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November 02, 2023

Man’s Search for Meaning



“Those only are happy … who have their minds fixed on some object other than their own happiness; on the happiness of others, on the improvement of mankind, even on some art or pursuit, followed not as a means, but as itself an ideal end. Aiming thus at something else, they find happiness by the way.”

Viktor Frankl offers us a similar account of happiness in his 1946 book, Man’s Search for Meaning, saying that:

“It is a characteristic of the American culture that, again and again, one is commanded and ordered to ‘be happy’. But happiness cannot be pursued; it must ensue.”

Relationships are an inside job.

May 16, 2022

Que é isso de ser feliz?

 


Estava a ler na Philomag as conclusões de um inquérito que fizeram em França sobre a felicidade: "a satisfação geral com a vida é maior no final da adolescência e diminui continuamente até aos 50 anos de idade, altura em que aumenta lentamente até aos 65 anos de idade", quando as preocupações com as escolhas de vida, juntamente com as dificuldades de conciliar a vida profissional com a vida familiar, desaparecem. "Depois desta idade, a satisfação cai rapidamente" até ao fim da vida. A deterioração das capacidades físicas é um factor importante. Os meios financeiros também desempenham um papel, assim como a dimensão da habitação, a sua localização, o acesso a actividades de lazer e a riqueza das relações sociais."

Estes dados falam-nos das condições necessárias, mas não suficientes, para uma vida feliz. A felicidade é outra coisa diferente de estar satisfeito com as condições da sua vida. Determinar o que é a felicidade é muito difícil. Este ano tenho um aluno um bocado obcecado com a questão da felicidade ser impossível face à nossa condição de mortais. Outro dia perguntou-me, "como é que eu sei se sou feliz? Qual é o critério para se aferir da felicidade?" E depois acrescentou, "e de qualquer maneira, que interessa ter uma vida com momentos felizes se acaba tudo na morte?" Na verdade, tocou em dois pontos fundamentais da existência: o da felicidade, que não sabemos ao certo o que é e a do sentido da felicidade numa existência breve, mortal. 

Aos políticos exigimos o trabalho da justiça social para que possamos ter acesso às condições necessárias a uma vida feliz, mas isso não garante a felicidade, que é particular e subjectiva. A condição das condições de acesso necessárias a uma vida feliz é a liberdade. Talvez por isso na Ucrânia se batam até à morte pela liberdade.

também publicado no delito de opinião


January 18, 2021

Acerca da felicidade II

 


Algumas ideias acerca da felicidade:

1. O termo felicidade não é unívoco. Tem vários significados que diferem entre si: prazer e alegria. A alegria por sua vez pode ser, êxtase, euforia, contentamento, satisfação, bem-estar. Estes diferentes tipos de felicidade adequam-se aos diferentes tipos de objectos que o causam e, por isso, alguns tipos são superficiais e fugazes e outros duradouros e profundos. 

2. O prazer, por si só, sem estar associado à satisfação ou à alegria, em geral, é uma emoção fugaz, que dura enquanto praticamos a actividade que o causa. Depois, podemos ter a memória do prazer mas já não o sentimos. Por exemplo, num dia de muito calor sentimos prazer em dar um mergulho no mar, mas esse prazer é sentido enquanto fazemos essa coisa e depois lembramo-nos de que isso causa prazer (como estou a fazer agora) mas não o sentimos, é uma memória. Podíamos falar de outros prazeres como o sexual ou o da comida ou o de outro qualquer. De modo que encerrar a felicidade em momentos de prazer não oferece nenhum estado duradouro como convém ao 'ser-se feliz' e o resultado é o vício de andar à procura de uns prazeres em cima de outros.

3. A alegria é uma outra ordem de felicidade. Veja-se que toda a alegria tem associada o prazer mas o contrário não se verifica pois nem todo o prazer causa alegria. Por exemplo, se estou muito stressada e tenho bombons de chocolate em casa ponho-me a comer uns atrás dos outros o que me causa prazer mas nenhuma alegria e é um prazer de que me arrependo no próprio acto de os comer. Portanto, a alegria é mais abrangente e duradoura que o prazer.

4. O tipo de objectos que causam alegria também diferem em qualidade e duração: a alegria de ver a equipa ganhar um jogo é diferente da alegria do nascimento de um filho, por exemplo, ou de ouvir um concerto excelente que enriquece a nossa vida estética, mas qualquer um destes tem mais duração que o prazer por si só, como uma excitação momentânea dos sentidos. 

5. A alegria é tanto mais duradoura quanto mais significado nela encontramos. Por isso a alegria de um filho é mais duradoura que a alegria de um concerto excelente, embora a primeira venha com muito sofrimento associado e a segunda não. Assim como a alegria do amor, apesar de vir com sofrimento associado.

