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March 16, 2024

Por uma escola sem medo



Por uma escola sem medo

São poucos segundos de imagens, mas muito difíceis de digerir. Um vídeo que circulou em redes sociais, captado numa sala de convívio de uma escola de Penafiel, mostra um rapaz, de 15 anos, a ser agredido a soco por outros dois. Um outro adolescente ainda tenta travar o que está a acontecer, colocando-se no meio e afastando um dos agressores por momentos, mas sozinho não o consegue conter.

O vídeo é curto, não dá para perceber se houve mais tarde algum tipo de intervenção por parte de funcionários da escola. O que se vê é que estão mais alunos na sala, que permanecem sentados a assistir, talvez apanhados de surpresa, talvez com receio de se tornarem também eles alvos. Talvez, simplesmente, indiferentes ao que se estava a passar. O caso foi revelado na passada semana pelo Jornal de Notícias, que acrescenta à história o facto de o jovem agredido sofrer de síndrome de Asperger, doença do espetro do autismo. A mãe conta à reportagem que o filho levou mais de dez socos na cabeça, que está “traumatizado, com medo”, a ser “seguido por um psicólogo e a fazer medicação”. Um outro familiar, em declarações à TVI, diria ainda, mais tarde, que pelo menos um dos agressores continuou a frequentar o estabelecimento de ensino, mesmo após a situação ter sido comunicada à direção da escola. Dias antes de ser espancado, o menor dera conta em casa de ter sido alvo de piadas e insultos por parte dos agressores, mas a situação escalou rapidamente para um episódio de violência, sem dar tempo à família de agir.

Poder-se-á pensar que é um caso isolado, que não retrata a realidade que se vive nas escolas nacionais. Mas alguns números e estudos disponíveis identificam um quadro pouco saudável, que não deve ser ignorado. Em setembro de 2023, uma investigação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que recolheu dados junto de mais de 7000 alunos de 61 escolas do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e Secundário, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, revelou que 68% dos inquiridos disseram ter sido vítima de algum tipo de comportamento violento em contexto escolar (psicológico, físico ou de controlo comportamental), enquanto 64% admitiram já ter praticado atos violentos para com um colega de escola.

Por outro lado, quando se olha para as estatísticas do Programa Escola Segura, reveladas na passada semana pela Polícia de Segurança Pública, salta à vista o aumento das ocorrências criminais registadas nas escolas no ano letivo de 2022/23. O caso de Penafiel não faz ainda parte destes números, que apontam a um total de 3824 ocorrências nos 3149 estabelecimentos de Ensino Básico e Secundário (públicos, privados e cooperativo) que estão sob jurisdição territorial da PSP. Destas, 2708 são de natureza criminal, o que representa uma subida de 10,8% em comparação com o ano anterior.

A PSP destaca que o número de ocorrências criminais está abaixo da média verificada na última década. No entanto, quando se olha para o tipo de crimes mais frequentes, que são as ofensas corporais e as injúrias e ameaças, e se compara com o ano letivo 2018/19 (o último que não foi afetado pela pandemia de covid-19 que fechou escolas), o que se pode ver é que ambos foram em maior quantidade no ano passado. A lista de crimes praticados nas escolas inclui ainda roubos, furtos, posse e uso de arma, vandalismo, tráfico de droga e ofensas sexuais, entre outros.

Assim, fazendo a conta a 200 dias efetivos de aulas por ano letivo (expurgando os períodos de férias, fins de semana e feriados), em 2022/23 a polícia registou, por dia, 14 ocorrências criminais nas escolas de Portugal. Confrontadas com os resultados do programa da PSP, as associações de dirigentes e diretores de escolas reconhecem o problema

e consideram que este se agravou após a pandemia de covid-19, período que acarretou consequências no desenvolvimento das aprendizagens dos alunos, mas também teve custos para a saúde mental dos mesmos, como ficou demonstrado em estudos do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar divulgados pela Direção-Geral de Educação.

“As escolas são o reflexo da comunidade em que estão inseridas e, nos últimos tempos, as pessoas [estão] mais nervosas e irritadas. Isso também se percebe nas escolas”, disse Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), à Agência Lusa. Filinto Lima, líder da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), acrescentou que sente “os alunos estão mais irrequietos, mais nervosos” e que estes “muitas vezes querem resolver o problema de forma errada”, partindo para “situações de ameaças e agressões” sem recorrer “ao diálogo”.

Os dois dirigentes defendem a necessidade de “apoios técnicos para a área da saúde mental”.
A falta de psicólogos está longe de ser a única carência das escolas. Quem acompanha as notícias ou tem filhos a estudar, sabe que muitas vezes faltam professores, auxiliares, computadores, material pedagógico, refeições equilibradas, climatização adequada nas salas, uma rede eficaz de transportes públicos, etc. Faltarão também, porventura, mais alunos com a coragem daquele que tentou travar a agressão ao colega na escola de Penafiel. É prematuro juntar à lista um problema generalizado de falta de segurança, mas importa agir sobre os números conhecidos e reforçar, desde já, o investimento na prevenção e em mais ações de sensibilização junto dos alunos. Um esforço que passa pelas escolas, pelas autoridades educativas e de segurança, mas que deve, em primeiro lugar, começar no núcleo familiar.

Volta e meia a conversa surge lá em casa com os meus filhos: como reagir a uma eventual agressão física, a uma ameaça ou a um comportamento repetido de abuso verbal. A lista de recomendações não é extensa, mas termina sempre da mesma forma: o fundamental é, no final do dia, contarem tudo em casa, sem esconder nada. Nunca terem vergonha de o fazer. Nunca caírem na armadilha de saberem que algo está errado e não procurarem ajuda, achando que conseguem resolver sozinhos. Como pai e cuidador, essa tem sido uma prioridade: fazer sentir que a linha de diálogo está sempre aberta, sem constrangimentos de qualquer espécie. Poucas coisas serão mais importantes do que isso.


