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October 24, 2022

Mil palavras


Nunca uma música foi tão eficaz a mostrar a opressão do imperialismo. Sentimos, ao ouvi-la, uma presença brutal e ameaçadora. 



Aqui, numa coreografia de Nureyev na Ópera de Paris em 1995.


September 22, 2022

Nocturna

 


Dedicada a todos os que morrem na Ucrânia a defender a sua pátria de um ditador egomaníaco.






September 20, 2022

Isto é tão bonito...

 

The Massed Pipes and Drums. The Mist Covered Mountains, tocada com a belíssima Abadia gótica ao fundo. As gaitas dão-lhe o tom de lamento nostálgico intemporal, os tambores de pesar profundo humano. 

May 21, 2022

"A night at the opera"

 


Ontem fui ao São Carlos ver o «Fausto» de Gounod. Uma ópera grande, em cinco actos, baseada na primeira parte da obra homónima de Goethe. Desde que o «Fausto» veio à luz, por assim dizer, nunca mais deixou de inspirar obras, tanto na literatura como na música. Há muitas peças musicais baseadas no poema de Goethe e três grandes óperas, sendo esta de Gounod a mais popular e a que mais vai à cena nas casas de ópera. É uma peça muito melódica e que se desenvolve com muita profundidade.

A peça abre com o Dr. Fausto velho, doente, em fim de vida, a reflectir sobre a falta de sentido do mundo, mas incapaz de se desapegar, revoltado e tentado pelo suicídio, «Nada. Em vão interrogo a Natureza e o Criador», diz Fausto, antes de invocar Satã, com quem fará um pacto de vender a alma em troca da juventude. Este início é muito melódico. 

A encenação não começou muito bem, para o meu gosto. Vemos Fausto, já muito velho, entrar numa cadeira de rodas empurrada por uma enfermeira, parar diante de uma banheira gigante no meio do palco (que tem um pêndulo gigante a balouçar para indicar a passagem inexorável do tempo), despir a camisa e ficar nu, de costas para nós. Depois, enquanto ouvimos aquela música impregnante e melódica estamos a ver a enfermeira lavar o rabo do Fausto... não havia necessidade. Percebe-se a ideia do peso da carnalidade humana na superficialidade da vida, mas... enfim, passado este início, foi tudo muito bom. 

O tenor, Mario Bahg, cantou a sua parte com muito lirismo, muita sensibilidade, sobretudo nas partes mais íntimas. Mefistófeles, um baixo, Rubén Amoretti, aparece como um dandy fantástico, sempre seguido por dois demónios visualmente insidiosos e maléficos nos seus movimentos (no final, já nos agradecimentos, desmascaram-se e vamos que são duas mulheres) é como um mestre de dança que comanda todas as almas para a perdição eterna. A cena da danação de Marguerite é verdadeiramente impressionante. Num ambiente escuro e fantasmagórico, Marguerite reza, perto de um padre, aos pés de uma pietá. Eis que aparece Mefistófeles e um monte de gente que ele possui, como marionetas momentaneamente animadas, contra ela - a própria escultura ganha vida e Cristo e sua Mãe começam numa dança erótica, bela na sua decadência obscena, tudo cantado com grande beleza e profundidade dramáticas. A cena da dança das bruxas também é impressionante, uma espécie de bacanal dos infernos a acompanhar o enlouquecimento de Marguerite.

Marguerite é a personagem que mais evolui ao longo da peça. Começa como uma donzela cheia de excitação pela vida, pelo amor e pelas riquezas e no fim da obra é uma mulher desiludida, abandonada grávida por Fausto que se esgota -ele, não ela- na busca ávida de prazeres e na satisfação dos desejos. 

O soldado, Valentin, irmão de Marguerite que canta uma das árias mais bonitas e famosas da ópera -avant de quitter ces lieux - é um barítono português, André Baleiro, com uma voz cheia e de grande dimensão, vencedor do prestigiado concurso alemão de Heidelberg, DAS LIED.

Enfim, desde os cenários, muito inteligentes (como têm de ser sempre no São Carlos que é uma casa de ópera muito pequena e não tem espaço para grandes construções em palco), a movimentação das personagens em cena, o coro do São Carlos (excelente), o jogo de luzes que ajudou na perfeição ao ambiente temático da ópera, até à prestação da Orquestra Sinfónica Portuguesa e ao seu maestro, foi tudo muito bom e no fim gritámos todos em ovação como acontece quando as óperas são boas e há um frisson na assistência.

Adoro esta ópera, conheço-a de cor e em casa estou habituada a cantar à medida que ouço música, de maneira que estava a fazer um esforço para acompanhar a melodia só com os ouvidos e a mente.

Para quem gosta de ópera, um espectáculo que quando é bom é insuperável, porque completo, já que inclui tantas artes diferentes, recomendo vivamente uma noite na ópera, no São Carlos, a ouvir o «Fausto» de Gounod.

(André Baleiro canta aqui bem, mas ontem cantou, ainda, muito melhor)

texto também publicado no delito de opinião

April 30, 2022

February 22, 2022

Morreu Gary Brooker

 


O vocalista dos Procol Harum. Há três dias já. Só hoje vi a notícia. Tinha um cancro...



A statement on Procol Harum’s website reads: 

“Gary exhibited and developed a highly individual talent. His first single with Procol Harum, 1967’s A Whiter Shade of Pale, is widely regarded as defining the ‘summer of love’, yet it could scarcely have been more different from the characteristic records of that era.
“Gary’s voice and piano were the single defining constant of Procol’s 50-year international concert career. Without any stage antics or other gimmicks he was invariably the most watchable musician in the show.”
The band continued to add: " Brooker’s charisma was by no means confined to the stage. He lit up any room he entered, and his kindness to a multilingual family of fans was legendary. He was notable for his individuality, integrity, and occasionally stubborn eccentricity. His mordant wit, and appetite for the ridiculous, made him a priceless raconteur."

