"...
O que, na minha opinião, deve haver é uma espécie de pacto médico-pastoral, como na Alemanha. (...) Há psiquiatras que me mandam doentes que eles ajudam mas que têm também problemas do foro religioso, e ajudamo-nos mutuamente." Nem percebo o sentido desta frase... que problemas do foro religioso é que precisam de exorcismo se o próprio diz que o exorcismo não faz sentido? Têm problemas de Virgem Maria, de Anjos, de culpa demoníaca...? E se o exorcismo não faz sentido porque não acreditam no diabo, porque é que a Igreja o pratica e incentiva? E que raio de psiquiatras é que mandam doentes a padres? Para quê? E se os religiosos acreditam em seres com poderes mágicos e milagrosos como deuses, anjos, etc. (seres sobrenaturais) como fazendo sentido, porque razão o diabo (também um ser mágico sobrenatural) é o único que não faz sentido? Se calhar toda esta conversa não faz sentido...
Há pouco tempo uma mulher perfeitamente normal que adoeceu subitamente depois de um evento traumático e que foi diagnosticada com psicose e esquizofrenia tendo entrado em estado catatónico, no qual vivia há 20 anos, foi tratada para a doença de Lúpus que é uma doença auto-imune. Acontece que o tratamento prolongado dessa doença fê-la 'acordar', num caso semelhante aos 'Despertares' da experiência com medicamentos de Oliver Sacks. Ou seja, o problema dela era uma doença auto-imune que lhe atacou o cérebro.
Depois desta mulher ter 'despertado' desta maneira já medicaram outros doentes catatónicos com medicamentos para doença auto-imune e ei-los que estão a despertar.
Já antes deste caso, pessoas que de repente começaram com alucinações, paranóia, comportamentos agressivos e outros típicos de diagnóstico de esquizofrenia e também catatónia, foram curados quando um médico descobriu que se tratava de uma inflamação no cérebro. O caso mais conhecido sendo o de
Susannah Cahalan do NYP que escreveu um livro a contar a sua experiência,
Brain on Fire.
Quantas curas de problemas do foro psiquiátrico (patologias psicóticas) ou religioso (possessões) são problemas médicos de doenças auto-imunes e outras, desse orgão ainda tão desconhecido que é o cérebro?
E não estava já na altura da Igreja Católica acabar com essas parvoíces que tanto mal fazem?
Há uns anos fui a um baptizado de uma filha de uma sobrinha. O lado da família do marido da minha sobrinha são ateus convictos. O padre, lá na altura de ungir a bebé com óleos e água-benta disse, "acabei de fazer um exorcismo que protegerá a L....." As pessoas da família do marido da minha sobrinha olhavam umas para as outras num total choque pelo absurdo daquela frase, como se tivessem sido atirados para uma cerimónia de bruxaria, que a mim me deu uma enorme vontade de rir, mas o que aconteceu foi o choque brutal de dois mundos: o da crendice e o da razão. Compreendo a função social dos rituais e das tradições mas não a sua literalidade. De maneira que quando este padre, Anselmo Borges, fala de Deus como, 'razão', fica-se a pensar que alguém está em negação...
Uma mulher em estado catatónico acordou ao fim de 20 anos e o seu caso pode mudar a psiquiatria.New research suggests that a subset of patients with psychiatric conditions such as schizophrenia may actually have autoimmune disease that attacks the brain
Washington Post
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Anselmo Borges em entrevista DN:
Dado o interesse que o diabo desencadeia -- reuniram-se ainda há pouco tempo em Roma 241 alunos, vindos de 42 países, para um curso para futuros "expulsadores de demónios" (...)
A partir do que explicou, como é que devemos interpretar o facto de a Igreja Católica ter credenciado uns quantos padres como estando habilitados para fazer exorcismos? Isso não faz sentido.
Sim, o diabo não existe, os exorcismos não fazem sentido. O que, na minha opinião, deve haver é uma espécie de pacto médico-pastoral, como na Alemanha. Às vezes, aparecem-me doentes que eu não posso curar porque não sou médico, mando-os para o psiquiatra, como também há psiquiatras que me mandam doentes que eles ajudam mas que têm também problemas do foro religioso, e ajudamo-nos mutuamente.(...)
Repare: logo no começo do Evangelho segundo S. João, lê-se: "No princípio era o Logos e o Logos era Deus". Que é que isso significa? Que Deus é razão, Deus é inteligência e tudo foi criado pelo Logos, por isso é que o mundo é legível do ponto de vista científico.