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July 05, 2020

Próximo ano lectivo - fazer mais mal que bem



"(...) O mundo que eu gostaria de ver seria um mundo livre da virulência das hostilidades de grupo, capaz de compreender que a felicidade de todos deve antes derivar-se da cooperação do que da luta. Gostaria de ver um mundo em que a educação tivesse por objetivo antes a liberdade mental do que o encarceramento do espírito dos jovens numa rígida armadura de dogmas, que tem em vista protegê-los, através da vida, contra os dardos das provas imparciais. O mundo precisa de corações e de cérebros francos, e não é mediante sistemas rígidos, quer sejam velhos ou novos, que isso pode ser conseguido."

- Bertrand Russell, "Por que não sou cristão"


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Lembrei-me disto a propósito do inferno que estão a preparar para os alunos no próximo ano lectivo à conta da enorme histeria dos adultos que se lhes há-se pegar porque os miúdos são como esponjas: férias pequeninas, ano lectivo mais comprido, intervalos dentro das salas, intervalos pequeninos que nem dão tempo para ir beber água ou ir à casa de banho. Trabalho extra depois das aulas com recuperações curriculares... este inferno não é próprio para adultos, quanto mais para crianças e adolescentes e vai fazer mais mal que bem, porque a educação é um processo e não se pode enfiar à força conhecimentos e experiência de vida nas pessoas. Precisa de tempo de maturação para que se processe a interiorização e acomodação dos conhecimentos e das experiências. O que vai acontecer é os miúdos cansarem-se rapidamente, stressarem-se com o stress dos adultos e começarem a comprometer as aprendizagens por desgaste mental e falta de tempo para a vida não escolar. Tudo isto, por sua vez, vai pôr as pessoas desnorteadas que mandam no país a pressionarem histericamente os professores e as escolas e há-de ser um caos de intranquilidade e de vitórias pírricas. Vitórias pírricas são amargas e por vezes, nestas idades, maus precedentes na formação de espíritos que se querem inteiros e livres. Os miúdos não vão ter tempo nem oportunidade para recuperar destes meses fechados em casa. Sou da geração que apanhou o 25 de Abril ainda andava na escola, no liceu como se chamavam na altura. Foram tempos sem anos lectivos completos - greves e RGAs e RGPs dia sim dia não, durante anos. Não ficámos menos desenvolvidos ou mais ignorantes por isso. Tudo isto é um disparate e os desnorteados que nos governam deprimem-me.

July 03, 2020

Para o ano imita-se o calendário deste: não há Páscoa de descanso



O começo está agendado para 14 e 17 de setembro, terminando a 18 de dezembro, no 1º período. 
O 2º período começa a 4 de janeiro de 2021 e termina a 24 de março. 
Já o 3º período começa a 6 de abril de 2021, termina a 9 de junho para os 9º, 11º e 12º, a 15 de junho para os 7º, 8º e 10º ano e 30 de junho para a pré-primária, 1º e 2º ciclos.


Não há necessidade nenhuma disto. Depois admirem-se que as pessoas não aguentem.

June 26, 2020

Coisas que me preocupam muito - ver o ME não se preocupar ao ponto de dar passos para resolver os problemas



Estamos a dois meses e meio de começar o próximo ano lectivo e, nem o governo, nem o ME dão passos para organizar o próximo ano de maneira que ele possa ser presencial: isto implica reduzir as turmas de 30 alunos para metade, desencontrar horários, desmaterializar o trabalho burocrático e mais  mil e uma coisas. Por exemplo, vai ser preciso reforço de aprendizagens para muitos alunos. Por exemplo, as reuniões de pais terão de ser em pequenos grupos de uma dúzia e não mais e terão de haver outros canais de comunicação que não obriguem os professores a ficar nas escolas horas, todos juntos, à espera que apareça um encarregado de educação. Eu e muitas pessoas como eu que pertencem a grupos de risco, estamos dependentes de saber como as coisas vão ser organizadas para saber se podemos voltar à escola, fisicamente, quero eu dizer. Não posso ir para lá 4, 5 ou mais horas de enfiada, em salas cheias de gente, seja a de aulas, seja a de DT ou a de professores... a ter de usar o frigorífico, a casa-de-banho... por exemplo, seria possível ir lá nas pontas do horário. Entrava, ia direita à sala de aula, dava as aulas e vinha-me embora, sem ter que passar por aglomerados de pessoas... ou outra solução qualquer... por exemplo, este ano, vou à escola (daqui a três semanas) num dia em que haja um daqueles exames que só tem meia dúzia de alunos, de maneira que a escola esteja vazia, para acabar de tratar de assuntos burocráticos das DT... por exemplo, se este ano me chamarem para ver exames nacionais, o que é o mais certo, vou ter que ligar para o Agrupamento de Exames e combinar ir levantar os exames a uma hora que estejam lá poucas, ou nenhuma pessoa. Para entregá-los a mesma coisa.
Não vejo o ME minimamente preocupado com a questão de assegurar que há condições de trabalho.
Ontem uma colega disse-me que para o ano que vem não está a pensar ir à escola. É uma pessoa com problemas de saúde complicados e disse-me que acha que não vai haver nenhuma mudança que permita ir com alguma confiança à escola.
Os deputados já se recusaram a reduzir o número de alunos por turma. Isso para mim é um indicador óbvio de uma de duas situações: ou não têm noção da gravidade da questão (talvez façam parte do gang das festas algarvias) ou estão-se nas tintas para a vida dos outros.
Soubemos que a reunião do sindicato com o ME deu em nada: uns elogios aos professores e palmadinhas nas costas. Mais nada.
Hoje foi o último dia de aulas. Nas turmas os alunos estão preocupados com o próximo ano lectivo.

