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November 08, 2024

As cidades transformadas em objectos de consumo ao modo de parques temáticos

 

Depois de terem sido centros de vida e de desenvolvimento social e cultural. Como se resolve isto?


O turismo como técnica de monocultivo

O antropólogo catalão Miquel Fernández González, em Matar al Chino, analisa as consequências negativas da turistificação no Bairro Chino de Barcelona. O que diz assenta como luva no que está a passar-se no Porto ou em Lisboa e pode resumir-se assim: as cidades globais, para serem competitivas, têm de oferecer aos investidores mundiais as melhores condições para que os fluxos de capital produzam lucros substantivos. Esta competição impulsiona um segundo processo, que envolve as cidades numa corrida sem fim para construírem um espaço ideal, repleto de atrações, o que as torna parecidas a um parque temático. Para isso, utilizam a cultura como vantagem competitiva, apropriando-se de espaços de maneira física e simbólica (pensemos nos centros históricos, ou em locais-romaria como a livraria Lello ou o Majestic).

Com a tematização — alguns chamam-lhe também disneylandização, outros artistização — oculta-se o facto de que estas transformações respondem a poderosos interesses económicos privados, com a intenção de transformar em espaços de consumo os lugares de residência, participação e encontro. O resultado são quarteirões desabitados, cheios de restaurantes, bares, hotéis e lojas de luxo. Terreno propício a uma especulação imobiliária que exige preços exorbitantes para habitar e promove assédio urbanístico sobre os residentes economicamente mais frágeis. O risco, diz-nos Miquel Fernández González, é o da submissão da vida urbana a uma simplicidade representacional inspirada em lugares-comuns que apostam no turismo como técnica de monocultivo.


Luís Fernandes in o turismo-tecnica-monocultivo

July 29, 2024

Turismo: prevenir para não ter que remediar



Quando vamos assumir que o turismo se tornou um problema?


Para além dos impactos mais directos e evidentes, o turismo tem implicações estruturais para o desenvolvimento das economias a prazo.

Ricardo Paes Mamede

“O turismo pode desempenhar um papel fundamental na promoção do desenvolvimento económico, mas os seus impactos são muitas vezes económica, social e ambientalmente desequilibrados, e os benefícios nem sempre revertem a favor das comunidades locais.”

Este aviso vem no último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o turismo mundial e Portugal tem motivos de sobra para o levar a sério. Em 2023, recebemos quase 20 milhões de turistas, um crescimento de 12,1% face a 2019, o que constitui o terceiro maior aumento entre os 38 Estados-membros daquela organização. No ano anterior, o sector representou 8,9% do PIB português, o valor mais elevado (e mais do dobro da média) dos países da OCDE para os quais existem dados disponíveis.

Os indicadores mais recentes sugerem que o turismo em Portugal continua a crescer.

Os responsáveis políticos recebem estas notícias com entusiasmo e percebe-se porquê. No imediato, o aumento do turismo traz mais actividade económica, mais emprego e mais receitas fiscais e contributivas.

Das 60 medidas que constam do programa Acelerar a Economia, anunciado há poucas semanas pelo executivo de Montenegro, 17 visam impulsionar este sector em específico (nenhum outro sector de actividade merece sequer metade da atenção naquele programa). Mas a fixação dos políticos com a promoção do turismo não é de agora, nem deste Governo: em 2016, o então presidente da Câmara de Lisboa (e, mais tarde, ministro das Finanças socialista), Fernando Medina, dizia não saber “o que é ter turistas a mais”, acrescentando que “esse conceito não existe, não tem sentido”.

Mas não é isso que nos diz a OCDE, nem outras instituições internacionais, nem algumas abordagens económicas mais atentas ao desenvolvimento estrutural das economias.

Alguns dos problemas decorrentes de um crescimento excessivo do turismo são evidentes e bem conhecidos de toda a população. A OCDE alerta para aspectos como as pressões sobre os preços do alojamento (que dificultam o acesso à habitação dos residentes e também dos trabalhadores sazonais), sobre as infra-estruturas e os serviços colectivos (traduzindo-se, por exemplo, na sobrelotação dos transportes públicos ou na acumulação de lixo nas zonas mais frequentadas) e sobre o ambiente (aumentando a poluição e pondo em causa a sustentabilidade dos ecossistemas e a biodiversidade). Os crescentes protestos populares em zonas de grande intensidade turística – como Barcelona ou Málaga, para dar dois exemplos recentes – são um sinal de que o excesso de turismo existe de facto e que está a tornar-se um problema político sério em diferentes partes do mundo.

