November 08, 2024

As cidades transformadas em objectos de consumo ao modo de parques temáticos

 

Depois de terem sido centros de vida e de desenvolvimento social e cultural. Como se resolve isto?


O turismo como técnica de monocultivo

O antropólogo catalão Miquel Fernández González, em Matar al Chino, analisa as consequências negativas da turistificação no Bairro Chino de Barcelona. O que diz assenta como luva no que está a passar-se no Porto ou em Lisboa e pode resumir-se assim: as cidades globais, para serem competitivas, têm de oferecer aos investidores mundiais as melhores condições para que os fluxos de capital produzam lucros substantivos. Esta competição impulsiona um segundo processo, que envolve as cidades numa corrida sem fim para construírem um espaço ideal, repleto de atrações, o que as torna parecidas a um parque temático. Para isso, utilizam a cultura como vantagem competitiva, apropriando-se de espaços de maneira física e simbólica (pensemos nos centros históricos, ou em locais-romaria como a livraria Lello ou o Majestic).

Com a tematização — alguns chamam-lhe também disneylandização, outros artistização — oculta-se o facto de que estas transformações respondem a poderosos interesses económicos privados, com a intenção de transformar em espaços de consumo os lugares de residência, participação e encontro. O resultado são quarteirões desabitados, cheios de restaurantes, bares, hotéis e lojas de luxo. Terreno propício a uma especulação imobiliária que exige preços exorbitantes para habitar e promove assédio urbanístico sobre os residentes economicamente mais frágeis. O risco, diz-nos Miquel Fernández González, é o da submissão da vida urbana a uma simplicidade representacional inspirada em lugares-comuns que apostam no turismo como técnica de monocultivo.


Luís Fernandes in o turismo-tecnica-monocultivo

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