abordar na primeira aula do período a questão da possibilidade e valor do conhecimento. Pus-me a ver maneiras de estruturar a questão do cepticismo e o dogmatismo - não gosto da maneira como o tema é tratado no Manual adoptado. Fui dar com uma dúzia de tipos de cepticismo, alguns dos quais não sabia, como por exemplo, o neo-pirronismo, que tem origem no pensador brasileiro, Oswaldo Porchat e que hoje-em-dia domina o pensamento filosófico da América Latina. Muito interessante.

É claro que não me vou pôr a trabalhar todos estes tipos de cepticismo com os alunos, porque a Filosofia no ensino secundário não é um curso de especialização. Nem há a intenção que os alunos se posicionem a favor ou contra esta ou aquela perspectiva (isso são os totós que fizeram estas orientações do programa e que influenciam os exames). A maioria são trabalhadas para parecerem equipolentes (talvez algumas o sejam...) porque não estamos a ensinar verdades ou metodologias de verdade e essa diaphonía, embora apreça negativa para a mentalidade actual que quer respostas rápidas e enlatadas para tudo, é um caminho que leva à prudência no pensar e à consideração das perspectivas diferentes das nossas. De maneira que a Filosofia no ensino secundário é uma introdução -e se possível uma descoberta transformadora- às possibilidade do pensar crítico e racional e às virtudes da sua aplicação na vida de cada um e de todos, no pressuposto de que essa adolescência é uma idade em que o terreno ainda é permeável às sementes do pensar. 

Porém, podemos entrar um bocadinho nelas, porque é melhor que se perceba a complexidade da realidade, mesmo que não se consiga abarcá-la totalmente, do que se pense que tudo é trás-pás como se vê.


December 25, 2022

Sou só eu que como montes de açúcar na noite da consoada?

 

E depois fico numa excitação incapaz de dormir? O que vale é que neste dia vêem sempre parar-me à mão livros novos 📚 🙂



December 02, 2022

Num futuro já próximo

 

Calculo que sejamos a última geração a ver a lua ao natural, sem luz eléctrica. Calculo que daqui a 10 ou 20 ou 30 anos tenham estabelecido uma estação internacional na lua, iluminada com luz eléctrica. Daqui a 100 anos talvez as pessoas (se ainda houver pessoas) falem com nostalgia da lua natural que nunca viram. Talvez o aspecto da lua seja este que se vê.

já não sei onde fui buscar esta imagem


November 15, 2022

Post para fanáticos de palavras - hapaxes




A história do lobisomem é talvez a mais famosa do Satírico de Petrónio, uma jóia da literatura latina escrita no século I. No livro, um convidado em um jantar conta um conto maravilhoso de transformação e mistério. Um escravo romano e um hóspede apressam-se na noite (apoculamus), num cemitério envolto em luar etéreo e um deles é despojado da sua forma humana e recebe nova vida, na forma de uma besta feroz.
A juntar à sua estranheza, a história do lobisomem é especial pela sua linguagem. Em toda a literatura latina, o único uso conhecido da palavra "apoculamus" encontra-se na secção 62 do Satyricon. Como resultado, este verbo é considerado um hápax legómenon, uma palavra que ocorre apenas uma vez num texto, numa obra de um autor ou, em todo o registo escrito de uma língua.

O Satyricon contém uma série de hapaxes, incluindo "bacalusias" (possivelmente "carne doce" ou "canções de embalar") e "baccibalum" ("mulher atraente").

Os Hapaxes não se limitam ao latim. Eles aparecem em todas as línguas, desde o árabe ao islandês, até ao inglês. Mas de onde vêm estas palavras, e qual é a sua finalidade? Há várias teorias sobre o papel dos hapaxes. 
Joshua Whatmough, o filólogo, sugeriu que o poeta Catullus as inserisse para chamar a atenção para um momento específico, tal como o poeta Ezra Pound faria séculos mais tarde. Outros sustentam que as palavras se tornam hapaxes por acaso.

Há vários métodos para traduzir hapaxes. No caso do "apoculamus" do Satyricon, usam o contexto para definir o termo. Neste ponto da história, o narrador está a descrever como ele e o seu companheiro partiram de casa. A partir do final "-mus", sabemos que esta palavra é um verbo indicativo, presente, activo e em primeira pessoa, plural. Portanto, "apoculamus" pode ser interpretado como uma forma de movimento.
Dada a influência do grego antigo no latim, os estudiosos também confiaram na etimologia para as pistas de tradução. O prefixo "apo" significa "longe de" e o substantivo "culum" refere-se às nádegas de uma pessoa. Assim, "apoculamus" pode ser definido como "afastar o seu posterior de" algo.