Pedro Sequeira in dn.pt


January 15, 2024

Coisas inacreditáveis que se passam nas escolas

 


Hoje uma colega contou-me que na escola de uma cidade aqui perto -onde ela mora e tem várias colegas conhecidas- a coordenadora dos professores de português obriga todos os colegas e entregaram-lhe uma cópia dos testes com 15 dias de antecedência e depois faz comentários e alterações aos testes como se os colegas estivessem em estágio... what??!! Mais: se um encarregado de educação se queixa de uma questão do teste ela junta professores do grupo para examinarem o teste desse professor e manda uma ordem ao colega em questão para alterar os testes conforme o gosto deles e do EE... WHAT???!!! Está tudo doido... mas quem são estas pessoas...? De que esgoto saíram? 

Isto não é legal. Quem é responsável pedagógico pelas suas turmas é o professor que lecciona e não outro qualquer. Se houver algum problema, quem tem de responder e é responsável perante o ME ou a inspecção, é o professor da turma e não o coordenador ou outros colegas. E é claro que desautoriza os professores. (e quem é que faz os testes com 15 dias de antecedência...?) Como é que os professores alinham neste abuso de poder anti-pedagógico? Então, parece que houve um professor que a mandou passear, digamos assim, e agora está cheio de problemas. 

E não percebo: a direcção sabe disto e deixa andar...?

A Lurdes Rodrigues foi quem acabou com a rotatividade dos cargos e impôs esta ausência de democracia nas escolas onde as pessoas estão nos cargos indefinidamente até serem cancros que destroem tudo à volta. Ela iniciou isto que corrói as escolas por dentro, mas todos os outros ministros mantiveram e alimentaram este sistema. 


November 30, 2023

É próprio dos ditadores exigirem servitude acéfala




A diretora do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, em Gondomar, que foi processada pelo Ministério da Educação por permitir a exibição de uma tarja por altura das greves dos professores vai ser suspensa e vai perder o mandato, denunciou, esta quinta-feira, o Sindicato dos Professores do Norte.

Diretora de escola de Gondomar vai ser afastada por causa de tarja


Em causa, duas tarjas que permanecem na fachada do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, em Gondomar, desde fevereiro, com duas mensagens: “Pela escola pública” e “Estamos a dar a aula mais importante das nossas vidas”.

As tarjas foram colocadas por alturas de maior visibilidade das greves dos professores e valeram à diretora do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, Glória Sousa, a abertura de um processo disciplinar por parte do Ministério da Educação.

Segundo, denunciou esta quinta-feira o Sindicato dos Professores do Norte (SPN), Glória Sousa já foi notificada da recomendação da Inspeção-Geral da Educação, após a conclusão do inquérito. É acusada de ter violado o dever de de imparcialidade e de lealdade, previstos nas alíneas c) e g) do n.º 2, bem como nos n.ºs 5 e 9 do art.ª 73 da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, e propõe-se a sua suspensão e a perda de mandato, ou seja, que deixe de ser diretora do Agrupamento, cargo que ocupa desde 2017.

“É incompreensível, enquanto advogado. Do nosso ponto de vista, não foi cometido qualquer ilícito disciplinar. A argumentação é a de que a diretora terá tomado parte de uma causa. Esquece-se o Ministério de Educação é que antes de ser diretora é professora. Não faz qualquer sentido”, considera o advogado do SPN, João Martins.

A situação de Glória Sousa merece “total solidariedade” do coordenador do SPN, João Paulo Silva, que aponta o facto de várias escolas ainda terem tarjas colocadas nas fachadas e o facto de ser inédito um processo disciplinar deste âmbito.

September 22, 2023

Coisas que agora acontecem nas escolas

 

Haver, na mesma turma, ucranianos refugiados de guerra, russos (que já cá vivem há mais tempo) e  moldavos, alguns com endereços de email russos, brasileiros, angolanos e romenos. Uma mini-onu.


O novo ensino de português

 


Agora está na moda os médicos passarem atestados médicos a alunos nestes termos: 'fulano de tal está impedido de comparecer à aula de educação física'. Calculo que sejam pessoas já formadas no novo ensino de português e, portanto, não percebem a diferença entre comparecer à aula e praticar a actividade, nem percebem a diferença entre ser médico e ser professor.


June 28, 2023

Não percebo estes exames de três horas

 


Durante o ano é o incentivo do ME à rebaldaria e depois chega-se a esta altura do ano e montam exames como quem monta o julgamento de Nuremberga e atiram com alunos e professores durante horas a fio - os professores mais porque têm de chegar quase uma hora antes- para dentro de salas a arder. E há o tempo do exame e mais tolerâncias e às vezes, tolerâncias em cima de tolerâncias... porque é que não são as universidades a tratar dos exames, já que os exames são apenas para acesso ao ensino superior? Agora é comum os alunos escreverem 16 páginas... claro que quem tem de ver e classificar os exames são os professores do secundário. A que propósito? Vejam-nos eles, já que os exames são de acesso à universidade. Assim já não se queixavam das notas dos alunos.


May 04, 2023

Insónias e outras coisas, como os problemas que o ME vomita todos os dias para as escolas

 

Hoje acordei por causa de um pesadelo. Um daqueles sonhos que fazem as alegrias dos psicanalistas cheios de pormenores que querem dizer qualquer coisa. Bem, agarrei no telemóvel para ver as horas e vi uma notificação de um email que fui ler. Um formador a dizer que não recebeu o trabalho, que enviei há mais de uma semana. Vim aqui ao portátil ver o que se tinha passado e reenviar o decujo. Adeus sono... Que chatice. Hoje é outro da comprido e cansativo com outra reunião de pais e não queria chegar lá com olhos de insónia. 

Ontem tive uma reunião de pais. Houve quem se queixasse que as greves tiraram muitas aulas aos alunos e que isso os prejudica. É verdade, não há como negar, mas a questão é que em algum ano esta luta tinha que ser feita porque a situação é calamitosa e o governo não quer saber disso. Preocupa-se consigo e com os seus galambas.

