January 16, 2024
Desafios
Aquele meu amigo que esteve na origem de reler Guerra e Paz de Tolstói, em voz alta, e postar essa leitura aqui no blog anda a aliciar-me para ler outro livro, um clássico que (ele) não tenha lido e já me disse que preferia o, Em Busca do Tempo Perdido. Hesito. Em primeiro lugar, já li esses livros -há 40 anos, é certo- e preferia ler uma obra que ainda não tivesse lido. Em segundo lugar, porque a obra é o dobro, em extensão, de Guerra e Paz. Levaria quase dois anos ano a lê-la assim às 6 páginas por dia. A obra tem cerca de 4,300 páginas. Em terceiro lugar, porque tenho esta paresia da corda vocal e devo poupar a voz ou pelo menos não cansá-la - se bem que ler 15 ou 20 minutos por dia não fizesse mossa, acho eu. No entanto, sei que, se começar essa tarefa depois figo obcecada em não falhar um único dia e não me apetece ficar presa a uma tarefa dessas durante dois anos. Logo, hesito.
Lembrei-me disto porque agora mesmo fui dar com um artigo que lamenta vivermos numa sociedade em que não há tempo para ler, Em Busca do Tempo Perdido,
Just as everything about market society seems designed to get in the way of reading Proust, reading Proust gets in the way of participating in market society. As long as you buy it, Proust’s novel remains a commodity, but as long as you are reading it on paper — and reading yourself in the meantime — you are not generating further material profit. Indeed, while you are reading Proust you and your time are quite literally operating at a loss. In the grand scheme of things, regaining your time from the market may amount to a negligible act of resistance to it, but one could find a worse benchmark for what constitutes a free society. A free society will be one in which everyone, if they so choose, has the time to read In Search of Lost Time. ~Ryan Ruby in Reading and Time
November 28, 2023
March 07, 2023
Um vislumbre da superficialidade, sicofantsmo e falta de ética do mundo dos grandes homens de negócios
Elon Musk’s Texts Shatter the Myth of the Tech Genius
The world’s richest man has some embarrassing friends.
By Charlie Warzel
February 23, 2023
Leituras pela manhã - Não deite fora os seus livros em papel
Guarde os seus livros físicos
Temos de proteger a história cultural
Ben Sixsmith
Há uns anos enviei a minha colecção de livros de Inglaterra para a Polónia. Parte foi sentimentalismo, mas também tinha um instinto conservacionista. Os livros não são como outros objectos. Se um livro se perde, um texto pode perder-se.
Ok, não preciso de uma cópia de The Great Gatsby. Se eu tivesse um desejo repentino de ler o livro, poderia encomendar outro - ou encontrar um online. Mas e a autobiografia de Fred Trueman? E que tal uma defesa da astrologia? E que tal um livro de medicina dos anos 30? Nem sempre é possível encontrar outros exemplares de livros, em formato físico ou electrónico. Essa autobiografia de Fred Trueman tinha sido herdada de um velho tio-avô que tinha vivido numa casa grande que cheirava a fumo de cachimbo.
Eu uso um Kindle. Afinal de contas, pode ser difícil ter acesso a livros em inglês a curto prazo na Polónia. Se alguém me pedir para rever um livro de 500 páginas ou o novo thriller de Hillary Clinton, não lhes vou pedir que esperem algumas semanas até que os livros cheguem.
Mas não podemos fingir que possuir um livro físico e "possuir" um livro electrónico significa a mesma coisa. Se descarregar o livro para o computador ou para um USB, já se está a aproximar mas se tiver os seus livros electrónicos na sua conta da Amazon e a empresa sair do negócio, eles desapareceram. A Amazon não tem sequer de desaparecer - podem simplesmente fechar a sua conta. A sua posse do texto dura de acordo com os caprichos de um proprietário que o pode vender ou expulsar.
Ontem, o Telegraph mostrou como novas edições de livros infantis clássicos, de Roald Dahl, estão a ser publicadas após alterações substanciais feitas de acordo com os desejos de uma classe mórbida e absurda de pessoas conhecidas como 'leitores sensíveis'. O Telegraph relata:
A linguagem relacionada com o peso, a saúde mental, a violência, o género e a raça foi cortada e reescrita. Lembra-se dos 'Homens-Nuvem' em James and the Giant Peach? Eles são agora o 'Povo das Nuvens'. As 'Raposas Pequenas' em Fantastic Mr Fox são agora do sexo feminino. Em Matilda, uma menção de Rudyard Kipling foi cortada e substituída por Jane Austen. É Roald Dahl, sim, mas diferente.
Ninguém nega que Dahl era um escritor muito cru e até sádico, mas parte da diversão de o ler, quando criança, é entrar no lado escuro e começar a compreender as sombras que se vislumbram em todo o mundo. Estes vândalos artísticos de pequenas dimensões, estão a aplanar aquelas peculiaridades interessantes da literatura, por causa do medo paralisante de que alguém, algures, o possa ler e ficar ofendido.
Se Roald Dahl nem sequer pode dizer que a Sra. Trunchbull tem uma cara de cavalo - porque ninguém tem feições de facto, de cavalo, ou porque estamos proibidos de as notar - o que mais se pode mudar? Se livros como Matilda e filmes como E Tudo o Vento Levou estão a ser cortados aos pedaços, o que poderia acontecer a outros menos famosos e mais provocadores? Raios, vejam como os editores de Dahl decidiram que autores tão ilustres como Joseph Conrad e Rudyard Kipling - referidos em Matilda mas agora substituídos por Jane Austen e John Steinbeck - são demasiado perigosos para serem sequer mencionados em frente de crianças. O Coração das Trevas? Kim? Meu Deus, alguém pense nas crianças!
