January 23, 2020

A simplificação da língua implica a impossibilidade de complexidade do pensamento, a pobreza da língua leva à pobreza de pensamento




Baisse du QI, appauvrissement du langage et ruine de la pensée


O efeito de Flynn previa que o QI médio do ser humano não parasse de aumentar na população à medida que evoluíamos. Ora, desde os anos de 1980, os investigadores em ciências cognitivas parecem partilhar a constatação de uma inversão do efeito de Flynn e de um recuo do QI médio.

O nível de inteligência medido por testes de QI parece diminuir nos países mais desenvolvidos e há uma multitude de factores que podem ser a sua causa.
A essa diminuição da inteligência média junta-se um empobrecimento da linguagem. Numerosos estudos demonstram um retraimento do campo lexical e um empobrecimento da linguagem. Não é apenas a diminuição do vocabulário utilizado mas também as subtilezas da linguagem que permitem elaborar e formular um pensamento complexo.

O desaparecimento progressivo dos tempos (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dão lugar a um pensamento do presente, limitado ao instante, incapaz de projecções no tempo. A generalização do tratamento 'por tu', o desaparecimento das maiúsculas e da pontuação são outros golpes mortais na subtileza da expressão.

Menos palavras e menos verbos conjugados significa menos capacidade de exprimir emoções e menos possibilidade de elaborar um pensamento. Estudos mostram que uma parte da violência na esfera pública e privada, provém directamente da incapacidade de traduzir as emoções em linguagem.

Sem palavras para construir um raciocínio, o pensamento complexo, tão caro a Edgar Morin, é entravado, torna-se impossível. Quanto mais a linguagem se torna pobre, menos pensamento existe.

A História é rica de exemplos e são numerosos os escritos, de Georges Orwell, em 1984, a Ray Bradbury, em Fahrenheit 451, que relatam como os ditadores cerceiam o pensamento reduzindo o número e o sentido das palavras. Não existe pensamento crítico sem pensamento e não existe pensamento sem palavras. Como se pode construir um pensamento hipotético-dedutivo sem dominar o condicional? Como perspectivar o futuro sem a conjugação do tempo futuro? Como apreender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, que sejam passados ou por acontecer, bem como a sua duração relativa, sem uma língua que diferencia, o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderá vir a ser e o que será depois do que poderia ter acontecido, ter acontecido?

Se um grito de revolta devesse fazer-se entender nos dias hoje, seria dirigido aos pais e professores: façam falar, escrever e ler as vossas crianças, os votos alunos e estudantes. Ensinem e pratiquem a língua nas suas formas mais variadas, mesmo que ela pareça complicada, sobretudo se ela é complicada. Nesse esforço encontra-se a liberdade.

Aqueles que defendem a simplificação da ortografia, que dizem querer purgar a língua dos seus defeitos, abolir os géneros, os tempos, as nuances e tudo o que cria a complexidade, são os coveiros do espírito humano. Não há liberdade sem requisitos. Não há beleza sem o pensamento da beleza.

Tradução minha (de excertos)

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