A Encarregada de Negócios da Embaixada da China em Portugal escreve hoje um artigo no DN intitulado, "Factos e Verdades...", sobre a ida de Pelosi a Taiwan, mas não sabe distinguir factos e verdades objectivas de gostos subjectivos. Defende que a democracia é um valor de toda a humanidade e que cada povo é que julga se o seu regime é uma democracia. Não. Uma democracia é um regime com uma definição acordada e objectiva. O facto de um povo gostar de uma ditadura e estar satisfeito com ela, não a transforma num regime democrático. Aliás, numa ditadura, nunca podemos saber se o povo está satisfeito com ela ou se o afirma com medo do ditador uma vez que a verdade é unipessoal, ditada pelo ditador.
É verdade que foi declarado em Potsdam que Taiwan seria devolvido à China, mas Taiwan não é da China da mesma maneira que o Porto é português, digamos assim. A ilha, que existe e está povoada há milénios, era uma colónia holandesa no século XVII e os chineses Han emigraram para lá. Na guerra civil entre os Han e os Qing, estes anexaram a ilha, em 1683 e depois cederam-na ao Império do Japão em 1895. A República da China, que na guerra civil, em 1911 (uma série de conflitos entre forças chinesas nacionalistas e as comunistas que começa em 1911 e só acaba na Segunda Guerra) derrubou os Qing, recuperou o controlo da ilha, em nome dos Aliados, depois da rendição do Japão. No ressurgir da guerra civil entre nacionalistas e comunistas, os comunistas ganharam e os nacionalistas da República da China recuaram para Taiwan e algumas ilhas que estavam sob o seu controlo e aí estabeleceram uma democracia que era o que queriam para a China, em vez do comunismo de terror e horror do sádico psicopata e hipócrita, Mao.
Portanto, sim, Taiwan não é a Ucrânia, mas Taiwan não é da China como os Açores são portugueses e não tem lá população estrangeira a ocupar, qual cavalo de Tróia, para capturar território, como os russos fazem na Ucrânia. Tem uma população que numa guerra civil perdeu e se juntou naquele território que era seu. Não foi roubado a ninguém. Só em 1971 as Nações Unidas reconheceram a China comunista e, só então, a República da China deixou de representar toda a China, mas daí não se segue que tenham que ser anexados pelos comunistas. Os comunistas têm feito pressão aos países do mundo para que voltem as costas a Taiwan para poderem ir lá anexá-los.
De maneira que Pelosi vai a Taiwan -e bem, a meu ver- para dar um recado a todos os Putin's do mundo: não pensem que a Rússia é uma porta aberta para que agora qualquer um sendo poderoso vá anexar o que quer e cobiça. Estão do lado das democracias, sim. E é um alívio para todos nós pequenos países que os EUA tenham um presidente que acredita na defesa da democracia.
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Falsidade III: "A visita de Nancy Pelosi à região de Taiwan da China representa o apoio à democracia de Taiwan e defende os valores democráticos".
Realidade: O que Nancy Pelosi fez foi infringir a soberania chinesa, desestabilizar o Estreito de Taiwan e refrear o desenvolvimento na China com o pretexto de "democracia". É simplesmente uma manipulação política, que mais uma vez expôs a cara feia dos EUA como uma democracia falsa numa verdadeira hegemonia. A democracia é um valor comum de toda a humanidade. É um direito dos povos de todos os países, em vez de ser os interesses exclusivos e egoístas de apenas determinados países.
Se um país é ou não democrático, isso deve ser julgado pelo povo do próprio país e não por uma minoria de estrangeiros. Nancy Pelosi, que se considera uma defensora da "liberdade, democracia e direitos humanos", julga a democracia dos outros países de acordo com os seus gostos pessoais, e promove a chamada narrativa "democracia contra o autoritarismo" na comunidade internacional. Isso, de facto, é para utilizar a ideologia e os valores como um instrumento para conquistar os próprios interesses assentes no partidarismo e geopolítica, com a teima da mentalidade da Guerra Fria.
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Falsidade V: Taiwan vai ser a próxima Ucrânia.
Realidade: Taiwan não é a Ucrânia, a natureza da questão de Taiwan é completamente diferente da questão da Ucrânia. As duas questões não se comparam. Taiwan é uma parte inalienável do território chinês, e difere em absoluto da situação da Ucrânia, que é um Estado soberano.
Chen Xiaoling- Encarregada de Negócios a.i - Embaixada da China em Portugal in Factos e Verdades... - DN