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March 05, 2024

The New Look serie

 

The New Look é uma série sobre a Haute Couture parisiense durante e no pós-Segunda Grande Guerra, mais propriamente sobre a rivalidade entre Chanel e Dior. No entanto, a série é mais do que isso: acompanha a vida de um e de outro, paralelamente (de vez em quando cruzam-se) nesses tempos difíceis em que Paris estava ocupada pelos nazis.

Chanel -e isto eu não sabia- foi uma colaboracionista. Em 1944, o sobrinho dela foi preso pelos nazis e ela pediu ajuda a um amigo, um conde, que conhecia nazis influentes para libertar o sobrinho com um suborno. O que conseguiram e, nessa ocasião ela conheceu um espião nazi e tornou-se amante dele. Depois aproveitou-o para tentar recuperar o seu negócio que tinha sido bloqueado pelo seu sócio - nessa altura ela tinha um sócio que fugiu para os EUA e arranjou maneira dela não poder mexer no seu próprio negócio. O sócio fazia, com o irmão, em Hoboken, Nova Jérsia, perfume Chanel nº 5, falsificado que vendia por fortunas. Ela tentou reverter a situação recorrendo às leis nazis arianas. Enfim, ela morava no Ritz que era o quarto-general dos nazis e frequentava as suas festas sempre que necessitava, embora os detestasse.

Entretanto Dior trabalhava para Lucien Lelong, um indivíduo que tinha uma casa de Alta Costura e que empregava, Pierre Cardin, Pierre Balmain, Givenchy, Balenciaga e Dior, entre outros famosos. Dior morava numa casa com a irmã mais nova que pertencia à resistência, de maneira que a casa dele estava sempre cheia de gente da resistência. A irmã acabou por ser presa e enviada para Ravensbruck. Dado que ele tinha uma adoração pela irmã, fez tudo e mais alguma coisa para tentar descobrir onde ela estava e libertá-la antes dela ser enviada para os campos. Não conseguiu e ficou desesperado. Lelong ajudou-o muito porque eles eram amigos e Dior era a estrela da sua casa.

Enquanto Dior se afundava na preocupação com o destino da irmã, Chanel viva no Ritz com o amante nazi. Evidentemente que, quando a guerra acabou, ela estava na lista dos colaboracionistas -embora só um pequeno círculo soubesse do seu envolvimento com os nazis- e tentavam apanhá-la mas teve sempre muito cuidado e não havia provas contra ela. Porém, as cenas nas ruas de Paris de mulheres arrastadas, semi-nuas e postas em estrados altos para serem rapados e vilipendiadas pela multidão (aos homens colaboracionistas que eram multidão ninguém incomodava) assustou-a de tal maneira que fugiu para a Suíça. 

No último episódio que vi, o 5º, enquanto Chanel pensa em maneiras de voltar a França, a irmã de Dior aparece em Paris em casa dele, muito fraca e doente. 

A série são 10 episódios e calculo que nos 5 que faltam se centre (depois de Chanel escapar aos caçadores de colaboracionistas) na rivalidade entre a sua casa e a de Dior na busca de um New Look na moda feminina que fizesse esquecer a guerra e as privações da guerra. Dior entretanto resolveu fundar uma casa própria.

Quem faz de Chanel é Juliette Binoche e quem faz de Dior é Ben Mendelsohn. John Malkovich faz de Lucien Lelong. 

A série é muito boa porque apresenta a realidade em toda a sua complexidade. Sim, Chanel por vezes é canalha, mas nós entendemos o ponto de vista dela e as dificuldades de viver numa Paris ocupada, sendo ela um nome muito conhecido e não podendo fazer nada sem a autorização dos nazis. Chanel veio de baixo, de muito baixo. Nasceu num hospício para pobres, a família vendia meias de terra em terra. Eram nómadas. Quando a mãe morreu enviaram-na para uma espécie de Casa Pia de raparigas. Foi aí que aprendeu a costurar. Mais tarde trabalhava como costureira e cantava em cabarés para oficiais. Teve uma vida muito dura e tinha imenso medo de voltar a essa vida, de maneira que muitas coisas se percebem por causa disso. Não todas. Ela não tinha ligações afectivas com ninguém para além do sobrinho e da sobrinha. Sacrificava as pessoas por um negócio, uma anedota, um avanço na vida... o que fosse. Era muito oportunista e falsa. Já Dior era filho de um industrial rico, era gay, muito sensível em relação a tudo e muito sério.