Alguns estudiosos discordam destas sugestões, argumentando que "apoculamus" não estava no texto original. O Satyricon chegou até nós em fragmentos, o que significa que pode não ser exacto em relação à versão original. Portanto, é possível que Petrónio tenha usado um verbo diferente, tendo sido mal copiado por um escriba qualquer. 

Há uma série de palavras do grego clássico e do latim que nunca conseguiremos traduzir com certeza. Uma que tem deixado estudiosos perplexos é "πολεμοφθόροισιν" ("polemophthoroisin"), que pode ser encontrada na linha 653 de "Os Persas de Ésquilo", uma tragédia grega escrita no século V a.C. 

A peça narra o regresso do rei persa Xerxes, da Grécia, após a sua desastrosa derrota na Batalha de Salamis. Nesta cena, o coro elogia o antigo rei, Dario, que é recordado como um governante justo por não "provocar a queda dos seus homens através de guerras sem sentido", em oposição ao seu filho. Com base no contexto da secção, os classicistas assumem que o termo se relaciona com a guerra de alguma forma. "πόλεμος" ("Polemos") foi, para os gregos, a personificação divina da batalha, enquanto "φθείρω" ("ftheiro") traduzido como "destruir". Assim, a combinação dos dois pode significar "destruição pela guerra", que é o que Xerxes fez ao atacar os gregos.

Catullus, um poeta que escreveu em latim durante o primeiro século a.C., usava frequentemente hapaxes, sendo "ploxeni" no Poema 97 um exemplo especialmente notável. A palavra é de origem gaulesa e refere-se a um "vagão de estrume", um termo colocado em perfeito uso nesta invectiva contra um homem chamado Aemilius. O poema é um ataque virulento à sua aparência e mau odor. Catullus descreve as gengivas de Aemilius como "parecendo um vagão de estrume", devido à sua imundície. O termo "ploxenum" não foi utilizado em nenhum outro poema, provavelmente devido à sua derivação obscura.

Na Ilíada de Homero, escrita por volta do século VIII a.C., encontramos um hapax no livro 2, linha 217. O poema narra a batalha épica entre os gregos e troianos depois da esposa do rei espartano Menelau, Helena, ter sido raptada pelo Príncipe Paris de Tróia. Odisseu, o soldado mais hábil do exército, está a incitar as tropas gregas às armas com uma oração estimulante. No entanto, é interrompido por Thersites, um homem descrito como pouco atractivo e odioso. Embora ele seja caracterizado apenas numa breve passagem, Thersites recebe a mais dura das palavras: "mal favorecido" com "pensamentos desordeiros" e "ombros arredondados". O termo "φολκός" está entre estes detalhes. Este hapax foi traduzido como "pernas arqueadas", um golpe na honra de Thersites.

Um dos mais famosos hapaxes shakespearianos é "honorificabilitudinitatibus", que significa "capaz de alcançar honras". A palavra aparece apenas no Acto V, Cena 1 de, Love’s Labour’s Lost e é a forma dativa de uma palavra latina medieval, "honorificabilitudinitas". Depois de Shakespeare, autores como James Joyce e Charles Dickens incorporaram-na nas suas obras.

Estima-se que existam milhares de hapaxes na Bíblia. A literatura grega e latina permite-nos traduzir muitos dos termos da Septuaginta ou da Vulgata, do Antigo Testamento grego Koine e da Bíblia latina, respectivamente. No entanto, uma vez que o Antigo Testamento é quase tudo o que temos da antiga língua hebraica, os hapaxes podem ser restritivos. 
O Cântico dos Cânticos, que é a última secção do Tanakh e parte do Antigo Testamento Cristão, contém um número especialmente elevado de hapaxes, forçando os estudiosos a confiar na versão grega para dicas de tradução. 
O Cântico dos Cânticos é, à primeira vista, uma história de amor entre um homem e uma mulher, na qual eles descrevem a sua paixão um pelo outro. Tem o maior número de hapaxes da Bíblia, tornando o livro enigmático e misterioso. Por exemplo, em 4.13, o homem compara o "selahim" da senhora a um pomar. O termo é um hapax, mas os estudiosos têm sugerido "ramos" como tradução, da descrição do corpo da mulher.

