Hoje passei por umas pessoas e ouvi uma frase em tom meio de pergunta, meio de queixa, 'Porque é que os professores hoje-em-dia dão todos aulas com PPs? É uma coisa estranha' - como ia em movimento só ouvi isto, mas fiquei a pensar. Há uns 10 anos os professores eram vilipendiados por não usarem PPs. Chamavam-nos atrasados, tecnofóbicos e sei lá mais o quê.
Eu, que pertenço, há uma dúzia de anos, a um grupo online contra o uso de PPs nas aulas, quando tentava explicar porque não uso PPs no ensino (a não ser muito pontualmente e sempre com parcimónia e objectivos precisos) e porque me parece anti-pedagógico (faz mais mal que bem e é um recurso para satisfazer a preguiça de alunos e professores), era olhada com desdém e aquela expressão de, 'estes professores antigos que não sabem mexer num computador' (ainda há não muito tempo um indivíduo que fala ignorantemente de muitos assuntos aí num blog me chamou atrasada e disse que os professores não sabem mexer num computador). Adiante... Agora que descobriram a pólvora -usar PPs a torto e a direito, nomeadamente aqueles que vêm com os manuais, faz mais mal que bem- perguntam porque é que os professores usam sempre PPs, como se não tivessem sido os mesmos a pressionar, há uns anos, para que se usassem PPs em todas as aulas porque isso é que era ser 'avançado'.
Agora a moda são os manuais digitais, desmaterializados e isso é que ser avançado. Sou contra. A não ser muito pontualmente, como nos PPs. Os livros (pelo menos na filosofia) têm de ser manuseados, escritos nas margens, anotados, seguidos com o dedo no papel. Ou não servem para nada. Ali, virgens, como cidades sem nomes nas ruas, nem referências. Para além de que os dispositivos digitais que suportam os manuais digitais não devem ser usados muitas horas de seguida. Fazem mal à saúde física e mental. Mas é claro, agora quando digo isto olham para mim com aquele ar de, 'estes professores antigos que não sabem mexer num computador'.
Há muitas maneira de ler, que se prendem com os objectivos da leitura em questão. Há um ler para entreter, como um romance, por exemplo ou uma revista, uma banda desenhada, etc.; há um ler para retirar algumas informações; há um ler para ficar com uma ideia transversal do assunto de um livro e dos pontos principais; há um ler de estudar; há um ler de memorizar; há um ler de reflectir. E haverá outros. Podemos ler digitalmente um romance, uma revista, um livro de arte ou um livro para tirar algumas informações, mas não podemos ler digitalmente um livro para estudar ou reflectir. Livros que requerem concentração, discorrer do raciocínio, pausas de reflexão, apropriação dos conteúdos, etc. Esses precisam do dedo, ou do lápis, a seguir as linhas no livro e de anotações nas margens. Sim, alguns tablets já permitem isso, mas muito poucos e geralmente naquela luz brilhante que faz mal à saúde física e mental.
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