Este conto de Kafka, que não conhecia, é uma sátira ao filósofo, aqui descrito a certa altura como um cão voador (entre outras coisas), muito no género da piada que se conta acerca de Tales de Mileto, o primeiro filósofo pré-socrático, que caiu num poço por andar sempre com a cabeça nas nuvens. O cão-filósofo de Kafka tem essa necessidade profunda e obsessiva de filosofar, de teorizar, de compreender e não sabe, não-pensar. Nunca descontrai dessa necessidade e por isso dedica-se a essa empresa de investigar, mesmo desconfiando que não chegará a nenhuma resposta consistente e definitiva sobre os problemas últimos, mesmo sabendo que se tornará um estrangeiro aos olhos dos outros, alguém que não sabe acompanhar o espírito do mundo canino, o cão-filósofo não desiste da empresa da investigação e construção de saber. Mesmo que quisesse desistir não podia porque o seu faro está apurado para cheirar todas as inconsistências do mundo e as inconsistências incomodam-no.
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