Por exemplo, há uma semana inteira de provas de aferição que fecham um dos blocos de salas de aula e deixam os professores sem salas para leccionar, logo, sem aulas. As provas de aferição têm de ser feitas durante o período escolar? Não. Contam para a nota? Não. Então para quê roubar uma semana de aulas aos alunos? Pergunte-se ao ministro que todos os dias vomita problemas para as escolas.

Outro exemplo: daqui a 15 dias, mais ou menos, vão realizar-se os campeonatos finais do desporto escolar, a nível nacional. São mais de 1000 alunos desde a escola primária ao 12º ano e as provas vão ser feitas em escolas da região de Tomar. Foram escolhidas 10 escolas para a realização das provas e acolhimento dos alunos que vão de todo o país. As provas duram 2 dias inteiros a meio de Maio, dias esses em que não haverá aulas.
Um certo número de professores têm que voluntarizar-se para dormir nas escolas para acompanhar os alunos, preparar salas de aulas com colchões e fazer todo o resto do trabalho. Agora, por acaso os directores foram avisados que isso vai passar-se nas suas escolas? Não. Que vão ter 2 dias inteiros, a somar à semana das provas de aferição, sem aulas? Não, ninguém os avisou de nada e é assim todos os anos.
Quando aparecem lá nas escolas os professores da comissão coordenadora destas provas a avisar o que se vai passar, já dali a duas semanas, há directores que ficam furiosos e resistem: por não terem sido tidos nem achados no assunto, por nem sequer terem sido avisados, por terem de comunicar aos professores que vão ter mais dois dias sem aulas, no 3º período que já é pequeno, que alguns professores vão ter de ficar a dormir nas escolas... quer dizer, isto é de um desinteresse pelos alunos e de uma falta de respeito para com as escolas, os professores, os directores, inacreditável; porém, estas imposições do ME com desprezo pelo trabalho dos outros é o dia-a-dia das escolas. 

É claro que o ME faz estas coisas porque o primeiro-ministro dá o exemplo de desprezar todas as opiniões e impor ao país gente imprestável que nos faz perder dezenas de milhares de milhões todos os anos, só porque pode e gosta de exibir que tem poder para fazer o que lhe apetece. Podem gastar-se milhares de milhões para tapar o mau trabalho (e às vezes criminoso) de ministros, gestores e amigos, mas gastar 250 milhões para pagar mais de 6 anos de trabalho prestado com desconto de impostos aos 150 mil professores... ah, isso não que deslaça a sociedade.

Portanto, os pais têm razão em queixar-se de os filhos terem menos aulas do que estava previsto, mas deviam era ir queixar-se ao ME, que vomita 1001 problemas para as escolas e tem zero soluções. 


February 14, 2023

Diretores das escolas admitem demitir-se por causa dos serviços mínimos

 

(isto não são serviços mínimos, é uma requisição civil)


Diretores das escolas admitem demitir-se por causa dos serviços mínimos



Dirigentes criticam e têm dúvidas sobre como vão cumprir acórdão nas escolas. S.TO.P. entregou pré-avisos de greve até 10 de março.

Há diretores que ponderam demitir-se devido aos serviços mínimos decretados por causa da greve do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.), assegura ao JN o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE). O acórdão que abrange três horas de aulas por dia está a deixar muitos dirigentes à beira de um ataque de nervos. Não só porque o seu cumprimento é complexo, especialmente nos agrupamentos maiores, como é "uma limitação inaceitável ao direito à greve" nunca vista desde antes do 25 de Abril, sublinha Manuel Pereira.
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Greve. Serviços mínimos vão obrigar professores a dar, pelo menos, três horas de aulas diárias

"Os diretores querem paz e conheço vários que não só admitem demitir-se como ponderam não cumprir os serviços mínimos, incorrendo em consequências legais. O que o Ministério da Educação não consegue resolver quer que sejam os diretores a fazê-lo", critica. Para Manuel Pereira, o acórdão que abrange as aulas nos serviços mínimos "é uma requisição civil encapotada".

February 04, 2023

Porque sou a favor de haver exames

 

Os exames beneficiam os alunos e a sociedade.

Em primeiro lugar os exames favorecem os alunos. Os exames são uma medida que favorece a equidade. Um aluno que não tenha cunhas, conhecimentos ou uma família com boas condições sócio-económicas só pode mostrar o seu mérito em provas comuns que incluem os outros, esse tais que têm cunhas, conhecimentos e melhores condições sócio-económicas, pois estes últimos, postos em situação de exame, não têm essas vantagens para passar à frente. Não por acaso, os colégios privados são contra os exames.  

Sem exames comuns que meçam todos por igual e forneçam uma série, as melhores universidades, que precisam de ter um critério de escolha dos melhores na altura de seleccionar estudantes, quererão ir buscá-los aos colégios e escolas onde estão os que vêm de famílias com conhecimento e melhores condições sócio-económicas em vez de fazer apostas cegas.

O que é que acontece com as empresas agora? Vão buscar os seus trabalhadores a 2 ou 3 universidades e só se não os conseguem daí é que vão a outras. E quais são os critérios para irem a essas 2 ou 3 universidades?  Bem, ou são universidades privadas com estudantes de famílias com conhecimentos e melhores condições sócio-económicas ou são universidades públicas que têm os alunos com as melhores médias de entrada. Ora, é aqui que os estudantes que vêm de meios mais modestos e da escola pública podem usar o elevador social, como se diz. Podem mostrar que em condições de provas iguais às dos outros não ficam atrás e que portanto, vale a pena apostar neles, mesmo não tendo famílias com conhecimentos sociais vantajosos ou dinheiro para os comprar.

Evidentemente que desleixar todos os critérios de aprendizagem das escolas e pressionar a passagem de todos para a estatística não induz a confiança das universidades e das empresas em apostar nesses estudantes.

