Penso que todos quanto estão nas escolas sabem que não é possível isso de dar aulas à distância a todos os alunos, no 3º período. Nem os alunos têm condições e não falo apenas de terem acesso à internet mas de terem computadores não partilhados com as famílias, do tipo de vida complicada e privacidade que muitos milhares não têm em casa, mas também os professores não terem essas condições, para não falar de disciplinas práticas, como educação física, laboratórios, práticas oficinais, etc.
Portanto, o ministro e o secretário de Estado da educação obrigarem-nos a um simulacro de ensino só porque têm contra os professores o mesmo preconceito e discurso que o ministro das finanças holandês tem acerca dos portugueses e querem dizer que nos obrigaram a trabalhar, é um custo sem retorno para ninguém... que me parece mesmo um exercício fútil. Nem no ensino universitário os professores estão a conseguir fazer isso com eficácia e de modo a chegar a todos...
Como as coisas estão não se pode ir para a escola antes de Junho e isto é se o pico da crise for a meio de Maio e no fim do mês se puder começar a normalizar a vida. Mesmo assim, pessoas doentes e com comorbilidades, que nos professores são milhares, dada a idade da maioria, não poderão ir logo para as escolas ou outros sítios com muita gente. De modo que esta teimosia em ver o óbvio e os arremedos de soluções em papéis infantilizantes que enviam para as escolas com pseudo-princípios de trabalho, só torna tudo ainda mais ridículo.
A mim, parece-me que há uma solução possível, embora calculo que não agradasse a muitos porque implica fazer as férias agora e não as fazer no Verão:
1. o ano lectivo seria interrompido aqui e o terceiro período recomeçava a meio de Junho e acabava no fim de Julho.
2. Agosto seria para fazer exames. Simplificavam-se. Fazia-se apenas os exames do 12º ano e esses seriam os específicos.
3. Setembro e metade de Outubro seriam para preparar o ano seguinte: horários, turmas, etc. O ano seguinte começava a meio de Outubro.
Isto permitiria completar o ano lectivo, fazer os exames de disciplinas específicas, os alunos terem avaliações finais, resolver o problema das disciplinas semestrais que começaram aulas em Janeiro, etc. Seria cansativo, sim, um ano muito comprido, para nós e para os alunos, habituados a terem quase 3 meses de férias, a começar em Junho, mas seria uma coisa excepcional.
É claro que para todos os professores, os meses de Abril e Maio (e para alguns, os tais com doenças, até mais) substituiriam, este ano, as férias da Páscoa e de Verão. Calculo tanto os professores como os pais, não lhes agrade esta solução porque gostam de ir de férias no Verão para a praia e porque estamos confinados e isto não é um tempo de descanso e descontração como são as férias, estamos aqui obrigados, presos e stressados (alguns com os filhos e/ou os pais em casa cheios de trabalho) e não de livre vontade, mas enfim... era uma solução, uma situação excepcional.
Faziam-se algumas mudanças no próximo ano para atenuar a maratona de períodos de enfiada, como não fazer reuniões intercalares que são extremamente cansativas ou libertar os professores de tarefas burocráticas e outras não lectivas muito cansativas, fazer uma semana de interrupção no carnaval, enfim, dar algum retorno para compensar o sacrifício.
O que quero dizer é que, se não pensam soluções para além desta parvoíce de mandar trabalhos pelo correio e fingir que é possível o ensino à distância para todos os alunos e professores, o ano está, ipso facto, acabado, mesmo que obriguem os professores a farsas.
Eduardo Marçal Grilo. "Não me chocaria a decisão excecional de acabar o ano letivo para todos"
Beatriz, já imaginou o que será lecionar em julho? Aqui, na vila onde moro, são vários os dias, logo na primeira quinzena de julho onde as temperaturas vão acima dos 40 graus. Deduzo que por Setúbal não seja muito diferente, embora tenham a brisa do curso de água.
ReplyDeleteNesses dias, e são vários, nem o corpo tem força para reagir. Só quando a noite chega... parecemos os animais da savana a acordar..