June 22, 2023

Shining girls

 


Uma série (por coincidência, muito a propósito do artigo de jornal do post anterior) que tenho estado a ver e acabei hoje. É uma série em oito episódios, que no início pensamos ser apenas uma série policial -logo no primeiro episódio, nas primeiras cenas percebemos que estamos em presença de um criminoso em série- mas que aos poucos se vai tornando outras coisas, nomeadamente uma grande metáfora com um pé na ficção científica. É uma série sobre a violência dos homens sobre as mulheres e sobre a maneira como todos lidamos com o trauma. As vítimas e os criminosos.

Chama-se shining girls, porque o assassino escolhe mulheres que ele vê como ameaçadoras ao seu poder e controlo masculino: mulheres interessantes, inteligentes, fortes e com potencial e, na véspera mesmo de realizarem o seu potencial, de terem a sua grande oportunidade na vida, é quando as ataca. O assassino gosta de arrancar as asas a abelhas e deixá-las junto das mulheres que vai atacar.

A série é à volta de uma mulher, arquivista num jornal de Chicago (ex-jornalista com muito potencial) que foi vítima de um ataque brutal  -seis anos antes- e cuja vida se desmorona. Sendo agora arquivista no jornal, vai desenterrar casos de ataques com as mesmas características do seu (embora todas as outras mulheres tenham morrido) e começa a ligá-los no momento em que acontece outra morte semelhante. Junta-se a um repórter do jornal e começam a caçar o predador. 

Porém, no fim do primeiro episódio, vemos as coisas ficarem estranhas. A mulher, que mudou o nome de Sharon para Kirby depois do ataque, parece ter episódios de alucinação e episódios de amnésia. Assenta num diário coisas comuns como o nome do gato, onde mora, o nome do marido, a colega de trabalho, etc. Isto porque começou a acontecer-lhe, depois do ataque, entrar num sítio e não reconhecer, nem as pessoas nem a situação - há um mundo antes do trauma e um mundo depois do trauma e o trauma é como que uma cisão da realidade que de repente se torna desnivelada, estranha e sem sentido. A própria pessoa deixa de se reconhecer e ter continuidade de realidade.

Um indivíduo que a certa altura da série aparece como marido de Kirby diz, 'quando soube do que lhe aconteceu, eu que sou uma pessoa alegre e pacífica, tive vontade de matar esse monstro e depois assustei-me por não me reconhecer com esses sentimentos de violência. Portanto, é normal que Kirby que passou por essa extrema violência tenha perdido a identidade e não encaixe na realidade, não se reconheça nem se consiga ligar à pessoa que era antes'.

Num certo sentido, para todas pessoas a realidade tem esses desníveis -num dia parece ter-se o controlo das situações e no dia a seguir dá tudo errado- mas para as vítimas de traumas a realidade é completamente estilhaçada, não apenas por fora, mas por dentro e depois é difícil ter uma imagem una, interna e externa, desses prismas todos. 

Quem representa o papel de Kirby é Elizabeth Moss e fá-lo muitíssimo bem. Constrói uma personagem completamente desorientada (tem uns olhos e um olhar de constante dúvida e ansiedade) mas resistente e tenaz quando resolve encontrar o seu atacante. 

Quem representa o papel de atacante (Harper) é o actor Jamie Bell que constrói a personagem de maneira perfeita: ele é o típico nobody, rejeitado pela mulher que queria, cheio de raiva por todos, que começa a vida como ladrãozeco de mulheres de meia-idade que vivem sozinhas e que julga que por ter tido uma má infância (a mãe abandonou-o) merece ter tudo o que deseja. Ele é um coitado, logo ele merece compensação e a sua maneira de lidar com o trauma do abandono é o narcisimo e a violência. 

Harper é um homem da Primeira Grande Guerra que mata um soldado camarada para lhe roubar a máscara anti-gás e no pós-guerra anda obsessivamente atrás de uma rapariga que não o quer. Sempre que ela o rejeita o olhar e a expressão dele, uma mistura de ciúme e raiva já mostram o seu impulso para a violência. 
Também se dedica a esquemas de pequeno roubo e um dia, por acaso, entra numa casa para roubar e dá com um portal do tempo. Toma posse da casa e usa-a, primeiro para espiar e controlar a rapariga que quer e depois, quando ela o rejeita, para ir ao futuro matar mulheres que persegue durante anos com jogos psicológicos de assédio, invasão de privacidade e tudo o mais que invente para destruir e silenciar essas mulheres que ele vê ameaçadoras do seu poder e virilidade masculinos. 

