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December 22, 2020

Este Natal ofereça livros

 


Já não é a primeira vez que falamos aqui deste elo entre a linguagem, o pensamento, a argumentação, a liberdade e a democracia, mas nunca é demais lembrar.

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É a inversão do efeito Flynn.
Parece que o nível de inteligência medido pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos.
Pode haver muitas causas para esse fenómeno. Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem.
Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos.

O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projeções no tempo.

A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de "golpes mortais" na precisão e variedade de expressão.
Apenas um exemplo: eliminar a palavra "signorina" (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias.

Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da  incapacidade de descrever as emoções em palavras.
Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece.

A história está cheia de exemplos e muitos livros (Georges Orwell - "1984"; Ray Bradbury - "Fahrenheit 451") contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.
Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras.
Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional?
Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro?
Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?

Caros pais e professores: Façamos ("fazemos" na tradução brasileira) com que nossos filhos, nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinar e praticar o idioma em suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.
Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem de seus "defeitos", abolir gêneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana.
Não há liberdade sem necessidade.
Não há beleza sem o pensamento da beleza. "

January 23, 2020

A simplificação da língua implica a impossibilidade de complexidade do pensamento, a pobreza da língua leva à pobreza de pensamento




Baisse du QI, appauvrissement du langage et ruine de la pensée


O efeito de Flynn previa que o QI médio do ser humano não parasse de aumentar na população à medida que evoluíamos. Ora, desde os anos de 1980, os investigadores em ciências cognitivas parecem partilhar a constatação de uma inversão do efeito de Flynn e de um recuo do QI médio.

O nível de inteligência medido por testes de QI parece diminuir nos países mais desenvolvidos e há uma multitude de factores que podem ser a sua causa.
A essa diminuição da inteligência média junta-se um empobrecimento da linguagem. Numerosos estudos demonstram um retraimento do campo lexical e um empobrecimento da linguagem. Não é apenas a diminuição do vocabulário utilizado mas também as subtilezas da linguagem que permitem elaborar e formular um pensamento complexo.

O desaparecimento progressivo dos tempos (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dão lugar a um pensamento do presente, limitado ao instante, incapaz de projecções no tempo. A generalização do tratamento 'por tu', o desaparecimento das maiúsculas e da pontuação são outros golpes mortais na subtileza da expressão.

Menos palavras e menos verbos conjugados significa menos capacidade de exprimir emoções e menos possibilidade de elaborar um pensamento. Estudos mostram que uma parte da violência na esfera pública e privada, provém directamente da incapacidade de traduzir as emoções em linguagem.

Sem palavras para construir um raciocínio, o pensamento complexo, tão caro a Edgar Morin, é entravado, torna-se impossível. Quanto mais a linguagem se torna pobre, menos pensamento existe.

A História é rica de exemplos e são numerosos os escritos, de Georges Orwell, em 1984, a Ray Bradbury, em Fahrenheit 451, que relatam como os ditadores cerceiam o pensamento reduzindo o número e o sentido das palavras. Não existe pensamento crítico sem pensamento e não existe pensamento sem palavras. Como se pode construir um pensamento hipotético-dedutivo sem dominar o condicional? Como perspectivar o futuro sem a conjugação do tempo futuro? Como apreender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, que sejam passados ou por acontecer, bem como a sua duração relativa, sem uma língua que diferencia, o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderá vir a ser e o que será depois do que poderia ter acontecido, ter acontecido?

Se um grito de revolta devesse fazer-se entender nos dias hoje, seria dirigido aos pais e professores: façam falar, escrever e ler as vossas crianças, os votos alunos e estudantes. Ensinem e pratiquem a língua nas suas formas mais variadas, mesmo que ela pareça complicada, sobretudo se ela é complicada. Nesse esforço encontra-se a liberdade.

Aqueles que defendem a simplificação da ortografia, que dizem querer purgar a língua dos seus defeitos, abolir os géneros, os tempos, as nuances e tudo o que cria a complexidade, são os coveiros do espírito humano. Não há liberdade sem requisitos. Não há beleza sem o pensamento da beleza.

Tradução minha (de excertos)