Já morei no Alentejo, sei como é o Verão. Ventoínhas, aulas ao fim do dia e pela manhãzinha, pela fresca. Mudava-se o horário... qualquer coisa é melhor que este fingimento sem propósito útil que não seja o ME dizer que manda nos professores.
ReplyDeleteAqui em Setúbal, em 2003 ou 2004, já não lembro ao certo, demos aulas com 44 graus na escola antiga. No Norte , lá para Bragança, dão aulas no Inverno com temperaturas negativas.
Não precisa de ir para Bragança. Ainda agora, no mês de janeiro, entrei na escola com 6 graus negativos. Dar aulas, dá-se, mas pouco se aprende, porque o frio entra-nos nos ossos como facas pontiagudas.
DeleteAí, em Setúbal, foi em 2003 ou 2004. Aqui, começa já em finais de maio. É uma zona de extremos: frio e calor. Não dá, não funciona.
Todas as soluções são remendos e ninguém parece ter percebido que não se pode continuar a fingir e o que se anda a fazer e se propõe fazer é fingir. O ano de 2019-2020 não existiu. Mais vale assumir isso do que comprometer muitas vidas presentes e futuras.
Existir, existiu. Teve dois períodos muitos grandes. O 1º e o 2º foram grandes e do 2º período só se perderam , mais ou menos, porque trabalhámos com os alunos, duas semanas. Só faltava fazer avaliações na maioria dos casos, de modo que fez-se. O 3º período é um mês e meio, apenas. Os alunos podem ter notas com dois períodos. Está na lei. Outra alternativa era começar-se o ano mais cedo para compensar este mês e meio perdido.
ReplyDeleteDisse exatamente isto, fui crucificada também. As pessoas querem ter férias em agosto, mas andamos nós no ensino superior a pagar propinas para os profs nos atirarem com trabalhos com exigências rídiculas, não está tudo na internet, como é que fazemos sem podermos consultar livros físicos? Enfim. Na minha faculdade de licenciatura andam a tentar dar aulas, nao sabem como se vai fazer com os exames. Ora, era assim tão complicado fazer os exames em julho-setembro e começar o ano letivo mais tarde? Enfim, complicam o que não tem de ser complicado, também...O mesmo para o ensino secundário e etc., com exames de acesso às universidades vão andar a ter aulas no zoom, mas nem todos podem ter e não é a mesma coisa...Fica-se assim prejudicado?...
ReplyDeleteLuna
Exacto. Se na universidade é complicado, imagine no ensino básico e secundário. A maioria dos meus alunos tem condições muito complicadas em casa. Muitos pais não têm, sequer, endereço de email, para ter uma ideia. Tenho colegas que nem internet têm a não ser no telemóvel, uns poucos gigas. Outros só usam computador para trabalho e é na escola. Não têm em casa ou têm um muito velho. Não têm conta em redes sociais e isso. Houve quem tivesse que ir comprar um computador agora à pressa. Mas mesmo tendo, como eu tenho, por exemplo, as aulas à distância neste nível de ensino, não um desmaio porque os alunos não têm, nem auto-disciplina nem autonomia para fazer as coisas sozinhos, sendo certo que não é possível dar aulas pelo zoom ou outra plataforma porque só uma minoria tem acesso a elas. Posso gravar umas pequenas aulas no youtube e mandar trabalhos mas isso requer muito tempo de preparação porque nunca fiz isso e depois é preciso ter confiança que eles vêem em vez de pedir a meia dúzia que vejam e façam o trabalho por todos... isto é ridículo mas a tutela da educação cada vez trabalha mais só para controlar e castigar professores. Não viu que o ministro queria que saíssemos de casa e fossemos para a escola, na hora das aulas, fazer... o quê... dar aulas para as paredes e infectar-nos uns aos outros?
ReplyDeleteIsto tudo para não adiarem as coisas durante uns meses, enfim. Era mesmo uma confusão enorme as aulas no próximo ano começarem um pouco mais tarde, vá-se lá pensar.
DeleteLuna
É para castigarem os professores porque no governo têm a ideia que só queremos férias. São uns tristes.
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