A diversidade de culturas e genes enriquece-nos e se um povo ou cultura não é fonte nem raíz de mal, porque haveríamos de querer bani-lo ou eliminá-lo? É preciso ser doente de poder para querer uma coisa dessas.
Este professor de Sociologia sente raiva, ódio e rancor contra Portugal por termos sido colonizadores. Até aí compreendo. Os ucranianos sentem agora ódio dos russos e durante muito tempo hão-de sentir rancor, mesmo depois do ódio se ter ido. A raiva é uma emoção que sentimos se nos tratam mal ou muito mal, mas deve ser passageira, quer dizer, não devemos confundir o nosso pensamento das situações com essas emoções que nos assaltam. Ora, é justamente o que faz este professor de Sociologia: não é capaz de sair da sua raiva de vítima. Vejamos:
1. "Não é difícil pedir perdão sobretudo se se é de uma cultura cristã" - A história mostra que isto não é verdade. É extremamente difícil pedir perdão. A igreja católica e os seus mais altos representantes cristãos só há pouco tempo começaram -e muito poucos- a pedir perdão de crimes cometidos contra as crianças. Nunca pediram perdão pelo que fizeram às mulheres. Obama, tendo ido ao Japão há uns anos e pedido perdão por Hiroshima, foi atacado por todos, inclusive pelos do seu próprio partido. A maior parte das pessoas individuais não pede perdão por nada pois entende isso como humilhação, quanto mais países e representantes de países. De maneira que este professor de Sociologia devia conhecer melhor a história.
2. De seguida diz que, como nas relações internacionais se parte do princípio que o outro vai aceitar o pedido de perdão, isso retira valor ao pedido, quer dizer, levanta a suspeita de que, não fora o caso de saber que ia ser perdoado, talvez Costa não tivesse pedido perdão. Porém, não apresenta uma única razão que sustente essa opinião de que Costa pede perdão cinicamente a pensar nos ganhos das relações diplomáticas. Enquanto indivíduo de um país que já foi colonizado, ele desconfia dos motivos do outro. Isso não é uma posição racional de um professor universitário.
3. Depois, diz este professor de Sociologia, tendo este pedido de perdão levado tanto tempo a ser formulado, tem pouco valor. Costa devia ter ido mais longe e, em vez de pedir desculpa, devia dizer que a cultura portuguesa tem grandes falhas, senão não tinham feito este acto indesculpável. Portanto, este senhor, a querer dizer que a cultura portuguesa e os europeus em geral, a quem acusa de arrogância, têm a mania que são superiores, acaba por dizer que há culturas superiores e inferiores, pois fica subentendido que na sua cultura (que não tem falhas) ninguém faria actos que no seu entender são indesculpáveis. De maneira que ficamos a saber que as pessoas europeias são ignóbeis e inferiores, culturalmente, mas os moçambicanos são puros e nunca, em nenhuma circunstância seriam capazes de fazer actos indesculpáveis.
4. Depois inventa uma polémica por Costa ter falado na 'nossa história' e ele não perceber se era a 'nossa' portuguesa ou se estava a incluir os moçambicanos. É evidente que Costa ao falar, fala sempre em representação dos portugueses e não dos moçambicanos.
5. Ele confessa que sente raiva porque acredita que o europeu -neste caso, Costa- ao pedir desculpa, se sente eticamente superior. Nesse sentido, pedir perdão, diz este professor de Sociologia, é um acto profundamente europeu de lavar as mãos como Pilatos, é o que ele quer dizer.
O que devíamos fazer, então, na opinião deste senhor? Suicidar-nos? Escolhermos 400 portugueses e enviá-los para Moçambique para que possam ser assassinados por moçambicanos de maneira a que haja retribuição?
Este indivíduo fala em, 'os portugueses', 'os cristãos', 'os europeus', da mesma maneira que alguns falam, 'os africanos', como se fossemos uma massa informe e não pessoas individuais. Como se entre nós não houvesse pessoas de bem que sentem vergonha de crimes feitos em nosso nome e fossemos uma massa informe de gente arrogante e maldosa.
Mas calculo que este senhor nunca fez nada vergonhoso na sua vida, pediu sempre perdão às vitimas dos seus males e de resto, ele, o seu povo e a sua cultura são puros e incapazes de mal. Sim, porque ele fala em a cultura portuguesa ser maldosa, apesar de ser um sociólogo e saber que ao tempo das colonizações, a mentalidade das pessoas era muito diferente da de hoje e que a história da humanidade, infelizmente, está cheia de violência e que daí não se pode concluir que as culturas têm maldade em si.
