April 30, 2020

Da minha janela



A notícia de que ia começar o bom tempo foi largamente exagerada.


Coronavirus Li Wenliang - À atenção dos senhores governantes




Lol, everybody wants that. EVERYBODY



Trump says China wants him to lose election 



Voltar à escola - uma experiência vinda directamente da China




Diário da quarentena 46º dia - Leituras pela manhã




There’s nothing you or I or the Pope or the United Nations could do to stop humans from forming clubs, inventing or elevating meaningful markers of difference, and building fences and corrals that keep one’s group together while keeping the ‘others’ out. We are a tribal ape with a brain built to exaggerate our allegiance to our small band while manning the barricades against others distinguished by vanishingly tiny differences. Individuals can, with great effort, consciously suppress this nasty bit of programming, but populations on the whole will fail.


April 29, 2020

Olha, mais um dogmático axiológico que não se mascara



E este é dentro de um hospital que tem regras de obrigatoriedade de máscara.
Ainda hoje estive a falar disto -do dogmatismo axiológico- na aula/sessão do 10º ano: de como há pessoas que não aceitam a ideia de viverem sociedade e terem deveres para com os outros e por essa razão não respeitam nenhuma norma social que vá contra os seus desejos pessoais, mesmo que sejam eles próprios representantes da lei. Entendem sempre que as suas crenças (não princípios, que isso é de outra ordem), ideologias e interesses pessoais devem ter prioridade sobre tudo e só obedecem aos seus desejos. Acreditam dogmaticamente na sua excepcionalidade.



Decisões



Vou estar à dieta de gráficos durante 5 dias. É demais. Já tenho uma tal intolerância ao bombardeamento de gráficos que já olho para eles como obras artísticas e não os leio. Este, por exemplo, quando olho para ele a única coisa que vejo são os nove círculos do inferno dantesco de Botticelli.




Adequado ao dia de hoje




Aviso aos meios de comunicação social




A engenharia mecânica é uma espécie de biologia ou anatomia transformada em máquina



Diário da quarentena 45º dia - da passagem das horas



via O Mendel dos Livros 

A Rothko silence



Philip Arnold



April 28, 2020

Coronavírus Li Wenliang - Razões para ser optimista



Acredito que vamos ter uma vacina muito mais cedo que para aí anunciam. Outra coisa diferente é os políticos arranjarem maneira de entender-se para mandarem produzir o medicamento e distribuir pelo mundo e não deixar que as empresas e os países que fabricam medicamentos ponham entraves de preços e outros na mira do egoísmo e do lucro.

Não temos bem ideia dos milhões de cientistas que existem no mundo, de momento, todos a trabalhar para este fim. É muita energia, muita colaboração, muito conhecimento a circular, muito esforço concentrado e, apesar de esta estirpe do vírus ser nova e desconhecida é uma variante de um vírus Corona, de modo que alguma coisa à partida já se sabe dele.

Entre os seres humanos, há milhares e milhares que dão o seu melhor, justamente quando estão sob pressão. Uma pessoa vê isso acontecer uma e outra vez ao longo da História, durante as guerras e as grandes crises. Juntam o conhecimento ao espírito imaginativo e fazem autênticos milagres.

Uma vacina leva tempo a testar e aperfeiçoar para poder usar-se com segurança? Talvez, mas talvez também encontrem soluções para isso. Sei lá... há um fulano que inventou uma maneira de envelhecer artificialmente os vinhos em um ano para não ter que se esperar dez ou vinte para vender... O que quero dizer é que há sempre quem encontre um solução para um problema e neste caso, sendo tanta gente, mas tanta a trabalhar para isso, há razões para ser optimista.

Sim, vamos ter que viver durante uns tempos de maneira diferente, com cuidados e algumas pessoas até podem ter que ficar isoladas mais tempo, mas há três palavras que nunca mudam e põe tudo em perspectiva: A VIDA CONTINUA.