Um fenómeno linguístico semelhante a hapaxes é o ocasionalismo (um lexema criado para uma única ocasião para resolver um problema imediato de comunicação)'. Os autores podem, com efeito, produzir hapaxes através da criação de palavras. 
Shakespeare é famoso pela sua utilização frequente de tais termos. Na peça Taming of the Shrew, uma peça sobre matrimónio e cortejo, a personagem principal, Katherina, descreve-se a si própria como sendo "deslumbrada" pelo sol. Esta palavra foi cunhada pelo bardo para esta cena.

Os hapaxes são um fenómeno linguístico intrigante, que talvez nunca consigamos resolver.

Maya Nandakumar
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Alguns Hepaxes:

- Honorificabilitudinitatibus, de Shakespeare; 

Nortelrye, palavra empregada por Chaucer (c. 1343-1400) com o significado de “educação”; 

- Ptyx, utilizada por Mallarmé em Plusieurs sonnets (1868), que nas palavras do próprio autor numa carta a Lefebvre, de 3 de maio, é o resultado de uma busca fónica imposta por uma necessidade de rima forçada.

- Golem (golmi < gelem), termo hebreu (Salmos 139: 16), que aparece apenas uma vez.

November 07, 2022

Cenas da educação

 


Hoje passei por umas pessoas e ouvi uma frase em tom meio de pergunta, meio de queixa, 'Porque é que os professores hoje-em-dia dão todos aulas com PPs? É uma coisa estranha' - como ia em movimento só ouvi isto, mas fiquei a pensar. Há uns 10 anos os professores eram vilipendiados por não usarem PPs. Chamavam-nos atrasados, tecnofóbicos e sei lá mais o quê.
Eu, que pertenço, há uma dúzia de anos, a um grupo online contra o uso de PPs nas aulas, quando tentava explicar porque não uso PPs no ensino (a não ser muito pontualmente e sempre com parcimónia e objectivos precisos) e porque me parece anti-pedagógico (faz mais mal que bem e é um recurso para satisfazer a preguiça de alunos e professores), era olhada com desdém e aquela expressão de, 'estes professores antigos que não sabem mexer num computador' (ainda há não muito tempo um indivíduo que fala ignorantemente de muitos assuntos aí num blog me chamou atrasada e disse que os professores não sabem mexer num computador). Adiante... Agora que descobriram a pólvora -usar PPs a torto e a direito, nomeadamente aqueles que vêm com os manuais, faz mais mal que bem- perguntam porque é que os professores usam sempre PPs, como se não tivessem sido os mesmos a pressionar, há uns anos, para que se usassem PPs em todas as aulas porque isso é que era ser 'avançado'.

Agora a moda são os manuais digitais, desmaterializados e isso é que ser avançado. Sou contra. A não ser muito pontualmente, como nos PPs. Os livros (pelo menos na filosofia) têm de ser manuseados, escritos nas margens, anotados, seguidos com o dedo no papel. Ou não servem para nada. Ali, virgens, como cidades sem nomes nas ruas, nem referências. Para além de que os dispositivos digitais que suportam os manuais digitais não devem ser usados muitas horas de seguida. Fazem mal à saúde física e mental. Mas é claro, agora quando digo isto olham para mim com aquele ar de, 'estes professores antigos que não sabem mexer num computador'.

Há muitas maneira de ler, que se prendem com os objectivos da leitura em questão. Há um ler para entreter, como um romance, por exemplo ou uma revista, uma banda desenhada, etc.; há um ler para retirar algumas informações; há um ler para ficar com uma ideia transversal do assunto de um livro e dos pontos principais; há um ler de estudar; há um ler de memorizar; há um ler de reflectir. E haverá outros. Podemos ler digitalmente um romance, uma revista, um livro de arte ou um livro para tirar algumas informações, mas não podemos ler digitalmente um livro para estudar ou reflectir. Livros que requerem concentração, discorrer do raciocínio, pausas de reflexão, apropriação dos conteúdos, etc. Esses precisam do dedo, ou do lápis, a seguir as linhas no livro e de anotações nas margens. Sim, alguns tablets já permitem isso, mas muito poucos e geralmente naquela luz brilhante que faz mal à saúde física e mental.


A natureza puxa mais que cem cavalos

 


... como diz o ditado. Agora, de vez em quando, dou por mim a fazer coisas que a minha mãe fazia e eu achava que não tinham muito sentido. Pois, agora também eu as faço.