Ele representa o homem misógino de todos os tempos e daí a parte de ficção científica da história que o põe a viajar pelo tempo. Ele encaixa em todos os tempos e em nenhum sobressai porque a misoginia e a violência contra as mulheres são comuns em todos os tempos e mais ou menos aceites: o modo como ele se convence que merece um certo tipo de vida, de amor, de poder, etc., o modo como percebe que o contexto social lhe possibilita uma superioridade aceite como natural por todos (a casa enquanto portal do tempo representa esse contexto social favorável sem o qual ele não passaria de um nobody) e o modo como usa o seu poder para a violência gratuita e para a crueldade psicológica.

Não vou contar como se desenrola a caça ao homem, o que acontece às outras personagens e como tudo acaba porque pode ser que alguém queira ver a série que vale muito a pena ver. Ficamos presos aos acontecimentos porque o suspense está muito bem construído e a sensação de perigo, acompanhada de curiosidade é constante. E tem muitos outros pormenores simbólicos que não contei. São oito episódios.


March 29, 2023

100 dias em Versailles

 


A RTP está a passar uma série muito boa, francesa, sobre os bastidores de Versailles, um palácio que tem centenas de restauradores e outros artífices em permanência, dada a dimensão e envergadura do edifício e da propriedade que o rodeia. É "um mundo desconhecido repleto de milhares de trabalhadores: curadores, jardineiros, pintores, transportadores, fotógrafos, músicos, gerentes de obras, relojoeiros e técnicos... guardiões de maravilhas que revelam pela primeira vez os segredos do seu ofício e partilham a paixão e entusiasmo pelo seu local de trabalho único". Quem me falou nela, hoje, foram duas colegas, sendo que uma delas viveu em França toda a infância e adolescência e morava nos edifícios contíguos ao palácio, de maneira que o palácio era uma segunda casa. Ademais, segundo me disse, uma das colegas de turma do Liceu onde andava era filha de um guarda do palácio, o que lhe deu acesso a muitas salas que não estão abertas ao público. As memórias dela de infância e adolescência estão todas ligadas ao palácio, o que é fascinante, quer dizer, a mistura deste passado grandioso e do presente na construção da identidade. Enfim, a série é muito boa e podem ver-se todos os episódios no RTP Play online.



January 15, 2023

Sin Limites

 


Uma série espanhola muito gira em cinco episódios sobre a viagem de Fernão de Magalhães, com Rodrigo Santoro a fazer de Magalhães.


January 08, 2022

Quando as coisas são boas não se deterioram

 


Vem isto a propósito de ter lido que a série, Sex And The City, que passou entre 1998 e 2004, tinha uma sequela (chama-se And Just Like That), ter ido ver os dois primeiros episódios e ter ficado desiludida. Lembro-me de ter gostado imenso de Sex And The City, que não vi quando passava na TV e descobri lá para 2006. Esta sequela não tem humor. É sobre 4 mulheres amigas em Manhattan. Uma delas escreve uma coluna sobre sexo e relações entre pessoas. num jornal, de modo que cada episódio é à volta do tema da coluna dessa semana que acaba por misturar-se com a vida delas e os homens com quem andam. Está escrita com imenso humor e é divertida. Esta sequela não tem piada. Vamos acompanhando a vida de cada uma mas perdeu o 'edge', o descaramento que tinha, o sentido de humor e o sexo. Fui rever a 1ª temporada de Sex And The City só para confirmar que a minha memória não me atraiçoava. A série continua engraçada mesmo depois destes anos todos. De facto, já reparei que quando as coisas são boas e voltamos a elas temos exactamente a mesma impressão que tivemos da primeira vez. 


December 23, 2021

da série Guerra e Paz

 


A série é boa. Está muito condensada claro, mas consegue apanhar o espírito da obra. O actor que faz Pierre, Paul Dano tem uma prestação notável, porque Pierre é uma das personagens que mais se transforma ao longo do livro e não é fácil mostrar a luta interna dessa transformação. Natascha é representada como menos infantil do que Tolstói a pinta no início do livro e nunca chega àquele ponto final de andar completamente desmazelada e sem se lavar. E é loura enquanto no livro é morena, mas a actriz consegue dar conta da vivacidade e exuberância da personagem, bem como a sua transformação, o seu amadurecimento interno. Já o princípe Andrei, que no livro é baixinho, muito rígido e pálido, do género adoentado, é representado nesta série por um actor, James Norton, um homem belíssimo e nada enfezado, que dá muito bem conta do papel. No geral, a versão russa do livro (um filme de 1966) é mais fiel ao livro, mas esta versão é mais fiel ao espírito das personagens. Tem uma cinematografia excelente e todos os pormenores, desde o guarda-roupa ao ambiente da época, nomeadamente a snobeira provinciana russa de imitação dos franceses estão au point. Não há dúvida que ver a série com o livro fresco na cabeça muda muito a perspectiva de apreciação porque eu já tinha visto esta série e não tinha ficado muito impressionada e agora percebo porquê: é que há saltos de tempo, na série, por questões de economia que não se tendo lido o livro ficam algo confusos, mas depois de o ter lido, facilmente preenchemos as lacunas. Vale a pena.