Eu vejo-me a mim e aos outros professores: em duas semanas inventámos maneiras de trabalhar com os alunos. Eu arranjei uma maneira de trabalhar com todos os alunos, mesmo os que só têm um telemóvel. Sem prejudicar os que têm menos e sem travar os que podem ir mais longe. Não é a mesma coisa que dar aulas presencialmente, mas por agora, é o que é. É outra coisa. É o que tem que ser, de momento. Depois quando pudermos voltar ao normal, voltamos.

Gostava que os pais não se stressassem tanto. Em Setembro, quando a escola abrir, recupera-se. Os miúdos são novos, resilientes e têm uma grande capacidade de dar saltos evolutivos. E mesmo que se tenha que fazer mais um período de dois meses de isolamento, também o fazemos e os miúdos são novos, recuperam.

Quem não recupera são os velhos que estão a perder tempo de vida sózinhos nos lares... acho cruel e não percebo isso; também os médicos e enfermeiros e outros que andam nos hospitais e que pagam isso em ansiedade, cansaço e por vezes doença e morte.
Agora, é melhor ter esperança e trabalhar com energia para arranjar soluções que ficar como as cassandras a adivinhar tempestades e a desesperar.

Todos os outros recuperam porque A VIDA CONTINUA.

Melhor seria já pensar em maneiras das coisas que eram normais e nos puseram neste aperto não voltarem a essa normalidade.

De modo que, tirando os políticos que me põe muito pessimista na capacidade de aproveitar o bom trabalho de milhões de cientistas, parece-me que há razões para ter esperança em vez de desesperança.

Poesia de Torga ao entardecer



Insónia Alentejana

Pátria pequena, deixa-me dormir,
Um momento que seja,
No teu leito maior, térrea planura
Onde cabe o meu corpo e o meu tormento.
Nesta larga brancura
De restolhos, de cal e solidão,
E ao lado do sereno sofrimento
Dum sobreiro a sangrar,
Pode, talvez, um pobre coração
Bater e ao mesmo tempo descansar...
















1984 . "Transparência XVIII" (Évora)
Acrílico s/ papel . 37X37
Abreu Pessegueiro

Who is the angel in your dreams?



Elias, o profeta, foge para o deserto e adormece depois de desejar a morte. Acorda com um anjo a oferecer-lhe comida e bebida.

















Elijah in the Wilderness, 1878, by Lord Frederic Leighton (British, 1830-1896)
Pormenor

Leituras pela manhã - Are we all Kantians now?



The Covid-19 effect on moral philosophy

Unthinkable: The pandemic is exposing long-tolerated inequalities


The coronavirus pandemic has been a shock not just to the health system. It has given a jump-start to moral consciences. Things we tolerated as a society – such as low pay for essential workers and income barriers to hospital treatment – suddenly seem abominable.

Structural unfairness has become harder to ignore. Ethical exceptionalism – the idea that some people can operate by a different moral code – gets short shrift at a time of intimate interdependence.


This virus is making it harder for us to shield our eyes from the conditions some workers are being asked to tolerate
...

And not before time, says Katy Dineen, an assistant lecturer in philosophy at UCC, who regards the Enlightenment thinker Immanuel Kant as a suitable guide in our current predicament. A key aspect of his ethical framework is to avoid privileging oneself in moral deliberations. He forces us to ask what values we would rationally choose if we could stand back from our own circumstances and judge impartially.


Katy Dineen: “Kant has this great phrase, ‘the foul stain of our species’, to describe the human capacity for deception. We often lie, to others, and ourselves, painting our self-serving actions as motivated by duty and virtue. At the moment, corona is showing us that the inequalities we have tolerated in society cannot be hidden behind virtue.

“Covid-19 is showing us just how necessary these contingent workers are, and how shoddily they have been treated. They are often the people who clean hospitals, deliver packages, and keep supermarket shelves stocked. Many of these workers have no choice but to be out and about; isolation may be a marker of privilege.
...
Covid-19 effects prime ministers and paupers and doesn’t care one whit for our special interests. The precariousness of some makes us all vulnerable.
...
Emily Maitlis’s critique of the language around ‘we are all in this together’ is well made. But I think we might also add words like ‘hero’ when used for these necessary workers. Potentially, this is another instance of the language of virtue hiding a truth of injustice. Rather than lauding their heroism, I would prefer to see a stimulus package taking into account that these ‘self-employed’ workers may suffer the brunt of the coming economic crisis.

