Hoje fui ver uma exposição. Não planeei, foi uma situação de oportunidade. Nem sequer sabia sobre o que era a exposição. Resolvi não saber, quer dizer, não ler o folheto da exposição nem os textos explicativos espalhados em painéis, pela sala. Queria ter uma experiência emocional directa.
A obra de arte, neste caso a pintura, sendo um pedaço de tela pintado tem um impacto difícil de explicar na medida em que é estático. É um objecto estático pendurado numa parede. É estranho.
Por exemplo, estas duas pinturas estavam lado a lado e de cada vez que passava o olhar da imagem 1. para a 2. tinha uma impressão emocional de verão seguida de desesperança e desolação intransponíveis. Aqueles riscos negros rasgados por linhas vermelhas sangue são um desespero num fundo de cinza desmaiada. Se fixamos o olhar na área cinza a pintura perde o tom angustiante. No fim fui ver o nome e autor da pintura. Chama-se, Praia Desolada e é de Roger Hilton.
1.
2.
3.
Depois, esta pintura em estilo Rothko causa um grande impacto, impressão que se perde completamente aqui na fotografia, desde logo porque não sentimos a textura. A pintura vai tendo uma textura mais rugosa à medida que 'sobe' nas cores. Senti nesta obra a paisagem da vida ou a vida enquanto desenrolar de uma paisagem interior. Na linha mais abaixo, de cor luminosa e lisa, a alegria descomplicada da infância, nas linhas vermelhas, a idade adulta, cheia de paixão e com uma rugosidade violenta, manchada e entrecortada com linhas negras, duras e salientes como cicatrizes persistentes; depois vem uma zona quase negra, ainda mais rugosa (aqui não se percebe) que me parece a perda da memória do significado de tudo o que foi. Um pessimismo.
Depois, pensei como seria ver a pintura ao contrário mas, como não quis pôr-me a fazer figuras tristes no museu, tirei a fotografia e virei-a no computador quando cheguei a casa. A impressão é completamente diferente. Agora parece-me uma cosmogonia humana positiva: um princípio caótico e indistinto que se vai clareando e perdendo o tom violento e a rugosidade. Uma paisagem humana optimista.
Esta pintura é de Harold Cohen e chama-se Alpha Lyrae
Adorei esta paisagem que é de Fred Kradolfer e não tem nome. Lá está, a obra perde o impacto na fotografia porque quando a olhamos temos uma impressão telúrica muito forte. Uma coisa magnética mesmo. Tem imensa força e vitalidade.