August 25, 2022

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Olhar para trás

Percorrer por estes dias o fio da história do desastre de Chernobyl na série que passa diariamente na RTP 3, ou revisitar a tragédia na reconstituição apresentada pela HBO em 2019, é convocar a inquietude da fragilidade dos dias que vivemos. Mas vale a pena fazê-lo, mesmo arriscando a que o sono nos abandone, porque o pesadelo dos outros não pode deixar de nos sobressaltar e até pode vir a ser o nosso. Está lá tudo.

A hipocrisia dos regimes despóticos, a vacuidade da política - e como precisamos hoje de homens de fibra -, a ganância de uns poucos que levam à condenação de tantos, a persistência da mentira sobre a verdade. De como de tantas vezes contamos a mentira até acreditarmos nela. Está também o lado bom dos bons, mesmo que eles já tenham pactuado com o mal, a seriedade e a coragem desses poucos que salvam tantos. 

Seis meses depois da invasão da Rússia à Ucrânia, aumentam as sombras sobre a aparente luz que separava o bem do mal. O que sabemos, na verdade, é que permanecem por esclarecer as razões que levam às atrocidades que vimos e vemos serem cometidas, à pulverização de cidades inteiras, à morte de crianças, idosos, pais, mães e avós, à separação de famílias, e ao prolongamento de um conflito que, hoje, não só está a alterar drasticamente a geopolítica mundial, como se faz sentir nas ações mais básicas do dia a dia. 
 As ameaças à Humanidade com a eventualidade de uma guerra nuclear, sempre presentes no gatilho das palavras, ou a incerteza face ao que se passa em centrais nucleares como a de Zaporíjia, obrigam a que os detentores de cargos políticos sejam pessoas de bem, empenhadas em encontrar soluções mais eficazes do que aquelas que se jogam na praça pública. Porque essas não parecem surtir efeito. Mas também, e sobretudo, que nós, todos nós, não nos deixemos adormecer pelas raízes que alimentam o mal. 

Domingos de Andrade, *Diretor-Geral Editorial

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