“Long-term decisions also have to be made. It would be reasonable to base these decisions around the elimination of this sort of precariousness. One idea here would be to follow New Zealand and focus on wellbeing rather than output to evaluate policies.”

Businesses and especially banks will be relied upon to drive on the economic recovery. How do we know if we can trust the banks again?

“We don’t trust banks – surveys repeatedly tell us this. Yet we need them. Affordable credit and a means of safeguarding assets allow individuals to grow businesses and put roofs over heads – now more than ever.

“Here I follow Onora O’Neill – another Kantian, by the way. We will never know for sure whether banks are trustworthy, we will have to make a judgment call. These days nearly all banks will have some policy telling consumers about their values. Here too we have to be wary of the ‘foul stain’, or the capacity for deceit in these matters. What we need is specific, relevant information.

“I am not talking about reams of terms and conditions that nobody ever reads. I am talking about information on whether the values stated in their policies actually play out authentically within the bank. And I think you will get good answers to this question if you ask their employees – anonymously.

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Tradução:

A pandemia do coronavírus tem sido um choque não só para o sistema de saúde. Impulsionou as consciências morais. Coisas que toleramos como sociedade - tais como salários baixos para trabalhadores essenciais e barreiras de rendimento ao tratamento hospitalar - parecem repentinamente abomináveis.

A injustiça estrutural tornou-se mais difícil de ignorar. O excepcionalismo ético - a ideia de que algumas pessoas podem operar através de um código moral diferente - é pouco tolerado numa altura de interdependência íntima.

Este vírus está a tornar mais difícil para nós proteger os nossos olhos das condições que alguns trabalhadores estão a ser solicitados a tolerar.

...

E não antes do tempo, diz Katy Dineen, professora assistente de filosofia na UCC, que considera o pensador do Iluminismo Immanuel Kant como um guia adequado na nossa situação actual. Um aspecto chave do seu quadro ético é evitar privilegiar-se a si mesmo nas deliberações morais. Ele obriga-nos a perguntar que valores escolheríamos racionalmente se pudéssemos afastar-nos das nossas próprias circunstâncias e julgar imparcialmente.

Katy Dineen: "Kant tem esta grande frase, 'a mancha suja da nossa espécie', para descrever a capacidade humana de enganar. Muitas vezes mentimos, aos outros, e a nós próprios, pintando as nossas acções egoístas como motivadas pelo dever e pela virtude. Neste momento, o Coronavírus mostra-nos que as desigualdades que temos tolerado na sociedade não podem ser ocultadas por detrás da virtude.

"Covid-19 está a mostrar-nos como estes trabalhadores contingentes são necessários, e como foram maltratados. São frequentemente as pessoas que limpam hospitais, entregam embalagens, e mantêm as prateleiras dos supermercados abastecidas. Muitos destes trabalhadores não têm outra escolha a não ser estar por aí; o isolamento pode ser um marco de privilégio.
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A Covid-19 tem efeitos em primeiros-ministros e em pauperes e não se importa com os nossos interesses especiais. A precariedade de alguns torna-nos a todos vulneráveis.
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A crítica de Emily Maitlis à linguagem em torno do "estamos todos juntos nisto" está bem feita. Mas penso que também podemos acrescentar palavras como 'herói' quando usadas para estes trabalhadores necessários. Potencialmente, este é outro exemplo da linguagem da virtude que esconde uma verdade de injustiça. Em vez de elogiar o seu heroísmo, preferia ver um pacote de estímulos tendo em conta que estes trabalhadores "independentes" podem sofrer o peso da crise económica que se avizinha.

