Raquel Machaqueiro é uma antropóloga que dá aulas numa universidade americana mas quer mudar o ensino da História em Portugal - todo o gato pingado diz coisas e quer mudar o ensino em Portugal.
Este artigo é muito grande e não me refiro a tudo o que diz. Só a alguns trechos que me chamaram a atenção.
“A escravização de pessoas financiou toda a empresa dos Descobrimentos”
Em resposta à questão da reparação aos colonizados, Raquel Machaqueiro lembra que o fim da escravatura levou países a endividarem-se para compensarem os donos de escravos pela perda dos lucros.
Raquel Machaqueiro é doutorada em Antropologia pela George Washington University, nos Estados Unidos, onde lecciona as disciplinas de Desenvolvimento Internacional e Direitos Humanos e Ética.
Por que faz uma apreciação negativa dos manuais escolares em Portugal?
Nos manuais escolares, as pessoas escravizadas aparecem sempre como uma massa anónima. Não há histórias individuais, não há nomes, não sabemos nada do que estas pessoas faziam antes de serem capturadas ou das experiências delas durante o processo, tanto de captura, de encarceramento nos barracões, nas costas africanas, até serem embarcadas. Pouco sabemos do que se passava na viagem e não sabemos absolutamente nada sobre como reconstruíram depois as suas vidas no chamado "novo mundo". Há essa objectificação. Mas, se procurarmos melhor, temos histórias de pessoas escravizadas.
“A escravização de pessoas financiou toda a empresa dos Descobrimentos”
Em resposta à questão da reparação aos colonizados, Raquel Machaqueiro lembra que o fim da escravatura levou países a endividarem-se para compensarem os donos de escravos pela perda dos lucros.
Raquel Machaqueiro é doutorada em Antropologia pela George Washington University, nos Estados Unidos, onde lecciona as disciplinas de Desenvolvimento Internacional e Direitos Humanos e Ética.
Nos manuais escolares, as pessoas escravizadas aparecem sempre como uma massa anónima. Não há histórias individuais, não há nomes, não sabemos nada do que estas pessoas faziam antes de serem capturadas ou das experiências delas durante o processo, tanto de captura, de encarceramento nos barracões, nas costas africanas, até serem embarcadas. Pouco sabemos do que se passava na viagem e não sabemos absolutamente nada sobre como reconstruíram depois as suas vidas no chamado "novo mundo". Há essa objectificação. Mas, se procurarmos melhor, temos histórias de pessoas escravizadas.
Vejamos: os 'descobridores', os que iam nos barcos, os marinheiros e outros que iam à pendura, também aparecem sempre como uma massa anónima. No entanto, eram pessoas individuais e tiveram motivações diferentes e vidas diferentes. Sabemos muito pouco do que foram as suas vidas nos novos mundos. Não é por isso que estão objectificados. A História de todas essas pessoas anónimas -de um lado e de outro- não se faz nas escolas básicas e secundárias: fazem-nas os investigadores nas universidades e os escritores que divulgam as personagens e acontecimentos paralelos da História.
Neste momento, existe o pressuposto de que os alunos percebam que a escravatura foi uma coisa muito má e que foi operada pelos portugueses. No entanto, um problema persiste — é o facto de a grande história ser a dos Descobrimentos. Isto é logo problemático porque é uma visão nossa. Para nós, são descobertas. Para as pessoas que lá viviam, não há nenhuma descoberta. As pessoas já lá viviam. O próprio vocabulário dos Descobrimentos é problemático em si.
Para as pessoas que lá viviam, não há nenhuma descoberta? Isso é que há!
Este assunto do termo 'Descobrimentos' é um não-assunto. Ao contrário do que é costume dizer-se, a Descoberta foi mútua. Antes dos navegadores portugueses se atirarem para os mares em busca de territórios e utopias, o mundo estava desligado, digamos assim. Não sabíamos se havia outros continentes, nem esses continentes sabiam de nós, a não ser algumas pessoas isoladas que tinham viajado e que contavam histórias extraordinárias que se contavam como quem conta fábulas. Mas havia desconfiança, misturada com esperança, é certo, de que talvez houvesse mais terras, mas não se sabia. Não sabíamos nós e não sabiam os que viviam nessas terras.
De maneira que sim, nós descobrimo-los a eles e eles descobriram-nos a nós. E o mundo em geral, começou a descobrir-se uns aos outros.
Infelizmente para muitos dos povos a que chegámos, como tínhamos tecnologia de guerra mais avançada que eles, dominámo-los, mas podia ter sido ao contrário. Podíamos ter sido dizimados por esses povos. Não dominámos todos os povos: por exemplo, o Japão e a China que tinham outro desenvolvimento militar não foram dominados.
O título do artigo dá a entender que os Descobrimentos foram um empreendimento com o intuito de ganhar dinheiro com a escravatura, mas isso não é verdade. A escravatura foi um negócio de oportunidade, pois a certa altura, o negócio mostrou dar muito lucro e organizaram-se para o explorar.
Porém, não foi esse o motivo das viagens de navegação: foi a expansão de território, a procura de riqueza, a aventura, a procura de uma vida melhor, a curiosidade, a religião, a profissão de marinheiro. Porque é que, ainda nos dias de hoje, os portugueses se vão embora daqui?
A escravatura é uma coisa má? Pois claro que é. Devia ser ensinado na escola que fomos um povo esclavagista? Sim, devia, mas não como uma narrativa de anulamento do empreendimento das navegações que foi uma coisa extraordinária. Nós "abrimos mundos ao mundo" e trouxemos a globalização, para o melhor e para o pior.
Para conseguir capturar pessoas, os europeus fomentaram conflitos entre reinos, porque neles se faziam prisioneiros de guerra e os prisioneiros de guerra eram escravos legítimos, de acordo com as regras da época. Os reinos que não se submetiam a esta lógica eram eles próprios escravizados. Portanto, muitos soberanos africanos escolhiam o mal menor, que era obter pessoas, porque assim eram deixados em paz.
Infelizmente, estas estratégias são uma parte grande da História humana e nós portugueses também fomos activos nessa conquista e exploração do outro pela força. Agora, reduzir essa faceta triste e violenta da natureza humana aos Descobrimentos portugueses, parece-me despropositado.
Aliás, todo o artigo é uma inflamação de ânimos em vez de uma reflexão séria sobre os assuntos. Um mau serviço prestado ao tema, em meu entender porque é tudo dito sem rigor e sem fundamento.
Os treinos locais já praticavam a escravatura bem antes dos Descobrimentos. Aliás, faziam-no há milénios.
ReplyDeletePois praticavam. Mas ela alega que a escravatura pela cor da pele começou com os portugueses em África. Não sei se é verdade porque ela não fundamenta a alegação. Se as tribos africanas tivessem a pele branca ou amarelada não teriam sido explorados e escravizados na mesma?
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