Para além dos impactos mais directos e evidentes, o turismo tem implicações estruturais para o desenvolvimento das economias a prazo. Há três aspectos que vale a pena ter em consideração a este respeito.

O primeiro tem que ver com a relação entre turismo e imobiliário. A expansão rápida da actividade turística num determinado território está frequentemente associada a um aumento do investimento imobiliário em hotéis e alojamento local, mas também em estabelecimentos comerciais e de restauração. O crescimento dos preços desses activos pode dar origem a fenómenos especulativos, que põem em causa a estabilidade financeira do país.

Segundo, o aumento dos preços do imobiliário representa um acréscimo de custos para a generalidade das actividades produtivas (não apenas as que estão directamente associadas ao turismo). Para além disso, o grande afluxo de turistas – que, em geral, têm um poder de compra superior à média dos residentes – traduz-se num aumento geral dos preços dos bens e serviços, reduzindo assim o rendimento disponível da população local e aumentando ainda mais os custos para as empresas de todos os sectores

Estes fenómenos inflacionistas, a par da disputa de recursos humanos, financeiros e materiais, originam um fenómeno conhecido por “doença holandesa”, ou seja, o crescimento do turismo provoca uma perda de competitividade em outros sectores de actividade mais expostos à concorrência internacional, em particular as indústrias transformadoras. Isto tem efeitos nefastos a nível estrutural: embora o turismo estimule a actividade económica e o emprego no curto prazo, em geral não tem o mesmo potencial de desenvolvimento tecnológico e de aumento da produtividade que o sector industrial. Ao favorecer a desindustrialização das economias locais, a sobre-especialização no turismo põe assim em causa o desenvolvimento da economia a prazo

Por fim, a actividade turística é particularmente vulnerável à ocorrência de fenómenos extremos – como pandemias, desastres naturais, alterações climáticas, ataques terroristas, conflitos armados, entre outros – tornando ainda mais arriscada a sobreespecialização económica neste sector.

É por estes e outros motivos que as organizações internacionais têm vindo a alertar para a necessidade da adopção de planos de turismo sustentável por parte das autoridades nacionais e locais. É possível e desejável fazer do turismo uma parte relevante da estratégia de desenvolvimento económico, social e ambiental do país. Isto faz-se gerindo fluxos, diversificando ofertas, reforçando o investimento em infra-estruturas públicas e serviços colectivos, limitando o seu efeito predatório sobre a habitação nas grandes cidades (e não só), regulando e fiscalizando as condições de trabalho no sector. O primeiro passo, no entanto, é pararmos de olhar para o turismo como a galinha dos ovos de ouro da economia nacional.


April 02, 2021

Comprar prémios é uma estratégia mercantil

 


Publicidade. É para se exibir. Olhem para mim sou tão bom. Vejam só o que consegui. Não vejo grande problema dado o turismo ser um negócio de mercantilismo. Chocava-me ver esta estratégia numa religião, por exemplo, ou na política, ou noutra área que não se coadune, na sua essência, com o mercantilismo, mas no turismo, onde tudo é purpurinado? Aquelas imagens de praias desertas e coisas afins, são verdadeiras? Uma em cada milhão, talvez. O que é importante é que não se fique apenas pela publicidade e se construa um turismo sustentável.




July 04, 2020

À atenção do senhor primeiro-ministro



Que interessa isto agora? Agora vem tarde, não? Que andam vocês a fazer no governo? Como é possível não terem percebido a importância fulcral do turismo na nossa economia? O que anda o SS a fazer, ele e os diplomatas? Os espanhóis e os italianos tiveram um cenário de pandemia dramático com milhares de mortos e souberam resolver politicamente o assunto. Esta decisão dos britânicos, que há-de ser seguida por outros, é o resultado de uma enorme falha e falta de visão políticas do governo. Muita arrogância e desprezo por medidas de segurança. Quantos hotéis, restaurantes e pequenas empresas subsidiárias vão este ano à falência por conta da displicência do governo?
De modo que pergunto: isto é o quê e em que é que ajuda a mudar a situação? Ou é a vossa maneira de se desresponsabilizarem da vossa incapacidade em resolver os problemas do país?



🤣 🤣 🤣