A mercantilização da Educação: o dinheiro não fala às Humanidades
Carlos Alves
A educação liberal visa proporcionar um conjunto de competências intelectuais e práticas, instigadoras do desenvolvimento do pensamento analítico crítico, competências ao nível da escrita e oralidade, enquadramento das matérias em contextos históricos e multiculturais, valorizando a autonomia e capacidade de trabalhar em equipa, desempenhar papéis cívicos e aplicação do conhecimento na resolução de problemas num mundo em mudança, no qual tem uma atitude valorizadora do papel da cidadania. Ou seja, competências transversais a todas as profissões.
Trump foi, recentemente, a voz mais audível de um notório ressentimento cultural que desvaloriza as áreas do conhecimento, tradicionalmente identificadas como essenciais numa educação liberal em simultâneo a uma ascensão da ideologia STEM (science, technology, engineering, math). Esta falsa obrigatoriedade de escolha instiga os governos a subfinanciar as humanidades e ciências sociais favorecendo as áreas associadas à ciência, tecnologia, engenharias e matemática ou áreas profissionais.
Nas escolas portuguesas, a cada início de um novo ano letivo, deparamo-nos com as turmas de Ciências e Economia assoberbadas com alunos motivados pela ideia de saídas profissionais mais facilitadas, publicitada pelo pensamento tecnocrático e neoliberal do money talks, centrado no PIB, que alastrou à educação.
As consequências deste downsize a que estão votadas as humanidades estão espelhadas na carga horária das disciplinas abrangidas por estas nas nossas escolas. A avidez pelos cursos de Ciências e Tecnologias e Ciências Socioeconómicas faz com que, possibilitada pela autonomia das escolas, haja uma transferência de recursos para estas áreas, nomeadamente na distribuição de tempos letivos por disciplina. Assim, a nível nacional regista-se na carga horária da matriz curricular do 2.º ciclo do ensino básico a atribuição de um mínimo de 250 minutos semanais às disciplinas de Português e Matemática individualmente, a mesma carga horária que Inglês e História e Geografia de Portugal partilham entre si. A Educação Artística e Tecnológica (Educação Visual, Educação Musical e Educação Tecnológica) conta com 270 minutos, ficando a distribuição ao critério da escola, sendo que obrigatoriamente 90 minutos são para Educação Visual, podendo verificar-se o caso de apenas 45 minutos estarem disponíveis para Educação Musical no 5.º ano.
Por outro lado, a desvalorização das humanidades tem como corolário a diminuição do seu peso relativo, conduzindo esta situação à redução do número de graduados e a um decréscimo do financiamento público direcionado para estas, fruto da dificuldade de justificação da pertinência das investigações face à perda de preponderância.
A eliminação de departamentos universitários, decréscimo de salários, diminuição de recursos destinados a bibliotecas, alteração de práticas de comunicação específicas e a aplicação de modelos de avaliação da atividade científica desadequados relativamente à especificidade das Humanidades são também consequências visíveis.
Autores como Martha C. Nussbaum alertam, ainda, para esta desvalorização de que resulta o menosprezo das qualidades cidadãs imprescindíveis para a democracia em si. Em Cultivating Humanity: A Classical Defense of Reform in Liberal Education (1997) argumenta que o propósito da educação liberal é cultivar a humanidade, ou seja, educar para a cidadania, e em Not For Profit: Why Democracy Needs the Humanities (2010) denuncia a “crise silenciosa” a que as nações estão votadas ao desvalorizarem competências necessárias para a vitalidade democrática, provenientes das humanidades, em virtude da sua “sede pelo lucro nacional”.
Em Portugal, a “aposta” em disciplinas como Educação para a Cidadania e Debate e Argumentação (por vezes com um tempo letivo semanal) funciona como um paliativo ou remendo para o desinvestimento na História, Geografia, Filosofia, Literatura, formadoras de cidadãos conscientes, críticos e participativos essenciais para a democracia.
A cada novo ano letivo é o vigor democrático que é questionado, ao ser posta em causa uma educação plena para a cidadania, possibilitada pelo estudo das humanidades, que proporcione aos alunos o exercício do pensamento crítico, estimule a coragem e a vontade de examinar, refletir, discutir, argumentar sem indulgências pela autoridade ou tradição, a empatia pelo outro e de conceber os desígnios nacionais como constitutivos de uma realidade global.
Trump foi, recentemente, a voz mais audível de um notório ressentimento cultural que desvaloriza as áreas do conhecimento, tradicionalmente identificadas como essenciais numa educação liberal em simultâneo a uma ascensão da ideologia STEM (science, technology, engineering, math). Esta falsa obrigatoriedade de escolha instiga os governos a subfinanciar as humanidades e ciências sociais favorecendo as áreas associadas à ciência, tecnologia, engenharias e matemática ou áreas profissionais.
Nas escolas portuguesas, a cada início de um novo ano letivo, deparamo-nos com as turmas de Ciências e Economia assoberbadas com alunos motivados pela ideia de saídas profissionais mais facilitadas, publicitada pelo pensamento tecnocrático e neoliberal do money talks, centrado no PIB, que alastrou à educação.
As consequências deste downsize a que estão votadas as humanidades estão espelhadas na carga horária das disciplinas abrangidas por estas nas nossas escolas. A avidez pelos cursos de Ciências e Tecnologias e Ciências Socioeconómicas faz com que, possibilitada pela autonomia das escolas, haja uma transferência de recursos para estas áreas, nomeadamente na distribuição de tempos letivos por disciplina. Assim, a nível nacional regista-se na carga horária da matriz curricular do 2.º ciclo do ensino básico a atribuição de um mínimo de 250 minutos semanais às disciplinas de Português e Matemática individualmente, a mesma carga horária que Inglês e História e Geografia de Portugal partilham entre si. A Educação Artística e Tecnológica (Educação Visual, Educação Musical e Educação Tecnológica) conta com 270 minutos, ficando a distribuição ao critério da escola, sendo que obrigatoriamente 90 minutos são para Educação Visual, podendo verificar-se o caso de apenas 45 minutos estarem disponíveis para Educação Musical no 5.º ano.
Por outro lado, a desvalorização das humanidades tem como corolário a diminuição do seu peso relativo, conduzindo esta situação à redução do número de graduados e a um decréscimo do financiamento público direcionado para estas, fruto da dificuldade de justificação da pertinência das investigações face à perda de preponderância.
A eliminação de departamentos universitários, decréscimo de salários, diminuição de recursos destinados a bibliotecas, alteração de práticas de comunicação específicas e a aplicação de modelos de avaliação da atividade científica desadequados relativamente à especificidade das Humanidades são também consequências visíveis.
É por isso que a menorização das artes e humanidades é um luxo só para milionários.
Público (excertos)
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