Ele pensa que o poema quer dizer, "o nosso amor foi fixe mas acabou e estou melhor sozinho."
Ele pensa que o poema quer dizer, "o nosso amor foi fixe mas acabou e estou melhor sozinho."
Torga morreu neste dia em 1995. Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
--- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
Miguel Torga***O pseudónimo Miguel Torga - segundo Pilar Vásquez Cuesta (cf. Revista de Ocidente, agosto de 1968), esta invenção pseudonímica simboliza, pela analogia com a urze, a obrigação de constância, firmeza e beleza que o artista deve manter, por mais adversas que sejam as estruturas pessoais e históricas em que se move, ao mesmo tempo que "a escolha do nome Miguel responde ao propósito de acrescentar um novo elo lusitano a toda uma cadeia espanhola (Miguel de Molinos, Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno) de pensamento combativo e rebelde" - como Lamentação (1934), O Outro Livro de Job (1936), Libertação (1944), Odes (1946), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Penas do Purgatório (1954), Orfeu Rebelde (1958), Câmara Ardente (1962) ou Poemas Ibéricos (1965), firmam uma poesia que é "fundamentalmente a busca da fidelidade no Terrestre, a busca da aliança sem mácula do homem com o Terrestre; a busca da inteireza do homem no Terrestre" (ANDERSEN, Sophia de Mello Breyner, cit. in Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, n.º 10, dedicado a Miguel Torga, maio de 1988, p. 72).
Ancorada no húmus natal, essa poesia dá também conta de uma "ambição de absoluto" que, para Torga, deve "permanecer como simples acicate, pura aspiração, porque o homem tem de realizar-se no relativo, a sua felicidade possível está no relativo, logo na contradição, na luta, numa esperança desesperada", não renegando "essa condição dramática de homem, besta e espírito, egoísmo e entrega generosa" (COELHO, Jacinto do Prado, cit. ibi., p. 72). Na prosa, obras como Bichos, Contos da Montanha e Novos Contos da Montanha marcaram, até aos nossos dias, sucessivas gerações de leitores que aí se deslumbraram com uma fusão entre o homem, o mundo animal e o mundo natural, vazada numa prosa "a um tempo sortílega e enxuta, despegada do efémero, agarrada ao concreto" (cf. MOURÃO-FERREIRA, David - "Miguel Torga e a Respiração do Mundo. (Luiz Carlos via A Torre do Tombo e a história)
Poeta fala poeta:
David Mourão-Ferreira (Saudação a Miguel Torga)
A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.
Adotou o pseudónimo Miguel Torga, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica, Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno, e ainda à torga, planta brava da montanha com fortes raízes.
A sua extensa obra aborda, entre outros temas, o drama da criação poética, o desespero humanista, o sentimento telúrico, a problemática religiosa, o iberismo e o universal.
Defensor da liberdade e da justiça, teve obras censuradas, foi vítima de perseguição política e esteve preso, apesar de nunca ter aderido a qualquer partido político. noticiasdonordeste.pt
Publicou um total de 40 volumes: romances, contos, peças de teatro, poesia e diários. A obra de Miguel Torga exala o cheiro da terra, revela um amor dominante pelas coisas concretas e retrata o povo simples do norte de Portugal, cujos mistérios e mitos ganham entrada na obra lírica e narrativa do autor. O estilo deliberadamente arcaico da Torga possui a vividez e originalidade da língua dos agricultores do norte de Portugal. Na sua concisão, a sua prosa espelha a robustez da sua pátria rural. mertinwitt-litag.de