Esta música... que nostalgia...

Música para ficar bem disposta 🙂



O espírito europeu na sua melhor e mais estrambólica mistura de carácteres e culturas.


February 17, 2022

A moment of healing peace before the unleash of chaos

 


Kate Middleton (esta mulher tem imensa classe) acompanha Tom Walker (voz e guitarra) na música “For Those Who Can’t Be Here”.


February 13, 2022

Música da tarde

 

Vivaldi pela manhã

 


Vivaldi: Sinfonia para Cordas e Continuo In B Minor, RV 169 1.Adagio




February 08, 2022

Aniversários - John Williams 🎉 90 anos

 



Oito décadas a fazer músicas inesquecíveis. Começou nos anos 50 e para além de música para o cinema ainda fez músicas para a TV, Jogos Olímpicos, concertos...

Entre outras, deu-nos:


- Valley of the Dolls
- Goodbye, Mr. Chips 
- Fiddler on the Roof 
- Tom Sawyer
- Jaws
- Star Wars
- Close Encounters of the Third Kind
- E.T. the Extra-Terrestrial
- Indiana Jones 
- Sabrina
- The Witches of Eastwick
- Empire of the Sun
- The Accidental Tourist
- Indiana Jones and the Last Crusade
- Born on the Fourth of July
- Jurassic Park
- Schindler's List (5º óscar)
- The Lost World: Jurassic Park
- Harry Potter
- War Horse

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Tema principal da Lista de Schindler na homenagem a John Williams no AFI Life Achievement Award 2016 (primeiro compositor homenageado).
Maestro: Gustavo Dudamel
Sinfonia da Juventude Americana
Solista: Simone Porter

January 27, 2022

🥳 Happy birthday dear Mozart II

 


Que delicadeza, que emoção apaixonada, um bocadinho nostálgica. Mozart escreveu este concerto com 29 anos, Horowitz toca-o mais de 200 anos depois, com 86 anos (3 anos antes de morrer) como se tivesse os 29 anos de Mozart ao escrevê-lo. A música não tem tempo nem lugar, nem idade, nem raça, nem género. Mozart viveu apenas 35 anos. Inacreditável.

“Let me play for you from the A Major Concerto. Listen to the slow movement. Is it not tragic? So poignant. But it’s eighteenth-century tragic. Mozart shows a tear coming through the gentle smile. This movement is played too slow by everyone. It’s marked adagio; some editions have andante. The form is siciliano, which is a dance. This movement is not a dirge. It has a slight lilt. I want to bring back this lilt. Ah, there is great emotion in these few notes.” - Evenings With Horowitz


January 22, 2022

Enigmas




Elisabeth Leonskaja, há 33 anos, no Japão, com 44 anos a tocar o 1º movimento do Concerto nº 5, mais conhecido pelo nome de Imperador, de Beethoven.

Fui ontem ouvi-la tocar este concerto, na Gulbenkian. A casa cheia, claro, porque este concerto deve ser o mais popular de Beethoven. Aliás o programa era todo com Beethoven, peças populares: primeiro este concerto, depois a Sinfonia nº 5. 
Nem sabia que a seguir ao Concerto ainda havia a Sinfonia. Fui lá para o Concerto. Apesar da orquestra ter tocado excelentemente a Sinfonia, confesso que a ouvi meio ao longe como se estivesse atrás de uma parede para onde só espreitava nas partes da peça que mais gosto, porque estava ocupada a repetir na minha mente o «filme» da Leonskaja a tocar o Imperador. A armazenar a imagem, o som do piano e emoção sentida para poder recriá-los mais tarde, sempre que precisar deles.

Elisabeth Leonskaja entra em palco, já sem muita agilidade no corpo e senta-se pesadamente ao piano. Não se está à espera do que vem a seguir. O concerto do Imperador começa com um Allegro grandioso. Assim que a orquestra começa a tocar, o piano irrompe e interrompe-a com impetuosidade. Lança-se num floreado, por vezes lírico, por vezes triunfal. É uma movimento tecnicamente difícil -sozinho tem quase seiscentos compassos- cheio de brilho e grandiosidade. 
Elisabeth Leonskaja, com os seus 77 anos, atira-se às teclas do piano a atacar a música com uma paixão, um vigor e uma alegria que por vezes, no auge das investidas nas teclas o corpo até se levanta do banco. Tira uma sonoridade poderosa do piano, numa exuberância alegre que enche todo o espaço da sala de ondas fluídas, ora densas ora suavíssimas de puro lirismo, com crescendos gloriosos. Ficamos pregados à cadeira a deixar a música fluir dentro de nós. Emocionante até às lágrimas. 

Ando a fazer uma formação sobre o argumento de Frankfurt no problema do determinismo/libertismo. É difícil, quando nos pomos no ponto de vista da ciência, argumentar contra o determinismo; porém ontem, enquanto a ouvia tocar esta peça pensava que não é possível ouvi-la e reduzi-la a átomos, moléculas, partículas e ondas quânticas. Como negar a presença de um espírito voluntarioso que ultrapassa as leis da física nesta mulher cujo corpo aparente nada tem que ver com aquela força extraordinária que irrompe dela, o turbilhão interior que ela exterioriza em sons quando toca? E que dizer de Beethoven que criou e viveu esta música dentro de si? Será que ele a sentiu e imaginou tocada assim?

O ser é um grande mistério e a arte é, talvez, o maior enigma do ser humano.


December 26, 2021