Precisamos de manter os livros físicos. Diabos, devemos até guardar os nossos DVDs. Quase me arrependo de me ter livrado dos meus VHSs - embora, sabe Deus que não teria maneira de os ver. Tal como queremos possuir terras que ninguém pode destruir, devemos querer possuir terras culturais com as quais ninguém se pode intrometer.
Talvez seja cómico lutar ferozmente para que as crianças ainda tenham a oportunidade de ler sobre a cara de cavalo da Sra. Trunchbull, mas se não tomarmos uma posição, onde é que isto vai acabar?
October 01, 2022
O sub-continente indiano
Ando aqui à procura de um livro que me dê uma visão cronológica em CinemaScope, por assim dizer, da história da Índia
July 03, 2022
June 30, 2022
" Ler é sonhar pela mão de outrem". F. Pessoa
November 18, 2021
June 21, 2021
Como ler jornais e notícias em geral?
Entre não ler jornais e outros meios de comunicação social para não se afectar em termos mentais e psicológicos e ler tudo sem distanciamento ficando afectado, há um meio termo. Entre não se perder na 'espuma dos dias' e não se alienar da realidade quotidiana tornando-se cúmplice por abstenção dos destinos da 'polis', há um meio termo.
1º - ler muito, desde cedo, desde uma idade precoce. Ler bons autores. Ler estende a experiência de vida, a vida mental, a inteligência e o espírito crítico.
2º - Pôr-se num estado de espírito crítico-racional de boa disposição, antes de ler as notícias, para não ficar mentalmente assoberbado com os desastres quotidianos, sobretudo agora que todo o local é global.
3º - Ler com prudência. Escolher o que não ler - notícias de exploração sentimental: quem matou quem, etc. - a não ser que tenham relevância política.
4º - ler de fontes diversificadas.
August 02, 2020
"pitching above your head"
June 18, 2020
O que acontece no cérebro quando lemos? Uma perspectiva interessante
WHAT HAPPENS TO OUR BRAINS WHEN WE READ?
Giovanna CentenoO cérebro humano é a coisa mais estranha e fascinante deste mundo. O mero facto de a nossa espécie ter evoluído e sobrevivido até agora, contra a natureza e contra os outros, é absurdo. É ainda mais estranho quando percebemos que muitas coisas que afirmamos diferenciarem-nos das outras espécies animais são, em vários sentidos, não-naturais, como o ler.
Durante séculos a leitura e a escrita foram apontadas como características da nossa superioridade. Mas, até que ponto lemos bem? A resposta está nos traços evolutivos do nosso cérebro.
Segundo Maryanne Wolf (Proust and the Squid), o cérebro não foi feito para ler. Nós é que o forçámos durante a evolução da linguagem e da comunicação por sinais, mas esse traço não foi adquirido como um traço evolutivo, como a capacidade de falar e aprender a língua nativa. Em vez disso, temos que ensinar cada geração a conectar, de novo, as sinapses próprias e o cérebro tem que dar grandes voltas até ser capaz de compreender perfeitamente as palavras numa página. Os estudos de Wolf mostram, até, que aquilo que chamamos, 'dificuldades de leitura' são a norma; o facto de podermos ler e aprender a ler de acordo com a idade, essa é a real mutação.
Ler é um processo cognitivo não natural. Tem que ser ensinado activamente e de modo diferenciado da linguagem. A linguagem é um processo natural para a maior parte dos humanos, mas a leitura não vem naturalmente para a maioria das pessoas e é profundamente influenciada pela condição social e respectivas capacidades de leitura.
As crianças têm um cérebro muito mais flexível que os adultos e podem fazer ligações neuronais mais rapidamente, assim como usam uma parte mais significativa dos cérebros, quando lêem. Há várias barreiras de proficiência que vão além de descodificar símbolos. O pensamento crítico e a compreensão do significado por detrás de uma palavra ou texto são frequentemente negligenciados nas crianças que aprendem a ler, especialmente se não têm dificuldade em descodificar os caracteres alfabéticos e fonéticos.
Segundo Wolf, muitas crianças desenvolvem, nessa altura, dificuldades de leitura que não as deixam ser leitores proficientes mais tarde. Não conseguem compreender os sentidos ocultos da linguagem, as alegorias ou, até, submergirem-se completamente na trama de uma narrativa mas, como são vistas como capazes no acto de ler, pois que descodificam os signos, não são levadas a desenvolver o seu 'cérebro leitor' mais longe - ficam com uma barreira entre o acto físico e o acto psicológico da leitura.
Se não somos influenciados pelos primeiros cuidadores ou professores a ir mais além nas capacidades de leitura, enquanto crianças, podemos ficar bloqueados. Ler, como muitas coisas na vida, desnvolve-se através do hábito. Se o leitor é uma amante da leitura ou se considera um leitor voraz, o mais certo é ter tido alguém que o ensinou, enquanto novo, a apreciá-la - alguém que lhe ensinou os muitos mundos que se escondem atrás das palavras.
Em, Reader Come Home, Wolf escreve em forma de cartas para os futuros leitores, cientistas e escritores, à maneira de Italo Calvino em Seis Propostas para o Próximo Milénio. Explora os desafios que os futuros leitores poderão encontrar devido ao volume de informação disponível no mundo digital. Especula acerca do futuro evolutivo no que respeita ao pensamento crítico e imaginação, sendo a concentração (ou a falta dela), o primeiro passo.
Se muitos mais governos e sistemas escolares se focassem em combinar a base científica à leitura e o pensamento filosófico ao seu ensino, teríamos uma sociedade com uma compreensão muito melhor da curva de aprendizagem de cada indivíduo.
(excertos - tradução minha)