Funcionária do PCP perde direito à reforma antecipada por partido não fazer descontos
PCP foi “informado que poderia pagar a dívida” referente aos descontos que devia ter feito, mas alegou que não o pode fazer “porque isso poderia vir a tornar-se público”.
O Partido Comunista Português (PCP) não fez quase oito anos de descontos a uma funcionária que, ao pedir a reforma antecipada, descobriu que lhe faltava esse tempo de carreira contributiva, avança hoje o Sapo24.
Ana Paula Coelho, membro desde 1977 e funcionária desde 1979, está há oito meses à espera que o partido resolva a situação.
“Contactei o PCP, no início de Novembro de 2022, e até agora o processo tem sido surreal”, contou a funcionária, ao Sapo24, apontando que não tem havido “boa vontade” por parte do partido em resolver o problema.
“Não se trata só de não terem pago os oito anos e, por isso, eu não poder pedir a reforma antecipada; a questão é que serei prejudicada na altura da reforma, porque o meu histórico de descontos tem esses anos em falta”, acrescenta.
PCP foi informado que poderia pagar a dívida
Ana Paula Coelho conta que dirigiu-se à Segurança Social para perguntar como poderia resolver a situação, ao que responderam que “era perfeitamente possível a entidade contratante pagar a dívida que tem, ou seja, fazer agora os descontos que devia ter feito”.
“O PCP foi informado disto, mas tem estado sempre a engonhar. Ultimamente, já estava pelos cabelos, disse que precisava de uma resposta e foi quando me disseram que não podem pagar à Segurança Social porque isso poderia vir a tornar-se público”, revelou a funcionária.
“A solução que o PCP apresentou é que eu fosse para o subsídio de desemprego. Queriam que eu fizesse uma rescisão por mútuo acordo com a empresa onde trabalho”.
“É tão incrível a postura que têm tido, mas eu fui dirigente do PCP, sei muito bem o que a casa gasta”.
Como funcionária, a partir de 1979, Ana Paula Coelho foi responsável pelo plano do ensino secundário da JCP (Juventude Comunista Portuguesa) na região Norte. Depois, já em Lisboa, ficou responsável pelo plano nacional do ensino secundário. Foi ainda membro do secretariado direcção nacional da JCP, “a única mulher na época”.
Em 1988, passou a deputada à Assembleia da República em regime de substituição pelo PCP. “Só nessa altura é que os descontos para a Segurança Social começam a ser feitos, porque eram feitos pela própria Assembleia da República, embora o dinheiro não passasse por nós, porque os deputados do PCP recebem pelo partido, não pela AR”, explicou.
Nesse ano, em 1988, no XII Congresso do PCP, de 1 a 4 de Dezembro, foi eleita um dos 175 membros do Comité Central. Já no Parlamento, até final da V Legislatura, regressou pelo círculo de Lisboa, depois das eleições de 1991, mas sai em 1992.