Não é a aprender apenas o que é útil para a economia que se desenvolvem pessoas capazes de entender a História, de ter uma perspectiva filosófica do futuro e dos valores porque vale a pena lutar. A política e a governação não se reduzem a problemas de economia e contabilidade porque a economia e contabilidade não são fins em si mesmos, são instrumentos para outros fins. Humanos. Precisamos de pessoas esclarecidas, no sentido filosófico do termo: pessoas que acreditem na liberdade de pensamento e de expressão e na capacidade de melhorar o mundo através de uma educação completa e não apenas utilitarista/contabilistíca.
O valor da Europa e mesmo o seu sucesso tecnológico assentam numa cultura de discussão, de divergência, de debate, de ideias filosóficas, de luta contra os dogmatismos.
Ontem, vinha no jornal a notícia de um estudo para tirar Portugal da armadilha económica em que caiu. Um dos pontos, relativos à educação, dizia: 1. Estabelecendo parcerias com empresas e instituições de ensino superior, introduzir competências digitais e de programação desde o 1.º ciclo de estudos, tornando mais atrativo o prosseguimento dos estudos no ensino secundários e superior nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM).
Não sou contra o ensino das ciências tecnológicas, antes pelo contrário, mas nós já temos uma grande maioria de alunos nessas áreas. As turmas e cursos de Letras e Humanidades estão já em vias de extinção e, no entanto, não é por isso que saímos do marasmo em que estamos. Que nos interessa ter excelentes matemáticos, engenheiros e economistas se os políticos são contabilistas sem pensamento nem Letras que sabotam os trabalhadores que têm? Não vemos o estado dos hospitais públicos, cheios de bons médicos e enfermeiros e incapazes de fazer o seu trabalho? Não se vê o estado da Justiça? Das escolas? Cheias de milhares e milhares de bons professores mas gerida como se fosse uma fábrica de parafusos?
A redução da educação a técnicas contabilísticas/ultilitaristas só pode levar à contabilidade do desastre e à irrelevância da Europa no mundo. A ascensão da ignorância ao poder é o que precede a irrelevância: economistas que se pensam psicólogos dos povos, políticos contabilistas, pseudo-cientistas e engenheiros sociais, censores pedagógicos, negacionistas de liberdade.
Precisamos de pessoas que vejam mais e não menos.
Não há dúvida de que o conhecimento "útil" é muito útil, mas há muito a dizer sobre a redutora abordagem utilitária da educação. É indiscutível que algumas das piores características do mundo moderno poderiam ser melhoradas através de um maior encorajamento do conhecimento humanista e de uma busca menos impiedosa das competências utilitaristas.
Vivemos rodeados de fanatismos a cujo dogmatismo a instrução técnica não será um antídoto. O antídoto reside nos estudos que nos permitem ver a nós próprios na nossa verdadeira perspectiva. É necessário fornecer conhecimentos que inspirem uma concepção dos fins da vida humana como um todo, o poder de ver e conhecer, de sentir e de pensar e de compreender.
A cultura, conhecimento "inútil", não só torna as coisas desagradáveis menos desagradáveis, como torna as coisas agradáveis mais agradáveis. "Disse que achou os damascos mais saborosos, pois sabia que vinham da China e eram levados por prisioneiros, de onde se espalharam pela Pérsia, chegando ao Império Romano durante o século I, e é por isso que a palavra "damasco" deriva da mesma fonte latina que a palavra "precoce", pois o damasco amadurece cedo. E tudo isto, que pode não servir para nada, faz com que os damascos tenham um sabor muito mais doce.
Obama: We can’t afford to be tired. I remember in 2016, folks said “I’m not inspired, Obama was ok but we didn’t get everything I wanted so I’m just sit…” and you all know how that turned out. pic.twitter.com/HXZm4tF6D6
— Acyn (@Acyn) October 23, 2021
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