Miguel Torga, estudante da Universidade de Coimbra, 1928. Concluiu o curso em 1933.
Em Coimbra começou também a sua outra vida, de escritor.
Trás-os-montes
"Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição. Terra Quente e Terra Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. Nos intervalos, apertados entre os lapedos, rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta aridez.
Homens de uma só peça, inteiriços, altos e espadaúdos, que olham de frente e têm no rosto as mesmas rugas do chão. Bata-se a uma porta, rica ou pobre, e sempre a mesma voz confiada nos responde: Entre quem é! (...) Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura, aos vinte anos (se não tiver sido antes), depois da militança, alguns emigram para as Arábias de além-mar. Brasis, Áfricas e Oceânias. (...) Os que ficam, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia. E ali ficam nuns cemitérios de lívida desilusão, à espera que a lei da terra os transforme em ciprestes e granito."
Excerto do livro: Portugal
Bom, eu conheci alguns transmontanos que não prestavam para nada, como pessoas. Mas, se calhar, fui eu que tive azar...
ReplyDeleteAcho que sim, Manuela. Pessoas que prestam e não prestam há em todo o lado, não?
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