January 08, 2022

Uma palavra - princípio

 


Em grego, άρχή, - (arché) = origem, princípio.

Os filósofos gregos pré-socráticos defendiam que o universo era uma organização, uma ordem, κόσμος (cosmos), surgida de uma desordem, caos, χάος anterior, onde tudo o que existe estava como que numa amálgama indiferenciada, até que um elemento se tenha começado a diferenciar e a originar todos os outros por um processo de transformação/diferenciação. A esse elemento original, que podia ser a água (segundo Tales), o átomo (segundo Demócrito), o infinito (segundo Anaximandro), etc. davam o nome de άρχή «arché».

O «arché» seria o elemento que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas do mundo. 

Um dos pré-socráticos, Diógenes de Apolônia, explicou o raciocínio que levou os filósofos desse período à ideia de «arché»:

[..] Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa [de um mesmo princípio] e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as coisas que são agora neste mundo (terra, água, ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo), se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, (...) diferenciava-se na natureza própria (...) e então as coisas não poderiam, de nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras - nem a planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma, ora em outra, mas retomando sempre a mesma coisa. (Fragmento 2 de Diógenes de Apolônia, OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS, GERD A BORNHEIM)


Robert FLUDD, 1574-1637, quadro negro representando o nada anterior ao universo





- simulação contemporânea da estrutura-formação com a expansão do Universo em escala - representa milhares de milhões de anos de crescimento gravitacional num Universo rico em matéria escura. (Crédito: Ralf Kaehler e Tom Abel (KIPAC)/Oliver Hahn)


Olhamos esta simulação e vemos o caos dos pré-socráticos . Quando sabemos a origem e evolução das ideias e conhecimentos tudo se torna mais fascinante e próximo - não ultrapassámos os pensadores antigos, no sentido de as suas ideias serem obsoletas (algumas ou muitas são, evidentemente) mas no sentido de termos melhorado, aprofundado, aprimorado, as suas intuições e explicações. E não apenas na física. Estamos já muito longe deles na complexidade das explicações e provas mas continuamos muito perto deles nas ideias fundamentais. As ciências, quantos mais se aproximam dos seus fundamentos, mais filosóficas são.

No comments:

Post a Comment