September 04, 2024

🇺🇦 De onde vem a autoridade da NATO e da UE?

 


Um porta-voz da NATO, em resposta à sugestão do Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslaw Sikorski, de abater os mísseis russos sobre a Ucrânia, advertiu que tais acções poderiam ter consequências para toda a Aliança, de acordo com comentários feitos à agência Europa Press.
O porta-voz sublinhou que a NATO tem a responsabilidade de evitar uma nova escalada da guerra russa e reiterou que a Aliança “não é parte no conflito e não se tornará uma” na Ucrânia. Embora reconhecendo o direito de cada membro a defender o seu espaço aéreo, o porta-voz advertiu que as acções tomadas por Estados individuais em apoio à Ucrânia “também podem afetar a NATO como um todo”.
“É por isso que os aliados devem continuar a consultar-se estreitamente”, acrescentou o porta-voz.
United24

Entretanto, a UE, apesar de ter anunciado com grande pompa, por diversas vezes, a decisão do G7 de congelar os bens russos e transferi-los para a Ucrânia, para que se possa defender-se, fez zero. Houve eleições, os novos deputados estão a tratar das suas novas vidinhas, estiveram de férias, há muita burocracia:

O facto de a UE não ter agido em relação aos activos russos congelados diz tudo sobre a política da UE e o fracasso institucional... Ninguém no comando, nada mais do que divisão e burocracia... (Guy Verhofstadt)

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A autoridade da NATO e da UE não vem das armas e do dinheiro, como se vê pela actuação desafiante da Rússia e de outros países. Esses factores, só por si, não valem absolutamente. Têm um valor relativo ao modo como são usados.

A NATO e a UE só têm um efeito dissuasor da agressão e da violência se forem consequentes e estiverem à altura das suas palavras. Fazer constantemente ameaças vãs e olhar para o outro lado enquanto os criminosos cometem crimes sabendo que os vêem perfeitamente mas não agem, tem o efeito de anular a autoridade que a força das armas parecia poder, e pode, exercer. Dá uma imagem de fraqueza e medo que é o alimento mais forte dos ditadores, dos bullies e dos criminosos.

Todo o professor sabe isto. Quando lidamos com alunos delinquentes ou bullies -e já todos tivemos a nossa conta deles- o pior que se pode fazer é fingir que não se vê o seu comportamento ou tolerá-lo com ameaças a que não se seguem as devidas acções. Esses alunos percebem imediatamente que o professor tem receio dele -e/ou do grupo- e que vai aguentar tudo o que lhe fizerem. Daí para a frente vão sempre a escalar na agressividade e o quando professor, a certa altura, quiser agir, já é tarde demais.

A 'des-escalada' das situações faz-se nos primeiros desafios, apelando à racionalidade, mas há alunos, os tais que são delinquentes e bullies, com quem a racionalidade, a argumentação e a psicologia não funcionam e, nesses casos, uma pessoa tem que não recuar no confronto e agir logo imediatamente no sentido de impor o cumprimento das regras, porque a segurança de todos os outros alunos da turma depende desse aluno conter-se e passar a agir dentro das regras e leis comuns. O que acontece, desde que a o DT e a direcção da escola apoiem o professor na sua autoridade legítima.

Foi o que a Ucrânia fez à Rússia: aguentou o confronto e não recuou. Depois pediu ajuda à autoridade: a ONU, a NATO e a Europa, para que a apoiassem na sua defesa legítima. Infelizmente, nenhum apoio foi rápido, decisivo, indubitável e consequente. A ONU dá uma no cravo e outra na ferradura: ora apoia a Ucrânia, ora deixa a Rússia, a entidade agressora, no comando do seu Conselho de Segurança; a NATO mostra ter medo de ser consequente e aconselha a que os seus membros não confrontem o bully e a UE ameaça com sanções que nunca mais vêm.

Putin não é um bully com quem se possa argumentar racionalmente. Vejo muito elementos de discurso e mentalidade comuns ao nazismo, ao russismo e ao islamismo. Há bocado vi na BBC uma entrevista ao ex-padre representante da Igreja Ortodoxa russa em Madrid, Rev. Dr. Andrei Kordochkin. Foi afastado depois de ter assinado, em 2022, uma carta conjunta com mais 300 padres contra a invasão da Ucrânia. Vive agora na Alemanha.

Quando o entrevistador lhe pergunta se a Igreja russa é um fantoche de Putin e se Putin é mesmo religioso ou apenas hipócrita, ele responde que na Rússia há duas crença enraizadas na população: a 1ª é a de que a Rússia define-se por ser uma potência expansiva. Tem muito orgulho em dizer que é algo que está no seu ADN e não podem evitar; a 2ª é a de que são um povo moralmente superior e que lhes cabe a eles serem o reservatório dos valores tradicionais que o Ocidente está a destruir. No entender de Putin e dos russos em geral, Deus é um homem, os homens são os protectores das mulheres, seres fracos e emocionais e daí a autoridade religiosa e política ser masculina. Portanto, Putin é religioso neste sentido de ir à religião buscar um quadro de valores tradicionais mas não é cristão porque não age como tal: defende a acção pela violência e não acredita nos Direitos Humanos. É isto o 'russismo'.

O 'russismo' é muito parecido, na sua mentalidade, com o nazismo e com o islamismo: todos têm o mesmo discurso de superioridade moral, misoginia a homofobia e salvaguarda dos valores tradicionais do mundo e nenhum deles acredita nos Direitos Humanos. O 'trumpismo' dos MAGA já está nos arredores deste discurso. Não são grupos sensíveis a argumentação racional e quanto mais o Ocidente os evitar ou tentar apaziguar, mais crescem em ousadia e agressividade e quando os ocidentais despertarem, compreenderem o perigo e quiserem fazer qualquer coisa já será tarde demais. 

Neste momento continua a haver decisores nos EUA e na Alemanha que acreditam que se pode reverter a situação ao tempo em que Putin era um parceiro económico e estão cegos para os custos políticos que essas falsa parceria teve e tem. Parecem os professores que, apesar dos alunos lhes chamarem estúpidos, bestas, os mandarem à merda, lhes atirarem coisas para os agredir, etc., normalizam tudo, convencidos que é possível manter a paz na turma e apaziguar o delinquente com conversas amenas e ameaças vãs.

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