March 06, 2024

António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)




António-Pedro Vasconcelos foi o primeiro vulto cultural do meu tempo que defendeu e praticou uma arte para todos e, portanto, contrariou a pseudo-elite cultural portuguesa que sempre considerou que a arte ser popular era sinal de falta de qualidade. A linguagem artística teria que ser hermética, acessível apenas a uns eleitos intelectuais. Lembro-me de ver o filme dele, O Lugar do Morto, na TV, um ou dois anos depois da estreia. Não é que o filme seja uma obra-prima, mas era um filme nacional que não exigia ter lido Proust. Não tenha nada contra Proust e contra os filmes que exigem outra riqueza cultural, pelo contrário, gosto muito deles, mas não podem ser os únicos filmes. Algo está muito mal se as pessoas em geral não podem participar, nunca, da cultura do seu país. Eça de Queiroz, Pessoa, Camões e a Sophia, por exemplo, são grandes escritores/poetas e qualquer pessoa os entende. Houve um tempo que os grande poetas até eram cantados em fado. António-Pedro Vasconcelos teve essa virtude de mudar o registo do diálogo cinematográfico e artístico no nosso país. Tornou-os mais democráticos.


Morreu António-Pedro Vasconcelos, o cineasta que acreditava no grande público

Defensor de um cinema para o grande público, voz activa em vários debates do Portugal democrático, a ele se devem muitos êxitos de bilheteira e algumas obras-primas. Completaria 85 anos no domingo.




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