Pode-se contra-argumentar que os estudantes com menores condições sócio-económicas, quando vão fazer os exames nacionais não estão nas mesmas condições que os outros, o que é verdade. Pois, mas é aí, justamente, que entra o investimento na escola pública. A escola tem que compensar essas incapacidade de muitas famílias. E isso faz-se como? Tendo bons professores, boas condições de estudo e de crescimento. A escola tem de fornecer, o melhor que puder, condições idênticas aquelas que têm os estudantes dos estratos sociais mais elevados, no que respeita às aprendizagens. Não está a fazê-lo. 

Quer professores baratos, o que significa que vai ficar com os medíocres; quer reduzir o ensino ao essencial porque os professores não medíocres não se diminuem a níveis medíocres; quer passar todos sem exames e, a seguir, sem testes, como já agora se defende, para que nada seja avaliado e não se possa saber a qualidade das políticas. 

Há os que defendem que as notas dos professores das escolas devem chegar, mas nestas condições em que se destruiu a carreira e agora só se consegue atrair gente sem formação e em que não há aferições comuns,  como é que alguém pode confiar nessas notas? 

Mesmo que estivessem sempre bons professores a trabalhar nas escolas, se cada escola tem os seus critérios subjectivos, os seus currículos e o seu nível de exigência, não há maneira de comparar e ir buscar estudantes só porque os professores lhes deram boas notas - é uma aposta cega. 

Claro, que pode dizer-se, 'bem, as universidades que façam exames para seleccionar os melhores', mas se assim fosse, o que acontecia era que, não estando para investir um dinheirão nesses exames, iam buscá-los aos colégios privados onde andam os filhos das famílias com conhecimento e melhores condições sócio-económicas.

Também agora se defende que em vez de exames é melhor que as universidades façam entrevistas. Por exemplo, diz-se, para um curso de medicina, é importante a vocação e o gosto de ajudar os outros e não apenas as notas. Isto é um disparate, em minha opinião. É evidente que, havendo entrevistas e sabendo os entrevistados que o gosto de ajudar outros é um factor de escolha, vão fazer um voluntariado qualquer para pôr no currículo (o que já fazem), pedem a um professor amigo que escreva uma carta de recomendação a dizer que é uma pessoa que quer ajudar outros e o que mais acharem que lhes dá vantagem. Não sou contra as entrevistas mas elas não substituem os conhecimentos e as técnicas, em meu entender, porque as pessoas podem crescer e crescem na profissão, com a experiência e não há maneira de o saber antes de entrarem nela (a não ser em casos extremos de alguém completamente violento ou algo do género) mas uma pessoa que não tem conhecimentos teóricos e práticos, tanto faz que queria muito ajudar, porque não vai ser capaz - falam-lhe os conhecimento e as técnicas. E isto tanto é válido na medicina como na arquitectura, como na gestão de empresas, como na educação ou outra profissão.

A maioria dos professores que conheço foram para à educação por acaso e aprenderam com a experiência a gostar da profissão, mas já tinham os conhecimentos e as técnicas e é por isso que são bons professores e não por gostarem desde sempre de ajudar adolescentes ou crianças - outros que sempre quiseram ensinar são maus professores: não têm conhecimentos, nem curiosidade, não têm critérios, não têm técnicas, não têm rigor nenhum no trabalho, é tudo feito em cima do joelho e acabam a não gostar do trabalho. 

(Esta semana, em conversa com uma colega de Física e Química falávamos disso de haver turmas onde os pais, mesmo não tendo grandes estudos são pessoas que valorizam o rigor e o passam aos filhos e outros não e pedem aos professores para terem menos rigor... E ela dizia-me que nos relatórios das aulas práticas de laboratório, cujo protocolo e guião dá e explica aos alunos, há um item para a observação e, apesar de explicar aos alunos que a observação não inclui os resultados porque isso já é um cálculo do que foi observado, há umas turmas que não querem saber e acham que é ela que está a ser muito exigente. Não percebem que a ciência é um estudo onde a ausência de rigor pode matar pessoas ou fazer cair pontes, por exemplo. Nem toda a gente tem talentos ou capacidades para todas as coisas, por muito que o desejem e é preciso fazer essa triagem)

Depois, os testes e os exames servem para os próprios alunos se porem à prova. Nestes últimos anos tenho encarregados de educação que dizem, 'não devia haver exames ou testes porque o meu filho sabe as coisas mas depois fica nervoso nos testes, tem brancas e não consegue fazer'. Quer dizer, quando um dia for a uma entrevista de trabalho diz ao empregador, 'não me faça perguntas difíceis nem testes porque dá-me brancas, mas confie quando lhe digo que sei e pode contratar-me?' E quando for contratado diz ao empregador, 'pague-me mas não me exija trabalhos ou prazos porque fico nervoso e dá-me brancas?' Uma pessoa tem que pôr-se à prova e ser incomodado senão não cresce.

Se o peso que querem dar aos exames é exagerado e em minha opinião é, isso acontece porque se perdeu a confiança nas classificações do secundário: os alunos não fazem exames, muitos já nem testes fazem e há inflação de notas. Não é nenhum segredo bem guardado.

Os exames também são um mecanismo de auto-regulação do professor e da educação pública em geral. Sem exames comuns, não há maneira de saber, de modo sério e independente, o que se anda a fazer nas escolas e não basta dizer: confiem nos professores, porque as escolas não são igrejas com pastores e fiéis. 

Não significa que os exames digam tudo sobre o que se passa numa escola, não. Até porque escola com alunos muito desfavorecidos precisam de outros critérios de medir o sucesso (como já se faz e bem), mas também precisam de saber se em termos de resultados finais, estão a ajudar os seus alunos. Ao contrário deste ministro e seus seguidores, não estou de acordo que os alunos mais desfavorecidos sejam uns coitadinhos e devam ter uma educação de pobrezinhos: tomem lá um diploma igual para todos para que uns não se sintam traumatizados por não chegarem onde querem. Há maneiras de ajudar os alunos a ter sucesso nos resultados, independentemente das suas proveniências, mas isso tem custos. Se não os querem gastar, então assumam que não querem gastar dinheiro na escola púbica. Não andem aí a enganar.

