"(...) O mundo que eu gostaria de ver seria um mundo livre da virulência das hostilidades de grupo, capaz de compreender que a felicidade de todos deve antes derivar-se da cooperação do que da luta. Gostaria de ver um mundo em que a educação tivesse por objetivo antes a liberdade mental do que o encarceramento do espírito dos jovens numa rígida armadura de dogmas, que tem em vista protegê-los, através da vida, contra os dardos das provas imparciais. O mundo precisa de corações e de cérebros francos, e não é mediante sistemas rígidos, quer sejam velhos ou novos, que isso pode ser conseguido."
- Bertrand Russell, "Por que não sou cristão"
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Lembrei-me disto a propósito do inferno que estão a preparar para os alunos no próximo ano lectivo à conta da enorme histeria dos adultos que se lhes há-se pegar porque os miúdos são como esponjas: férias pequeninas, ano lectivo mais comprido, intervalos dentro das salas, intervalos pequeninos que nem dão tempo para ir beber água ou ir à casa de banho. Trabalho extra depois das aulas com recuperações curriculares... este inferno não é próprio para adultos, quanto mais para crianças e adolescentes e vai fazer mais mal que bem, porque a educação é um processo e não se pode enfiar à força conhecimentos e experiência de vida nas pessoas. Precisa de tempo de maturação para que se processe a interiorização e acomodação dos conhecimentos e das experiências. O que vai acontecer é os miúdos cansarem-se rapidamente, stressarem-se com o stress dos adultos e começarem a comprometer as aprendizagens por desgaste mental e falta de tempo para a vida não escolar. Tudo isto, por sua vez, vai pôr as pessoas desnorteadas que mandam no país a pressionarem histericamente os professores e as escolas e há-de ser um caos de intranquilidade e de vitórias pírricas. Vitórias pírricas são amargas e por vezes, nestas idades, maus precedentes na formação de espíritos que se querem inteiros e livres. Os miúdos não vão ter tempo nem oportunidade para recuperar destes meses fechados em casa. Sou da geração que apanhou o 25 de Abril ainda andava na escola, no liceu como se chamavam na altura. Foram tempos sem anos lectivos completos - greves e RGAs e RGPs dia sim dia não, durante anos. Não ficámos menos desenvolvidos ou mais ignorantes por isso. Tudo isto é um disparate e os desnorteados que nos governam deprimem-me.
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