July 03, 2020

"Happiness is a by-product" - Gretta B. Palmer



"...the seemingly inexorable rise of income inequality and the winner-take-all economy. One result has been consolidation of the art market around a small number of mega-galleries and a squeeze on the rest. And when the galleries are ailing, it’s the artists who are most affected.

Art is always about putting our habitual perceptions on hold and taking another look. 


If you really, really want to be in a gallery ... You have to forget about being in the studio and working uninterrupted. Half your life will probably be spent on the phone or on the computer, dealing with stuff that’s not immediately related to making your work.”

Vega understands that entering a relationship with a gallery is a calculated trade-off. Dealers sometimes push artists to produce more of what they’ve already been able to sell, rather than encouraging them to experiment freely.

Barry Schwabsky

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Este artigo é sobre as galerias de arte e os artistas que dependem delas para se darem a conhecer, no contexto actual que é o das galerias sofrerem do mesmo vírus que ataca a economia e que o autor tão bem sintetiza em, the winner-take-all. Os artistas dão por si a terem que ser showbiz ao ponto de comprometerem a sua visão às modas do momento de quem frequenta galerias e compra arte.
Já outro dia li um artigo acerca da música, cada vez mais ser produzida por IA, vir sem falhas. E o autor perguntava: mas porque haveremos de querer músicos que não erram, que não falham, porque haveremos de querer uma música sem inovação, toda mais ou menos igual? A arte inovadora é disruptiva, perturbadora, polémica, profunda e não agradável e prazerosa de modo a ir ao encontro dos prazeres fugazes.

Estes artistas e estas galerias de arte, sofrem de estarmos num tempo em que as pessoas sobrepõem o prazer a tudo e confundem-no com a felicidade, mas acontece que um não é o caminho para o outro e que a felicidade não é um produto de obtenção directa. Isto aplica-se à arte e à vida, em geral.

Outro dia li uma crítica de uns turistas holandeses que vieram a Portugal, acerca de um museu que visitaram. Diziam eles que não tinham gostado porque não era divertido e dinâmico, quer dizer, era um museu à antiga onde as obras estão expostas e não se passa nada para divertir. Ora, uma pintura, da mesma maneira que um livro ou outra obra artística, não existem sozinhas, independentes do observador. Elas mostram-se mas nós temos que fazer um caminho, que é o esforço de as perceber o mais independente de nós que for possível, pois a riqueza da arte está em vermos 'algo' com os olhos do outro, o artista. Isso não se faz se apenas procuramos prazer e divertimento de gratificação imediata.

Hoje em dia as pessoas queixam-se que os museus não são divertidos, não há prazer neles, porque vão à procura de prazer fácil, sem obstáculos e não de sentido ou de crescimento ou de partilha ou do sacrifício de termos que sair das nossas percepções e aceitarmos outras que até podem ser um espelho negativos de nós próprios -Self inquiry is not for the faint of heart. A questão é que, até esse espelho, sendo negativo, causa felicidade na medida em que aumenta a compreensão e o sentido de nós mesmos e, nessa medida, torna-nos mais livres, aumenta o sentimento de liberdade que tanto contribui para a felicidade enquanto bem-estar, tranquilidade interior e capacidade de apreciar o mundo, as coisas e os outros.

Também vejo isso nas pessoas. Conheço, cada vez mais, pessoas que procuram na vida relações de prazer fáceis. Costumo dizer que procuram pets. Querem alguém que seja um pet, que abane o rabo sempre que aparecem e que não ofereça dificuldades e obstáculos. Em contrapartida tomam muito bem conta do seu pet. Levam o pet à rua, dão-lhes ossinhos cheios de carninha agarrada, apanham os cócós, satisfazem-lhes as necessidades, etc. Também conheço pessoas que querem ser o pet de alguém que tome conta delas e dos seus desejos e prestam-se a abanar o rabo ao seu dono se ele cumprir estas condições. Estas relações são aquelas onde as pessoas procuram nos outros a satisfação dos seus desejos, necessidades e prazeres do momento fazendo cálculos de probabilidade à obtenção de felicidade directa. Nestas relações falta crescimento, totalidade e liberdade. Aquele sentimento extraordinário de estar completamente em casa com alguém, sem nenhuma reserva ou defesa. Totalidade. São relações infantis.

É como na arte: se somos crianças, para nos interessarmos pela arte, ela tem de ter algum aspecto de divertimento, mas se chegamos à idade adulta nessa superficialidade, nunca a apreciamos. O que não faz mal, pode viver-se uma vida na superficialidade e sem apreciar arte, mas eu não quereria abdicar duma fonte tão grande de sentido e de felicidade.

No mês passado conheci duas pessoas à procura de pet. Foi lisonjeador -é sempre lisonjeador- mas não estou à procura de dono nem fico bem impressionada por desesperados à procura de pet.

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