Enfim, este é um artigo cheio de ódio de alguém que não consegue viver num mundo em que não o acham superior por pertencer a uma sociedade que foi vítima de colonização e, sobretudo, num mundo em que não humilham os europeus para que sintam a sua raiva.
Não seria altura dos africanos que vivem no vale de vítimas saírem do papel de vítimas? Não sei, olhem os judeus: dois milénios de perseguições, violência extrema e preconceitos e não andam por aí a pedir a humilhação dos alemães. Não esqueceram as injustiças e o mal que lhes fizeram, mas não se reduziram ao papel de vítimas a viver o ódio.
Só que em vez de ser com as palavras é com os olhos, o olfacto, os sentidos: uma outra língua arquitectónica, botânica, zoológica, antropológica, gastronómica, sociológica, religiosa, estética, pragmática, enfim, cultural. Toda uma outra linguagem na relação com a realidade interior e exterior. Basta pôr os olhos numa imagem destas -com estas colunas de patas de elefante viradas ao contrário- para nos darmos conta que estamos noutra linguagem, noutra abordagem do real, distante no tempo e no espaço. E no entanto, reconhecemos imediatamente nela o distintamente humano.
Elephanta Island, Maharashtra.
Um templo escavado dentro de uma montanha rochosa
Parece-me um grande erro e um recuo nos direitos das pessoas quererem que negros só sejam traduzidos e interpretados por negros, asiáticos por asiáticos, indianos por indianos e por aí fora.
Por um lado existe a queixa de tentativa de imposição da cultura elitista ocidental, leia-se branca aos outros povos de maneira que esses outros povos ao adoptaram ideais ocidentais nos costumes, na política, nas modas, na tecnologia, na informação, nas ideias, etc. empobreceram as suas. Existe a queixa do desconhecimento e negação de outras culturas, mas se pessoas pertencentes a esta cultura ocidental quiserem alargar o seu conhecimento de outras culturas, seja adoptando modas dessas culturas, representando pessoas de outras culturas ou, como aqui, traduzir a poesia de uma rapariga afro-americana, vêm a correr queixar-se que só os dessas cultura/etnia/'raça', é que podem conhecer o seu interior e ter-lhe acesso. Assim é difícil...
Parece-me que os próprios que se queixam, e com razão, dos processos de aculturação, em vez de deixarem que a sua cultura se universalize, se torne conhecida e procurada pelos representantes e membros da cultura dominante, preferem acantonar-se e rotular-se.
Se fosse ao contrário e uma pessoa negra tivesse sido escolhida para traduzir uma pessoa branca e houvesse queixas não diriam ser racismo? Que estavam a preterir um pessoa só por ser negra e que isso é racismo?
Estou habituada já há muitos anos, a ver cantores negros, asiáticos ou de outra origem qualquer representarem papel de reis europeus ou princesas ou o que for, na ópera. Uma pessoa quer é uma boa voz e inteligência musical. E isso de ver no palco pessoas de todas as raças a interpretar papéis indiferentemente é positivo porque mostra que há uma dimensão universal no ser humano na qual nos podemos encontrar apesar das raças, géneros e culturas diferentes.
A série Bridgeton tem no papel de rainha inglesa uma actriz negra. Não se sabe ao certo se a mulher do George doido era mestiça ou branca, Mas que interessa isso se ela for boa atriz? Uma atriz negra não pode representar uma rainha inglesa? Claro que pode. Pode e foi o que fez.
O que me parece é que se educam as crianças para se verem como negras ou asiáticas ou latinas, etc, em vez de se educá-las para se verem, em primeiro lugar, como seres humanos com direitos universais e depois como seres orgulhosos da sua cultura mas curiosos das outras e interessados em partilhar os seus valores com outras.
O que quero dizer é: ao mesmo tempo que querem ser, muito justamente, julgados como seres humanos com direitos iguais, exigem ser olhados e julgados como africanos ou asiáticos ou outra coisas qualquer, com direitos especiais. Não estou a falar de quotas. Sou a favor das quotas. Estou a falar de alguém nos dizer, 'olha para mim, sou uma pessoa negra e tu não podes falar-me como se me percebesses'. Excluem os outros e excluem-se a si próprios do diálogo. Ao fazerem isto retiram qualquer chão comum de troca cultural e de entendimento.
Isto parece-me um grande erro. Um retrocesso. Se a membrana que nos separa uns dos outros for impermeável e impenetrável, cada um só existe fechado no interior da sua célula e o entendimento não é possível. Qual é a vantagem disto, para as próprias minorias?