Vivemos num mundo científico-tecnológico e os mesmos que de maneira absurda querem reduzir todo o ensino a modas e gadgets, como o nosso ME, por outro lado, querem, muito contraditoriamente, abolir o critério de verificação que é a pedra de toque do método científico que está por detrás desses mesmos instrumentos tecnológicos: ter protocolos comuns e resultados avaliados por entidades independentes. Defendem a redução do ensino ao absoluto subjectivismo da opinião individual não fundamentada e sem critérios objectivos.

Portanto, em geral, penso que os exames são um benefício para os próprios alunos no sentido da equidade e da oportunidade de crescimento e para a sociedade no sentido de ter uma educação pública de qualidade.

Agora, para que os exames sejam uma possibilidade dos estudantes mais desfavorecidos mostrarem o seu mérito, é necessário, como já disse, investir na qualidade da escola pública, o que não se coaduna com a desvalorização da profissão, a falta de técnicos nas escola e de condições e, se não o querem fazer, então assumam claramente que a escola pública vai servir para dar uma educaçãozinha a pessoas menos favorecidas e que seguidamente, a universidade pública vai passar a ser uma educaçãozinha a essas pessoas dessa escola.
Quando isso acontecer estamos nos EUA, onde a escola púbica se tornou um local para os esquecidos sociais e, consequentemente, as universidades públicas acabaram a seguir o mesmo caminho. 

January 18, 2023

dar a palavra a uma psicóloga escolar




Vejo a minha classe profissional a manifestar a necessidade de ter uma carreira especial desde que comecei a trabalhar como psicóloga no Ministério da Educação. Espantem-se: nós já tivemos as nossas funções, direitos e deveres regulamentados! Porém, posteriormente, fomos englobados na carreira geral da Função Pública, o que representou um retrocesso na dignificação da nossa profissão. Veja-se alguns exemplos:

– Apesar de os psicólogos escolares se orientarem por um código deontológico, algumas direções deixam claro que este fica “à entrada da escola”, manifestando uma imposição de conduta, como que se tivéssemos de responder primeiramente ao que cada agrupamento entende ser da nossa atuação profissional.

Um dia, um antigo diretor de um agrupamento onde trabalhei, com o seu lápis azul, ousou ler e modificar pedidos de encaminhamento de alunos para serviços de saúde exteriores, com o argumento que teria o dever de conhecer e controlar a informação!

Mesmo denunciando à Ordem dos Psicólogos Portugueses e ao Ministério da Educação, estas situações persistem, pelo que urge a regulamentação e o reconhecimento da autonomia técnica e científica da nossa classe.

– Incompreensivelmente os diplomados em Psicologia continuam sem habilitação própria para a docência, estando impossibilitados de lecionar essa disciplina.

– Embora a Ordem dos Psicólogos Portugueses tenha criado as especialidades profissionais e o Referencial Técnico para os Psicólogos Escolares, os quais clarificam as suas competências e os domínios de intervenção, os agrupamentos teimam frequentemente em solicitar a intervenção do psicólogo escolar como se se tratasse de um psicólogo clínico. Atrevo-me a dizer que é o mesmo que pedir ao INEM, responsável pelos primeiros socorros, que faça o mesmo que um médico cirurgião. Ambos são fundamentais na assistência médica, mas assumem funções e campos de atuação distintos.

– Há anos que os psicólogos efetivos e que trabalham longe da sua residência reclamam maior facilidade na autorização da mobilidade geográfica e na sua consolidação. Este problema agravou-se seriamente com os que obtiveram vínculo contratual através do Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública. Não temos direito à mobilidade por doença, a permuta ou a apoios monetários por deslocação. Esta situação é incomportável com os custos associados e impossibilita a conciliação com a vida familiar. Perante estas pessoas (sim, porque se tratam de pessoas, muitas com família e algumas com doenças crónicas), o Ministério da Educação teima em mostrar frieza e insensibilidade.

– Precisamos de tempo e condições para tarefas “não visíveis” como planificar atividades, construir materiais, elaborar relatórios e pareceres. Seria fundamental que todos os psicólogos escolares tivessem no seu horário definido horas de trabalho indireto porque se há diretores compreensivos a este nível, também há os que se mostram inflexíveis e ignoram todas estas necessidades.

O mesmo se aplica às pausas letivas: alguns psicólogos estão na escola e outros estão em casa (a trabalhar ou a usufruir desse período). Outros organizam-se de forma rotativa com colegas. Para uma classe que lida com questões emocionais desgastantes e que habitualmente tem excesso de trabalho – por serem poucos para muitos – é importante proteger a sua saúde mental. As pausas letivas podem e devem servir para esse propósito. Promovemos a saúde mental nas escolas, mas a escola/Ministériotambém deve fomentar a saúde mental dos seus trabalhadores.

– Há anos que os psicólogos técnicos especializados veem os seus contratos renovados sem se perspetivar a obtenção de um vínculo contratual estável.

Os psicólogos escolares denunciam estas situações há muito, mas tem faltado coragem política para as resolver. Porque há necessidade de regulamentar a nossa carreira e de dignificá-la, junto-me a esta greve!

November 08, 2022

Uma pergunta: porque razão temos reuniões pós-laborais?

 


Hoje tenho uma reunião intercalar pós-laboral. Se as reuniões intercalares estão previstas e são obrigatórias, porque não são incluídas no calendário escolar à semelhança de outras reuniões e pausas lectivas? Se fossem reuniões de emergência, inesperadas, como às vezes é necessário fazer, percebia-se, porque na maioria das vezes não há horário comum para todos os professores de um conselho de turma dentro do tempo de aulas, mas sendo uma reunião prevista que faz parte do trabalho de rotina, segundo o ME, porque há-de ser feita em horário pós-laboral?


