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August 29, 2022

A URSS e outros regimes distópicos (no meu imaginário)

 



Zdzisław Beksiński (sem título)

Zdzisław Beksiński ( 1929 - 2005) foi um pintor, fotógrafo e escultor polaco, especializado no campo do surrealismo distópico*.
Embora nunca tivesse dado explicações e recusasse interpretações do seu trabalho, Beksiński viveu na Polónia durante a Segunda Guerra e depois durante a ocupação soviética. 

[*Distopia, termo que representa a antítese da utopia enquanto organização social. É uma "utopia negativa", onde em vez de paz e felicidade, existe opressão e miséria psicológica. Designa um lugar/época imaginários em que se vive sob condições de extrema opressão e desespero. As distopias são totalitarismos ou autoritarismos, portanto, com controlo opressivo da sociedade, seja por anarquia, por condições económicas, populacionais ou ambientais degradadas ou levadas a um extremo. A tecnologia insere-se nesse contexto como ferramenta de controlo e opressão do outro.]

É interessante constatar que a Rússia, tendo milhões de habitantes e muitos cientistas, tudo o que inventou de importância foi antes da revolução soviética e em certos casos por russos a viver no Ocidente. As excepções são: o primeiro satélite em órbita (Sputnik) e a AK-47 (sem grande benefício para a humanidade...)
A opressão sob regimes totalitários é castradora. Na China, país com grandes invenções que mudaram o mundo, nenhuma é da era comunista, antes pelo contrário: apesar de muitas estratégias desde o início do regime comunista passando pelas políticas do 'Grande Salto Para A Frente', nada de significativo para a humanidade foi inventado. Não por acaso, pois importaram a cartilha da URSS. E em que consistia essa cartilha? Nisto: 
A adoção do modelo soviético significava que a organização da ciência chinesa se baseava em princípios burocráticos e não profissionais. Sob o modelo burocrático, a liderança nas mãos de não-cientistas, que atribuíram tarefas de pesquisa de acordo com um plano determinado centralmente. As principais recompensas foram aumentos salariais administrativamente controlados, bônus e prêmios. Cientistas individuais, vistos como trabalhadores qualificados e como funcionários de suas instituições, deveriam trabalhar como componentes de unidades coletivas. A informação era controlada, esperava-se que fluísse apenas através de canais autorizados e era frequentemente considerada proprietária ou secreta. As conquistas científicas eram consideradas como o resultado de fatores "externos", como a estrutura econômica e política geral da sociedade, o grande número de funcionários e níveis adequados de financiamento. (wiki)
OMG... lê-se isto e pensa-se, 'Espera lá... isto não é o modelo actual da escola, liderança  e corporações do Ocidente actual? Controlo total, burocracia, liderança de amigos com agenda política, etc? Este MO já deu mau resultado e vai continuar a dar maus resultado. Onde há distopia, há controlo opressivo, excesso de burocracia, liderança incompetente, ausência de autonomia, controlo do pensamento, gestão de recursos ao serviço de interesses particulares, etc., - nada se cria, nada se constrói, tudo se destrói.

September 12, 2021

Democracia versus totalitarismos

 


Democracies don’t try to make everyone believe the same thing. Reading texts isn’t the same as agreeing with them. "A liberal-democratic society absolutely requires that its citizens experience a liberal education, one that teaches students, scholars, readers, and voters to keep looking at books, history, society, and politics from different points of view." 

     — Anne Applebaum

May 05, 2020

Rússia saudosista de Putin



Não é à toa que Putin foi do KGB.


O mistério dos médicos russos que caíram de janelas

Segundo escreve a CNN, os casos estão a gerar burburinho nas redes sociais, porque os médicos lamentaram-se em público da falta de material de proteção nos hospitais públicos do país. A coincidência está a gerar especulação entre os russos, que não descartam as três hipóteses possíveis: acidentes, suicídios ou crime?

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Russia Misses Lenin and Stalin During COVID-19

WHAT WOULD LENIN DO?

Soviet ideology, which has been making a comeback for years under Vladimir Putin, is now being touted as the answer to a pandemic.


