As obras de referência são expressões descontínuas do que se sabe ou acredita na altura em que são publicadas. Pense-se na ainda muito apreciada 11ª edição da Britannica (1910-1911), que contém artigos de uma série de escritores famosos, de T.H. Huxley a G.K. Chesterton. A alteração de livros de referência físicos após a sua publicação é incrivelmente dispendiosa, implicando normalmente a introdução manual de notas de errata.
Em contrapartida, as obras digitais podem ser editadas e os factos inconvenientes apagados da memória, mais ou menos por capricho editorial. A Enciclopédia Britânica (agora exclusivamente online) e a maioria dos dicionários online (incluindo o Merriam-Webster, também exclusivamente digital) são revistos com frequência e normalmente sem grande ou nenhum reconhecimento, devido não a erros de omissão mas à captação de audiências e às exigências da 'vibeoepistemologia', ou conhecimento derivado das ondas do momento. Estas já não são obras de referência no sentido tradicional; são antes expressões de um zeitgeist. Como se precisássemos de mais.
(...)
Bem conservados, organizados de forma lógica, ilustrados com diagramas e mapas adequados, os livros de referência podem ser uma alegria. E suspeito que são uma alegria que muitos de nós partilhamos, mesmo que não queiramos dizê-lo publicamente por receio de sermos rotulados de anormais. Aprendi imenso com os livros de referência, muitas vezes de formas inesperadas e presumo que muitas pessoas muito bem sucedidas, inteligentes e eruditas tenham tido encontros semelhantes com esses livros. Talvez devêssemos normalizar o prazer de folhear livros de referência como um esforço intelectual pelo menos tão válido como a leitura de uma boa biografia ou romance.
(excertos)
No comments:
Post a Comment