October 15, 2022

Quando a burocracia é muita perco a vontade

 

Queria levar as 2 turmas do 11º ano à Gulbenkian no âmbito do tema da Estética que estamos a trabalhar. A ideia é, para além de verem o museu do fundador que tem obras de todas as épocas e estilos, escolherem uma obra e fazer uma apreciação estética da obra in loco. Costumava fazer isso.  Como as turmas são do 11º ano e já conheço os alunos, a minha ideia era simplificar. Ia com uma turma de cada vez. Apanhávamos o autocarro directo para Lx, saíamos na paragem do Teatro Aberto, atravessávamos a Praça de Espanha, fazíamos a visita e depois voltávamos a atravessar a Praça e apanhávamos o autocarro de volta, no mesmo sítio. Pois, só que não se pode.

Hoje-em-dia temos que alugar um autocarro - custa, no menor preço, 250€ se for meio dia e 500€ se for o dia inteiro. Sai mais caro que os alunos comprarem o bilhete de estudante; Depois como somos mais de 15 tem que ir outro professor; depois temos que tratar de seguros para todos os alunos, mais dos que têm SASE; depois tenho que arranjar um certificado a garantir que sou uma pessoa sem diagnósticos de problemas metais; depois tenho que ir com uma tabuleta e mais não sei como se fosse guia turística. Não tenho pachorra para isto de andar a perder horas a tratar de telefonemas para garantir um bom preço de autocarro, mais seguros de viagem, mais o diabo a nove. Não tenho pachorra nem feitio para estas burocracias. Não sou uma agência de viagens.

Lembro-me de há uns bons anos ter ido com duas turmas do 11º ano ao Teatro Experimental de Cascais ver a peça do Galileu. Fomos de transportes públicos. Autocarro até Lx, comboio até Cascais e à volta a mesma coisa. Correu tudo bem. 

As escolas deviam ter um ou dois professores como gestores de viagens de estudo. Há professores que gostam imenso de fazer isso e são bons a fazê-lo. Podiam ter uma parte do horário de trabalho só para isso. Nós dizíamos onde queríamos ir  e quais os alunos e eles tratavam das burocracias todas. Eu não tenho pachorra. Tenho pena porque sei que é uma visita enriquecedora que encerra bem o tema e sei que os alunos gostam e querem, claro. Todos os alunos gostam de fazer visitas de estudo. Disse-lhes muito honestamente que não sou boa nisto de burocracias de visitas de estudo. Se quiserem eles organizar tudo, vou, mas eu não tenho pachorra. A visita em si já é um stress e um cansaço porque a segurança dos miúdos é uma grande responsabilidade e em cima disso perder uma carrada de tempo e energia a fazer de agência de viagens... não tenho pachorra, tenho pena.

Esperam que os professores sejam tudo e façam tudo e aguentem tudo, mas isso foi chão que deu uvas. 


A Isabel Moreira e outros deputados fazem leis baseados em conversas de café e não na realidade

 


No dia a seguir a sair no jornal a notícia de que os alunos podiam escolher que casa-de-banho e que balneário frequentar a primeira coisa que os alunos me perguntaram quando entrei na aula foi, 'o que é que a professora acha de agora os rapazes que agora são raparigas trans poderem entrar na casa-de-banho e no balneário das raparigas? Respondi, 'bem as raparigas trans também podem frequentar os balneários dos rapazes'. Começaram a rir. 'A professora está a ver uma rapariga trans ir para o balneário dos rapazes e despir-se à espera que os rapazes respeitem a sua identidade?' [não, não estou]

As raparigas estavam assustadas. Uma dizia, 'já viu o que é estarmos uma ou duas no balneário e entrarem rapazes e despirem-se e andarem por ali nus e a fazer sei lá mais o quê? Há aqui na escola rapazes que são agressivos e que metem medo. Eu tenho uma irmã no 7º ano, já viu o que é entrarem rapazes por ali e as raparigas terem medo, num sítio onde andam despidas? Podem identificarem-se como mulheres mas têm corpo de homens. Não tenho nada contra os trans, mas porque é que os direitos dos trans não respeitam os nossos direitos? Porque não há uma casa-de-banho e balneário só para eles?'

Têm razão, porque em todos estes projectos se diz que é obrigatório as mulheres aceitarem a diminuição dos seus direitos, da sua liberdade e da sua segurança para que os trans se sintam incluídos na sociedade. A inclusão não se faz à custa da violação de direitos alheios.

Os balneários e mesmo as casas-de-banho públicas serem para quem quiser, até mesmo para adultos é problemático, quanto mais para adolescentes. Esta gente vive no mundo de brincadeira. Há uma enorme quantidade de tipos creepy que perseguem mulheres e as casas-de-banho e balneários são sítios onde não podem ir atrás delas. 
Ao contrário do que diz o deputado, isto é, que um rapaz não poderia entrar à toa num balneário das raparigas, é evidente que podia. Em primeiro lugar porque não é obrigatório no acto da matrícula os trans declararem publicamente que são trans, de maneira que podiam sim. Exactamente da mesma maneira que já hoje-em-dia acontece alunos, raparigas e rapazes trans, ao fim de um mês ou cinco ou seis, pedirem aos professores, de um dia para o outro, que na aula os tratemos por um nome próprio de um género diferente do seu sexo porque resolveram assumir que são trans. O que fazemos, mas isso é diferente de um dia, de repente, resolverem ir para o balneário das raparigas. 

Nas escolas, a maioria dos casos de abusos e de bullying passam-se nas casas-de-banho, longe dos olhares dos adultos. Imagine-se nos balneários. Estes deputados não têm noção de que as escolas não têm só crianças, como se referem sempre, ridiculamente, à população escolar. 