March 28, 2020

Acerca do final do ano lectivo e espero que ninguém me mate...



Penso que todos quanto estão nas escolas sabem que não é possível isso de dar aulas à distância a todos os alunos, no 3º período. Nem os alunos têm condições e não falo apenas de terem acesso à internet mas de terem computadores não partilhados com as famílias, do tipo de vida complicada e privacidade que muitos milhares não têm em casa, mas também os professores não terem essas condições, para não falar de disciplinas práticas, como educação física, laboratórios, práticas oficinais, etc.
Portanto, o ministro e o secretário de Estado da educação obrigarem-nos a um simulacro de ensino só porque têm contra os professores o mesmo preconceito e discurso que o ministro das finanças holandês tem acerca dos portugueses e querem dizer que nos obrigaram a trabalhar, é um custo sem retorno para ninguém... que me parece mesmo um exercício fútil. Nem no ensino universitário os professores estão a conseguir fazer isso com eficácia e de modo a chegar a todos...

Como as coisas estão não se pode ir para a escola antes de Junho e isto é se o pico da crise for a meio de Maio e no fim do mês se puder começar a normalizar a vida. Mesmo assim, pessoas doentes e com comorbilidades, que nos professores são milhares, dada a idade da maioria, não poderão ir logo para as escolas ou outros sítios com muita gente. De modo que esta teimosia em ver o óbvio e os arremedos de soluções em papéis infantilizantes que enviam para as escolas com pseudo-princípios de trabalho, só torna tudo ainda mais ridículo.

A mim, parece-me que há uma solução possível, embora calculo que não agradasse a muitos porque implica fazer as férias agora e não as fazer no Verão:

1. o ano lectivo seria interrompido aqui e o terceiro período recomeçava a meio de Junho e acabava no fim de Julho.
2. Agosto seria para fazer exames. Simplificavam-se. Fazia-se apenas os exames do 12º ano e esses seriam os específicos.
3. Setembro e metade de Outubro seriam para preparar o ano seguinte: horários, turmas, etc. O ano seguinte começava a meio de Outubro.

Isto permitiria completar o ano lectivo, fazer os exames de disciplinas específicas, os alunos terem avaliações finais, resolver o problema das disciplinas semestrais que começaram aulas em Janeiro, etc. Seria cansativo, sim, um ano muito comprido, para nós e para os alunos, habituados a terem quase 3 meses de férias, a começar em Junho, mas seria uma coisa excepcional.

É claro que para todos os professores, os meses de Abril e Maio (e para alguns, os tais com doenças, até mais) substituiriam, este ano, as férias da Páscoa e de Verão. Calculo tanto os professores como os pais, não lhes agrade esta solução porque gostam de ir de férias no Verão para a praia e porque estamos confinados e isto não é um tempo de descanso e descontração como são as férias, estamos aqui obrigados, presos e stressados (alguns com os filhos e/ou os pais em casa cheios de trabalho) e não de livre vontade, mas enfim... era uma solução, uma situação excepcional.

Faziam-se algumas mudanças no próximo ano para atenuar a maratona de períodos de enfiada, como não fazer reuniões intercalares que são extremamente cansativas ou libertar os professores de tarefas burocráticas e outras não lectivas muito cansativas, fazer uma semana de interrupção no carnaval, enfim, dar algum retorno para compensar o sacrifício.

O que quero dizer é que, se não pensam soluções para além desta parvoíce de mandar trabalhos pelo correio e fingir que é possível o ensino à distância para todos os alunos e professores, o ano está, ipso facto, acabado, mesmo que obriguem os professores a farsas.


Eduardo Marçal Grilo. "Não me chocaria a decisão excecional de acabar o ano letivo para todos"