Maria João Marques
A criminalidade em Portugal está a modificar-se. Menos crimes, mas mais graves e violentos. Afinal não era uma perceção.
Um dos fenómenos mais fascinantes na política é visível quando setores políticos escolhem ignorar, por preconceitos ideológicos, problemas que se avolumam na vida da população. A questão da segurança e o debate sobre criminalidade em Portugal quase pode ser um caso de estudo desta cegueira deliberada.
As notícias sucediam-se. Episódios de violência nas ruas – e não só os desacatos depois da morte de Odair Moniz. Violações – em Lisboa os violadores de quatro mulheres (só nos últimos meses), tanto quanto se sabe, estão a monte pela cidade. Agressões. Qualquer pessoa que passeasse por Lisboa percebia que em certas zonas, mesmo se centrais, o ambiente se tornara pesado e inseguro.
Porém, políticos de esquerda e comentadores alinhados explicavam-nos que as pessoas eram histéricas, que estava tudo bem, que não tínhamos nenhum problema de segurança, que falar de tal assunto era sintoma de pertencermos à extrema-direita.
Entretanto vieram os dados provisórios do RASI 2024 e há números preocupantes. A criminalidade, no total, desceu. Contudo, a criminalidade violenta e grave aumentou 3%. A criminalidade grupal e a violência juvenil também aumentaram, respetivamente 8% e 12% – e já tinha crescido em anos anteriores. Os crimes contra a propriedade aumentaram. Roubos contra bancos – porventura os mais aparatosos e com maior valor roubado – subiram 130%. O número mais grave: as violações – que também com crescimento em 2023 – aumentaram 10% em 2024, para o número mais alto numa década.
Esta negação que à esquerda se estendeu a todos os temas relacionados com insegurança crescente daria certamente para vários estudos académicos. Intelectualmente é muito interessante como pessoas politicamente motivadas apagam partes da realidade que não se encaixam na sua teoria sobre o mundo.
Contudo, em termos políticos e eleitorais é uma estratégia suicida. Os eleitores percebem que vivem e convivem com um problema que uma parte dos políticos lhes assevera, com ar professoral, que não existe, estão enganados. Por isso, os eleitores vão votar em quem reconhece a existência do problema, mesmo se o resto da retórica desses partidos, ou as soluções, lhes desagradam. Vota-se em pessoas que pelo menos compreendem factos básicos da realidade.
Como sempre acontece, os números chegam e a realidade impõe-se.
A esquerda recusou aumento da insegurança porque tal realidade colidia com os dogmas. Por um lado, pretenderam censurar o debate sobre as causas do crescimento da insegurança. Se tal se devesse aos imigrantes, isso chocaria de frente com o discurso sobre a imigração, recusando qualquer dificuldade de integração de todos os imigrantes, mesmo os provenientes das culturas retrógradas onde mulheres e gays existem para serem (de modos diferentes) torturados e mortos.
Por outro lado, se se verificasse aumento da insegurança por questões económicas ou sociais – por exemplo inexistência de habitação pública suficiente (porque não foi construída nos anos de governação PS) para a população mais pobre, e consequente degradação das condições de vida – tal seria um falhanço da esquerda, a tal que supostamente é mais benigna para os pobres.
Mas é ainda mais questionável que esta área política, que se proclama feminista, tenha ignorado os avisos que se faziam sentir de que a violência sexual contra as mulheres estava a aumentar. De facto, os contextos com maior insegurança trazem sempre consequências ainda mais castigadoras para as mulheres – por via da menor força física dos corpos femininos. Quanto maior o nível de insegurança, mais somos suscetíveis de sermos agredidas, violadas, sexualmente abusadas, roubadas.
A criminalidade em Portugal está a modificar-se. Menos crimes, mas mais graves e violentos. Afinal não era uma perceção.
Um dos fenómenos mais fascinantes na política é visível quando setores políticos escolhem ignorar, por preconceitos ideológicos, problemas que se avolumam na vida da população. A questão da segurança e o debate sobre criminalidade em Portugal quase pode ser um caso de estudo desta cegueira deliberada.
As notícias sucediam-se. Episódios de violência nas ruas – e não só os desacatos depois da morte de Odair Moniz. Violações – em Lisboa os violadores de quatro mulheres (só nos últimos meses), tanto quanto se sabe, estão a monte pela cidade. Agressões. Qualquer pessoa que passeasse por Lisboa percebia que em certas zonas, mesmo se centrais, o ambiente se tornara pesado e inseguro.
Porém, políticos de esquerda e comentadores alinhados explicavam-nos que as pessoas eram histéricas, que estava tudo bem, que não tínhamos nenhum problema de segurança, que falar de tal assunto era sintoma de pertencermos à extrema-direita.
Entretanto vieram os dados provisórios do RASI 2024 e há números preocupantes. A criminalidade, no total, desceu. Contudo, a criminalidade violenta e grave aumentou 3%. A criminalidade grupal e a violência juvenil também aumentaram, respetivamente 8% e 12% – e já tinha crescido em anos anteriores. Os crimes contra a propriedade aumentaram. Roubos contra bancos – porventura os mais aparatosos e com maior valor roubado – subiram 130%. O número mais grave: as violações – que também com crescimento em 2023 – aumentaram 10% em 2024, para o número mais alto numa década.
Esta negação que à esquerda se estendeu a todos os temas relacionados com insegurança crescente daria certamente para vários estudos académicos. Intelectualmente é muito interessante como pessoas politicamente motivadas apagam partes da realidade que não se encaixam na sua teoria sobre o mundo.
Contudo, em termos políticos e eleitorais é uma estratégia suicida. Os eleitores percebem que vivem e convivem com um problema que uma parte dos políticos lhes assevera, com ar professoral, que não existe, estão enganados. Por isso, os eleitores vão votar em quem reconhece a existência do problema, mesmo se o resto da retórica desses partidos, ou as soluções, lhes desagradam. Vota-se em pessoas que pelo menos compreendem factos básicos da realidade.
Como sempre acontece, os números chegam e a realidade impõe-se.
A esquerda recusou aumento da insegurança porque tal realidade colidia com os dogmas. Por um lado, pretenderam censurar o debate sobre as causas do crescimento da insegurança. Se tal se devesse aos imigrantes, isso chocaria de frente com o discurso sobre a imigração, recusando qualquer dificuldade de integração de todos os imigrantes, mesmo os provenientes das culturas retrógradas onde mulheres e gays existem para serem (de modos diferentes) torturados e mortos.
Por outro lado, se se verificasse aumento da insegurança por questões económicas ou sociais – por exemplo inexistência de habitação pública suficiente (porque não foi construída nos anos de governação PS) para a população mais pobre, e consequente degradação das condições de vida – tal seria um falhanço da esquerda, a tal que supostamente é mais benigna para os pobres.
Mas é ainda mais questionável que esta área política, que se proclama feminista, tenha ignorado os avisos que se faziam sentir de que a violência sexual contra as mulheres estava a aumentar. De facto, os contextos com maior insegurança trazem sempre consequências ainda mais castigadoras para as mulheres – por via da menor força física dos corpos femininos. Quanto maior o nível de insegurança, mais somos suscetíveis de sermos agredidas, violadas, sexualmente abusadas, roubadas.
Público (excertos)
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