No ano passado, parte da equipa de natação feminina americana queixou-se que Lia Thomas, biologicamente um homem mas de identidade de género mulher, que agora nada nas competições femininas e acabou com a modalidade feminina, andava sempre nu no balneário e em propósitos que muitas mulheres consideravam agressivos. 

A maioria das mulheres começa a ser vítima de assédio lá para os 12 anos. Muitas são vítimas de abusos e violações. Terem que estar em balneários com pessoas de sexo masculino, embora de identidade feminina, pode ser traumático.

Então e nas visitas de estudo que duram vários dias? Os rapazes vão poder escolher dormir no quarto das raparigas? Temos turmas onde há alunos com 18 anos e alunas com 14. 

Num mundo ideal poderíamos ir todos à mesma casa-de-banho, ao mesmo balneário e dormir no mesmo quarto, mas no mundo real das pessoas reais isso está longe de poder acontecer.

Isto não tem que ver com respeitar as opções de identidade das pessoas, é imprudente e desnecessário. 


Meninas nas escolas podem exigir ser tratadas por meninos

Deputados do PS, com Isabel Moreira à cabeça, defendem o dever das escolas respeitarem o direito das ‘crianças’ e ‘jovens’ à autodeterminação de género e de nome, bem a utilização das casas de banho ou balneários ‘tendo em consideração a sua vontade expressa’. E chocam Oposição.

Miguel Costa Matos, líder da Juventude Socialista (JS), que garantiu não se tratar de «rapazes a entrar nas casas de banho das raparigas», mas sim de «as escolas poderem respeitar quando uma criança muda de sexo». «O que está previsto na nossa legislação é que, abaixo dos 16, anos exige um extenso processo de avaliação médica e diagnóstico médico. Portanto, não é um rapaz entrar na casa de banho de uma rapariga assim à toa», defende Costa Matos, para quem este projeto de lei passa por ver a escola a «respeitar esse processo que a criança está a fazer», até porque «sabemos que a disforia de género – as pessoas estarem com um sexo biológico errado relativamente àquilo que é a sua identidade de género – é algo que existe, mesmo em crianças, não é uma coisa que aparece a partir de certa idade».

September 19, 2022

A minha escola aparece em destaque no DN




Com uma fotografia da Natércia, uma colega de história, essa disciplina mítica em vias de desaparecer. Agora, tiraram a fotografia de maneira que a escola parece parece uma prisão (o que é uma pena porque o interior é muito diferente). E exactamente no sítio onde o nome da escola está mal escrito. Foi pontaria.

Burocracia a mais, menos horas para projetos pedagógicos. A escola vista por três gerações de professores

Novo ano, mesmas falhas. Professoras apontam dificuldades do sistema de ensino e pedem respostas ao governo.



July 08, 2022

Sairam os rankings

 


Não sei para quê. O Estado perdeu o controlo sobre as notas dos colégios e não sabe nada do que lá se passa, só o que eles dizem e os exames deixaram de contar para a nota de maneira que não aferem coisa alguma.

Passei os olhos pelas notícias dos jornais acerca do assunto e o que vejo são textos a referir-se à educação como algo que funciona com fórmulas milagrosas: uma escola é boa porque ensina música, em outro é o diretor que a afina, em outra... quando sabemos que na educação nada funciona com receitas milagrosas. 

Vemos que, quanto mais disparidades económicas e sociais existem na sociedade mais se separam as escolas públicas das privadas (na saúde vemos o mesmo) em termos de resultados. Esses são os factos. Antes do 25 de Abril os Liceus públicos estavam sempre à frente dos colégios privados, pois os alunos dos Liceus eram uma minoria que vinha de certos contextos sociais. Por um tempo -nos anos 90- parecia que isso ia mudar-, mas depois veio a Lurdes Rodrigues e o novo endividamento do país com a injustiça social que desde então não tem parado de crescer.

Como este ministro aposta nas modas mais medíocres para o sistema porque têm mais ganhos políticos, não tenho esperança nenhuma.

Em França, o professor Jean-Paul Brighelli, autor do livro de grande sucesso, La Fabrique du crétin, publicou um segundo volume, intitulado "Em Direcção Ao Apocalipse Da Escola". Um título que reflecte a sua grande preocupação...

"A palavra de ordem é igualitarismo. A matemática moderna foi introduzida nos anos 70 para impedir que os pais ajudassem os seus filhos, para que os filhos fossem todos iguais. O francês foi transformado num assunto "técnico" para não favorecer as crianças da burguesia, que tinham uma melhor pena devido à sua educação... O pior é que tem o efeito oposto. Na realidade, a análise de Pierre Bourdieu, que mostrou em Les Héritiers que a escola reproduzia desigualdades, tornou-se agora uma realidade. Os métodos favoreceram aqueles que têm os meios para ajudar os seus filhos, para os enviar para escolas privadas - a começar pelo actual Ministro da Educação. Isto tem favorecido o entre-soi [a cunha]. De agora em diante, se já não pudermos recrutar com base em diplomas, levaremos os filhos dos amigos, aqueles que frequentaram as escolas secundárias certas, no bairro certo, aqueles que são considerados como sendo de boas famílias".

Em Junho saiu no Bac de francês um extracto do romance de Sylvie Germain Jours de colère (Gallimard). Segundo muitos estudantes o texto era "demasiado difícil" de analisar e levou a que lançassem a confusão nas redes sociais ao ponto de ameaçar de morte a romancista.

Le Figaro perguntou-lhe: Alguns estudantes do ensino secundário consideraram que o seu texto (para o baccalauréat geral de francês) e o de Leïla Slimani (para o baccalauréat profissional) eram "demasiado difíceis". Eram?
Sylvie Germais - Tenho muitas dúvidas porque estes textos não apresentam quaisquer dificuldades, não são herméticos. Devem agora ser apresentados extractos de livros infantis no baccalauréat? E seguidamente o que se faz? No baccalauréat de filosofia, o que farão quando forem confrontados com um texto de Platão, de Kant ou de Sartre? Devemos desistir à medida que o nível de alguns estudantes desce? Até onde devemos ir na direcção da facilidade e da mediocridade?
Seria melhor dar aos alunos um gosto precoce pela leitura, para despertar a sua curiosidade e o seu interesse pelo vocabulário. Não se pode trabalhar muito intelectualmente quando se tem um fraco domínio da língua, da sua estrutura e do vocabulário.

