O mundo Ocidental, nos últimos 200 anos, tinha-se habituado a procurar consensos através de entendimentos racionais, de onde a ética não estava ausente.
Mesmo que os países entrassem em guerra uns com os outros, as pessoas em geral sabiam os limites éticos das acções e, por isso, tentavam esconder os crimes e negavam-os publicamente: os nazis tentaram esconder o holocausto, Estaline negava as purgas ao seu próprio povo, os europeus tentavam esconder os crimes do colonialismo, etc.
O movimento de racionalização que talvez tenha suportado a ideologia do colonialismo, foi o mesmo que mais tarde a condenou. Contudo, o mundo ocidental actual, num desejo de se afastar dos processos racionais, que são os que nos aproximam uns dos outros, valorizou até ao limite a subjectividade das emoções e sentimentos. Hoje-em-dia, toda uma área de conhecimento pode ser abafada se uma pessoa se sentir ofendida nos seus sentimentos pessoais e íntimos.
Estávamos acostumados a educar, a recalcar e a redireccionar de modo socialmente aceitável os sentimentos e emoções de ódio, raiva, violência, vingança, etc. que todos temos de vez em quando como expressões de frustração (mas que controlamos e não usamos para agir), com o objectivo de encontrar consensos que permitissem a vida social, colectiva. Porém, esta educação actual para a validação exacerbada de emoções e sentimentos sem nenhuma revisão racional, leva a que as pessoas sintam que é legítimo e desejável expressar e desenvolver todos os seus sentimentos de fúria e ressentimentos, mesmo em modos que quebram a possibilidade de entendimentos sociais colectivos. Daí que tenham perdido o pudor de exibirem publicamente os seus sentimentos e desejos de morte e vingança.
É claro que, quanto mais valorizam os seus sentimentos e emoções individuais, menos os processam racionalmente e menos serão capazes de serem independentes de ideologias manipuladoras desses sentimentos e emoções. Para a validação de sentimentos e emoções, os factos são irrelevantes. Os factos e os princípios éticos, porque a pessoa sente o que sente, mesmo que os seus sentimentos sejam contrários a uma ética comum de convivência possível. Só que, dado que a democracia é um sistema político que valoriza a discussão, o exame racional das crenças, o debate das ideias e o consenso sobre plataformas comuns de suporte da vida colectiva, essa validação exacerbada de emoções e sentimentos mina a possibilidade de consensos.
Estes dois vídeos e a fotografia entre eles, são exemplos da sobreposição dos sentimentos individuais à ética comum. A ética comum é que possibilita que comunidades culturalmente díspares do planeta se sentem juntas na mesa das NU, à volta de uma carta de direitos fundamentais a respeitar. A ética comum é o que possibilita que uma maioria de países nesse Conselho, pressionem outro(s) a agir eticamente.
Quando as emoções subjectivas valem mais que os consensos racionais temos isto:
- no 1º documento, uma russa diz sem pudor que é preciso matar os ucranianos e endoutrinar os seus filhos para não crescerem a odiar os russos que mataram "milhões de ucranianos";
- no 2º documento, uma norueguesa apela publicamente, sem pudor, à matança das crianças judias e representa-as como lixo;
- no 3º, um motorista de uma carruagem de metro, em Londres, incentiva os passageiros a apelar à libertação da Palestina, não pensando que pode haver judeus a viajar na carruagem e que a sua iniciativa pode pô-los em perigo - ou pensou mas como as suas emoções individuais são medalhas que exibe ao peito como condecorações, age sob o seu poder, desprezando o interesse colectivo.
"Ukrainians to be killed and their children to be brought up "Russian,"- Russian propagandists discuss plans on Ukraine. "We need to finish what we started. I hope we will manage it!".
— Anton Gerashchenko (@Gerashchenko_en) October 21, 2023
What a "sweet" young blonde, isn't she? pic.twitter.com/HN7l8wnt6K
Esta fotografia é de uma manifestação pró-palestiniana em Varsóvia. O Visegrad24 identificou a jovem que aparece na fotografia com um cartaz a apelar à morte de crianças judas. É Marie Andersen, uma estudante de medicina norueguesa na Universidade de Medicina de Varsóvia.
This tube driver should not have led the “Free Palestine” chant over the tannoy. Jewish or not, London is increasingly becoming an unsafe environment for anyone who doesn’t hate Israel.
— Chris Rose (@ArchRose90) October 21, 2023
He needs to be suspended or sacked @TfL pic.twitter.com/pT0zAkuR1T