"Decisões a longo prazo também têm de ser tomadas. Seria razoável basear estas decisões em torno da eliminação deste tipo de precariedade. Uma ideia aqui seria seguir a Nova Zelândia e concentrar-se mais no bem-estar do que na produção para avaliar as políticas".

As empresas e, especialmente, os bancos, serão os impulsionadores da recuperação económica. Como sabemos se podemos voltar a confiar nos bancos?

"Não confiamos nos bancos - as sondagens dizem-nos isso repetidamente. No entanto, precisamos deles. O crédito acessível e um meio de salvaguardar os activos permitem aos indivíduos fazer crescer as empresas e colocar telhados sobre as cabeças - agora mais do que nunca.

"Aqui sigo Onora O'Neill - outro Kantiana, a propósito. Nunca saberemos ao certo se os bancos são de confiança, teremos de fazer um juízo. Hoje em dia, quase todos os bancos têm políticas a dizer aos consumidores sobre os seus valores. Também aqui temos de ter cuidado com a "mancha suja", ou com a capacidade de enganar nestes assuntos. O que precisamos é de informação específica e relevante.

"Não estou a falar de resmas de termos e condições que nunca ninguém lê. Estou a falar de informação sobre se os valores, declarados nas suas políticas, se aplicam de facto autenticamente dentro do banco. E penso que se obterá boas respostas a esta pergunta se se perguntar aos seus empregados - de forma anónima.

Diário da quarentena 44º dia






















via Jéssica O

Pôr as coisas em perspectiva



As the executive director of Human Rights Watch, Kenneth Roth, recently observed: “The health crisis will inevitably subside, but autocratic governments’ dangerous expansion of power may be one of the pandemic’s most enduring legacies.” Roth provides a frightening list of authoritarian measures being deployed in dozens of countries, including restrictions on media organizations and dissidents, a state of emergency in Hungary that allows Viktor Orbán to “imprison for up to five years any journalist who disseminates news that is deemed ‘false,’” and increased digital surveillance in Russia and China. “As occurred after September 11, 2001,” Roth writes, “it may be difficult to put the surveillance genie back in the bottle after the crisis fades.” He also worries about other “long-lasting restrictions on civil liberties” brought about by COVID-19.

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Capitalists… have indulged in the fantasy of the end of the state, especially in the neoliberal version of an economy free of political constraints. This peculiar fiction grew pronounced in the millenarian hallucination of an “end of history,” which preached that the epochal change of 1989 had ushered in a Kantian era of perpetual peace. Global capitalism was supposed to erase borders, replacing national solidarities with abstract universalism. Genuine conflicts were predicted to dissolve into rules-based competition, while existential threats would dissipate in a thoroughly benign cosmos. After all, with the fall of Communism, all enemies had disappeared, which made states obsolete.


What a diference 2 days made



No dia 25 de Abril foram agressivamente para a AR, não cumprindo as leis do isolamento social, porque era necessário comemorar presencialmente Abril: os direitos, a liberdade, enfim, um Estado de direito - passados dois dias já Costacenteno manda alegremente a Constituição às urtigas e insinua um estado de força.

No dia 25 de Abril era ridículo andar 'mascarado', como disse o outro grande amigo - passados dois dias é um dever usar as máscaras, diga a Constituição o que disser.

Quando não se sabe resolver os problemas, em grande parte por se ter nomeado primos e amigos em vez de pessoas competentes e depois não se admite o erro e manda-se para cima dos outros as consequências do que se decidiu, unilateralmente.

Confinamento é para manter diga o que disser a Constituição - Costa

O primeiro-ministro, António Costa, desvalorizou hoje o regime legal a adotar após o fim do estado de emergência, optando por sublinhar a necessidade de afastamento entre as pessoas por causa da pandemia, "diga a Constituição o que diga".

"Aquilo que nós sabemos é que é nosso dever ter estas normas de afastamento uns dos outros, usar as máscaras quando estamos em proximidade, porque isso é um risco, diga a Constituição o que diga, haja ou não haja estado de emergência", acentuou.