O excerto era este:

Sylvie Germain (née en 1954), Jours de colère, Chants, «Les frères», 1989 Situé dans un passé indéterminé, le roman de Sylvie Germain Jours de colère prend place dans les forêts du Morvan. Le texte suivant est extrait d’un chapitre intitulé «Les frères». Il présente les neuf fils d’Ephraïm Mauperthuis et de Reinette-la-Grasse.

«Ils étaient hommes des forêts. Et les forêts les avaient faits à leur image. À leur puissance, leur solitude, leur dureté. Dureté puisée dans celle de leur sol commun, ce socle de granit d’un rose tendre vieux de millions de siècles, bruissant de sources, troué d’étangs, partout saillant d’entre les herbes, les fougères et les ronces. Un même chant les habitait, hommes et arbres. Un chant depuis toujours confronté au silence, à la roche. Un chant sans mélodie. Un chant brutal, heurté comme les saisons, - des étés écrasants de chaleur, de longs hivers pétrifiés sous la neige. Un chant fait de cris, de clameurs, de résonances et de stridences. Un chant qui scandait autant leurs joies que leurs colères.

Car tout en eux prenait des accents de colère, même l’amour. Ils avaient été élevés davantage parmi les arbres que parmi les hommes, ils s’étaient nourris depuis l’enfance des fruits, des végétaux et des baies sauvages qui poussent dans les sous-bois et de la chair des bêtes qui gîtent dans les forêts ; ils connaissaient tous les chemins que dessinent au ciel les étoiles et tous les sentiers qui sinuent entre les arbres, les ronciers et les taillis et dans l’ombre desquels se glissent les renards, les chats sauvages et les chevreuils, et les venelles que frayent les sangliers. Des venelles tracées à ras de terre entre les herbes et les épines en parallèle à la Voie lactée, comme en miroir. Comme en écho aussi à la route qui conduisait les pèlerins de Vézelay vers Saint-Jacques-de-Compostelle. Ils connaissaient tous les passages séculaires creusés par les bêtes, les hommes et les étoiles.

La maison où ils étaient nés s’était montrée très vite bien trop étroite pour pouvoir les abriter tous, et trop pauvre surtout pour pouvoir les nourrir. Ils étaient les fils d’Ephraïm Mauperthuis et de Reinette-la-Grasse».


Tradução:

"Eles eram homens das florestas. E as florestas tinham-nos feito à sua imagem. No seu poder, na sua solidão, na sua dureza. Uma dureza extraída do seu solo comum, esta suave rocha granítica rosada com milhões de séculos de idade, rugindo com molas, perfurada com lagos, salientes por toda a parte entre as gramíneas, fetos e silvas. Uma única canção os habitava, homens e árvores. Uma canção que tinha sido sempre confrontada com o silêncio, com a rocha. Uma canção sem melodia. Uma canção que era brutal, dura, como as estações do ano - verões que eram esmagadoramente quentes, longos invernos que eram petrificados sob a neve. Uma canção feita de gritos, clamores, ressonâncias e estridências. Uma canção que cantava tanto as suas alegrias como as suas raivas.

Pois tudo neles tinha uma nota de raiva, até mesmo o amor. Tinham sido criados mais entre as árvores do que entre os homens, alimentaram-se desde a infância dos frutos, plantas e bagas selvagens que crescem no mato e na carne dos animais que se encontram nas florestas; conheciam todos os caminhos que as estrelas desenham no céu e todos os caminhos que serpenteiam entre as árvores, as silvas e os bosques e em cuja sombra escorregam as raposas, os gatos selvagens e os veados, e os caminhos que os javalis escavam. Caminhos traçados ao nível do solo entre as gramíneas e os espinhos em paralelo com a Via Láctea, como se estivessem em imagem de espelho. Como que em eco ao caminho que conduziu os peregrinos de Vézelay a Santiago de Compostela. Conheciam todas as passagens antigas esculpidas por animais, homens e estrelas.

A casa em que nasceram rapidamente se tornou demasiado pequena para os alojar a todos e demasiado pobre para os alimentar. Eram os filhos de Ephraïm Mauperthuis e Reinette-la-Grasse."

Um texto muito bonito e com um vocabulário muito acessível a alunos em final do secundário, mas impenetrável a todos que vêm passando ano após ano sempre com maus resultados na língua materna. Exactamente como cá onde os alunos chegam ao 10º ano sem saber ler e escrever e sem nunca terem lido um livro em toda a sua vida. Como se pensa se não existem conceitos no espaço mental para trabalhar ideias? Como se formam as ideias e as frases e como se encadeiam em arquitecturas mentais sem domínio da língua e do seu vocabulário?

Trabalha-se para a mediocridade e depois pede-se que a escola seja um elevador social. E os artigos de jornais focam-se em pormenores como um aluno que tem 20s e uma escola onde há música.

Os rankings podiam dizer-nos muito sobre o que está feito e o que se podia fazer. Os exames também, mas uns e outros têm sido esvaziados de conteúdo por este ministro para não estragar as suas grelhas, tabelas e estatísticas cinzeladas pela demagogia.

June 03, 2022

Começa lá e acaba aqui





Digam mal e destruam a escola e os professores.
Se as escolas só servem para certificar e as universidades são uma espécie de finishing shcool, quem precisa disso?


O Estado deixa de requerer a licenciatura para imensos trabalhos onde era obrigatório


O estado de Maryland junta-se a numerosos empregadores, deixando de exigir uma licenciatura para muitos trabalhos.