“If you want to end the current crisis and defeat coronavirus,” he proclaimed, “learn from Lenin’s advice—and everything will be alright.” Lenin knew how to mobilize Russians; he knew the power of the state; he won a civil war; and he defeated the scourges of infectious diseases that swept through the country, from plague to typhoid, to smallpox. There are lessons in that history, Zyuganov said.

So Soviet ideology, which has been making a comeback for years under Vladimir Putin, is now being touted as the answer to a pandemic. Soviet sympathizers argue that the totalitarian approach could now be useful in beating COVID-2019. But to make that case requires a very selective reading of the past.


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Esta reverência religiosa que os comunistas têm por um ditador totalitário, um assassino sem escrúpulos, fez-me lembrar as memórias de Bertrand Russell de quando conheceu Lenine. 
Bertrand Russell, como muitos europeus à data, alimentou esperança no ideal socialista marxista dos bolcheviques como resposta e solução de problemas de desigualdade e exploração das sociedades ocidentais. Isso foi antes de ir à Rússia e conhecer Lenine (Bertrand Russell Remembers His Face-to-Face Encounter with Vladimir Ilyich Lenin). 

Sendo um filósofo digno desse nome, logo, uma pessoa inteligente, perspicaz, observadora e com capacidade de objectividade intelectual, percebeu rapidamente quem era Lenine e o que era a sua ideologia.

Ficou estupefacto com a rigidez dogmática doutrinária do comunismo, o zelo com que citavam constantemente Marx como se fosse a palavra da Bíblia Sagrada e, acima de tudo, a crueldade tirânica que estavam dispostos a usar com o povo.

Em 1920 visitou Petrogrado (S. Petersburgo) e Moscovo com uma delegação do partido Trabalhista:

"Fui à Rússia como um comunista mas o contacto com aqueles que não têm nenhumas dúvidas intensificou mil vezes as minhas dúvidas, não como comunista, mas relativamente à sabedoria de acreditar tão fortemente num credo que se está disposto, em seu nome, a infligir a miséria generalizada."

Mais tarde, ainda diria: "Crueldade, pobreza, suspeição, perseguição, constituem o próprio ar que respiramos. As nossas conversas eram constantemente espiadas. No meio da noite ouvíamos tiros e sabíamos que idealistas estavam a ser mortos nas prisões. Havia uma hipócrita pretensão de igualdade e todos eram chamados de 'tovarisch' [camaradas], mas era espantoso o modo diferenciado como este termo era pronunciado, conforme a pessoa a quem era dirigido se tratava de Lenine ou um criado perguiçoso."

Russell teve um encontro de uma hora com Lenine no gabinete dele no Kremlin. Numa entrevista de  John Chandos em 1961, Russell relata os dois traços que, segundo ele, definiam Lenine: a sua rígida ortodoxia e a sua veia de crueldade impiedosa, como mais tarde diria.

Na altura da entrevista, a sua antipatia e ambivalência pelo comunismo soviético e o que em seu nome se fazia na URSS intensificou-se, até que em 1956 escreveu a obra, 'Porque não sou comunista'. (tradução minha)

[emprestei esse livrinho há uns anos a um aluno, que mo pediu para ler e nunca mais o devolveu...]

Em 1920, Bertrand Russell percebeu, em uma hora, quem era o homem, mas passados 100 anos, ainda há quem não tenha percebido e o cite como modelo de resposta social. E isto é ainda mais chocante do que o carácter imoral do indivíduo.

Ando agora a abordar, com as turmas do 10º ano, o problema da ética que inclui a moral. Lenine e as suas acções, são imorais e contrárias a todas as éticas, sejam as intencionalistas, como a de Kant, sejam as consequencialistas, como a de Stuart Mill ou até outras, como as aristotélicas, as estóicas, as epicuristas, etc., que não estudamos.

Não há uma única ética no âmbito da qual ele possa ser considerado, mesmo que tenuamente, como um ser moral. Como é possível que se continue a querer para a política, cuja acção, sem ética, não passa de mercância, de negócio (como vemos bem em alguns líderes actuais) uma imitação de um indidívuo cuja principal característica era justamente a ausência de qualquer princípio ético ou moral?

Na minha modesta maneira de ver, defender a pessoa e as práticas de Lenine e defender o nazismo não são coisas muito distintas a não ser na taxonomia que põe uns para a direita e o outro para a esquerda.