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December 15, 2019

O impacto da arte




Hoje fui ver uma exposição. Não planeei, foi uma situação de oportunidade. Nem sequer sabia sobre o que era a exposição. Resolvi não saber, quer dizer, não ler o folheto da exposição nem os textos explicativos espalhados em painéis, pela sala. Queria ter uma experiência emocional directa.
A obra de arte, neste caso a pintura, sendo um pedaço de tela pintado tem um impacto difícil de explicar na medida em que é estático. É um objecto estático pendurado numa parede. É estranho.
Por exemplo, estas duas pinturas estavam lado a lado e de cada vez que passava o olhar da imagem 1. para a 2. tinha uma impressão emocional de verão seguida de desesperança e desolação intransponíveis. Aqueles riscos negros rasgados por linhas vermelhas sangue são um desespero num fundo de cinza desmaiada. Se fixamos o olhar na área cinza a pintura perde o tom angustiante. No fim fui ver o nome e autor da pintura. Chama-se, Praia Desolada e é de Roger Hilton.

1.





























2.


3.

Depois, esta pintura em estilo Rothko causa um grande impacto, impressão que se perde completamente aqui na fotografia, desde logo porque não sentimos a textura. A pintura vai tendo uma textura mais rugosa à medida que 'sobe' nas cores. Senti nesta obra a paisagem da vida ou a vida enquanto desenrolar de uma paisagem interior. Na linha mais abaixo, de cor luminosa e lisa, a alegria descomplicada da infância, nas linhas vermelhas, a idade adulta, cheia de paixão e com uma rugosidade violenta, manchada e entrecortada com linhas negras, duras e salientes como cicatrizes persistentes; depois vem uma zona quase negra, ainda mais rugosa (aqui não se percebe) que me parece a perda da memória do significado de tudo o que foi. Um pessimismo.


Depois, pensei como seria ver a pintura ao contrário mas, como não quis pôr-me a fazer figuras tristes no museu, tirei a fotografia e virei-a no computador quando cheguei a casa. A impressão é completamente diferente. Agora parece-me uma cosmogonia humana positiva: um princípio caótico e indistinto que se vai clareando e perdendo o tom violento e a rugosidade. Uma paisagem humana optimista.

Esta pintura é de Harold Cohen e chama-se Alpha Lyrae


Adorei esta paisagem que é de Fred Kradolfer e não tem nome. Lá está, a obra perde o impacto na fotografia porque quando a olhamos temos uma impressão telúrica muito forte. Uma coisa magnética mesmo. Tem imensa força e vitalidade.




December 09, 2019

A pintura de Yellena James é como estar sob o efeito de drogas




Está ao mesmo nível que alguns músicas para nos deixar bem dispostas e optimistas.
🙂











Yellena James

November 29, 2019

O que gosto nesta pintura?




A luz. Os contornos. A pressão dos contornos. Não é um corpo real, quer dizer, excepto o cabelo na cabeça é um corpo sem pelos. E sem poros. Uma espécie de golfinho. É estranho. Mas é isso que atrai o olhar. Parece mais a memória de um corpo que o próprio corpo.


Angela Reilly

November 23, 2019

Melancolia




O que gosto neste auto-retrato de Lucas Cranach, o Velho? Não é o primeiro auto-retrato da História -esse é de Dürer- mas é um dos primeiros e é notável. Cranach pintou-se humano. Não em uma pose de retrato ou de lisonja mas numa circunstância emocional humana. Conseguimos ver e sentir o seu estado de espírito pensativo e preocupado. Conseguimos sentir a sua vulnerabilidade como pessoa. No fundo escuro, o que sobressai é a luz que emana do seu rosto.






Cranach assinava muitas obras com esse símbolo dramático que se vê em baixo, elaborado com uma serpente e um anel, que veio depois a fazer parte do Brasão da família e ninguém sabe, ao certo, o que significa mas, tenho a certeza que faz inveja a qualquer fã da saga, Game of Thrones :)










Cranach, um renascentista alemão, foi, durante muito tempo, o pintor oficial da corte da Saxónia e ditou-lhe o gosto estético.

Durante muitos anos teve uma obsessão por pintar mulheres com cabeças de homem cortadas... Em geral os pintores têm mais obsessão por pintar mulheres nuas... ele também tinha mas, durante uma década fartou-se de pintar mulheres jovens a pegar em cabeças de homem cortadas... qualquer coisa do Eros e Thanatos...


Melancolia é uma obra dele cheia de significado. Nela Cranach pintou a condição humana como de desesperança. Vemos, à direita, um anjo com ar melancólico a observar três crianças que brincam com uma bola, alheios aos dramas do mundo para além da janela. Atrás vê-se uma paisagem com florestas e castelos onde exércitos se guerreiam. No chão, cavaleiros e cavalos mortos. Indiferentes aos infortúnios humanos, os deuses, nas nuvens, divertem-se em caçadas.
Faz pensar que nada muda sob o sol. Mata-se de maneira diferente e agora os deuses têm copos de whisky nas mãos. Heraclito já o sabia, Lucas Cranach, o Velho, sabia-o e acho que todos o sabemos.
Spinoza, que era um determinista diferente, penso que defendia que não temos o livre arbítrio mas que talvez o pudéssemos vir a ter... quer dizer, libertarmo-nos dos determinismos da matéria. Um determinista optimista? Enfim, quando olhamos para esta tela percebemos muito bem a melancolia.


Melancholy (1532, Lucas Cranach, the Elder: Oil on panel. 51 x 97 cm. Copenhaguen, Statens Museum for Kunst)