Esta cena é uma apanhado geral do filme, a debaixo e a cena do baile.



November 20, 2021

Ontem estreou o 'The Wheel of Time'

 


'The Wheel of Time' é uma saga de literatura fantástica escrita pelo Robert Jordan que morreu antes de acabar o último livro, acabado por outro autor, a partir das suas notas. Comecei a ler esta saga quando estava em a morar em Bruxelas porque foi lá que a descobri, numa livraria que tinha uma enorme secção de literatura fantástica. Quando voltei ainda a saga ia no livro sete, dos doze com que terminou. Entretanto, não acabei de a ler. Fiquei-me pelo nono livro porque a certa altura R. Jordan, em vez de fazer sair um livro por ano, como costumava acontecer, já espaçava por dois ou mais anos e deixei de ler. A Amazon pô-la agora em série filmada e está a estrear a primeira temporada, da qual já se podem ver três episódios, desde ontem. Trouxe-os para aqui e vou ver o primeiro. Depois conto 🙂 


June 09, 2021

A cena do duelo da série, Guerra e Paz da BBC (2016)

 


Este actor, Paul Dano, constrói um Pierre excelente, muito inspirado, mesmo. Nunca o vi menos que muito bom em filme algum. Pena que a série seja pouco fiel ao livro original.


May 31, 2021

Séries - Mare of Easttown

 


Hoje também vi o último episódio desta mini-série. Para quem gosta de personagens psicologicamente densas e complexas e das relações entre as pessoas, de como fazem teias ambíguas, vale a pena vê-la. Para além disso é uma excelente história de whodunit. Muito bem construída, com alguns volte-faces inesperados. A atriz principal, Kate Winslet, excelente no papel de detective de uma pequena cidade normal, onde todos se conhecem e a conhecem, com acontecimentos anormais. É uma personagem um bocadinho amarga e um bocadinho zangada com a vida, um bocadinho messed up (teve coisas muito difíceis na vida e carrega muito sofrimento), mas é tão verdadeira e com um sentido de justiça, sem impiedade, tão forte, no que faz e no modo como o faz, quer dizer, expõe as suas forças do mesmo modo como expõe as suas falhas que apesar de prender uns e outros conhecidos e amigos não lhe guardam rancor e reconciliam-se com ela. Isso é muito interessante na série, quer dizer, mostra como a vida é difícil para todos. Todos, desde os adolescentes aos adultos -aliás vê-se como a destruição começa logo na infância- e como é que muitos resolvem tudo mal e só tomam decisões erradas (adultos egoístas, irresponsáveis e superficiais) que por vezes acabam em vidas destroçadas e profundamente infelizes. Outros redimem-se através da coragem de ser honestos. É o que distingue uns dos outros e o destino de cada um, na série. A coragem de ser honesto. 


February 21, 2021

Série muito divertida para animar o confinamento

 


Tenho estado a ver esta série, Dix pour cent (Dez por cento), muito divertida, que gira à volta de uma agência de actores/realizadores. Dez por cento é quanto eles tiram de comissão. A agência é administrada por quatro agentes, cada um com a sua carteira de actores e em cada episódio acontecem peripécias, que no geral são casos que aconteceram mesmo a actores, produtores, realizadores, etc. 

A maneira como eles lidam com os actores e resolvem os problemas é engraçadíssima porque na maior parte das vezes vemo-los a manipular os actores para conseguirem que eles façam os papéis e às vezes para conseguirem que não os façam.

São quatro temporadas e a partir da segunda, porque a série teve imenso sucesso, em cada episódio aparece um actor/actriz famoso/a. Da Isabelle Adjani ao Jean Reno, passando pela Sigourney Weaver e pela Isabelle Huppert, são às carradas.

Cenas engraçadíssimas porque pelo meio acompanhamos a vida pessoal e romântica das pessoas da agência, que é atribulada e os problemas da própria empresa.

Uma série muito gira para animar o confinamento.