6. A felicidade, portanto, acredito, é um sub-produto, mas não no sentido de ser secundária como dizia o artigo do post anterior, pois todos os 'cálculos' de significado são também cálculos de felicidade. Por exemplo, Sócrates (o filósofo, não o outro) morreu pelas suas ideias quando podia ter fugido. No entanto, isso não significa quer fosse masoquista ou não ligasse à infelicidade. A questão é que, fugindo, esvaziava de sentido toda a sua vida, que foi uma vida a lutar pela Lei, pela Justiça e pela Verdade. Ora, a infelicidade que a injusta condenação lhe trouxe era, apesar de tudo, menor, que a infelicidade que adviria de trair toda uma vida, negando-lhe todo o sentido. Portanto, a questão da infelicidade também esteve presente na sua decisão acerca do sentido da sua vida. Uma pessoa faz sempre um cálculo de felicidade. Navalny foi preso assim que chegou hoje à Rússia, como já sabia que ia acontecer. Porque o fez? Provavelmente porque o sentido da sua vida está ligado à luta por uma Rússia democrática, de tal modo que a felicidade de não ser preso (não indo para lá) seria menor que a satisfação de saber que está a agir de acordo com o que defende e dá significado à sua vida.

Kant falava na moralidade como uma acção realizada pelo puro (no sentido de não-contaminado por emoções e interesses sensíveis) sentido do dever, mas penso que isso não existe. Quer dizer, quando se tem uma noção muito forte do dever e se age mesmo sabendo que a acção vai trazer consequências nefastas, isso também leva em conta que não agir nos deixa numa situação de contradição interna impossível de aguentar, portanto, também há um calculo de felicidade ou, pelo menos, de evitar infelicidade. Como dizia Sócrates no Górgias, 'é preferível sofrer uma injustiça que cometê-la', pois como viveríamos connosco próprios? Uma pessoa pode afastar-se dos que cometem injustiças, mas como nos afastamos de nós mesmos? 

7. Portanto, acredito que a felicidade é um sub-produto, mas no sentido em que não se atinge directamente -isso em geral é a procura de prazeres que não trazem felicidade- mas indirectamente. Procuramos o que tem sentido e significado e é isso que traz consigo a alegria mais duradoura que suplanta a infelicidade. Este cálculo, por assim dizer, tem que ser feito relativamente a cada situação e depende do tipo de pessoa que somos, quer dizer, o que é que a cada um de nós, tendo em conta o nosso modo de ser e funcionar, causa felicidade e, também, infelicidade insuportável. Isto requer ter consciência do problema, de nós próprios e saber pensar porque podemos enganar-nos nos cálculos, por assim dizer e tomar as decisões contrárias à nossa felicidade.

8. O que dá significado a uns e outros difere e daí que não possa haver uma fórmula única de felicidade. No entanto, podemos e, penso que devemos, diversificar as fontes de alegria, porque a capacidade de sentir alegria é uma atitude que se educa e se treina. Por exemplo, esta fotógrafa andou pela cidade a tirar fotografias em locais onde as pessoas passam todos os dias sem reparar na beleza que as rodeia. Esse olhar dela foi treinado. A escola, (para não falar nos pais, evidentemente) tem um papel importante na formação da capacidade de diversificar as fontes de alegria, para que a vida humana não seja pobre.  Reduzir a escola a aprendizagens essenciais revela uma grande pobreza de espírito e em vez de andar a endoutrinar as pessoas devia dar-se-lhes as ferramentas para que pudessem florescer e desenvolver o seu potencial enquanto seres humanos, como defende Aristóteles. É preciso treinar atitudes e olhares, pois para se reparar na beleza das coisas do quotidiano é necessário saber olhar e para se sentir satisfação com a leitura de um livro é necessária uma certa atitude.

9. Para se alcançar a felicidade é necessário manter uma atitude inocente, não cínica. A vida de toda a gente está cheia de sofrimentos e de dor. Desde muito novos que aprendemos a aguentar o sofrimento e a dor e se não houver inocência -que é um pouco diferente de ingenuidade, pois ingenuidade é acreditar por não ver e inocência é acreditar por confiar, no sentido originário do termo, fazer fé, ter esperança: nas pessoas, na vida. A tendência é ficar-se cínico com a idade, à medida que vão traindo a nossa confiança, mas isso é um impedimento à felicidade e o bem duradouro que advém de confiar, quando resulta em felicidade, é infinitamente superior à infelicidade daquilo que não resulta. 

Porque o que é certo na vida é a dor e a infelicidade e o que é muito incerto é a felicidade, de modo que não dar hipótese à felicidade, é nunca elevar-se acima do destino natural humano que é o do sofrimento. O que se aprende com a dor é a evitar, a desconfiar, a fugir e nada disso contribui para o florescimento do nosso potencial, enquanto o que se aprende com a felicidade (venha ela do amor, da arte, etc.) é que permite o florescimento e expansão da nossa personalidade porque abre universos onde descobrimos e desenvolvemos potencial que nem sabíamos que tínhamos. É assim como mudar de nível de realidade, dar um passo para fora da caverna (de Platão).

10. Finalmente, resta a questão de sabermos se a felicidade está ligada à virtude ética para toda a gente, como defendia Aristóteles, pois parece-me evidente que há pessoas, e não são poucas, que retiram alegria e satisfação de acções contrárias à virtude - acções que fazem o mal aos outros, mas esse parece-me um problema muito complexo para o qual não tenho resposta, pelo menos agora.












Helena Georgiou

July 03, 2020

"Happiness is a by-product" - Gretta B. Palmer



"...the seemingly inexorable rise of income inequality and the winner-take-all economy. One result has been consolidation of the art market around a small number of mega-galleries and a squeeze on the rest. And when the galleries are ailing, it’s the artists who are most affected.

Art is always about putting our habitual perceptions on hold and taking another look. 


If you really, really want to be in a gallery ... You have to forget about being in the studio and working uninterrupted. Half your life will probably be spent on the phone or on the computer, dealing with stuff that’s not immediately related to making your work.”

Vega understands that entering a relationship with a gallery is a calculated trade-off. Dealers sometimes push artists to produce more of what they’ve already been able to sell, rather than encouraging them to experiment freely.

Barry Schwabsky

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Este artigo é sobre as galerias de arte e os artistas que dependem delas para se darem a conhecer, no contexto actual que é o das galerias sofrerem do mesmo vírus que ataca a economia e que o autor tão bem sintetiza em, the winner-take-all. Os artistas dão por si a terem que ser showbiz ao ponto de comprometerem a sua visão às modas do momento de quem frequenta galerias e compra arte.
Já outro dia li um artigo acerca da música, cada vez mais ser produzida por IA, vir sem falhas. E o autor perguntava: mas porque haveremos de querer músicos que não erram, que não falham, porque haveremos de querer uma música sem inovação, toda mais ou menos igual? A arte inovadora é disruptiva, perturbadora, polémica, profunda e não agradável e prazerosa de modo a ir ao encontro dos prazeres fugazes.

Estes artistas e estas galerias de arte, sofrem de estarmos num tempo em que as pessoas sobrepõem o prazer a tudo e confundem-no com a felicidade, mas acontece que um não é o caminho para o outro e que a felicidade não é um produto de obtenção directa. Isto aplica-se à arte e à vida, em geral.

Outro dia li uma crítica de uns turistas holandeses que vieram a Portugal, acerca de um museu que visitaram. Diziam eles que não tinham gostado porque não era divertido e dinâmico, quer dizer, era um museu à antiga onde as obras estão expostas e não se passa nada para divertir. Ora, uma pintura, da mesma maneira que um livro ou outra obra artística, não existem sozinhas, independentes do observador. Elas mostram-se mas nós temos que fazer um caminho, que é o esforço de as perceber o mais independente de nós que for possível, pois a riqueza da arte está em vermos 'algo' com os olhos do outro, o artista. Isso não se faz se apenas procuramos prazer e divertimento de gratificação imediata.

Hoje em dia as pessoas queixam-se que os museus não são divertidos, não há prazer neles, porque vão à procura de prazer fácil, sem obstáculos e não de sentido ou de crescimento ou de partilha ou do sacrifício de termos que sair das nossas percepções e aceitarmos outras que até podem ser um espelho negativos de nós próprios -Self inquiry is not for the faint of heart. A questão é que, até esse espelho, sendo negativo, causa felicidade na medida em que aumenta a compreensão e o sentido de nós mesmos e, nessa medida, torna-nos mais livres, aumenta o sentimento de liberdade que tanto contribui para a felicidade enquanto bem-estar, tranquilidade interior e capacidade de apreciar o mundo, as coisas e os outros.

Também vejo isso nas pessoas. Conheço, cada vez mais, pessoas que procuram na vida relações de prazer fáceis. Costumo dizer que procuram pets. Querem alguém que seja um pet, que abane o rabo sempre que aparecem e que não ofereça dificuldades e obstáculos. Em contrapartida tomam muito bem conta do seu pet. Levam o pet à rua, dão-lhes ossinhos cheios de carninha agarrada, apanham os cócós, satisfazem-lhes as necessidades, etc. Também conheço pessoas que querem ser o pet de alguém que tome conta delas e dos seus desejos e prestam-se a abanar o rabo ao seu dono se ele cumprir estas condições. Estas relações são aquelas onde as pessoas procuram nos outros a satisfação dos seus desejos, necessidades e prazeres do momento fazendo cálculos de probabilidade à obtenção de felicidade directa. Nestas relações falta crescimento, totalidade e liberdade. Aquele sentimento extraordinário de estar completamente em casa com alguém, sem nenhuma reserva ou defesa. Totalidade. São relações infantis.

É como na arte: se somos crianças, para nos interessarmos pela arte, ela tem de ter algum aspecto de divertimento, mas se chegamos à idade adulta nessa superficialidade, nunca a apreciamos. O que não faz mal, pode viver-se uma vida na superficialidade e sem apreciar arte, mas eu não quereria abdicar duma fonte tão grande de sentido e de felicidade.

No mês passado conheci duas pessoas à procura de pet. Foi lisonjeador -é sempre lisonjeador- mas não estou à procura de dono nem fico bem impressionada por desesperados à procura de pet.